Não são boas as notícias que nos vão chegando através dos orgãos de comunicação social. Para além da crise nacional, que continua a fustigar a maioria da população portuguesa e para a qual não parece haver solução conjuntural, somam-se agora as crises internacionais, algumas delas bem mais "europeias" do que podem parecer. Da Síria à Venezuela, passando pela Ucrânia, o espectro de guerra civil ganha terreno em todos os países, ainda que as causas sejam diferentes. Se algo há de comum à realidade destes regimes, é a natureza dos seus governos, de tendência dictatorial e populista, como também é habitual nestas situações. Para além dos regimes (et pour cause) estão outros interesses, que manipulam na "sombra" (quando não à descarada) os peões locais que servem a sua estratégia geopolítica.
É o caso da Síria, onde um conflito que surgiu na seguimento da "Primavera Árabe" tem vindo a alastrar a toda a região, seja pela intransigência do tirano local, seja pela ingerência dos principais blocos políticos, que tentam ganhar dividendos com a contenda. No meio, como sempre, restam os deserdados da terra, hoje milhões, espalhados pelos campos de refugiados dos países vizinhos. Depois, a Venezuela, um país dividido ao meio, onde a classe dirigente, após ter ganho a simpatia da maior parte da população mais pobre (devido às medidas implementadas por Chavez) está confrontada com a maior crise social e económica dos últimos anos, apesar da riqueza natural do país (petróleo) que continua a ser o factor maior de destabilização da região. Sem o carisma do falecido presidente, Maduro parece ter enveredado por um caminho ainda mais populista e autoritário do que o seu antecessor, o que não augura um futuro melhor para o país. Neste quadro, os EUA estarão à espreita e não é improvável que a sua influência já seja grande entre a oposição local. Finalmente, a Ucrânia. O segundo maior país da Europa depois da Russia é, desde tempos imemoriais, uma região tampão na Europa Central que, por razões culturais e políticas, sempre foi disputada pela Russia e pela Europa. Também aqui, a independência, conquistada há pouco mais de 20 anos, veio acelerar o desejo de parte significativa da população em pertencer à UE. Essa corrente, que esteve na origem da "revolução laranja", tão exaltada no Ocidente, não só não é representativa de todo o país, como nunca teve o apoio da Russia de Putin. Que o actual presidente ucraniano, democraticamente eleito, tenha impedido um acordo comercial com a UE, devido à pressão russa, é um acto que uma parte da população não lhe perdoa. Quando os interesses ocidentais exploram este desencanto e apoiam indirectamente os movimentos mais nacionalistas e de extrema-direita no país, para derrubarem o regime, é de temer o pior. As aparentes tréguas, hoje assinadas, não são a garantia de que o perigo de uma guerra civil esteja totalmente afastado. Na Ucrânia, joga-se por estes dias uma parte importante do futuro europeu.
E em Portugal? A avaliar pela missa partidária em curso numa sala lisboeta, este fim-de-semana, nada parece ter mudado. O Mundo roda, mas o país parece estático. Ou, como sintetizou um conceituado orador do evento: "O país está melhor, apesar das pessoas viverem pior". Perante tal desconchavo, vêem-me à memória as premonitórias palavras escritas nos muros de Maio de 68: "Deus não existe, Marx morreu e, eu próprio, já não me sinto lá muito bem..."
1 comentário:
Muito bem visto.
Excelente texto, embora nada reconfortante, nem o poderia ser bem sei.. Mesmo, como referes, a nível nacional temos alguns dos palhacitos pouco talentosos a fazerem um "piquenique" qualquer, entre eles, onde no entanto seus bravíssimos contestatários parecem ter ficado moucos.. Já sei, como não estão numa entrevista da telebisão, a visitar a capital em alegre convívio na associação 25 de Abril, ou ao lado de um Mário Soares na Aula Magna, ficaram com alguma faringite agúda certamente, coitadinhos.
Tudo gente muito séria, claro.
Não houvesse tanto sofrimento na população, isto seria um págode todos os dias, e do mais hilário
- beijinho
Enviar um comentário