2010/08/03

Estupidez

O Almirante Vieira Matias usou palavras fortes para caracterizar, o que ele considera, uma campanha contra a aquisição dos submarinos. Usou, a propósito, o termo "estupidez" várias vezes e de forma particularmente veemente. Deixa-me sempre inquieto ouvir um alto dirigente militar usar este tipo de "argumentos" para defender o seu ponto de vista.
Acontece que o custo dos submarinos é da ordem dos 980 milhões de euros, o que constitui uma percentagem à volta de 0.6% do PIB. São valores que impressionam. Não quero fazer aqui comparações rigorosas (não é fácil...) mas deixem-me dar dois exemplo. Em 2006, o custo total do sistema de saúde,  por exemplo, terá sido de cerca de 10% do PIB. Em 2007, o custo total das pensões mínimas do regime geral de segurança social foi de cerca de 3 milhões de euros, aproximadamente 0.3% do que custaram agora estes subamarinos. Ou seja, em traços muito gerais e mesmo que corrigíssemos o desfasamento temporal destes dados e a sua previsível variação para os anos subsequentes (que eu não fiz!) é fácil perceber que o Estado consome, levianamente, em dois submarinos, uma percentagem incompreensivelmente grande do nosso PIB. Dois submarinos apenas custam mais de 300 vezes o valor que a totalidade dos pensionistas mais pobres recebeu em 2007. São opções que custa aceitar e só por leviandade se pode dizer que quem se opõe a estas escolhas é estúpido.
E por isso acho que uma aquisição destas representa uma injustiça sem justificação e por isso não devia ser feita. Eu diria, se fosse almirante, que é uma estupidez... A situação das finanças públicas agrava ainda mais, claro, todo este quadro, mas nem era necessário tê-la em conta.
Corremos o risco de ver umas dezenas de marujos a divertirem-se à grande com estes brinquedos novos que lhes arranjaram, enquanto os tais "novos pobres" e os velhos pobres vão caindo aí pelos cantos sem nada para comer, batendo à porta do bispo Carlos Azevedo para este lhes arranjar uma bucha.
Ou querem ver que é tudo mentira e que o bispo anda a gozar com a malta e o almirante Matias afinal é que tem razão?
Ou podemos, enquanto rangemos os tridentes de raiva, contabilizar isto como um donativo generoso que estamos a fazer à Alemanha para adquirimos o direito a sair do humilhante grupo dos PIIGs?

8 comentários:

Rui Mota disse...

A questão dos submarinos está relacionada com com a "quota" de material de guerra, que os países membros da NATO sempre têm de ter e a que são "obrigados" pelas convenções que assinaram. O problema não é tanto comprar submarinos novos (os anteriores datam dos anos sessenta!), mas comprá-los agora, quando não há dinheiro. Ainda por cima, num negócio pouco claro e prejudicial para o estado português, com a história das "contrapartidas" que nunca chegaram a ser dadas. Mas que foi um bom negócio para algumas pessoas, foi. O Paulo Portas até chegou a ser condecorado pelo Rumsfeld. Ele lá saberá porquê...

Carlos A. Augusto disse...

Sejam quais forem os compromissos com a NATO, a verdade é que, segundo nos dizem, não há dinheiro. Outras instituições internacionais a que Portugal pertence e com as quais tem compromissos, exigem que cortemos na despesa. E a gente está a sentir! Da mesma forma, seremos nós, e não a NATO, a sentir os efeitos de a NATO achar que devemos gastar. Duas políticas contrárias parecem-me uma coisa simplesmente estúpida...
Mas, a mim, faltam-me os galões e, sobretudo, o peso das profundidades submarinas que um almirante certamente tem, para que seja dado crédito às minhas palavras. Mas acho estúpido!

Rui Mota disse...

Eu também acho estúpido, mas hoje saiu mais uma notícia sobre os carros de combate. Também são caros, têm defeitos e não estão a ser cumpridos os prazos de entrega. Para além das negociatas mal explicadas, parece-me que há aqui muita incompetência da parte portuguesa. Mas, se calhar, também isto faz algum sentido: se os governantes nem sequer conseguem liderar o país, como é que eles haviam de fazer bem o resto?
Isto para não falar nos F16 que estão parados em Cortegaça (a maior parte ainda empacotados) e os helicópteros "Puma" que nunca foram usados por falta de peças de manutenção. Começa a ser demasiado mau para levarmos esta gente a sério. Militares, incluidos.
Lá está, uma desgraça nunca vem só.

Carlos A. Augusto disse...

Como diria um dos grandes génios da economia portuguesa "é fazer as contas"! Quanto é que custa toda essa incompetência, todos estes processos mal contados e toda esta falta de liderança. E depois a culpa é dos pensionistas pobres, dos beneficiários dos apoios sociais e, sobretudo, dos que se encheram à grande com o cheque-bébé!!

Rini Luyks disse...

Toys for the Boys e carne para os canhões.
Somos uma espécie de animais perversos, a merecer a extinção, ou não!?

Carlos A. Augusto disse...

Extinga-se o almirantado!!

Diogenes disse...

O apoio dOs USA a Espanha, é também o apoio a uma Espanha, que tenha capacidade para controlar a zona marítima que inclui os mares dos Açores, Madeira, Canárias, a costa portuguesa, a costa Africana até Cabo-Verde e naturalmente a costa de Marrocos, além, naturalmente, da costa atlântica espanhola.

Portanto, toda e qualquer capacidade que Portugal tenha para defender as suas aguas territoriais e a zona económica exclusiva, entrará em conflito com a visão compartilhada entre norte-americanos e espanhois de que é a Espanha que deve ser responsável pela vigilância e controlo das aguas portuguesas.

Portanto, a aquisição por parte de Portugal de dois submarinos do tipo U-214, cuja versão para Portugal se chamará U209PN, pode parecer de pouca importância, mas de facto não o é. Os submarinos adquiridos, em primeiro lugar, colocam Portugal á frente de Espanha na corrida para a modernização das suas frotas de submarinos. A Espanha que conta com quatro submarinos da classe Agosta, só estará equipada com submarinos com as capacidades dos submarinos portugueses, alguns anos depois de Portugal ter os seus U-214 operacionais. OS U-214, pelas suas características, nomeadamente por serem equipamentos extremamente silenciosos, podem “pairar” debaixo de agua, durante semanas, sem serem detectados. Pode, com os seus mísseis, atingir alvos a mais de 100Km de distancia, disparando mísseis sem ter necessidade de vir à superfície.

Os U-214, perante o conceito Espanhol, segundo o qual as aguas portuguesas são de facto suas para controlar, são uma ameaça a esse domínio.

Ao apresentarmos aos nossos aliados a compra dos submarinos como um facto consumado (que não deixou, curiosamente de ser criticado em alguns círculos da NATO, alegadamente - e segundo alguma imprensa portuguesa - com ligações ao governo de Madrid) estamos a dizer que esse domínio do nosso mar, não está garantido a ninguém.

Além disso, esta presença no atlântico, dá a Portugal uma importância estratégica maior, que tenderá a dar ao país, uma importância que decorre do seu mar territorial e da Zona Económica Exclusiva. Este importância permite a Portugal, ter um peso em termos internacionais, maior que aquele que teria pelo seu poder económico, dimensão territorial ou peso demográfico. Ontem como hoje, é o Atlântico que dá razão de ser a Portugal.

Para além dos equilíbrios estratégicos entre os países ibéricos, e da posição “atlantista” de Portugal face aos Estados Unidos, há outros cenários, onde a utilização de submarinos faz sentido. Os submarinos, podem ser utilizados em operações mais ou menos secretas, levadas a cabo por Portugal, na defesa dos interesses nacionais e dos interesses dos cidadãos nacionais. A cooperação com os países de expressão portuguesa, em Africa, e o eventual apoio a Timor-Leste, país cuja independência anda passa por um período de consolidação, são outras áreas onde este tipo de equipamento pode ser de uma importância determinante.

A importância de possuir este meio com enorme capacidade de dissuasão, é para Portugal de uma importância transcendental.

Só se levantam contra este tipo de equipamento, aqueles que nunca estudaram a história de Portugal, não entendendo que em muitas alturas em que a nossa capacidade no mar falhou, esteve em causa a continuidade da nação. E, naturalmente, aqueles, que também por desconhecimento ou incapacidade de interpretar a história não entendem que sempre que nos apresentámos como militarmente mais fracos, sempre fomos objectos de cobiças alheias, nomeadamente daqueles que continuam a rejeitar a história e o nosso direito a existir como nação livre e soberana.

Carlos A. Augusto disse...

Agora em versão pré-socrática temos o anónimo a atacar de novo!