2010/03/17

Plano de Empobrecimento Colectivo

Ouvir Pedro Adão e Silva dizer que o actual PEC é um documento alheio ao ADN do Partido Socialista, diz mais sobre a deriva ideológica que grassa actualmente no partido do governo de que todas as críticas que os partidos da oposição possam vir a fazer ao programa de estabilidade e crescimento anunciado. O jovem turco do PS não podia ser mais claro: o documento não só contradiz as promessas eleitorais do PS (não aumentar impostos, aumentar o investimento público e reduzir despesas) como - mais uma vez - vai sacrificar a larga maioria do assalariados portugueses, agora eufemisticamente denominados de "classe média", e que são quem vai pagar uma crise da qual não têm culpa alguma. Pior, as deduções fiscais anunciadas, vão atingir principalmente os grupos mais desfavorecidos da sociedade portuguesa: desempregados, reformados com pensões baixas e dependentes do subsídio de inserção social, para não falar dos desempregados de longa duração, os quais não têm qualquer espécie de apoio após os meses de subsídio a que têm direito. Qualquer coisa como dois milhões de pessoas.
"Medidas de direita que o CDS subscreveria", as palavras são de Adão e Silva e, a avaliar por outras vozes dissonantes dentro do seu partido (Paulo Pedroso, João Cravinho, Maria de Belém), uma prova de que o socratismo já nem os seus soldados consegue motivar. Resta saber se, no PS, há gente suficiente que se reconheça nestas palavras, ou se o partido vai prosseguir no caminho autista que vem trilhando de há cinco anos a esta parte. Para já, as notícias não são animadoras e não parece existir plano que melhore as projecções conhecidas. O único plano conhecido é mesmo o do empobrecimento nacional.

2010/03/11

Leis e corolários

Os jornais revelaram recentemente um inquérito, levado a cabo pela BBC, dando conta que 87% dos portugueses consideram a Net como um direito fundamental. Só os turcos nos batem nesta fé digital.
Contudo, há um outro resultado bastante perturbante neste inquérito. 53% dos portugueses inquiridos revelam que se sentem inseguros quando expresssam das suas opiniões usando este meio.
Os portugueses, com outros povos que estiveram ou estão sujeitos ao garrote da censura, prezam a possibilidade de exprimirem livremente os seus pontos de vista, e vêem naturalmente na net uma garantia dessa liberdade e do repeito pelos seus direitos. Mas, avisadamente, percebem que há por aí ainda muitas caixas de lápis azuis escondidas.
Intuitivamente, sentimos que os espaços de opinião, designadamente aqueles que a internet proporciona, são espaços de liberdade rigorosamente vigiada. E não estou sequer a referir-me ao controlo do poder. Os próprios cidadãos convivem mal com a opinião dos outros. Embora o exercício público, saudável, desejável e democraticamente indispensável, do direito de opinião vá assumindo formas variadas e pujantes, esta prática da cidadania através da manifestação livre e responsável é ainda um acto que está longe de ser banal, e está visivelmente mal enraizado nos nossos hábitos colectivos.
Repare-se nos blogues e, sobretudo, no comentário. Aí se vê o mais das vezes o quanto esse exercício é penoso para alguns e suscita indisfarçáveis tiques fascistóides a outros. É disso exemplo o culto do "anonimismo" e a tentativa de boicote técnico, mais comum do que se pensa.
Numa perspectiva mais alargada, esta bronquite cívica, que impede a opinião de respirar livremente, longe de ser uma tendência em declínio, parece querer medrar.
Depois de --certamente com justiça, pelo que se sabe hoje-- o PSD ter acusado o PS de "asfixia democrática" (eu chamo-lhe bronquite, mas continuamos sempre no domínio da pneumologia...), eis que o próprio PSD faz aprovar uma norma que nos lembra aquela máxima do Frei Tomás.
Santana Lopes exigia neste último congresso do seu partido, que o primeiro ministro se demitisse ou "desse um murro na mesa", como forma de responder à crítica sobre as sinistras tentativas de limitação da liberdade de imprensa que lhe é feita. Logo a seguir vem propôr e vê aprovada a tal "lei da rolha" desenhada para conter a crítica interna. O congresso aprovou, Sócrates deve-se ter rebolado a rir com o resultado da votação e os paladinos da asfixia democrática foram todos para a tenda de oxigénio respirar à vontade...
Enquanto se critica o regabofe inaceitável a que tudo isto chegou, vemos aparecer por aí umas criaturas, aparentemente pias, preocupadíssimas com a possibilidade de a crítica a estes partidos, a esta vergonha de seitas que desgraçadamente temos de aturar, a estes partidos que dão tais exemplos de irresponsabilidade, poder estar, quiçá, a abrir a porta a putativos ditadores que saiam da toca e tomem conta da ocorrência. É o corolário da lei da rolha...

2010/03/10

Pessoas de Bem

Assistir às sessões da Comissão de Ética, que por estes dias decorrem na Assembleia da República, pode não ajudar a esclarecer quem pressiona quem, mas ajuda-nos certamente a perceber quem são sempre os mesmos que pressionam. Se já tinhamos as pressões de Sócrates (denunciadas explicitamente por Mário Crespo, Henrique Monteiro, Moura Guedes e Eduardo Moniz) ontem tivemos as pressões de Morais Sarmento (denunciadas por Henrique Granadeiro, ao tempo administrador do grupo Lusomundo). Segundo Granadeiro, o ex-ministro de Durão Barroso e Paulo Portas ter-lhe-á exigido a demissão de Leite Pereira (JN), Luís Tadeu (CM) e Joaquim Vieira (GR), directores de publicações controladas pela Lusomundo. Sarmento já se apressou a desmentir e quer agora ir à Comissão contar a sua versão. A opinião pública está a ficar cada vez mais baralhada e, se calhar, é mesmo essa a intenção: baralhar e dar de novo. Para que tudo recomece, com os partidos do costume a pressionarem e a manipularem os grupos económicos que detêm orgãos de informação e para serem estes a pressionarem os jornalistas. Daí ao despedimento, ou à aceitação da auto-censura, a que muitos jornalistas se prestam, vai um pequeno passo. Se isto não é pressão, vou ali e já venho. Tudo gente de bem, como se depreende.

2010/03/09

À guitarra e à viola

O Face foi alvo de uma tentativa de violação. É um facto. Não alinho em teorias da conspiração, acredito em coincidências e não quero fazer tempestades em copos de água, mas é um facto que houve uma tentativa de entrar aqui. Isto está a ficar interessante...
Temos backups do blog e, se por um azar, este ficasse inoperacional era subsituído em segundos.
É tudo.

2010/03/08

Há vida para além do PEC

A música não vai salvar o mundo, mas pode ajudar. O projecto das Orquestras Geração é uma iniciativa da Fundação Gulbenkian e da Câmara da Amadora, apoiado na Escola de Música do Conservatório Nacional e na Fundação EDP. Já conta, creio, dois anos. A inspiração vem do conhecido Sistema Nacional de Orquestras Juvenis e Infantis venezuelano, fundado por José António Abreu.
É justo dizer que no domínio da aplicação dos princípios da inclusão social e da aprendizagem do trabalho cooperativo através da música, as bandas filarmónicas, em particular --de uma forma voluntarista e totalmente desapoiada-- e as escolas Menuhin vêm de há muito dando um contributo decisivo nesta matéria. Mas, estas Orquestras Geração constituem um caso de sucesso, hoje e aqui, que contém lições que ultrapassam em muito o domínio das artes.
Se o País quisesse mesmo perceber o que tem de fazer para conseguir ir além do sacrossanto PEC --uma oportunidade perdida; um documento que lá ficou naturalmente aquém do que os abutres esperavam e do que seria necesssário-- bastaria atentar nos princípios e nos resultdos destas Orquestras Geração. Está lá tudo para quem quiser entender. Tudo!
Eu aconselharia os governantes (incluíndo a pianista Gabriela Canavilhas), os opinadores, políticos e para-políticos paralíticos deste país a atentarem melhor nestes exemplos que estão mesmo debaixo dos seus narizes e a inspirarem-se neles para fazer qualquer coisa de verdadeiramente útil pelo país.
Portugal entendido como uma orquestra de gerações? Uma orquestra criada para combater a exclusão social, onde o contributo de todos e de cada um é valorizado e onde cada um é responsável pela qualidade e valor colectivo desse seu contributo, onde se ensinam as virtudes do trabalho cooperativo e se enaltece a necessidade de regras colectivas para atingir um fim maior? Porque não?
Dá trabalho, exige criatividade e paciência. Se não perceberem vão lá ouvir estes miúdos que eles ensinam-vos como é...

2010/03/04

Uma leitura demolidora da Leya...

Uma chamada especial de atenção para o "Ainda Ontem" de hoje de Miguel Esteves Cardoso no Público, com o título O Ultraje.
Saúdo o desassombro e subscrevo tudo o que escreveu, até ao fim...

2010/03/03

Televisões portuguesas: o horror à música

Os portugueses serão menos musicais que os outros povos? Gostarão menos de música? Praticarão menos música per capita? Será a sua estrutura neurológica diferente da dos outros, no que respeita às áreas dos seus cérebros que reagem ao fenómeno musical? A música fará menos parte do seu dia a dia? Estarão menos interessados do que os outros na música que se faz fora do seu país? Estarão, perguntaria mesmo, menos interessados na sua própria música e nos seus músicos do que os outros povos demonstram estar pela sua, própria?

Estas e outra perguntas acodem-me à mente quando, de repente, tomo consciência que não vejo um programa de música nas televisões portuguesas há muito, muito tempo. Não me refiro a essa imbecilidade dos programas dos tops. Nem me refiro à inclusão de músicos que vão tocando nos pouquíssimos programas que têm banda residente.

Refiro-me aos concertos, aos programas gravados em estúdio, às séries de música, aos programas musicais especiais, em particular os que envolvem música e músicos portugueses. Nem um, em nenhuma das televisões existentes, com especial relevo para a RTP, a tal que é paga, a peso de ouro, por todos os portugueses, a tal cujo orçamento parece não chegar nunca, cujas receitas parecem nunca ser suficientes, e que se vai desdobrando em ámens aos governos e programas para atrasados mentais.

Há uns anos ainda se viam umas séries cuidadosamente seleccionadas sobre música, rock, jazz, clássica (sempre do estrangeiro que cá não há músicos...), programas geralmente de grande qualidade. Já não peço um concerto do Francisco Lopez ou do Pedro Carneiro, nem sequer um daqueles videos do Tiago Pereira. Por mim bastaria um enlatadozinho, desses vindos dos States, ou da BBC, com música mainstream, que fosse, mas música!

Adorava aqueles casamentos musicais improváveis do Jools Holland. Que é feito do Jools? Ou o “Night Music with David Sanborn”. Escutava com prazer os programas do Rui Neves, ou as outras músicas do Zé Duarte... Onde param essas músicas? Adoraria saber o que escondem os arquivos musicias da RTP, que, suspeito, contêm tanta coisa fantástica...

Que é feito de tudo isso?!

E já nem queria programas de música de iniciativa e produção próprias, com música e músicos portugueses. Bastavam os enlatados...

Mas, nada, nem um! Ziltch!

Nem uma banda filarmónica, um coro, uma orquestra juvenil, um quarteto de cordas, um tocador de flauta de bisel, a banda da GNR, nada!

Não há o perigo do fenómeno musical se banalizar em Portugal. Aqui, a música está na categoria do fenómeno raro, só talvez observável por meio de equipamento especial, como aquelas câmaras de infravermelhos que registam o aparecimento de um animal em vias de extinção, desses raros que vivem nas florestas recônditas.

A última coisa que me lembro de ver há já bastante tempo, relacionada com música, foi uma série (excelente, de resto) sobre a história da música portuguesa, de autoria de Jorge Matta, que passava a uma hora daquelas que sugere que a RTP não levou este trabalho muito a sério...

O que é mais trágico, mas ao mesmo tempo cómico, é que vejo com alguma frequência músicos, compositores e musicólogos em programas chamados "culturais" (haverá outros?) a falar pormenorizadamente sobre música e sobre questões da vida musical portuguesa como se fosse uma coisa acessível a toda a gente. As televisões passam uma entrevista com um compositor a falar da sua própria música, o que demonstra o interesse editorial neste assunto, mas o responsáveis pela programação parecem incapazes de experimentar incluir na sua grelha a música de que esse compositor fala. Aquilo que devia ser uma reflexão a posteriori sobre a prática corrente, é transformado, sabe-se lá por que razões obscuras e numa total inversão do cenário, no eixo da programação.

Tolera-se algum parlapié sobre a música, mas dá-la a ouvir parece estar absolutamente fora de questão.

Trata-se, francamente, de um fenómeno aberrante e de uma estranha forma de praticar e fomentar a cultura: convidam-se uns músicos e uns compositores, arranja-se um apresentador que fala sempre de modo pomposo sobre questões que obviamente não domina, produz-se um espetáculo sobre os músicos e compositores a falar de música, mas não se mostra a música. As televisões encavalitam-se, sempre que podem, no "social" que os músicos e compositores geram, concentram-se no epifenómeno gerado por esses músicos e compositores, exploram alguma da sua dimensão mais "circense", susceptível de ser valorizada pela câmara, mas esquecem-se de mostrar a actividade que está na base de tudo isto: a música.

O horror à música das televisões “generalistas” portuguesas é um fenómeno que só encontra paralelo no clássico fenómeno do horror que a natureza tem ao vazio. A televisão portuguesa abomina música.

E, no entanto, por esse mundo fora, as televisões dos outros países passam imensa música, de todas a "convicções", e fazem mesmo uma coisa que as televisões portuguesas não fazem: debruçam-se, imaginem, sobre a música e os músicos portugueses. Músicos que por cá vão observando os ecrãs, vazios da sua arte.

Ele há défices e défices, não é...?

Sobre a rádio falarei noutra oportunidade...



(a foto foi retirada do site da Biblioteca ETG de Barcelos)

2010/02/27

Os anónimos e a irresponsabilidade ilimitada

Os comentários deixados neste blog foram sempre moderados por causa do eventual e desagradável spam. Com o uso do "captcha" o spam deixou de ser um problema. Mas, até hoje nenhum comentário dirigido ao blog deixou de ser publicado. Vamos continuar a publicar tudo. Mas, a partir de agora , para além de serem moderados, os comentadores passarão obrigatoriamente a ter de possuir uma identidade qualquer. Os comentários, seja qual for a sua natureza, continuarão a ser publicados como habitualmente, os comentadores até podem manter o "anonimato", mas será necessário ser um "anonimato conhecido".

Faço notar que o que muda é mesmo apenas o facto de qualquer comentador ter de possuir um identidade pública (do blogger ou do OpenID), visto que nós também a temos.

É uma questão institucional.

"Anónimo" não é identidade. É cobardia pura, para a qual não há pachorra. Não me atrapalha absolutamente nada ter comentários neste blog, não me chocam de todo as brejeirices, não me importa o vazio das apreciações ou os desvios do tema, nem mesmo os insultos me fazem cócegas. A prova é que, tendo nós o privilégio de aprovar ou não a publicação desses comentários e o privilégio até de, pura e simplesmente, não ter comentários, tudo o que é "anónimo" pôde sempre mandar, sem problemas, os seus recados aqui para o Face.

Mas, a partir de agora, quem o quiser fazer vai ter de assumir a sua responsabilidade, perante nós e os outros leitores do Face.

É a nossa prerrogativa e um dever que temos para com esses leitores que fazem o favor de comentar, mas não se escondem num pretenso anonimato, de forma cobarde. Pela nossa parte, sabemos desde sempre qual a origem dos comentários "anónimos", se vêm da margem sul ou da margem norte, deste ou daquele servidor, mas a partir de agora acaba o anonimato. Esperamos os vossos comentários e pedimos desculpa pelo eventual incómodo.

2010/02/26

L'Omertà

Os depoimentos das testemunhas convidadas para participar nesta mega-audição, em que se transformou a Comissão de Ética, corroboram grosso modo as posições já conhecidas dos principais intervenientes - jornalistas, empresários e políticos - que reafirmam (ou negam), interferências do governo em orgãos de comunicação social. Depois de prestações nada prestigiantes de jornalistas com alguma reputação, como Mário Crespo e Felícia Cabrita, o director do "Expresso", Henrique Monteiro, foi o primeiro que, de forma explícita, confirmou ter recebido um telefonema do primeiro-ministro a pressioná-lo para não publicar notícias sobre a sua licenciatura. Monteiro acrescentaria que, as pressões, existem sempre, mas são normalmente feitas à "posteriori" (como o BES ter retirado a publicidade do jornal), mas esta foi a primeira vez que a pressão foi feita antes do próprio artigo ter saído.
Já da parte dos principais visados na tentativa de compra da TVI pela PT - Vara, Penedos e Rui Soares - as declarações primaram pela unanimidade. Ou melhor, todos, sem excepção, recusaram responder a perguntas em "segredo de justiça". Um aparente contrasenso já que, diariamente, diversos orgãos da comunicação social (CM, Público, SOL, Expresso, etc.) publicam extensos excertos das conversas telefónicas tidas entre estas três personagens, sem que o seu conteúdo tenha sido desmentido. Ou seja, na "forma", eles têm razão (o segredo de justiça está a ser quebrado, o que é ilegal), ainda que os "conteúdos" sejam verdadeiros e falem por si. Compreende-se, como nos filmes, tudo o que os arguidos disserem pode ser usado contra eles. Nesses casos, vale mais prevenir do que remediar. Nada como a célebre "Lei do Silêncio".

2010/02/22

Derrocada

O donatário da Madeira mostrou mais uma vez do que é capaz. À falta de matéria substantiva a propósito do que ali se passou e perante a ausência de explicações sobre a razão pela qual tanta coisa, que poderia ter amenizado a catástrofe, falhou de modo tão grosseiro e evidente, apressou-se logo a apelar a um inconcebível silêncio noticioso sobre a região, porque, não-sei-quê, a "economia" era muito dependente do exterior, e, blá-blá-blá, os "mercados", etc e tal...
O apelo era, em si, já perfeitamente patético e bastante estranho para um Presidente do Governo Regional, mas um simples gesto do Cristiano Ronaldo no jogo de ontem, depois de marcar ao Villareal, veio deitar mais por terra e contrariar totalmente o donatário, deixando-o ainda em piores lençóis.
Ninguém, ninguém!, vai esquecer que Jardim manda, omnipotente, na Madeira desde 1978 e que teve, portanto, no âmbito da sua esfera de responsabilidade, tempo suficiente para fazer pela região autónoma algo mais.
As falhas do governo regional estão à vista de todos. Que caia com grande estrondo!

(foto AP)

2010/02/19

Nobre escolha

Fernando Nobre, actual presidente da AMI, anuncia hoje, formalmente, a sua candidatura a Belém. Uma decisão algo surpreendente, ainda que seja conhecido o apoio que deu a diversas candidaturas e formações políticas ao longo dos últimos anos. Do PSD ao BE, passando pelas candidaturas de Mário Soares, António Capucho ou António Costa, o presidente da AMI tem mostrado a sua disponibilidade para apoiar causas públicas em que acredita. Nada a opôr.
A sua disponibilidade para, agora, se candidatar ao mais alto cargo da nação tem, no entanto, características diferentes. Pela primeira vez, deixa de ser apoiante de um partido ou político específico, para pedir o apoio destes. E das duas uma: ou o presidente da AMI, pensa que as suas ideias são suficientes para mobilizar um eleitorado cada vez mais descrente nas instituições que nos representam, naquilo que poderíamos apelidar de vaga de fundo para a"moralização da coisa pública"; ou o presidente da AMI dispõe já de um apoio concreto (aparelho partidário) que lhe garanta iniciar uma campanha eleitoral, com alguma probabilidade de sucesso, contra dois candidatos de peso: Cavaco Silva e Manuel Alegre.
Interrogado ontem, à chegada ao aeroporto, Nobre reafirmou alto e bom som que não era apoiado por nenhum partido, nomeadamente pelo partido socialista. É bem capaz de ser verdade.
Uma coisa parece certa, Nobre será sempre um candidato de "esquerda" nestas eleições e, nesse contexto, um concorrente de Alegre contra Cavaco. Independentemente de vir a ter o apoio de qualquer partido, o partido que apoiar Nobre não apoiará Alegre e vice-versa. Ou seja, Nobre, com a melhor das intenções, contribuirá para a divisão daqueles que se opõem a Cavaco. A manterem-se os pressupostos actuais, e caso estes três candidatos mantenham as suas candidaturas, não é difícil vaticinar que o actual presidente será, mais uma vez, eleito. Como escreveu o conhecido filósofo, a "história repete-se, agora como comédia".

2010/02/18

O que está verdadeiramente em causa hoje na política portuguesa

Se dúvidas houvesse sobre a verdadeira natureza do que está em jogo nesta discussão sobre as escutas divulgadas pelo "Sol", uma simples intervenção --feita ontem em tom de vítima ofendida e impotente-- da deputada socialista Isabel Oneto, na Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da AR, veio clarificar tudo. Afirmava ela que "os jornalistas podem escrutinar e dizer o que pensam dos outros cidadãos e políticos, mas os deputados que aqui estão não podem dizer o que pensam dos jornalistas."
Não interessa se houve ou não pressões sobre a comunicação social, se houve ou não tentativas de usar o Estado para manobras obscuras por parte do Governo. Não interessa sequer que os políticos afectos ao governo tentem minimizar estes acontecimentos e que os da oposição os tentem exacerbar. Isso são problemas menores.
O que fica a descoberto aqui é o modo como os dignitários do regime democrático, que deviam ser os seus primeiros guardiões, encaram a sua função. Colocar a função jornalística no mesmo plano que a função política é um pecado indesculpável. Tolerá-lo-ia se viesse de um jornalista, nunca de um político.
Um jornalista não legisla, não aplica a lei, não gere dinheiros públicos, nem cobra impostos. O jornalista não está investido de nenhuma função pública. Os políticos funcionam de acordo com um programa sancionado pelos votos. O jornalista manufactura produtos de comunicação que eu tenho a liberdade de comprar ou não. Eu posso não comprar um jornal, mas tenho de pagar impostos. E quem os define são os políticos.
Os mecanismos de actuação e o espírito das funções são diametralmente diferentes. Os políticos não podem "dizer o que pensam" dos jornalistas porque a sua função não é dizer o que pensam. É outra. A lei é a matéria que perpassa tudo isto. Mas, as funções estão em lados operacionalmente contrários da lei. Um polícia não pode fazer apreciações sobre o ladrão. Actua segundo as leis que enquadram a sua função. O ladrão, por definição e por sua vez, tenta iludir a lei...
Se os políticos desatam a fazer notícias (como foi o caso do primeiro ministro, entre outros, em diversas ocasiões), ou se acham anormal e lamentam não o poderem fazer (como foi o caso da deputada citada), estão a demonstrar que não compreendem claramente as suas funções e temos então de nos questionar sobre que raio de ideia terão da sua função. Não chegámos à Madeira, nem à Venezuela...
O que todo este processo vem colocar a descoberto é que os políticos em Portugal (alguns, pelos menos, designadamente o primeiro ministro) jogam um jogo intolerável, aplicando um inaceitável estatuto de cidadãos comuns ao exercício das suas funções como cidadãos de excepção, mas revindicando o estatuto de cidadãos de excepção quando esses comportamentos de cidadão comum são julgados no quadro do exercício da sua função institucional.
Comportamentos mesquinhos e institucionalmente inaceitáveis, eis o que todo este processo revela e eis o que nos deve verdadeiramente preocupar. Esta gente está a mais na vida pública.

2010/02/17

Habituem-se!

A tática do PS para tentar demonstrar que não houve (há) uma tentativa de controlar a liberdade de expressão e de imprensa em Portugal, inclui 1) pedidos totalmente descabidos de "provas concretas" de que tudo isso se passou ou passa (repare-se nas intervenções dos deputados do PS nas interpelações da AR sobre a imprensa, por exemplo, ou nas declarações de alguns dirigentes do partido de governo), 2) lançar mão de tudo o que possa servir para desviar as atenções dos portugueses, desenterrando inclusivé velhos machados de guerra, ou, finalmente 3) deixar cair pedras incómodas que foram jogadas neste xadrez, que agora se nos vai revelando devagarinho (se agora caem, porque é que foram lá colocadas para começar...?).
O doutor Vitorino, o tal que postula que o primeiro ministro tem a pele coriácea e vai sair deste processo incólume, bem tinha avisado: habituem-se! A malta é que não ligou, na altura, ou interpretou a frase como lhe convinha...
Há um cheiro qualquer a podre em tudo isto e parece-me inevitável que a coisa acabe mal para este governo e seus apoiantes. Ainda bem, é bem feito!
Mas, por outro lado, quando olhamos para as intervenções da presidência da república ou quando vemos as alternativas que se perfilam no horizonte do lado da oposição, não podemos deixar de levar as mãos à cabeça. Que Zeus nos acuda (para usar uma expressão do Rui Tavares em crónica recente)! Quando me lembram que qualquer um daqueles patéticos candidatos à presidência do PSD pode ser primeiro ministro, fico gelado.
Mas, é isto que temos de facto. Horácios e coriácios! É com isto que temos de contar. Gostaria de poder dizer que há alternativas, mas não me parece. Espera-vos, pois, mais do mesmo. Habituem-se!

2010/02/12

Tapar o "Sol" com a peneira

A providência cautelar interposta pelo administrador da PT, Rui Pedro Soares, com vista a impedir as notícias do "Sol" onde o seu nome fosse referido, levanta dois tipos de questões:
1) A primeira, diz respeito ao direito que assiste a todos os cidadãos de defenderem o seu nome da calúnia e difamação. Este é o regime que foi inaugurado há 35 anos e por ele nos batemos.
2) Outra, é do direito à liberdade de informação, imprensa incluida, que está consignado na constituição e que deve igualmente ser defendido.
Independentemente do que possamos pensar dos intervenientes neste caso - governo, justiça, imprensa - todos, sem excepção, contribuiram para o estado a que este regime chegou. Não há, por isso, inocentes nesta história mal contada por ambos os lados (admitindo que só há dois...).
Nem Pedro Soares (lembremos, um "boy" do Partido Socialista que representa a "golden share" governamental na PT) é apenas um cidadão que se sente ofendido; nem determinada imprensa, da qual o "Sol" faz parte, pode ser considerada um exemplo de isenção e objectividade jornalística. Ambos defendem interesses, nem sempre tão obscuros como isso, que se batem pelo controlo do aparelho de estado, sendo, nessa luta, o controlo da imprensa uma tentação constante à direita e à esquerda do aspectro político.
Mesmo partindo do princípio que, neste caso, o segredo de justiça foi (mais uma vez) violado - e isso é, em si, grave e condenável - a verdade é que as "escutas" chegaram às redacções dos jornais e não vamos agora culpar o mensageiro pelas más notícias para o governo. Se os visados neste caso - Vara, Penedos, Pedro Soares - se sentem difamados, há sempre os tribunais aos quais podem recorrer. Aí se verá quem cometeu a infracção. Outra coisa, diferente, é tentar impedir a publicação de notícias, antes mesmo de que estas sejam publicadas. Ou seja, aplicar uma censura prévia!
Voltando a Voltaire, "defenderemos sempre o direito à opinião, mesmo daqueles que discordam de nós". Este é o princípio.
Ora, com este lamentável episódio, o governo parece não ter aprendido nada. De facto, cravou mais um prego no "caixão" do defunto Sócrates que, dificilmente, conseguirá sair incolume deste terremoto político.
Restam, quanto a nós, duas hipóteses: ou o PS tenta uma solução interna, substituindo o seu secretário-geral por alguém que possa prolongar este ciclo governamental, eventualmente com outras forças políticas; ou o Presidente da República, aproveitando os seus poderes constitucionais, entre Março e Julho, dissolve o parlamento e promove eleições antecipadas. Sabemos que nenhuma delas será uma verdadeira solução, mas não acreditamos que os portugueses possam continuar a assistir a esta degradação diária da democracia sem que alguma coisa mude.

2010/02/04

Os portugueses vêem-se gregos

Pelos vistos, não são apenas as "cassandras da desgraça" a apontarem o descalabro das contas públicas portuguesas. Depois das famigeradas agências de "rating", dos relatórios do FMI, da OCDE e da Eurostat, vem agora o comissário Almunia dar a má notícia: Portugal terá de aplicar a receita da consolidação orçamental da Grécia e com juros agravados, pois a situação do nosso país já só é comparável à dos PIIGS (gosto desta denominação) as economias mais débeis da zona Euro. A Grécia está mal, mas nós temos de pagar mais juros.
Nada que nos deva surpreender. Depois de dez anos de continuado "crescimento negativo", durante os quais a divergência de Portugal em relação à média europeia só aumentou, restava-nos sempre a Grécia como consolação. Com os gregos nunca nos sentíamos sós. Eles são, assim, uma espécie de irmãos na desgraça. Sempre em último nos "rankings" do progresso. A excepção, foi mesmo aquela final de 2004...

2010/02/02

Uma história mal contada

A notícia da alegada "censura" a Mário Crespo (MC) que há mais de 24horas faz parte do anedotário nacional, carece da confirmação que só poderia ser dada pelas testemunhas do ocorrido (admitindo que alguma coisa de grave ocorreu).
Ainda que não seja propriamente uma surpresa vermos um primeiro-ministro pressionar directores de TV para "calar" jornalistas incómodos, não me parece muito lógico que essa pressão tenha de ser feita num lugar público e em voz alta para que toda a gente ouvisse. A mesma pressão podia ter sido feita através do telefone ou no recato de um gabinete.
Admitindo que tudo o que Mário Crespo escreveu é verdade, ele devia saber que o contraditório era fundamental para ajuizar das suas acusações. Ora um artigo (ainda que de opinião) fundamentado em rumores, dificilmente passa o crivo de um jornalismo respeitável. Se o director do JN estava à espera de um argumento para censurar as suas crónicas, bastava-lhe este.
Por outro lado, de todas as personalidades presentes no dito almoço, MC não cita o nome do director do canal da TV abordado por Sócrates. Ficam, assim, algumas questões por responder:
Porque é que MC não revelou o nome da quarta pessoa presente (director da TV) nesse almoço?
Porque é que o director do JN não procurou indagar junto dos acusados a veracidade das acusações, exercendo o próprio jornal o seu contraditório?
Porque é que o governo, através de Jorge Lacão (um dos presentes no almoço) desvalorizou a questão afirmando que o governo não comentava calhandrices?
Verdade ou não, o afastamento de comentadores e jornalistas indesejáveis, começa a tornar-se uma tradição em Portugal: Marcelo e Moura Guedes na TVI, Marcelo na RTP e, agora, Mário Crespo no JN. Quem se seguirá?...

2010/01/25

O Haiti não é aqui (2)

A televisão mostrou-o e o jornalista in loco confirmou-o: a primeira estrutura de apoio a ser montada em Port-au-Prince é portuguesa e dará, a partir de hoje, apoio a 600 pessoas nos próximos seis meses. A registar.

2010/01/23

Pedido...

Solicito aos habituais leitores do Face que me expliquem o sentido da seguinte frase:
"Vamos continuar a ser-nos fornecidos elementos indispensáveis [para avaliar o orçamento...]"
A frase é de autoria de Manuela Ferreira Leite e foi pronunciada (duas vezes, para que não haja dúvida!) à saída do seu encontro de hoje com o Primeiro Ministro.

2010/01/22

A tradição ainda é o que era...

Tudo aponta para que o próximo Orçamento de Estado (OE) venha a ser aprovado com os votos favoráveis do PS e do CDS. Nada que nos espante, pois já o tinhamos previsto aqui no último Verão. Sempre que o PS governou em minoria - com Soares nos anos setenta e oitenta e com Guterres nos anos noventa e no período 1999-2001 - todos os acordos para viabilizar os respectivos OE foram feitos à "direita". De uma coisa não podemos acusar o PS, que se auto-proclama um partido de "esquerda": é de falta de coerência. A tradição, sabemos, tem sempre muita força.

2010/01/18

A voz do dono

Este tipo de pensamento tem dono e portanto age, melhor reage, sob o efeito da trela. A sua vocação é o mimetismo. É mimético do que o chefe diz e nada diz por si mesmo. Há muitos exemplos de criaturas que representam este tipo de produção mental. Os mais notórios são aqueles que pertencem ao universo dos acólitos e que têm o treino de secundar. Secundam a opinião do chefe pois nada mais lhes agrada do que agradar ao chefe. Isto não significa que gostem do chefe ou que admirem o chefe. O chefe aliás, nos tempos que correm, é chefe numa prestação de tempo e portanto não garante ao que secunda, ao que amplifica o que o chefe quer que se saiba, uma carreira longa, um tempo de privilégio que dure uma vida. Por isso os secundários têm de ser infiéis por natureza. Eles apostam num chefe e já estão a olhar para o próximo. São traidores por natureza.
Acontece também que este tipo de criatura caixa de ressonância, por vezes, quando está ameaçada a sua situação de segundo, pode ser voraz e perigosa. Quando enraivece pode mesmo morder e mais que argumentar o que a cartilha da circunstância dita, pode agredir, insultar, lançar boato, explorar os baixos instintos da massa e lançar o opróbrio sobre quem, ameaçando-o dirá ele, afirme uma verdade, defenda uma causa, afirme um desígnio de mudança para melhor, em suma queira naturalmente, por sensatez e mesmo por bondade, um mundo melhor, portanto diferente.
O cão de fila, outro nome para este tipo de “segundo”, é a expressão mais agressiva deste tipo de criatura. A expressão é feliz pois é um cão que fila aquele que é dissidente, o que é do outro clube e se quer passar para o dele não havendo espaço nem cargo, e principalmente o que afirma que há uma alternativa à situação, que nem tudo é a dívida pública, nem os impostos, nem a economia, nem a Europa, e que Pirandello e Pessoa já o diziam. O cão de fila diz o que o chefe diz de um modo mais peremptório que o chefe. O que o chefe diz de um modo suave, mesmo que cinicamente suave, ou hipocritamente suave, o cão de fila diz com os dentes cerrados e espera a contestação para lançar o gás pimenta do verbo de um modo obviamente definitivo. Não gosta do debate, gosta de opinar de cima para baixo e aprecia o argumento populista, manobra bem a intriga e paga bem, a um outro candidato a segundo capaz de fidelidade por cima do cadáver da ética. Paga obviamente com os dinheiros de outros, nomeadamente com os dinheiros públicos – também acontece pagar em géneros e em cargos, situações, viagens ao estrangeiro, na conta de um familiar, através de um empreiteiro que constrói fora do país.
Todas as manhas são possíveis num país com séculos de manha. O que assusta mais o cão de fila é ver outro cão de fila a aproximar-se do seu lugar na fila. Nessa situação é capaz de matar o próximo e de mandar matar o próximo do próximo, como a Máfia. É um tipo deveras perigoso porque nunca consta daquele tipo de cartaz que havia no Texas a dizer “procura-se morto ou vivo”. Está sempre do lado dos que procuram, dos que fazem a lei e nunca do outro lado. É um tipo que se disfarça de boa pessoa e que diz constantemente que não tem outra agenda que não seja a agenda do chefe. Bem vistas as coisas, neste tipo de criatura, descobrimos sempre mais de um chefe desejado e alguns mudam mesmo rapidamente para o chefe da posição antagonista com a rapidez da bala. Da fidelidade reafirmada são capazes de passar a outra religião qualquer desde que essa seja a que fica por cima nos tempos subsequentes. Têm um feitio traçado para acumulação de capital. Seja através de acções, seja na bolsa, seja em imobiliário. Vêm normalmente de baixo e quanto mais de baixo, maior é a voracidade. São, na opinião dos chefes, insubstituíveis. Neste preciso momento abundam, proliferaram com a falta de ar e de debate. São de facto muito dados a crescer no mofo e gostam de tudo o que é bafiento. São muitas vezes difíceis de distinguir dos outros, porque nem todos caiem na esparrela da ostentação do que adquiriram por via ilícita. Muitos passam aliás por pessoas de bondade e dedicadas à causa pública de alma e coração. Não vêem um pobre sem lhe encher a mão de cêntimos desde que alguém faça a fotografia. Enfim, são como tartufos e não são uma espécie em vias de extinção.
Na realidade este tipo de criatura assume um papel na engrenagem e na engrenagem cumpre como a mola, sem brilho algum, sem entusiasmo algum, sem coração. E dizer que pensa é afinal um erro crasso porque pensar é outra coisa, é algo que se faz na solidão e no debate, o que pressupõe justamente a ausência do chefe. Quanto muito a presença simbólica do mestre. O pensamento escravo é afinal um contra-senso nos termos e uma forma específica do pensamento único, aquele que regula o mercado pela sua própria regra sistémica de injustiça estruturante e sempre disposto a cimentá-la dinamicamente. É um gestor constante da verdade única.

2010/01/17

Mergulhados na ausência

Com a devida vénia (neste caso, uma vénia sentida e humilde, não uma mera vénia de circunstância) aqui reproduzo um artigo do historiador Paulo Varela Gomes, publicado ontem no jornal Público de ontem.


2010/01/16

O Haiti não é aqui...

...mas, às vezes, parece. Logo agora, que a missão portuguesa foi uma das primeiras a disponibilizar-se para ajudar a mártir população haitiana, o C-130 (que devia transportar os membros do INEM, da AMI e restantes equipas de salvamento) sofreu uma avaria técnica ao sobrevoar o Atlântico e foi obrigado a regressar a Lisboa. A nova partida (do mesmo avião) está prevista para o meio-dia de hoje. Vamos lá ver se é desta...

2010/01/07

O Albergue Espanhol

A disciplina de voto - imposta por Sócrates à bancada do PS, na aprovação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo - será obrigatória para todos os deputados, menos cinco. As excepções são os três "independentes" (Miguel Vale de Almeida, João Galamba e Inês Medeiros) e os dois "fracturantes" (Sérgio Sousa Pinto e Duarte Cordeiro). Não se compreende porque não é dada liberdade de voto aos deputados, a menos que as divisões internas sejam tão grandes que os votos a favor desta lei não garantam a maioria desejada para aprová-la. Se é essa a razão, compreende-se a preocupação do primeiro-ministro. Aceitar cinco votos contra, ainda vá que não vá, mas se houver muitos mais, o que será da lei e, pior, do "unanimismo" partidário?
É por isso que a lei proposta pelo PS é coxa e discriminatória na sua essência: aprova a igualdade no casamento, mas desaprova a igualdade na adopção, que é a sua implicação lógica. Pior: exige dos seus deputados um voto único, numa questão de escolha individual e onde o estado não tem de meter o bedelho.
Nas ditaduras estalinistas de má memória, chamava-se a esta disciplina, "disciplina de cadáver" (só os mortos não podem opinar). Neste PS sem ideologia, como apelidar esta bancada partidária? "Casa de putas"?

2010/01/04

Lhasa

As agências são parcas em notícias. Era americana de origem, tinha 37 anos, gravou três albuns e morreu de cancro. Vi-a, ao vivo, na Aula Magna de Lisboa e, posteriormente, na cidade de Montreal (Canadá), durante a "Folk Alliance" de 2005. Um espanto, a "cantora nómada", como era apelidada pelos seus fãs. Chamava-se Lhasa de Sela.