Agora que "caiu o Carmo e a Trindade" no parlamento (e fora dele), devido às ofensas dos deputados do "Chega" a uma deputada invisual (algo inédito na sua virulência verbal e discriminatória, contra um deputado no exercício das suas funções) ouvem-se as vozes da indignação. Ainda bem que é assim.
Nada que nos deva surpreender, já que a estratégia de Ventura e seus pares foi, desde o início, mimetizar as práticas de partidos homólogos por esse Mundo fora: de Trump a Bolsonaro, de Milei a Meloni, de Le Pen a Abascal, todos eles se regem pelo mesmo comportamento-padrão: idolatram um líder, atacam o "sistema", discriminam minorias (ciganos, imigrantes, refugiados, negros, mulheres, LGTB, invisuais...) e instigam ao ódio e à violência, sempre contra os mais fracos da sociedade, a quem culpam pelos males de que eles (fascistas) dizem padecer...Não se lhes conhece um programa de governação (para além de um nacionalismo bacoco e da prisão ou expulsão de imigrantes) e, muito menos, uma crítica aos interesses instalados que governam os respectivos países. No fundo, "são fortes com os fracos e fracos com os fortes". Uns tristes.
Ao partido e ao seu líder, muitos já chamaram "populistas", "infantis" e mesmo "arruaceiros" ou "criminosos". Poucos os apelidam de fascistas, ainda que haja excepções (Raquel Varela, Fernando Rosa, Rui Bebiano...). Por alguma razão, são os historiadores a detectarem o óbvio.
Independentemente das "infantilidades" de Ventura e seus sequazes, há uma estratégia por detrás deste comportamento de "bullying" permanente, dentro e fora do Parlamento. Começou na periferia (quem não se lembra da discriminação contra os ciganos em Loures?), passou para os imigrantes de origem asiática e já vai nos imigrantes ilegais, que o "Chega" associa à criminalidade (!?).
Acontece que (o partido) foi tolerado quando não devia (depois da primeira tentativa de legalização do "Basta!", que se transformaria em "Chega!" após os primeiros estatutos terem sido chumbados pelo Tribunal Constitucional) ainda que continuem as mesmas práticas depois da reformulação estatutária. O que na gíria se apelida de "um lobo com pele de cordeiro".
Se (o partido) já era criticável com 1 deputado "infantil", com 50 "arruaceiros" ganhou maior peso e visibilidade, tornando-se incontornável e insuportável. Mas, piorou, a menos que os democratas na AR, que formam a maioria, obriguem o (frouxo) presidente da Assembleia a tomar uma posição inequívoca, uma vez que é ele quem dirige os trabalhos e, portanto, é o responsável último pela ordem e disciplina no hemiciclo.
Já toda a gente percebeu que este comportamento nada tem a ver com o debate político, mas com ataques soezes e "ad hominem", que mais não pretendem de que instigar o ódio e a divisão entre os pares. Estas práticas são conhecidas do passado (Mussolini, Hitler, etc) e voltaram a estar activas no presente (Trump, Bolsonaro, Milei, Wilders...). Chama-se Fascismo ou (novo)fascismo. Um fascismo de tipo novo. Não perceber estas coisas simples, pode ser fatal.
Umberto Eco, num ensaio clássico ("Como reconhecer o fascismo", Ed. Relógio de Água, 2017), referindo-se ao "Ur Fascismo" (o "fascismo eterno"), definia 14 características existentes na ideologia e prática fascistas. Escreveu Eco: "Não é necessário possuí-las todas, mas basta que esteja presente uma delas para fazer coagular uma "nebulosa fascista" (ibidem). Na prática do "Chega", são manifestas algumas dessas características: idolatração do líder, a procura de "um "bode expiatório" (judeus no passado, imigrantes no presente), discriminação de minorias, racismo, xenofobia, instigação ao ódio, violência verbal e física, etc...
No fundo, é como o "teste do pato": se parece um pato, nada como um pato e grasna como um pato, então, provavelmente, é um pato.
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