2009/04/21

Peixe dentro e fora de água

Duas curtas notas sobre a intervenção do Primeiro Ministro de hoje na RTP.
A primeira para dizer que aquilo que escrevi aqui anteontem parece justificar-se. Fazer a crítica da governação fora do contexto exclusivamente político é um erro que vai custar caro à oposição e ao Presidente da República. O PM está totalmente à vontade dentro e fora de água. Os outros agentes políticos só têm brânquias... Fora de água morrem asfixiados em três tempos.
Fora de água estiveram também os dois entrevistadores. No final os sinais de asfixia eram aliás evidentes...
Uma segunda nota para reiterar o que escrevi sobre o caso Freeport aqui e aqui. Acrescento apenas que me choca ver um assunto desta natureza abordado como se estivéssemos, neste caso, perante um qualquer "socialite", envolvido numa qualquer frivolidade. Culpa dos jornalistas e culpa do PM que aceita embarcar neste exercício absolutamente indigno do cargo que ocupa e do povo que serve, aproveitando para fazer, ele, o papel da vítima.
Não conheço outra vítima deste caso, seja qual for o desfecho que venha a ter, que não seja o povo português.

6 comentários:

Rui Mota disse...

"Esta merda não anda, porque a malta não quer que esta merda ande".
José Mário Branco (FMI)

Rini Luyks disse...

Acho que os dois entrevistadores da RTP se comportaram como cordeirinhos o que me surpreende mais no caso de Judite de Sousa.
Para mim não foi uma entrevista a sério, Sócrates definiu muitas vezes o rumo, ouvi-o algumas vezes pronunciar o nome completo dos entrevistadores num tom de pura intimidação. Onde é que se situa a RTP? Independência ou vassalagem tácita ao poder?
Quase vou ter saudades do ex-ministro Morais Sarmento que defendeu em 2004 abertamente "limites à independência da RTP e influência do governo na programação"(Público, 20-10-2004). Pelo menos assim sabemos o que podemos esperar...

Carlos A. Augusto disse...

Infelizmente é um pouco verdade.
Hoje o dr. Mário Soares veio dizer que no caso Freeport se impõe o princípio de presunção de inocência e que, entretanto, o primeiro ministro deve ser tratado com o respeito devido a uma figura do Estado que foi eleita.
Tem toda a razão (até parece que leu o Face...). O que o dr. Mário Soares se esquece de dizer é que o próprio primeiro ministro se põe a jeito para não ser respeitado e que há aqui uma componente significativa de todo este processo --o Povo Português, que faz parte da nação cujo excutivo o primeiro ministro lidera...-- a cujo respeito ele também falta ao deixar que este caso se arraste desta maneira.
Por outras palavras: o primeiro ministro está, neste caso, perfeitamente ao nível da Manuela Moura Guedes que ele tanto critica...

Rui Mota disse...

A comunicação social portuguesa está num dilema: ou investiga o que tem a investigar e arrisca-se a levar com um processo em cima (já são 9 os jornalistas processados!); ou respeita o "livro de código" do governo e não faz perguntas difíceis...
Não me parece que a Judite de Sousa estivesse tão mal assim. Teve de conter-se, cada vez que Sócrates se exaltava, mas voltou sempre à pergunta incómoda e isso irritou o PM. Temos de concordar que, numa estação do estado, não é fácil...
Mesmo não gostando da Manuela Moura Guedes e do seu jornal, prefiro tê-la a dizer disparates do que censura na imprensa. Era o que faltava, depois de 48 anos de mordaça! Nesse sentido, a máxima de Voltaire, mantém-se actual: "bater-me-ei sempre por uma sociedade onde os meus inimigos tenham o direito de exprimir a sua opinião". É isto que Sócrates não percebe. Num país com maior cidadania, seria ridicularizado; em Portugal, a vitimização ainda dá votos. Resta saber, se chegam para ele ter uma nova maioria...

Carlos A. Augusto disse...

Estou inteiramente de acordo Rui. Não tenho duvidas sobre a liberdade de expressão e revejo-me na frase do Voltaire.
O problema aqui está, em minha opiniao, no nivel a que tudo isto chegou.
Hoje o artigo da Teresa de Sousa no Publico descreve bem o que se passou. Não creio que os jornalistas tenham estado bem. Se é por medo do processo...

Carlos A. Augusto disse...

Uma rectificação a um comentário que fiz antes, invocando apreciações feitas pelo dr. Mário Soares ao PM e o caso Freeport. Na verdade ele criticou o facto de Sócrates ter "desenvolvido o tema"...
Só hoje numam citação mais completa da intervenção dele vi isso.