A notícia da alegada "censura" a Mário Crespo (MC) que há mais de 24horas faz parte do anedotário nacional, carece da confirmação que só poderia ser dada pelas testemunhas do ocorrido (admitindo que alguma coisa de grave ocorreu).
Ainda que não seja propriamente uma surpresa vermos um primeiro-ministro pressionar directores de TV para "calar" jornalistas incómodos, não me parece muito lógico que essa pressão tenha de ser feita num lugar público e em voz alta para que toda a gente ouvisse. A mesma pressão podia ter sido feita através do telefone ou no recato de um gabinete.
Admitindo que tudo o que Mário Crespo escreveu é verdade, ele devia saber que o contraditório era fundamental para ajuizar das suas acusações. Ora um artigo (ainda que de opinião) fundamentado em rumores, dificilmente passa o crivo de um jornalismo respeitável. Se o director do JN estava à espera de um argumento para censurar as suas crónicas, bastava-lhe este.
Por outro lado, de todas as personalidades presentes no dito almoço, MC não cita o nome do director do canal da TV abordado por Sócrates. Ficam, assim, algumas questões por responder:
Porque é que MC não revelou o nome da quarta pessoa presente (director da TV) nesse almoço?
Porque é que o director do JN não procurou indagar junto dos acusados a veracidade das acusações, exercendo o próprio jornal o seu contraditório?
Porque é que o governo, através de Jorge Lacão (um dos presentes no almoço) desvalorizou a questão afirmando que o governo não comentava calhandrices?
Verdade ou não, o afastamento de comentadores e jornalistas indesejáveis, começa a tornar-se uma tradição em Portugal: Marcelo e Moura Guedes na TVI, Marcelo na RTP e, agora, Mário Crespo no JN. Quem se seguirá?...
2010/02/02
2010/01/25
O Haiti não é aqui (2)
A televisão mostrou-o e o jornalista in loco confirmou-o: a primeira estrutura de apoio a ser montada em Port-au-Prince é portuguesa e dará, a partir de hoje, apoio a 600 pessoas nos próximos seis meses. A registar.
2010/01/23
Pedido...
Solicito aos habituais leitores do Face que me expliquem o sentido da seguinte frase:
"Vamos continuar a ser-nos fornecidos elementos indispensáveis [para avaliar o orçamento...]"
A frase é de autoria de Manuela Ferreira Leite e foi pronunciada (duas vezes, para que não haja dúvida!) à saída do seu encontro de hoje com o Primeiro Ministro.
"Vamos continuar a ser-nos fornecidos elementos indispensáveis [para avaliar o orçamento...]"
A frase é de autoria de Manuela Ferreira Leite e foi pronunciada (duas vezes, para que não haja dúvida!) à saída do seu encontro de hoje com o Primeiro Ministro.
2010/01/22
A tradição ainda é o que era...
Tudo aponta para que o próximo Orçamento de Estado (OE) venha a ser aprovado com os votos favoráveis do PS e do CDS. Nada que nos espante, pois já o tinhamos previsto aqui no último Verão. Sempre que o PS governou em minoria - com Soares nos anos setenta e oitenta e com Guterres nos anos noventa e no período 1999-2001 - todos os acordos para viabilizar os respectivos OE foram feitos à "direita". De uma coisa não podemos acusar o PS, que se auto-proclama um partido de "esquerda": é de falta de coerência. A tradição, sabemos, tem sempre muita força.
2010/01/18
A voz do dono
Este tipo de pensamento tem dono e portanto age, melhor reage, sob o efeito da trela. A sua vocação é o mimetismo. É mimético do que o chefe diz e nada diz por si mesmo. Há muitos exemplos de criaturas que representam este tipo de produção mental. Os mais notórios são aqueles que pertencem ao universo dos acólitos e que têm o treino de secundar. Secundam a opinião do chefe pois nada mais lhes agrada do que agradar ao chefe. Isto não significa que gostem do chefe ou que admirem o chefe. O chefe aliás, nos tempos que correm, é chefe numa prestação de tempo e portanto não garante ao que secunda, ao que amplifica o que o chefe quer que se saiba, uma carreira longa, um tempo de privilégio que dure uma vida. Por isso os secundários têm de ser infiéis por natureza. Eles apostam num chefe e já estão a olhar para o próximo. São traidores por natureza.
Acontece também que este tipo de criatura caixa de ressonância, por vezes, quando está ameaçada a sua situação de segundo, pode ser voraz e perigosa. Quando enraivece pode mesmo morder e mais que argumentar o que a cartilha da circunstância dita, pode agredir, insultar, lançar boato, explorar os baixos instintos da massa e lançar o opróbrio sobre quem, ameaçando-o dirá ele, afirme uma verdade, defenda uma causa, afirme um desígnio de mudança para melhor, em suma queira naturalmente, por sensatez e mesmo por bondade, um mundo melhor, portanto diferente.
O cão de fila, outro nome para este tipo de “segundo”, é a expressão mais agressiva deste tipo de criatura. A expressão é feliz pois é um cão que fila aquele que é dissidente, o que é do outro clube e se quer passar para o dele não havendo espaço nem cargo, e principalmente o que afirma que há uma alternativa à situação, que nem tudo é a dívida pública, nem os impostos, nem a economia, nem a Europa, e que Pirandello e Pessoa já o diziam. O cão de fila diz o que o chefe diz de um modo mais peremptório que o chefe. O que o chefe diz de um modo suave, mesmo que cinicamente suave, ou hipocritamente suave, o cão de fila diz com os dentes cerrados e espera a contestação para lançar o gás pimenta do verbo de um modo obviamente definitivo. Não gosta do debate, gosta de opinar de cima para baixo e aprecia o argumento populista, manobra bem a intriga e paga bem, a um outro candidato a segundo capaz de fidelidade por cima do cadáver da ética. Paga obviamente com os dinheiros de outros, nomeadamente com os dinheiros públicos – também acontece pagar em géneros e em cargos, situações, viagens ao estrangeiro, na conta de um familiar, através de um empreiteiro que constrói fora do país.
Todas as manhas são possíveis num país com séculos de manha. O que assusta mais o cão de fila é ver outro cão de fila a aproximar-se do seu lugar na fila. Nessa situação é capaz de matar o próximo e de mandar matar o próximo do próximo, como a Máfia. É um tipo deveras perigoso porque nunca consta daquele tipo de cartaz que havia no Texas a dizer “procura-se morto ou vivo”. Está sempre do lado dos que procuram, dos que fazem a lei e nunca do outro lado. É um tipo que se disfarça de boa pessoa e que diz constantemente que não tem outra agenda que não seja a agenda do chefe. Bem vistas as coisas, neste tipo de criatura, descobrimos sempre mais de um chefe desejado e alguns mudam mesmo rapidamente para o chefe da posição antagonista com a rapidez da bala. Da fidelidade reafirmada são capazes de passar a outra religião qualquer desde que essa seja a que fica por cima nos tempos subsequentes. Têm um feitio traçado para acumulação de capital. Seja através de acções, seja na bolsa, seja em imobiliário. Vêm normalmente de baixo e quanto mais de baixo, maior é a voracidade. São, na opinião dos chefes, insubstituíveis. Neste preciso momento abundam, proliferaram com a falta de ar e de debate. São de facto muito dados a crescer no mofo e gostam de tudo o que é bafiento. São muitas vezes difíceis de distinguir dos outros, porque nem todos caiem na esparrela da ostentação do que adquiriram por via ilícita. Muitos passam aliás por pessoas de bondade e dedicadas à causa pública de alma e coração. Não vêem um pobre sem lhe encher a mão de cêntimos desde que alguém faça a fotografia. Enfim, são como tartufos e não são uma espécie em vias de extinção.
Na realidade este tipo de criatura assume um papel na engrenagem e na engrenagem cumpre como a mola, sem brilho algum, sem entusiasmo algum, sem coração. E dizer que pensa é afinal um erro crasso porque pensar é outra coisa, é algo que se faz na solidão e no debate, o que pressupõe justamente a ausência do chefe. Quanto muito a presença simbólica do mestre. O pensamento escravo é afinal um contra-senso nos termos e uma forma específica do pensamento único, aquele que regula o mercado pela sua própria regra sistémica de injustiça estruturante e sempre disposto a cimentá-la dinamicamente. É um gestor constante da verdade única.
Acontece também que este tipo de criatura caixa de ressonância, por vezes, quando está ameaçada a sua situação de segundo, pode ser voraz e perigosa. Quando enraivece pode mesmo morder e mais que argumentar o que a cartilha da circunstância dita, pode agredir, insultar, lançar boato, explorar os baixos instintos da massa e lançar o opróbrio sobre quem, ameaçando-o dirá ele, afirme uma verdade, defenda uma causa, afirme um desígnio de mudança para melhor, em suma queira naturalmente, por sensatez e mesmo por bondade, um mundo melhor, portanto diferente.
O cão de fila, outro nome para este tipo de “segundo”, é a expressão mais agressiva deste tipo de criatura. A expressão é feliz pois é um cão que fila aquele que é dissidente, o que é do outro clube e se quer passar para o dele não havendo espaço nem cargo, e principalmente o que afirma que há uma alternativa à situação, que nem tudo é a dívida pública, nem os impostos, nem a economia, nem a Europa, e que Pirandello e Pessoa já o diziam. O cão de fila diz o que o chefe diz de um modo mais peremptório que o chefe. O que o chefe diz de um modo suave, mesmo que cinicamente suave, ou hipocritamente suave, o cão de fila diz com os dentes cerrados e espera a contestação para lançar o gás pimenta do verbo de um modo obviamente definitivo. Não gosta do debate, gosta de opinar de cima para baixo e aprecia o argumento populista, manobra bem a intriga e paga bem, a um outro candidato a segundo capaz de fidelidade por cima do cadáver da ética. Paga obviamente com os dinheiros de outros, nomeadamente com os dinheiros públicos – também acontece pagar em géneros e em cargos, situações, viagens ao estrangeiro, na conta de um familiar, através de um empreiteiro que constrói fora do país.
Todas as manhas são possíveis num país com séculos de manha. O que assusta mais o cão de fila é ver outro cão de fila a aproximar-se do seu lugar na fila. Nessa situação é capaz de matar o próximo e de mandar matar o próximo do próximo, como a Máfia. É um tipo deveras perigoso porque nunca consta daquele tipo de cartaz que havia no Texas a dizer “procura-se morto ou vivo”. Está sempre do lado dos que procuram, dos que fazem a lei e nunca do outro lado. É um tipo que se disfarça de boa pessoa e que diz constantemente que não tem outra agenda que não seja a agenda do chefe. Bem vistas as coisas, neste tipo de criatura, descobrimos sempre mais de um chefe desejado e alguns mudam mesmo rapidamente para o chefe da posição antagonista com a rapidez da bala. Da fidelidade reafirmada são capazes de passar a outra religião qualquer desde que essa seja a que fica por cima nos tempos subsequentes. Têm um feitio traçado para acumulação de capital. Seja através de acções, seja na bolsa, seja em imobiliário. Vêm normalmente de baixo e quanto mais de baixo, maior é a voracidade. São, na opinião dos chefes, insubstituíveis. Neste preciso momento abundam, proliferaram com a falta de ar e de debate. São de facto muito dados a crescer no mofo e gostam de tudo o que é bafiento. São muitas vezes difíceis de distinguir dos outros, porque nem todos caiem na esparrela da ostentação do que adquiriram por via ilícita. Muitos passam aliás por pessoas de bondade e dedicadas à causa pública de alma e coração. Não vêem um pobre sem lhe encher a mão de cêntimos desde que alguém faça a fotografia. Enfim, são como tartufos e não são uma espécie em vias de extinção.
Na realidade este tipo de criatura assume um papel na engrenagem e na engrenagem cumpre como a mola, sem brilho algum, sem entusiasmo algum, sem coração. E dizer que pensa é afinal um erro crasso porque pensar é outra coisa, é algo que se faz na solidão e no debate, o que pressupõe justamente a ausência do chefe. Quanto muito a presença simbólica do mestre. O pensamento escravo é afinal um contra-senso nos termos e uma forma específica do pensamento único, aquele que regula o mercado pela sua própria regra sistémica de injustiça estruturante e sempre disposto a cimentá-la dinamicamente. É um gestor constante da verdade única.
2010/01/17
Mergulhados na ausência
2010/01/16
O Haiti não é aqui...
...mas, às vezes, parece. Logo agora, que a missão portuguesa foi uma das primeiras a disponibilizar-se para ajudar a mártir população haitiana, o C-130 (que devia transportar os membros do INEM, da AMI e restantes equipas de salvamento) sofreu uma avaria técnica ao sobrevoar o Atlântico e foi obrigado a regressar a Lisboa. A nova partida (do mesmo avião) está prevista para o meio-dia de hoje. Vamos lá ver se é desta...
2010/01/07
O Albergue Espanhol
A disciplina de voto - imposta por Sócrates à bancada do PS, na aprovação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo - será obrigatória para todos os deputados, menos cinco. As excepções são os três "independentes" (Miguel Vale de Almeida, João Galamba e Inês Medeiros) e os dois "fracturantes" (Sérgio Sousa Pinto e Duarte Cordeiro). Não se compreende porque não é dada liberdade de voto aos deputados, a menos que as divisões internas sejam tão grandes que os votos a favor desta lei não garantam a maioria desejada para aprová-la. Se é essa a razão, compreende-se a preocupação do primeiro-ministro. Aceitar cinco votos contra, ainda vá que não vá, mas se houver muitos mais, o que será da lei e, pior, do "unanimismo" partidário?
É por isso que a lei proposta pelo PS é coxa e discriminatória na sua essência: aprova a igualdade no casamento, mas desaprova a igualdade na adopção, que é a sua implicação lógica. Pior: exige dos seus deputados um voto único, numa questão de escolha individual e onde o estado não tem de meter o bedelho.
Nas ditaduras estalinistas de má memória, chamava-se a esta disciplina, "disciplina de cadáver" (só os mortos não podem opinar). Neste PS sem ideologia, como apelidar esta bancada partidária? "Casa de putas"?
É por isso que a lei proposta pelo PS é coxa e discriminatória na sua essência: aprova a igualdade no casamento, mas desaprova a igualdade na adopção, que é a sua implicação lógica. Pior: exige dos seus deputados um voto único, numa questão de escolha individual e onde o estado não tem de meter o bedelho.
Nas ditaduras estalinistas de má memória, chamava-se a esta disciplina, "disciplina de cadáver" (só os mortos não podem opinar). Neste PS sem ideologia, como apelidar esta bancada partidária? "Casa de putas"?
2010/01/04
Lhasa
As agências são parcas em notícias. Era americana de origem, tinha 37 anos, gravou três albuns e morreu de cancro. Vi-a, ao vivo, na Aula Magna de Lisboa e, posteriormente, na cidade de Montreal (Canadá), durante a "Folk Alliance" de 2005. Um espanto, a "cantora nómada", como era apelidada pelos seus fãs. Chamava-se Lhasa de Sela.
2009/12/31
Ortografia
Ao contrário da maior parte das pessoas ainda não sei o que vou fazer em 2010.
Mas sei o que não vou fazer em 2010. É escrever segundo as regras do novo Acordo Ortográfico.
Tudo como dantes, pois.
Bom Ano!
Mas sei o que não vou fazer em 2010. É escrever segundo as regras do novo Acordo Ortográfico.
Tudo como dantes, pois.
Bom Ano!
2009/12/29
Num país de labregos
A Ordem dos Médicos, essa vetusta corporação que representa uma das classes profissionais mais reaccionárias do pequeno mundo lusitano, acaba de proclamar, através de comunicado anunciado com pompa e circunstância por todos os meios de comunicação social, que a "homossexualidade não é uma doença". Lê-se e não se acredita. O que se aprende com a Ordem dos Médicos!
Estou absolutamente convencido que, a partir de agora, os portugueses vão passar a dormir muito mais descansados. Menos um problema para 2010. Que alívio...
Estou absolutamente convencido que, a partir de agora, os portugueses vão passar a dormir muito mais descansados. Menos um problema para 2010. Que alívio...
2009/12/24
Política à Portuguesa
A questão do casamento homossexual ameaça transformar-se numa bomba política que vai escaqueirar tudo, bombistas e vítimas da bomba.
A aposta no tema do casamento homossexual parecia ganha para o PS. Cavaco Silva, com aquele seu habitual agudo sentido político, reforça a vitória e faz o enorme favor aos socialistas de afirmar que havia coisas mais importantes na vida dos portugueses. Ao fazer estas declarações neutralizou o potencial de conflito deste tema e o PS viu uma bomba capaz de lhe explodir nas mãos ser neutralizada pela figura que dela podia tirar maior partido político. A malta tem mais em que pensar, terá pensado Cavaco, e serão os próprios portugueses que com a sua indiferença farão o favor de neutralizar este maçador problemazinho. Os portugueses acharão que isto não passa de... mariquices e remetê-las-ão para o armário de onde saíram, terá pensado sua excelência.
Puro engano! Um movimento de cidadãos conseguiu reunir as 75 000 assinaturas necessárias para levar esta questão à AR e o assunto vai mesmo ser discutido. Ainda por cima, este movimento inclui até gente da zona do PS. Cá para mim, o Freeport, a licenciatura do Primeiro Ministro, etc, são bombinhas de carnaval comparadas com esta bomba!
O casamento homossexual ameaça assim fazer muito mais mossa do que os diferentes agentes políticos queriam ou previam que iria fazer.
Resultado: o PS viu este vulcão, que ia borbulhando mansamente na agenda política do país, entrar de novo em violenta erupção. No meio disto, o PR (e, já agora, a Igreja Católica que deixa cair a sotaina, desenterrando, ao referir-se a este assunto, linguagem da Inquisição...) vai ter de explicar a toda esta gente onde é que está a importância dos outros problemas que referiu nas suas declarações. Pelos vistos, para umas largas dezenas de milhar de portugueses, desemprego, défice, sobreendividamento, etc, são problemas de lana caprina comparados com o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
E assim vamos vivendo...
A aposta no tema do casamento homossexual parecia ganha para o PS. Cavaco Silva, com aquele seu habitual agudo sentido político, reforça a vitória e faz o enorme favor aos socialistas de afirmar que havia coisas mais importantes na vida dos portugueses. Ao fazer estas declarações neutralizou o potencial de conflito deste tema e o PS viu uma bomba capaz de lhe explodir nas mãos ser neutralizada pela figura que dela podia tirar maior partido político. A malta tem mais em que pensar, terá pensado Cavaco, e serão os próprios portugueses que com a sua indiferença farão o favor de neutralizar este maçador problemazinho. Os portugueses acharão que isto não passa de... mariquices e remetê-las-ão para o armário de onde saíram, terá pensado sua excelência.
Puro engano! Um movimento de cidadãos conseguiu reunir as 75 000 assinaturas necessárias para levar esta questão à AR e o assunto vai mesmo ser discutido. Ainda por cima, este movimento inclui até gente da zona do PS. Cá para mim, o Freeport, a licenciatura do Primeiro Ministro, etc, são bombinhas de carnaval comparadas com esta bomba!
O casamento homossexual ameaça assim fazer muito mais mossa do que os diferentes agentes políticos queriam ou previam que iria fazer.
Resultado: o PS viu este vulcão, que ia borbulhando mansamente na agenda política do país, entrar de novo em violenta erupção. No meio disto, o PR (e, já agora, a Igreja Católica que deixa cair a sotaina, desenterrando, ao referir-se a este assunto, linguagem da Inquisição...) vai ter de explicar a toda esta gente onde é que está a importância dos outros problemas que referiu nas suas declarações. Pelos vistos, para umas largas dezenas de milhar de portugueses, desemprego, défice, sobreendividamento, etc, são problemas de lana caprina comparados com o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
E assim vamos vivendo...
2009/12/23
Hot Clube
Lamentar um incêndio, num prédio parcialmente devoluto, seria banal não fora nesse mesmo prédio estar alojado (há 60 anos!) o mais famoso e emblemático espaço de "jazz" de Lisboa. Foi ontem, de madrugada, e podia ter sido há anos atrás, tantos quanto o imóvel esteve abandonado. Para já, o "jazz" deve continuar no S. Jorge, ao virar da esquina, que chegou a ser uma das melhores salas de cinema de capital e que, nos últimos anos, não passa de uma "barriga de aluguer" sem qualquer critério de programação ou gosto definido.
Resta-nos desejar um rápido regresso do "Hot" ao seu lugar de origem, se possível ocupando todo o edifício com actividades ligadas ao "jazz", pois é essa a sua vocação natural. Os melómanos agradecem e a capital ficará certamente mais rica com uma sala a condizer. Se há dinheiro para as acrobacias do "Red Bull" também tem de haver meios para a reconstrução da "escola", não é verdade? Se fôr preciso, faz-se uma petição. Com baixo-assinado e tudo.
Resta-nos desejar um rápido regresso do "Hot" ao seu lugar de origem, se possível ocupando todo o edifício com actividades ligadas ao "jazz", pois é essa a sua vocação natural. Os melómanos agradecem e a capital ficará certamente mais rica com uma sala a condizer. Se há dinheiro para as acrobacias do "Red Bull" também tem de haver meios para a reconstrução da "escola", não é verdade? Se fôr preciso, faz-se uma petição. Com baixo-assinado e tudo.
2009/12/16
Poupadinhos
Certamente preocupada com a grave situação do país - quem não está? - a confederação dos patrões, com o inenarrável Van Zeller à cabeça, veio propôr um aumento de 10 euros para o salário mínimo nacional, em vez dos 25 euros anunciados pelo governo. A argumentação é a de que a maioria das pequenas e médias empresas - que constituem 80% do tecido empresarial português - não estariam em condições de pagar tal aumento.
Os sindicatos fizeram as contas e chegaram à conclusão que o aumento proposto pelo governo não atingia sequer 1% dos lucros globais gerados o que, traduzido em euros, daria qualquer coisa como 8 euros por cada 10.000 euros produzidos. Ou seja, "peanuts" em linguagem de hipermercado.
Resta, obviamente, uma questão: se os grandes hipermercados e distribuidores podem pagar os 25 euros propostos, o mesmo não será possível para a maioria das nano-micro-pequenas e médio-empresas deste país. Muito bem. Nesse caso, obrigue-se os bancos, muitos deles culpados da recente crise que a todos afecta e a quem o governo deu milhões de euros para "salvar" da bancarrota, a abrir linhas de crédito favoráveis à sustentabilidade das pequenas empresas. Para que, deste modo, estas não só garantam os postos de trabalho, como possam pagar o salário mínimo nacional proposto (475 euros) o que permitirá aos trabalhadores gastarem mais nas lojas do Belmiro de Azevedo. Desta forma, ganhavam todos, incluindo o poupadinho Van Zeller...
Os sindicatos fizeram as contas e chegaram à conclusão que o aumento proposto pelo governo não atingia sequer 1% dos lucros globais gerados o que, traduzido em euros, daria qualquer coisa como 8 euros por cada 10.000 euros produzidos. Ou seja, "peanuts" em linguagem de hipermercado.
Resta, obviamente, uma questão: se os grandes hipermercados e distribuidores podem pagar os 25 euros propostos, o mesmo não será possível para a maioria das nano-micro-pequenas e médio-empresas deste país. Muito bem. Nesse caso, obrigue-se os bancos, muitos deles culpados da recente crise que a todos afecta e a quem o governo deu milhões de euros para "salvar" da bancarrota, a abrir linhas de crédito favoráveis à sustentabilidade das pequenas empresas. Para que, deste modo, estas não só garantam os postos de trabalho, como possam pagar o salário mínimo nacional proposto (475 euros) o que permitirá aos trabalhadores gastarem mais nas lojas do Belmiro de Azevedo. Desta forma, ganhavam todos, incluindo o poupadinho Van Zeller...
Irresponsabilidades
Se passassem a trabalhar 60 horas por semana, onde iriam os trabalhadores das grandes superfícies comerciais detidas por Belmiro Azevedo e Cia., arranjar tempo para gastar as fortunas monumentais que passariam a ganhar? Ou a ideia seria a de passarem a fazer as suas compras pessoais todas nessas superfícies, quiçá mesmo passar a dormir lá...?
2009/12/14
COP15 tem sucesso assegurado

A questão climatérica, que constitui o eixo da discussão que neste momento decorre em Copenhaga, sempre me suscitou muitas dúvidas. Aqui mesmo no Face exprimi há tempos umas ideias (de leigo!) sobre o assunto.
No geral, continuo a fazer parte do grupo dos cépticos, no que estou aliás estou bem acompanhado... Desde que escrevi aquele post não vejo razões para mudar radicalmente o meu pensamento sobre esta matéria. Concedo, apesar de tudo, que a acção humana pode ter alguma influência sobre estes fenómenos, sobretudo quando pensamos nas zonas de grande concentração urbana e de intensa actividade industrial, que certamente têm um impacto significativo no ambiente. Mas, olhando para a história das grandes "convulsões" ambientais do passado, no geral, continuo a pensar que, apesar de tudo e por simples exercício de lógica, que está por provar que a acção humana, por muita importância que tenha, tem dimensão suficiente para produzir as alterações pretendidas.
São opiniões de total leigo, mas mantenho-as.
Se, por um lado, não posso pois esperar grande coisa de Copenhaga, creio também, contudo, que esta reunião tem um mérito indesmentível.
Para aqueles de nós que crescemos empunhando a bandeira da ecologia, a indiferença foi um dos nossos piores inimigos. O outro inimigo, que nós próprios criámos, resultou do erro brutal de termos deixado que esta questão se tranformasse numa espécie de derby futebolístico, com "claques" de um lado e de outro.
O mérito e a vitória (já assegurada!) da COP15 reside no impulso decisivo que é dado ao problema ecológico, colocando-o no centro das nossas atenções ("Prestar atenção é, em si mesmo, ampliar" - Galileo's Dream, K. S. Robinson) e provando que ele é transversal, estruturante e que, de facto, nos diz respeito a todos. E mais! Longe de ser um problema fracturante, a questão ambiental é uma das poucas que, definitivamente, nos obriga a entendimentos e a uma acção concertada sobre o modelo de desenvolvimento humano que queremos para o futuro.
Não é questão de pouca monta...
Para aqueles de nós que crescemos empunhando a bandeira da ecologia, a indiferença foi um dos nossos piores inimigos. O outro inimigo, que nós próprios criámos, resultou do erro brutal de termos deixado que esta questão se tranformasse numa espécie de derby futebolístico, com "claques" de um lado e de outro.
O mérito e a vitória (já assegurada!) da COP15 reside no impulso decisivo que é dado ao problema ecológico, colocando-o no centro das nossas atenções ("Prestar atenção é, em si mesmo, ampliar" - Galileo's Dream, K. S. Robinson) e provando que ele é transversal, estruturante e que, de facto, nos diz respeito a todos. E mais! Longe de ser um problema fracturante, a questão ambiental é uma das poucas que, definitivamente, nos obriga a entendimentos e a uma acção concertada sobre o modelo de desenvolvimento humano que queremos para o futuro.
Não é questão de pouca monta...
2009/12/10
É de facto caso para dizer: tenham juizinho...!
O episódio da troca de insultos na AR não é só grave pelas razões substantivas que todos tivemos oportunidade de conhecer. O que me choca não é ver membros de um orgão de soberania usando, de forma ostensiva, métodos e uma linguagem próprios de moços (e moças!) de estrebaria. O que me deixa seriamente apreensivo é imaginar que esta gente tem poder para tratar de assuntos que influenciam profundamente o dia a dia de todos nós.
Não deixa de chocar também que o Presidente da AR se limite a esperar que os deputados envolvidos neste caso moderem a linguagem, e não deixa de chocar que os outros deputados, instados a comentar o que se passou, respondam tentando branquear, uns, estas situações e chutando, outros, para a comunicação social a responsabilidade de relevar estes actos em detrimento do que, supostamente, de bom se passa na AR. Ou, tantos outros ainda, se calem.
A verdade é que podemos legitimamente perguntar: se estes deputados demonstram uma tal falta de controlo pessoal e de princípios, e os outros se calam ou assumem uma atitude de um corporativismo caricato, é de esperar que exerçam as suas funções de forma competente?
Não se trata de um fait divers. É um problema grave que merece a tomada de medidas exemplares.
Não deixa de chocar também que o Presidente da AR se limite a esperar que os deputados envolvidos neste caso moderem a linguagem, e não deixa de chocar que os outros deputados, instados a comentar o que se passou, respondam tentando branquear, uns, estas situações e chutando, outros, para a comunicação social a responsabilidade de relevar estes actos em detrimento do que, supostamente, de bom se passa na AR. Ou, tantos outros ainda, se calem.
A verdade é que podemos legitimamente perguntar: se estes deputados demonstram uma tal falta de controlo pessoal e de princípios, e os outros se calam ou assumem uma atitude de um corporativismo caricato, é de esperar que exerçam as suas funções de forma competente?
Não se trata de um fait divers. É um problema grave que merece a tomada de medidas exemplares.
2009/12/06
2009/12/04
Fuso Luso 4
Parece que tudo não passou de um acidente, mas o que é facto é que os Minutemen conseguiram derrotar os Red Coats. E o "acidente" acabou por ter enormes e profundas repercussões.
Os americanos pagavam impostos e, nesse sentido, achavam-se no direito de se verem representados nas instâncias políticas da metrópole. Os ingleses discordavam, os americanos revoltaram-se e os ingleses trataram de reprimir a revolta. Foram derrotados. O que se seguiu justifica bem a frase de Emerson.
O pior é que depois disto o rol de ataques ao direito à revolta em que os americanos participaram por todo o mundo não tem fim. E, ignomínia das ignomínias, os Minute Men de agora até acabaram por se juntar aos Red Coats de antanho para meter o nariz onde não eram chamados, deixando de intervir onde, se calhar, era preciso.
Há uma América para consumo interno e externo (no sentido literal e metafórico do termo...) e nesta América de hoje os sinais que se vêem indicam que a lição de Thoreau foi, de facto, esquecida.
E, contudo, ela está ali à vista de todos os que visitam Concord. Num placard colocado por cima do local do tal primeiro tiro pode ler-se:
"Continuamos a chamar a isto a terra da liberdade? Que liberdade há em nos livrarmos do Rei Jorge, se continuamos a ser escravos do Rei Preconceito? Qual a vantagem de nascer livre e não viver livre? Para que outra coisa serve a liberdade política senão para aceder à liberdade moral?"
Não sei se os americanos já perceberam isto depois de todos estes anos...
2009/12/02
Fuso Luso 3

Parece haver uma linguagem oculta nos sinais de trânsito, à semelhança daquela que Edward T. Hall descobriu nos comportamentos e posturas das pessoas. Esta combinação do "do-not-enter/wrong-way" diz-nos qualquer coisa sobre o direito ao erro, à tolerância e à capacidade de proporcionar novas oportunidades que reina nas sociedades norte-americanas.

Se existe a mesma tolerância para com os membros exógenos a estas sociedades, ou se ela conta nas relações destes países com o exterior, aí já tenho sérias dúvidas.
De qualquer forma, o contraste com o que se passa em Portugal é notório. Desrespeitar um sinal de sentido proibido é um desporto radical, e mesmo que o sinal seja passado por engano, não há um aviso, mais adiante, que nos diga de forma serena que nos enganámos, mas que temos a possibilidade de corrigir esse engano.
Eu vejo uma metáfora nisto...
2009/12/01
A Hora do Lobo
Menos de uma semana depois da lei do código contributivo ter sido chumbada pela oposição na Assembleia da República, o governo já contra-atacou. A acreditar na manchete de um matutino de hoje, o fisco enviou um SMS a 100.000 contribuintes a lembrar o pagamento. Nada a opôr, não fosse a hora escolhida para tal "operação": 4 horas da madrugada!
Compreende-se o zelo em recuperar receitas para o depauperado cofre da nação. Já custa mais a entender o "timing" da coisa: "a hora do lobo", como lhe chamaria Bergman. Nos tempos da outra senhora, os PIDES também costumavam aparecer de madrugada para levar os cidadãos incomódos para o regime. Há hábitos que nunca se perdem...
Compreende-se o zelo em recuperar receitas para o depauperado cofre da nação. Já custa mais a entender o "timing" da coisa: "a hora do lobo", como lhe chamaria Bergman. Nos tempos da outra senhora, os PIDES também costumavam aparecer de madrugada para levar os cidadãos incomódos para o regime. Há hábitos que nunca se perdem...
2009/11/28
Smartphones
Tivessem os sucateiros deste regime enferrujado acesso ao crypto-smartphone russo e nenhuma "pessoa de bem" do nosso regime estaria agora indiciado no crime de tráfico de influências que dá pelo nome de "Face Oculta". Limitações do nosso desenvolvimento tecnológico. Mas, não desesperem os mafiosos portugueses: a coisa custa apenas 2.000 euros o que, para os Godinhos da nossa praça, são "peanuts". Não foi ele acusado de querer comprar Vara por apenas 10.000 euros? Dava para comprar cinco "cryptos"...
2009/11/25
Cinco dias noutra cidade
É sempre bom sair de Portugal. Ao contrário do meu companheiro de blogue que vê "potencialidades" portuguesas no futebol, a minha experiência do estrangeiro só confirma o atraso contínuo do nosso pais em relação às nações mais desenvolvidas da Europa. Esta é uma tendência de décadas e pode ser observada por simples observação empírica da realidade. As estatísticas, de que fala o Carlos Augusto, sublinham uma triste evidência: a de um país - o nosso - que no seu quotidiano dá cada vez mais sinais de pobreza em contraste com os sinais exteriores de riqueza de uns quantos. Basta um simples passeio pelo centro histórico de Amsterdão - cidade onde vivi 30 anos e que continuo a visitar regularmente - para nos apercebermos disso. Das pessoas às casas, do trato pessoal à eficiência dos serviços, tudo funciona melhor, num país com a superfície do Alentejo e uma das maiores densidades populacionais do Mundo. Sim, também lá há pobreza (relativa), corrupção (noticiada) e racismo (nem sempre disfarçado). Mas, a qualidade do quotidiano para os seus cidadãos é, sem dúvida, superior e o "stress" (eventualmente maior numa sociedade competitiva e inovadora como a holandesa) é compensado pela eficácia e pragmatismo de um estado que há muito compreendeu que do bem-estar da população depende um maior desenvolvimento do país. Dir-me-ão: é um país mais rico e por isso é mais fácil distribuir a riqueza. Certamente. Mas, à excepção do gás no mar do Norte, não se lhe conhece outras matérias-primas de relevo. O resto, a agricultura, a industria, o comércio e as novas tecnologias, são tudo produto do mesmo: mais educação e formação cívica numa sociedade onde a ética não é uma palavra vã. Também, por essa razão, há menos corrupção e a riqueza é mais bem distribuida. Parece simples, mas não é. Enquanto os portugueses - dos governantes aos governados - não conseguirem interiorizar os princípios básicos que devem reger uma sociedade mais justa e igualitária, a "face oculta" do nosso triste quotidiano não vai melhorar. Nem daqui a uma geração...
2009/11/22
Fuso Luso 2
Nos últimos quatro anos o senhor Picower teria retirado grandes somas do dinheiro investido no empreendimento do senhor Madoff, e isso terá intrigado outros investidores que, suspeitando que ele sabia o que se estava a passar naquela organização, o levaram a tribunal.
Os investigadores do Picower Institute continuam, entretanto, a tentar aprender os complexos mecanismos da memória, aparentemente indiferentes ao sururu causado pelo caso Madoff e pelo caso Picower. Fazem-no neste magnífico edifício, situado em pleno território do MIT, onde para além das luxuosas condições de trabalho, desfrutam do luxuriante jardim interior no último andar que a gravura parcialmente desvenda (clique sobre a foto para ver).
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