2010/12/19
Os pobres que se cuidem...
Agora que os debates televisivos vão adiantados, começa a ser claro qual o alvo principal dos candidatos nestes tempos de penúria. Na época do ano onde, por tradição, a caridadezinha volta sempre com amor, os políticos presidenciáveis já encontraram o votante potencial perfeito: aqueles que - por desespero - mais crêem no Messias. Os pobres que se cuidem, pois a caça ao voto não olhará a meios...
2010/12/16
O holocausto
"Aumentar a competitividade da economia portuguesa" significa para o governo, para os patrões e para a UGT, sacrificar e tornar ainda mais precária a vida dos trabalhadores. Os gordos vão continuar gordos e sorridentes, o resto do pessoal que ande aos caixotes ou permaneça na rua, despedido, à frente das empresas, encerradas à má fila e com impunidade, na esperança que tenha sobrado um vago sentimento de justiça na sociedade portuguesa. Poder despedir desta forma era certamente uma "deficiência" da legislação laboral actual que urgia corrigir...
A falta de vergonha é tanta que as medidas são adiantadas por uma criatura chamada António Saraiva que é presidente não sei de que agremiação privada, antes de serem formalmente anunciadas pelo governo. Ninguém o responsabiliza por esta óbvia quebra de protocolo. Tudo parece normal. Triunfante, Saraiva vai continuar a sorrir alvar, gordo e reluzente como um porco.
O que, no entanto, me causa maior angústia é o facto de não perceber o que querem fazer os portugueses perante todo este calvário. As imagens de trabalhadores à porta das empresas encerradas, da miséria crescente, do desespero dos desempregados passam nos ecrãs. Passam sem que se pareça esboçar sequer uma reacção. Cresce o número de gente que procura nos caixotes do lixo a sobrevivência, dizem-nos e vamos nós vendo por aí. Mas, a sociedade portuguesa arfa, coitada, de cansaço.
Um clássico da banda desenhada "Maus" de Art Spigelman conta a história dos judeus durante o holocausto, através de personagens animais. Uma espécie de mega-fábula, à La Fontaine, tingida de sangue e dor. Os judeus são ratos. Relembro uma conversa entre um rato-judeu, sobrevivente do holocausto, e um outro, seu filho, determinado em recuperar as recordações do calvário do pai. Este descreve ao rato-filho o modo como os judeus eram queimados perante a vista de todos. "A gordura que ia correndo dos corpos queimados, eles (os alemães) recuperavam-na e voltavam a deitá-la por cima desses corpos para que queimassem melhor."
"Isto ultrapassa-me", confessa o filho, "porque é que os judeus não tentaram pelo menos esboçar uma resistência". Responde o pai: "Não era tão fácil como possas imaginar. Estavam todos tão esfomeados, tinham tanto medo e estavam tão cansados. Até mesmo o que se desenrolava perante os seus próprios olhos, nem nisso eles acreditavam."
A falta de vergonha é tanta que as medidas são adiantadas por uma criatura chamada António Saraiva que é presidente não sei de que agremiação privada, antes de serem formalmente anunciadas pelo governo. Ninguém o responsabiliza por esta óbvia quebra de protocolo. Tudo parece normal. Triunfante, Saraiva vai continuar a sorrir alvar, gordo e reluzente como um porco.
O que, no entanto, me causa maior angústia é o facto de não perceber o que querem fazer os portugueses perante todo este calvário. As imagens de trabalhadores à porta das empresas encerradas, da miséria crescente, do desespero dos desempregados passam nos ecrãs. Passam sem que se pareça esboçar sequer uma reacção. Cresce o número de gente que procura nos caixotes do lixo a sobrevivência, dizem-nos e vamos nós vendo por aí. Mas, a sociedade portuguesa arfa, coitada, de cansaço.
Um clássico da banda desenhada "Maus" de Art Spigelman conta a história dos judeus durante o holocausto, através de personagens animais. Uma espécie de mega-fábula, à La Fontaine, tingida de sangue e dor. Os judeus são ratos. Relembro uma conversa entre um rato-judeu, sobrevivente do holocausto, e um outro, seu filho, determinado em recuperar as recordações do calvário do pai. Este descreve ao rato-filho o modo como os judeus eram queimados perante a vista de todos. "A gordura que ia correndo dos corpos queimados, eles (os alemães) recuperavam-na e voltavam a deitá-la por cima desses corpos para que queimassem melhor."
"Isto ultrapassa-me", confessa o filho, "porque é que os judeus não tentaram pelo menos esboçar uma resistência". Responde o pai: "Não era tão fácil como possas imaginar. Estavam todos tão esfomeados, tinham tanto medo e estavam tão cansados. Até mesmo o que se desenrolava perante os seus próprios olhos, nem nisso eles acreditavam."
A grande cabala
Trata-se obviamente de uma grande "confusão" entre voos da CIA e voos de repatriamento de prisioneiros, como "explicou" hoje Luís Amado. Ninguém acredita que o governo português tenha dado autorização FORMAL para os voos da CIA através das Lajes. A autorização, a ser dada, só pode ter sido INFORMAL. Esta é a chave para interpretar as declarações "formais" de Luís Amado, que não podem ser refutadas, ainda que os telegramas disponibilizados pela Wikileaks provem que o governo português esteve disponível para autorizar os voos. Fecha-se assim mais um capítulo obscuro da política portuguesa, pródiga em explicações cabalísticas que tudo explicam e nada esclarecem.
2010/12/15
A mãe de todas as fraudes
Inicia-se hoje o julgamento do caso BPN.
Convém lembrar alguns números: para evitar uma crise sistémica na banca portuguesa, o estado injectou (até agora) no BPN, a módica quantia de 4.600 milhões de euros. O banco foi, entretanto, nacionalizado e posto à venda pelo valor de licitação de 180 milhões. Para além desta verba, os eventuais interessados (até agora não apareceu nenhum) terão de investir 200 milhões extra para resolver problemas urgentes de tesouraria. Só em dívidas aos clientes são 400 milhões. Acresce que a CGD já comprou 2.000 milhões da dívida. Sim, leu bem. Trata-se da maior fraude da história da banca em Portugal. Esta é uma das razões da nossa dívida pública, que não pára de aumentar e explica os aumentos de impostos do OE para 2011. Esta dívida, que não foi contraída pelos contribuintes, vai ter de ser paga e alguém terá de o fazer. Imagine quem...
Convém lembrar alguns números: para evitar uma crise sistémica na banca portuguesa, o estado injectou (até agora) no BPN, a módica quantia de 4.600 milhões de euros. O banco foi, entretanto, nacionalizado e posto à venda pelo valor de licitação de 180 milhões. Para além desta verba, os eventuais interessados (até agora não apareceu nenhum) terão de investir 200 milhões extra para resolver problemas urgentes de tesouraria. Só em dívidas aos clientes são 400 milhões. Acresce que a CGD já comprou 2.000 milhões da dívida. Sim, leu bem. Trata-se da maior fraude da história da banca em Portugal. Esta é uma das razões da nossa dívida pública, que não pára de aumentar e explica os aumentos de impostos do OE para 2011. Esta dívida, que não foi contraída pelos contribuintes, vai ter de ser paga e alguém terá de o fazer. Imagine quem...
2010/12/14
Wikileaks, como, onde, porquê
Veja como é feito, quem o faz e porquê. Juian Assange explica. Leia a petição para libertar Assange aqui.
Serviço público

Ninguém que se interesse por música neste país pode prescindir desta série. Este "Povo que Canta" é um trabalho que não vai certamente deixar ninguém indiferente. Já suscita, e suscitará certamente ainda mais no futuro, muitas interrogações sobre uma vasta gama de questões.
Um verdadeiro serviço público este que o jornal Público faz. Veja mais informação sobre o "Povo que Canta" aqui.
2010/12/13
Morente
O Mundo Flamenco está hoje mais pobre. Morreu Enrique Morente, "cantaor" maior da arte "jonda".
Para quem, como nós, teve o privilégio de vê-lo cantar - a última vez há menos de três meses, durante o recente Festival de Flamenco de Lisboa - o desaparecimento do "maestro", representa o fim de um ciclo de ouro, que conheceu nomes como Camarón de la Isla e Antonio Gadges. A arte "jonda", antiga de séculos, sobreviverá a esta perda, da mesma maneira que sobreviveu à morte de nomes que fizeram a história do Flamenco. Outros se seguirão, certamente, mas nenhum como Morente.
Resta-nos os discos. Vinte e dois no total, numa carreira que teve início em 1967 e que se prolongou até 2008, ano da sua última gravação. Para os amantes da "arte", os títulos "Homenaje a D. Antonio Chacon" (guitarra Pepe Habichuela), "Morente - Sabicas " (guitarra Sabicas), "Omega" com Lagartija Nick (dedicado a Lorca e Leonard Cohen) e "El pequeño reloj" (este com a participação da sua filha Estrella Morente), são indispensáveis. A ouvir com atenção. Arte Flamenca em estado puro. Um clássico.
Para quem, como nós, teve o privilégio de vê-lo cantar - a última vez há menos de três meses, durante o recente Festival de Flamenco de Lisboa - o desaparecimento do "maestro", representa o fim de um ciclo de ouro, que conheceu nomes como Camarón de la Isla e Antonio Gadges. A arte "jonda", antiga de séculos, sobreviverá a esta perda, da mesma maneira que sobreviveu à morte de nomes que fizeram a história do Flamenco. Outros se seguirão, certamente, mas nenhum como Morente.
Resta-nos os discos. Vinte e dois no total, numa carreira que teve início em 1967 e que se prolongou até 2008, ano da sua última gravação. Para os amantes da "arte", os títulos "Homenaje a D. Antonio Chacon" (guitarra Pepe Habichuela), "Morente - Sabicas " (guitarra Sabicas), "Omega" com Lagartija Nick (dedicado a Lorca e Leonard Cohen) e "El pequeño reloj" (este com a participação da sua filha Estrella Morente), são indispensáveis. A ouvir com atenção. Arte Flamenca em estado puro. Um clássico.
Quem tem medo da Wikileaks?
Era inevitável. Mais cedo ou mais tarde, as revelações da Wikileaks teriam de "chegar" a Portugal. Foi hoje e faz manchete nos principais orgãos de informação. Nada que nos deva surpreender. Todos os países e governantes têm "telhados de vidro" e o sigilo das chancelarias é, na maior parte das vezes, um eufemismo para a hipocrisia diplomática. Curiosos não são os adjectivos usados pelos serviços da embaixada que descrevem Sócrates como "carismático", Cavaco como "vingativo", ou Alegre como "dinossáurio de esquerda". Curiosas, mesmo, são as notícias que revelam a dupla faceta do presidente do BCP (Carlos Santos Ferreira) e do papel do banco português no conflito Irão-EUA, ou (mas isso já suspeitávamos) as dúbias afirmações de José Sócrates, a propósito da passagem de prisioneiros da CIA pela base das Lajes.
Não faltarão as habituais reacções - de apoio e condenação - às últimas revelações da agência de Julian Assange. Desta vez não são os EUA os visados, ainda que, indirectamente, a política americana esteja, mais uma vez, implicada.
Trata-se de algo mais grave: a ingerência de um banco português na política de um país estrangeiro; e as mentiras do primeiro-ministro no famigerado caso de voos para Guantánamo.
São estas notícias verdadeiras? Tudo indica que sim. Trata-se de textos, extraídos de e-mails, enviados da embaixada americana em Lisboa. Porque haveria de ser mentira?
São estas revelações de interesse público? Certamente que sim.
Devem ser tais textos publicados? Se os textos são verdadeiros e foram validados por jornais de referência (neste caso, o "El Pais") é porque são de interesse jornalístico.
A liberdade de informação é um direito adquirido das democracias avançadas e constitui um pilar essencial - quiçá o mais importante - da liberdade de opinião. Pesem algumas críticas que possam ser feitas aos conteúdos e ao "timing" das revelações, entretanto vindas a lume, é sempre preferível saber de mais do que saber de menos. Aos cidadãos, em geral, de extrair as suas conclusões e agirem em consequência. Contra a difamação e os infractores existem sempre os tribunais. Estas devem ser as regras do jogo.
É preferível uma sociedade onde possam existir "wikileaks" do que uma sociedade que os proíba. Esta é a minha convicção mais profunda e bater-me-ei por ela. E você?
Não faltarão as habituais reacções - de apoio e condenação - às últimas revelações da agência de Julian Assange. Desta vez não são os EUA os visados, ainda que, indirectamente, a política americana esteja, mais uma vez, implicada.
Trata-se de algo mais grave: a ingerência de um banco português na política de um país estrangeiro; e as mentiras do primeiro-ministro no famigerado caso de voos para Guantánamo.
São estas notícias verdadeiras? Tudo indica que sim. Trata-se de textos, extraídos de e-mails, enviados da embaixada americana em Lisboa. Porque haveria de ser mentira?
São estas revelações de interesse público? Certamente que sim.
Devem ser tais textos publicados? Se os textos são verdadeiros e foram validados por jornais de referência (neste caso, o "El Pais") é porque são de interesse jornalístico.
A liberdade de informação é um direito adquirido das democracias avançadas e constitui um pilar essencial - quiçá o mais importante - da liberdade de opinião. Pesem algumas críticas que possam ser feitas aos conteúdos e ao "timing" das revelações, entretanto vindas a lume, é sempre preferível saber de mais do que saber de menos. Aos cidadãos, em geral, de extrair as suas conclusões e agirem em consequência. Contra a difamação e os infractores existem sempre os tribunais. Estas devem ser as regras do jogo.
É preferível uma sociedade onde possam existir "wikileaks" do que uma sociedade que os proíba. Esta é a minha convicção mais profunda e bater-me-ei por ela. E você?
2010/12/11
Aplauso para César!
A iniciativa de Carlos César pareceu-me desde o início um iceberg com uma pequena ponta apenas visível, que ameaçava causar inevitáveis estragos em diversas frentes. As opiniões começaram por apontar para os estragos que causaria no próprio César, homem politicamente ambicioso, Carlos César iria ser a primeira vítima da sua iniciativa. O coro de críticas (onde sobressai um PR entalado) apontava o demérito, o carácter demagógico e populista ou o aparente desrespeito pelos princípios da República.
Olhando para o cacos que se começavam lentamente a juntar e para a reacção extremamente nervosa de gente que considero, inequivocamente, inimiga do povo português, pensei para com os meus botões que haveria certamente algo mais a dizer sobre tudo isto. Algo mais do que as primeiras impressões que se vão ouvindo.
Hoje o Público traz uma análise de São José Almeida, sob o título "A alternativa de César", que aconselho todos vivamente a ler e que, na minha opinião, resume esta ideia de que a iniciativa de Carlos César é virtuosa, ao contrário da crítica feita por uns de forma quiçá apressada, ou, por outros, à esquerda e à direita, já conscientes do estrago que ela causou e das consequências sérias que vai ter no futuro político do País.
"Afinal, há alternativa e Carlos César provou-o. O presidente do Governo Regional dos Açores mostrou como é possível encontrar soluções para a crise económica que não passam exclusivamente pelo sacrifício das pessoas e do seu nível de vida. Como é possível encontrar saídas sem que isso ponha em causa os pressupostos políticos e ideológicos que devem mover a esquerda. Como é possível fazer um Orçamento mais parco sem pôr em causa princípios ético-políticos que devem mover os partidos socialistas, nomeadamente o princípio de que primeiro está o bem-estar das pessoas e o respeito pela dignidade humana."
Não posso estar mais de acordo com o que São José Almeida escreveu. Acrescentaria talvez apenas três pequenas notas.
Em primeiro lugar, para sublinhar a ideia de que se o OE2011 é mau, não pelas razões apontadas pela generalidade dos seus críticos, mas porque revela ter sido feito em cima do joelho, para acudir a problemas conjunturais. Havia e há alternativas possíveis à leviandade. "Trata-se de uma questão de opções e prioridades," como sublinhou Carlos César a propósito da iniciativa açoreana. Está provado!
Em primeiro lugar, para sublinhar a ideia de que se o OE2011 é mau, não pelas razões apontadas pela generalidade dos seus críticos, mas porque revela ter sido feito em cima do joelho, para acudir a problemas conjunturais. Havia e há alternativas possíveis à leviandade. "Trata-se de uma questão de opções e prioridades," como sublinhou Carlos César a propósito da iniciativa açoreana. Está provado!
Em segundo lugar, o PSD que apoiou este OE por dever patriótico e que colhe por isso dividendos políticos, na prática, mais não fez do que dar luz verde a um instrumento leviano e mal feito. Ao deixar passar o OE o PSD revelou que, nas mesmas condições, faria exactamente as mesmas opções levianas, que este governo fez. O PSD (para quem imagina que poderia ser alternativa política a este PS) aprendeu na mesma cartilha e dele não se poderia esperar uma política diferente. Tem de pagar a factura política!
Como nota de rodapé, vai um aplauso para a reacção de Carlos César à crítica de Alberto João Jardim. É digno de registo ouvi-lo dizer, com todas as letras, que o presidente do Governo Regional da Madeira "não tem vergonha nenhuma!" É que não tem mesmo, mas ninguém lhe diz. Talvez Jardim venha a ter de meter a viola no saco mais cedo do que pensa...
2010/12/08
Estado (a)Social
Só cadáveres eram quatro. Descobertos num "lar" da terceira idade, onde a mensalidade podia chegar aos 700 euros. Uma ninharia, para uma senhoria que, mais do que o alvará, prezava o "amor" com que tratava as suas utentes. O facto de terem morrido quatro pessoas ao mesmo tempo deve-se, certamente, a uma coincidência e às avançadas idades das falecidas. Todos nós temos de "partir" um dia, declarou a afável senhora à comunicação social.
De acordo com o mais alto "responsável" (gosto desta designação) da Segurança Social, o "lar" já estava identificado pelos serviços há três meses por não cumprir as exigências impostas por lei. Na altura foi pedido à dona do "lar" para encerrá-lo. De livre vontade. De livre vontade? Devem estar a gozar connosco.
Quando oiço falar esta gente "responsável" fico sempre mais descansado. O que seria se eles fossem irresponsáveis?...
De acordo com o mais alto "responsável" (gosto desta designação) da Segurança Social, o "lar" já estava identificado pelos serviços há três meses por não cumprir as exigências impostas por lei. Na altura foi pedido à dona do "lar" para encerrá-lo. De livre vontade. De livre vontade? Devem estar a gozar connosco.
Quando oiço falar esta gente "responsável" fico sempre mais descansado. O que seria se eles fossem irresponsáveis?...
2010/12/07
A mulher de César
Júlio César proferiu a célebre frase "à mulher de César não basta ser honesta, é preciso parecer honesta." A diplomacia (e não só!) tem vivido sempre à sombra deste princípio. É a área da actividade humana onde os vestígios da barbárie mais se manifestam e é uma área onde a democracia nunca entrou. Com mais ou menos punhos de renda, em ambientes mais ou menos perfumados, mais à direita ou mais à esquerda, a diplomacia é um antro de cínicos, amorais. E são todos assim, como lembrava alguém ontem, muito candidamente, num programa da CNN sobre o tema do Wikileaks: do Vaticano à China, dos EUA à Venezuela.
Muitos dos que criticam a revelação dos "telegramas" americanos referem, como que a querer encerrar o argumento, que a única "vítima" destas revelações é a diplomacia norte-americana. Não foram revelados segredos dos Chineses ou dos Norte-Coreanos. Se assim fosse ainda vá lá...
É divertidíssimo ouvir estes defensores da institucionalização do cinismo e da mentira como ferramenta política. Até um surpreendentemente reaccionário e míope Miguel Sousa Tavares enveredou por esta via, ao criticar um artigo certeiro do Rui Tavares de ontem no Público sobre esta matéria.
Ora, a verdade é que o que está em causa neste caso não é, sobretudo, a bondade dos meios usados pelas diplomacias dos vários países, mas sim a sua utilização por quem prega moral a toda a hora e se arma em campeão da defesa da virtude mundial. Os EUA são as principais vítimas de todas estas revelações (veremos se assim é...)? Pois é bem feita, porque deveriam ser um exemplo. E, ao contrário do que disse o tirano Romano, à mulher de César não deve bastar parecer ser honesta. É preciso ser mesmo honesta! É este o problema. À "comunidade internacional" também não basta parecer honesta, é necessário que seja honesta. Só isso torna a "comunidade internacional" uma entidade legítima.
O que as revelações do Wikileaks parecem vir demonstrar —independentemente da própria bondade dos seus intentos...— é que os EUA parecem honestos, mas não são. Não estão sozinhos, claro, mas como querem muito parecer o que não são, ficaram com a careca também muito mais à mostra. O grito que se ouve nestas revelações é pela transparência e pela honestidade num sector que tresanda a opacidade e trafulhice. Não seria o facto de revelar telegramas da Coreia do Norte ou do Irão que tornaria as revelações da Wikileaks mais ou menos legítima. Estes países não são exemplos de virtude.
A conclusão é simples: a democracia, a transparência e a ética têm de chegar à diplomacia e às relações entre estados. Tem de chegar ao fim o tempo da diplomacia feita de sociedades secretas, em autogestão e em formato tablóide.
Muitos dos que criticam a revelação dos "telegramas" americanos referem, como que a querer encerrar o argumento, que a única "vítima" destas revelações é a diplomacia norte-americana. Não foram revelados segredos dos Chineses ou dos Norte-Coreanos. Se assim fosse ainda vá lá...
É divertidíssimo ouvir estes defensores da institucionalização do cinismo e da mentira como ferramenta política. Até um surpreendentemente reaccionário e míope Miguel Sousa Tavares enveredou por esta via, ao criticar um artigo certeiro do Rui Tavares de ontem no Público sobre esta matéria.
Ora, a verdade é que o que está em causa neste caso não é, sobretudo, a bondade dos meios usados pelas diplomacias dos vários países, mas sim a sua utilização por quem prega moral a toda a hora e se arma em campeão da defesa da virtude mundial. Os EUA são as principais vítimas de todas estas revelações (veremos se assim é...)? Pois é bem feita, porque deveriam ser um exemplo. E, ao contrário do que disse o tirano Romano, à mulher de César não deve bastar parecer ser honesta. É preciso ser mesmo honesta! É este o problema. À "comunidade internacional" também não basta parecer honesta, é necessário que seja honesta. Só isso torna a "comunidade internacional" uma entidade legítima.
O que as revelações do Wikileaks parecem vir demonstrar —independentemente da própria bondade dos seus intentos...— é que os EUA parecem honestos, mas não são. Não estão sozinhos, claro, mas como querem muito parecer o que não são, ficaram com a careca também muito mais à mostra. O grito que se ouve nestas revelações é pela transparência e pela honestidade num sector que tresanda a opacidade e trafulhice. Não seria o facto de revelar telegramas da Coreia do Norte ou do Irão que tornaria as revelações da Wikileaks mais ou menos legítima. Estes países não são exemplos de virtude.
A conclusão é simples: a democracia, a transparência e a ética têm de chegar à diplomacia e às relações entre estados. Tem de chegar ao fim o tempo da diplomacia feita de sociedades secretas, em autogestão e em formato tablóide.
Preocupados a valer
Aparentemente, os bancos e as autoridades ficaram preocupados com a sugestão feita pelo ex-futebolista Eric Cantona. Muitos a discutem, mas poucos falam das razões que levaram Cantona a fazer este apelo. Diz ele, já agora lembremo-lo aqui também: "Creio que não nos podemos sentir verdadeiramente felizes ao ver tanta miséria que nos rodeia."
Em vez das óbvias fragilidades da sugestão do Cantona, sublinhadas por uns, e dos anátemas sobre ele lançados por outros, era, sei lá, giro que se discutisse a pergunta substantiva que o ex-jogador fez e o levou a pronunciar-se sobre esta questão. Sei lá, é uma sugestão...
Podemos, de facto, ser verdadeiramente felizes com tanta miséria à nossa volta? Responda quem souber.
Os bancos estão preocupados? É pouco para quem faz de preocupar os outros o seu negócio. Falta ainda ficarem, eles, verdadeiramente preocupados.
Em vez das óbvias fragilidades da sugestão do Cantona, sublinhadas por uns, e dos anátemas sobre ele lançados por outros, era, sei lá, giro que se discutisse a pergunta substantiva que o ex-jogador fez e o levou a pronunciar-se sobre esta questão. Sei lá, é uma sugestão...
Podemos, de facto, ser verdadeiramente felizes com tanta miséria à nossa volta? Responda quem souber.
Os bancos estão preocupados? É pouco para quem faz de preocupar os outros o seu negócio. Falta ainda ficarem, eles, verdadeiramente preocupados.
2010/12/04
Do caciquismo em todo o seu esplendor
A César o que é de "César", deve ter pensado o presidente da região autónoma dos Açores que, num gesto filantrópico, resolveu isentar os funcionários públicos açoreanos da redução de vencimento a que todos os funcionários públicos deste país estão sujeitos. Já tinhamos o Jardim madeirense, a Felgueiras da vila homónima, o Ferreira do Marco, o Isaltino de Oeiras, só nos faltava mesmo um "César"...mas, esta gente não tem vergonha? E não há ninguém no governo que ponha ordem nesta bagunça em que o país se tornou?
2010/12/03
Da coerência do veto
Depois de ter vetado uma proposta para taxar os dividendos dos accionistas da PT no ano fiscal corrente, a bancada do PS prepara-se para vetar a proposta de aumento do salário mínimo para 500 euros. Não se pode dizer que esta bancada não seja coerente em vetar, tudo e o seu contrário...
2010/12/02
As presidenciais
Uma ideia que tem sido subtilmente repetida sobre a Presidência da República é a de que se trata de uma instituição com poderes precisos: um presidente não governa, promulga diplomas, corta umas fitas e tem uma vaga capacidade de intervenção. Em suma, serve para pouco. Podemos chamar-lhe a "teoria da rainha de Inglaterra".
Esta teoria tem um número que me parece crescente de seguidores e dá um jeitão aos proponentes da candidatura de Cavaco Silva. O candidato é fraquíssimo e ao apequenar as funções deste orgão de soberania, as capacidades do actual PR parecem, de repente, adequadas, isto é, se é para isto, o dr. Cavaco Silva, chega perfeitamente. Para fazer "nada" Cavaco Silva serve. Na verdade, como ele é "doutor" tem até qualificações de sobra... Podemos chama-lhe a "teoria do p'ra quem é..."
Há quem diga até que para cumprir estas funções, o PR poderia passar a ser eleito por colégio eleitoral e assim se poupavam uns milhares largos de euros em dispendiosos processos eleitorais.
Desvalorizar o papel do Presidente da República é uma estratégia para tirar importância à importantíssima eleição que aí vem e fazer assim batota política. A desvergonha é tanta que os proponentes da tese da desvalorização não hesitam em queimar o actual PR nesta estratégia (levando o argumento até ao fim, pode-se dizer que o PR não vale nada e portanto Cavaco Silva está bem para a função...).
Por parte de Cavaco, a ambiçãozinha palonça de ser "presidente" fá-lo esquecer que, desta forma, vai sair de todo este processo com o pouco prestígio de que desfruta feito num molho de bróculos.
Por parte de Cavaco, a ambiçãozinha palonça de ser "presidente" fá-lo esquecer que, desta forma, vai sair de todo este processo com o pouco prestígio de que desfruta feito num molho de bróculos.
Que os sectores mais retrógrados da sociedade portuguesa, partidários da teoria do "p'ra quem é", finjam contentamento com tudo isto parece normal.
E, contudo, o medo das presidenciais é tanto que já ouvi apelos abertos à abstenção por parte dos defensores de Cavaco, mas pelos vistos fui só eu...
Que os sectores mais progressistas e esclarecidos embarquem, pareçam ignorar esta manobra e cheguem às mesmas conclusões que os reaccionários quanto ao interesse desta eleição, que não encontrem uma qualquer forma de convergência e se preparem para entregar de bandeja o cargo de PR a Cavaco Silva, já é coisa que me deixa profundamente incrédulo e triste.
E, contudo, o medo das presidenciais é tanto que já ouvi apelos abertos à abstenção por parte dos defensores de Cavaco, mas pelos vistos fui só eu...
Que os sectores mais progressistas e esclarecidos embarquem, pareçam ignorar esta manobra e cheguem às mesmas conclusões que os reaccionários quanto ao interesse desta eleição, que não encontrem uma qualquer forma de convergência e se preparem para entregar de bandeja o cargo de PR a Cavaco Silva, já é coisa que me deixa profundamente incrédulo e triste.
2010/12/01
Mais depressa se apanha um acariciado...
"Mais depressa se apanha um acariciado que um coxo", disse hoje à comunicação social a eurodeputada Ana Gomes, a propósito das revelações da Wikileaks que confirmam a utilização da base das Lajes por aviões com prisioneiros para Guantánamo. O "acariciado" em questão é o actual ministro dos negócios estrangeiros Luís Amado, que, durante a Comissão de Inquérito sobre os referidos voos, jurou a pés juntos que se demitiria caso se provassse que Portugal tinha autorizado a passagem de aviões da CIA com prisioneiros. Nessa altura, estávamos em 2006, a embaixada americana aconselhava o governo americano a "acariciar" o ministro, pois este estava sobre pressão da oposição e era necessário convencê-lo a dar autorização aos voos em questão. A história tem destas coisas...
2010/11/30
Cisma
Independentemente de toda a retórica e teorias dos pitonizos e pitonizas da economia e da política cá do burgo, a realidade é esta: a emigração aumentou para níveis de há décadas, que julgávamos inatingíveis em democracia, voltámos à "sopa do Sidónio" com um vigor que julgávamos impossível de acontecer em democracia, o desemprego está a um nível que imaginaríamos impossível de atingir em democracia e os empregados, com empregos mais ou menos confortáveis, contribuintes do sistema de segurança social de há décadas, fazem hoje contas de cabeça para antecipar o mais rapidamente possível as suas reformas, como forma de minorar a irreversível perda da massa que andaram a descontar.
Esta é a realidade em toda a sua singeleza e crueza. Isto é o Portugal de hoje, o Portugal pós-25 de Abril, o Portugal da democracia. Como se não bastasse, sentimos de todos os lados a ameaça de que as coisas vão ainda piorar mais. A nossa paciência é para os donos do mundo um dado adquirido.
A isto chegámos por via da acção de gente que tem toda nome e cara (já se têm vergonha na dita é outra história) que continua a apresentar-se perante os portugueses como salvadora da Pátria. Sem eles, segundo nos querem fazer crer, seria o dilúvio.
Há quem insista em os considerar heróis, há quem os defenda acaloradamente contra toda a evidência, há quem lhes tenha dado o voto no passado e quem se prepare para lhes dar o voto no futuro.
Contra esta corrente, eu acho que aquela gente devia ser toda responsabilizada, que devia pagar pelo que fez. E acho que é tempo de profunda ruptura com o status quo e de um radicalmente novo desígnio. O que estamos a viver não presta.
Mais cedo ou mais tarde o cisma que se desenha vai ter de se materializar em actos. Se a democracia não conseguir dar resposta a isto, paciência... Não podemos é sustentar este estado de coisas mais tempo.
Esta é a realidade em toda a sua singeleza e crueza. Isto é o Portugal de hoje, o Portugal pós-25 de Abril, o Portugal da democracia. Como se não bastasse, sentimos de todos os lados a ameaça de que as coisas vão ainda piorar mais. A nossa paciência é para os donos do mundo um dado adquirido.
A isto chegámos por via da acção de gente que tem toda nome e cara (já se têm vergonha na dita é outra história) que continua a apresentar-se perante os portugueses como salvadora da Pátria. Sem eles, segundo nos querem fazer crer, seria o dilúvio.
Há quem insista em os considerar heróis, há quem os defenda acaloradamente contra toda a evidência, há quem lhes tenha dado o voto no passado e quem se prepare para lhes dar o voto no futuro.
Contra esta corrente, eu acho que aquela gente devia ser toda responsabilizada, que devia pagar pelo que fez. E acho que é tempo de profunda ruptura com o status quo e de um radicalmente novo desígnio. O que estamos a viver não presta.
Mais cedo ou mais tarde o cisma que se desenha vai ter de se materializar em actos. Se a democracia não conseguir dar resposta a isto, paciência... Não podemos é sustentar este estado de coisas mais tempo.
2010/11/29
Talvez o Wikileaks queira denunciar...
Se o Wikileaks quisesse publicar qualquer coisa sobre estas manobras de "diplomacia económica" que a Comissão Europeia anda a levar a cabo, estou certo que iria encontrar grande soma de material interessantíssimo.
Imagino o que se discute nos dias e os telegramas que correm nas chancelarias e gabinetes por essa Europa fora, a propósito do OE português... Imagino a quem isso causaria um "embaraço diplomático"...
Imagino o que se discute nos dias e os telegramas que correm nas chancelarias e gabinetes por essa Europa fora, a propósito do OE português... Imagino a quem isso causaria um "embaraço diplomático"...
2010/11/27
Inside Job
Ao longo de hora e meia, Ferguson (académico de Berkeley, Harvard, MIT e conselheiro da Casa Branca) escalpeliza as causas e consequências desta crise, passando em revista os momentos mais importantes, sem deixar de interrogar os principais actores e confrontando-os com as suas práticas fraudulentas. Tudo ilustrado com exemplos e graficos claros, ainda que aqui e ali com algum excesso de informação nem sempre fácil de acompanhar. Uma verdadeira lição em "economia fraudulenta", que deixou milhões de pessoas na falência, levou países à bancarrota (a Islândia é o exemplo maior) e provocou um "crash" em Wall Street, como não se assistia desde a grande depressão de 1929.
Se a surpresa é grande, quando confrontados com os dados inequívocos apresentados por Ferguson, mais surpreendidos ficamos ao verificar que a maior parte daqueles que estiveram na origem desta crise, sairam com elevadas indemnizações e, alguns deles, foram inclusive reconduzidos em cargos políticos de responsabilidade financeira.
Se alguma dúvida existisse em relação à promiscuidade existente entre a alta finança e a política, este filme desvanece-a definitivamente. Isso em si é uma boa notícia. A má notícia é que os actuais dirigentes - Obama incluido - não parecem querer ou ter força para contrariar esta tendência. E isto só nos pode preocupar.
A ver, absolutamente.
2010/11/26
2010/11/25
O pendor para a direita

Ó dr. Ferraz da Costa, se calhar não é sua intenção, mas esta conversa é um triste insulto à inteligência dos seus ouvintes, que são muitos, fervorosos e devotados, creia...
Então os sindicatos não sabem o estado em que o país se encontra?! Permita-me discordar. Sabem e sabem melhor do que ninguém, antes de mais nada porque os sindicatos são de trabalhadores e os trabalhadores sentem na pele —e são os primeiros a sentir— o "estado em que o país se encontra". Ao contrário de outros sectores da sociedade portuguesa a quem não falta calor para aquecer neste inverno, roupinha pinoca e comidinha no prato para manter a barriguinha aconchegada.
Por outro lado, diga-me lá: os sindicatos não sabem como o país está, mas depreende-se então das suas palavras que o senhor sabe. Se sabe, porque não o revela? E se não o revela porque razão o não faz? Será uma razão política? E se o senhor tem direito a não o fazer, por uma razão política, os sindicatos não terão o mesmo direito, ou pretende para si regime de excepção...?
2010/11/24
Generalidades
O Secretário de Estado da Administração Pública, Gonçalo Castilho dos Santos, diz que esta greve não é geral. Não se preocupe, senhor Secretário de Estado. Depende do conceito que o senhor tenha da palavra "geral". O governo também devia, em geral, governar e não governa.
A perspectiva depende sempre do ponto de fuga...
A perspectiva depende sempre do ponto de fuga...
2010/11/23
A lição da Irlanda
Agora que a Irlanda, pressionada pela Alemanha e pelo BCE, acabou por pedir a intervenção do FMI (100 mil milhões de euros para acudir ao sistema bancário irlandês) caiu mais um mito do modelo económico neo-liberal, tão elogiado pelos governantes portugueses que viam no "tigre celta" a referência europeia para a nossa economia. Pelos vistos, não chegaram as medidas draconianas impostas ao povo irlandês, a quem foram pedidos os maiores sacrifícios há menos de um ano com a promessa que, daqui a uns tempos, a situação iria melhorar. Da mesma forma que os sacrifícios pedidos ao povo grego não saciaram os interesses dos especuladores e banqueiros internacionais (eufemisticamente designados por "mercados") e que conduziu à mesma receita aplicada na Irlanda, ou seja, a entrada do FMI na Grécia.
Mal era conhecida a decisão irlandesa, já as "nervosas" bolsas notavam em baixa os índices bolsistas espanhóis, sinal que alguns analistas interpretaram como um possível ataque a Espanha por parte dos especuladores.
Resta Portugal, o quarto "PIG", que há muito faz parte do elo fraco do sistema Euro e que, por essa razão, é manchete diária nos principais orgãos de referência económica internacional, como o "Financial Times", o "The Economist" ou o holandês "De Volkskrant". Bem podem os governantes portugueses, como Sócrates e Cavaco, repetirem à exaustão que os nossos bancos são saudáveis e que não temos uma crise sistémica semelhante à Irlandesa. A pressão é enorme e Merkel, secundada por Sarkozy, não esconde o seu desejo: uma Europa "a duas velocidades", onde os países economicamente mais fracos devem abandonar o Euro se tal for necessário.
Acontece que, a verificar-se tal medida, o próprio Euro será posto em causa. Tentar resolver um problema económico, sem medidas políticas adequadas, é mais um passo para o abismo a que esta política desastrada conduziu. Ou seja, sem coragem política que limite o desregulamento financeiro actual, não há projecto europeu que resista e, para isso, é preciso voltar a pôr a política a comandar a economia, questão que os governos da União Europeia não querem resolver. É nestas alturas que são necessários estadistas, coisa que, obviamente, não se verifica na Europa a vinte sete, hoje dirigida por meros executantes da grande finança especulativa. Não extrair as devidas lições no tempo certo, conduzir-nos-á, inevitavelmente, a uma crise ainda maior, cujas consequências são para já imprevisíveis. A Irlanda devia, por isso, constituir o aviso necessário. Mas, pode já ser tarde.
Mal era conhecida a decisão irlandesa, já as "nervosas" bolsas notavam em baixa os índices bolsistas espanhóis, sinal que alguns analistas interpretaram como um possível ataque a Espanha por parte dos especuladores.
Resta Portugal, o quarto "PIG", que há muito faz parte do elo fraco do sistema Euro e que, por essa razão, é manchete diária nos principais orgãos de referência económica internacional, como o "Financial Times", o "The Economist" ou o holandês "De Volkskrant". Bem podem os governantes portugueses, como Sócrates e Cavaco, repetirem à exaustão que os nossos bancos são saudáveis e que não temos uma crise sistémica semelhante à Irlandesa. A pressão é enorme e Merkel, secundada por Sarkozy, não esconde o seu desejo: uma Europa "a duas velocidades", onde os países economicamente mais fracos devem abandonar o Euro se tal for necessário.
Acontece que, a verificar-se tal medida, o próprio Euro será posto em causa. Tentar resolver um problema económico, sem medidas políticas adequadas, é mais um passo para o abismo a que esta política desastrada conduziu. Ou seja, sem coragem política que limite o desregulamento financeiro actual, não há projecto europeu que resista e, para isso, é preciso voltar a pôr a política a comandar a economia, questão que os governos da União Europeia não querem resolver. É nestas alturas que são necessários estadistas, coisa que, obviamente, não se verifica na Europa a vinte sete, hoje dirigida por meros executantes da grande finança especulativa. Não extrair as devidas lições no tempo certo, conduzir-nos-á, inevitavelmente, a uma crise ainda maior, cujas consequências são para já imprevisíveis. A Irlanda devia, por isso, constituir o aviso necessário. Mas, pode já ser tarde.
2010/11/21
A hermenêutica e as frases históricas
A ministra da cultura diz que não há outra solução senão aceitar os cortes de 23% previstos para a cultura. Vai ficar na história esta ministra.
É conhecida aquela expressão "quando ouço a palavra cultura saco logo da pistola", que terá sido proferida por Hanns Johst (um escritor expressionista nazi) e depois aproveitada por Göring.
Vejam lá quem, ao fim destes anos todos, acabou mesmo por dar o tiro...! Que o sorriso vos não engane.
É conhecida aquela expressão "quando ouço a palavra cultura saco logo da pistola", que terá sido proferida por Hanns Johst (um escritor expressionista nazi) e depois aproveitada por Göring.
Vejam lá quem, ao fim destes anos todos, acabou mesmo por dar o tiro...! Que o sorriso vos não engane.
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