2013/09/23

Mesmo em crise, Amsterdão é uma festa


Forçado, pelas circunstâncias, a deslocar-me a Amsterdão, aproveitei para tirar alguns dias de férias e fugir do calor abrasador que se fazia sentir em Portugal.
Acontece que o Outono já começou na Holanda e as temperaturas médias nesta época do ano (15º), acompanhadas de alguma chuva e vento, não foram as mais propícias para quem queria andar a pé pela cidade. Valeu a pena pela oferta cultural, agora que a nova temporada artística teve início e a cidade está mais vibrante do que nunca.
Das visitas incontornáveis, aconselho o renovado Rijksmuseum, a sala de visitas da cidade, reaberto após mais de 10 anos de obras, devido à ampliação do espaço e renovação da sua colecção permanente. Um espanto, o novo “Rijks”, agora com um “hall” de recepção envidraçado, no lugar das antigas caves do edifício, onde se entra através de uma escadaria ladeada por amplos balcões de atendimento e informações de toda a ordem. É neste espaço aberto que estão situadas as duas lojas do museu e a cafetaria, onde os clientes têm de esperar em fila por uma mesa vaga, tal a afluência de visitantes nestes primeiros meses.
Depois, é escolher por onde começar. O Museu tem três pisos acima do nível da rua e um abaixo, também designado por piso 0. Foi aqui que começámos, para ver as colecções especiais, dedicadas às louças, moda, armas e modelos de barcos, agora numa nova disposição dentro do museu. Também neste piso, uma assinalável colecção de pinturas e arte sacra (1100 e 1600), designada como “arte primitiva” pelos locais. Depois de uma boa hora de deslumbramento, tempo para subir ao 2º piso, dedicado ao período 1600-1700. É aqui que estão as obras que fizeram a reputação do Museu: “A Ronda da Noite”, e a “A Noiva Judia” de Rembrandt, ou “A Pequena Rua” e a “Rapariga do Leite” de Vermeer, mas também pinturas de contemporâneos como Steen e Hals. Um deslumbramento absoluto, que só a afluência desmesurada de turistas e respectivos guias, perturbou. Razão para parar e descer à livraria, onde a informação é abundante e multi-lingue. À saída, e porque chovia, tempo para parar numa feira russa de gastronomia, instalada em plena praça dos museus, e provar um pão casqueiro de peru fumado e uma “pancake” coberta de mel, acompanhada de chá original, servidos por uma simpática siberiana vestida com trajos da região. Que mais desejar?
Voltaríamos ao Museu, alguns dias mais tarde, agora para visitar os  pisos restantes que abrangem outros tantos períodos. O primeiro piso (1700-1800) dedicado ao romantismo, e ao impressionismo onde, entre outros, podem ser admirados trabalhos de Gabriel, Breitner, Van Gogh e Goya, para além de colecções representativas da escola de Amsterdão e de Haarlem e à época do iluminismo (William IV e V).
Finalmente, o último piso, dedicado ao século XX. Esta é uma colecção renovada, que está dividida por duas alas distintas: a ala Este (1900 a 1950) onde podem ser admirados magníficos exemplares das correntes “Art Nouveau” e “Stijl”, para além de obras de Rietveld, Mondriaan e um exemplar do primeiro avião fabricado pela Fokker. É nesta sala que é projectado o documentário “Philips Rádio” (1931) da autoria de Joris Ivens. E a ala Oeste (1950-2000) onde o sobressaem os trabalhos de Yves Saint-Laurent, Appel e Constandt, para além de obras dos mais famosos arquitectos e urbanistas holandeses. Também nesta sala, é projectado o documentário, “Deltaplan Phase 1”  de Bert Haanstra, que Lisboa viu recentemente integrado no Festival Cinema Bioscoop.
Era já tarde, quando saímos do Museu, não sem antes termos dado uma volta pelo jardim circundante, onde estão expostas esculturas de Henry Moore.
Uma festa para os olhos e para os sentidos, a provar que a grande arte ajuda a lavar a alma.  

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