2021/03/14

Em Brasília, a Terra é "plana"...

Desde 2019 que o Brasil é governado por um fascista. Não é a primeira vez. A última tinha sido durante a ditadura militar, entre 1964 e 1988. De então para cá, muitos foram os presidentes que governaram o país, o maior do continente sul-americano. Todos eles, democratas, como Fernando Henrique Cardoso, Lula Inácio da Silva, Dilma Rousseff, entre outros. Dilma Rousseff (2011-2016) foi, inclusive, a primeira mulher a ser eleita presidente em toda a América do Sul. 

O Brasil era, à época, um país respeitado, não só pela sua democracia (a maior do continente), mas também pelos seus programas de inclusão social, lançados ainda durante o governo de Lula da Silva (2002-2010) e pela sua robusta economia, a 7ª maior do Mundo. Os índices sociais e económicos dessa década, eram referidos como exemplo para os países em vias de desenvolvimento (Brics). Sem admiração, o país passou a integrar o G'20 (o "forum" dos países mais desenvolvidos do Mundo) e conquistou a simpatia internacional.

As coisas começaram a "derrapar" no primeiro mandato de Dilma (2011-2014). Erros cometidos com o modelo de desenvolvimento social e económico seguido (o PIB chegou a ter uma contracção de 9% e o desemprego a atingir 11% da população activa), num contexto de crise financeira mundial (sub-prime) e de despesas acrescidas (provocadas pela organização do Campeonato do Mundo de Futebol 2014 e pelos Jogos Olímpicos 2016), contribuiriam para a queda de popularidade do seu governo. 

Seria, no entanto, no segundo mandato de Dilma (2014-2016) que a situação se extremou. O anúncio de um aumento nas tarifas de transportes (enquanto o país gastava fortunas em eventos desportivos) para além da acusação de má gestão (a alegada "pedalada fiscal"), levariam os seus detractores (maioritariamente brancos da classe média) a pedir a impugnação do cargo (impeachment), moção que seria levada a votação no Congresso a 17 de Abril de 2016.

O que se passou nesse dia, está ainda na memória de todos os que puderam presenciar em directo a mais bizarra e degradante sessão vista num parlamento. Uma sessão, que pode ser considerada um "case study" em demagogia e manipulação nos parlamentos democráticos, tal a ignorância e virulência demonstradas pelos seus participantes: de deputados evangélicos histéricos a "maçons" desbragados, passando por militares saudosistas da ditadura e corruptos de diversa plumagem, todos eles representantes das forças mais retógradas do país, houve de tudo um pouco. Foi nessa histórica (e histérica) sessão que vi, pela primeira vez, Jair Bolsonaro, um obscuro deputado e ex-militar na reserva, conhecido pelas suas simpatias com a ditadura militar. A sua declaração de voto, em que elogiou o maior torcionário do regime militar, o coronel Carlos Ustra, o responsável máximo pelas torturas infligidas a Dilma Rousseff, revelaram ao Mundo o seu lado mais pulha. O resto, é História. Dilma acabaria por ser demitida (em Agosto de 2016) para ser substituída por um personagem cinzento, o vice-presidente Temer, o "mordomo", que se limitou a marcar presença, sem que hoje em dia alguém se lembre de um acto seu. 

Com a prisão de Lula, acusado num processo polémico, montado pelo juíz Moro para o afastar das eleições de 2018, o caminho para a eleição de Bolsonaro, o candidato da direita, ficou mais livre. Ganharia as eleições com 55% dos votos, apoiado pelas forças mais conservadoras e reaccionárias do Brasil: os evangélicos, os ruralistas e os militares. 

Como era previsível, a coisa só podia correr mal. Bolsonaro, para além de fascista, é um calhau, sem qualquer educação ou preparação para o cargo. As suas "boutades" são de antologia e já fazem parte do anedotário nacional. É difícil escolher um só defeito: é autoritário, racista, machista, misógino, homofóbico e negacionista. Nega as alterações climáticas e autoriza a devastação da mata amazónica, o que lhe tem valido criticas de toda a comunidade internacional. Discrimina os índios, hoje cada vez mais confinados em reservas, onde são sujeitos a "queimadas" provocadas por fazendeiros, criadores de gado e de plantações de soja. É adepto do porte de arma, invocando a defesa pessoal dos cidadãos contra a criminalidade existente, que só tem aumentado desde que chegou ao poder. Diz combater a corrupção (a sua maior acusação contra Lula) mas levou toda a família para o governo e dois dos seus filhos já foram acusados de peculato e de participação em crimes, como a da activista Marielle, no Rio de Janeiro.

O modo como "gere" a actual crise pandémica, é a maior prova da sua imbecilidade. Começou por negar o perigo do vírus, apelidando-o de "gripezinha" e "resfriado", coisas sem importância. Passou meses sem usar máscara ou distanciamento social, apelidando de "maricas", quem mostrava medo de ser contaminado. Devido às suas políticas negacionistas, o país entrou em crise sanitária profunda e, nalgumas regiões (Manaus), as populações não recebem suficiente oxigénio e morrem por asfixia. Hoje, o Brasil, é o 2º país com maiores índices de contágio e mortes a nível mundial, só ultrapassado pelos EUA, respectivamente: 11.439.250 / 9,52% e 30.055.349 / 25,01%. O número de mortes, ultrapassou esta semana pela primeira vez 2.000 casos, num dia apenas! Uma catástrofe sem procedentes, só possível num país governado por um louco. Está em curso um verdadeiro genocídio no Brasil, denunciado pelas organizações de saúde internacionais. Entretanto, criticado à esquerda e à direita, Bolsonaro, tem-se refugiado no seu ministro de saúde, o militar Pazuello, outro ignorante como ele. Provavelmente, este virá a ser substituído, já que o "mito" necessita de ganhar as eleições em 2022 e precisa de um "bode expiatório" para justificar as suas políticas de extermínio. Perante a desobediência de alguns governadores estaduais (S. Paulo, por exemplo) que decretaram planos de confinamento para evitar mais contágios, o fascista ameaça com tanques e exército nas ruas, como forma de obrigar os governadores a obedecerem. Pior, é impossível.

Como afirmou, esta semana, o ex-presidente Lula, entretanto ilibado das acusações de Moro num processo ilegal, a Terra não é plana. Nunca foi. A Terra é redonda! 

 

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