2008/05/08

Politicamente incorrecto

Mira Amaral, gestor do novo banco BIC (de capitais angolanos) é de opinião que Bob Geldof não sabe do que fala. A razão é simples: o inglês é um cantor "pop" e não percebe nada de coisas sérias. Haja alguém que nos elucide.

2008/05/07

Politicamente correcto

Numa conferência, organizada pelo BES em Lisboa, Sir Bob Geldof (Live Aid) declarou que "Angola é gerida por criminosos".
Nem mais.

Recobro ortográfico...

Abrimos os jornais, ligamos a televisão ou a rádio, ouvimos o cidadão comum a falar e o que podemos nós constatar acerca da língua preferencial que os portugueses usam para comunicarem entre si, neste espaço a que se convencionou chamar Portugal? Usam o Português? Hardly..!
Nespresso? What else... Reuter's? Know now... Toshiba? Não, Tôsh'bâ! EDP Renováveis (EDP!)? Powered by nature... E não esqueçam que It's a Sony... E visitem La Caffé, design Restaurant e espaço Lounge (sic)...
Mas, não é só no domínio da publicidade e dessa coisa a que chamam gestão que dominam os anglicismos. Ontem mesmo, Vital Moreira (professor universitário) lançava logo no início da sua habitual crónica do Público: "Um think tank britânico de esquerda elaborou um ranking dos países da UE quanto à qualidade da "democracia quotidiana" (everyday democracy)..." Parece uma daquelas conversas do Lauro Dérmio!
Enfim, não nos faltam exemplos que me sugerem a ideia de que antes de pretender alcançar um acordo ortográfico entre os países de língua oficial portuguesa (vulgo PALOPs), Portugal deveria rever este relacionamento bizarro que tem com a sua própria língua. A discussão sobre o pretenso acordo ortográfico, os abaixo assinados e as petições... miss the point!
É que por este andar o português, dentro de algum tempo, vai-se transformar num crioulo qualquer, tipo caribenho, ou, na melhor das hipóteses, em mais uma variante do inglês. Nessa altura não valerá a pena pensar em acordo ortográfico, porque, como se sabe, os países anglófonos convivem muito bem com a sua diversidade linguística.
Valha-nos Deus! Ou deveria dizer "veilhemnús góde", em inglês...?

Obama: uma candidatura imparável?

As vitórias repartidas dos democratas americanos, nas primárias de Indiana e North Carolina, só aparentemente mantêm Hillary Clinton na corrida. É certo que a candidata ganhou Indiana, um estado considerado crucial para ambos os concorrentes, mas trata-se de uma vitória de Pirro se considerarmos que Hillary ganhou 51% dos votos contra 49% de Obama. Ao contrário, no estado de North Carolina, o candidato "arrasou" com 56%,2 contra 41,5%, da rival, correspondente a 890.695 e 657.920 votos, respectivamente. Ou seja mais de 200.000 votos de diferença!
Com esta vitória, Barak Obama aumentou a sua vantagem para mais de 150 delegados, quando faltam seis estados e cerca de 200 lugares por eleger. Uma diferença impossível de recuperar, segundo os observadores americanos.
Resta saber qual a posição dos "super-delegados" que, independentemente dos resultados das "primárias", podem votar de acordo com a sua consciência. Nesse grupo exclusivo, Hillary detém ainda a maioria, mas a tendência pode inverter-se à medida que o movimento pró-Obama vá ganhando adeptos e os "super-delegados" cheguem à conclusão que ele é o melhor candidato para derrotar McCain. Nunca a disputa foi levada tão longe.

2008/05/05

A propósito da celebração do cónego Melo na AR

Creio que esta mensagem merece ampla divulgação...
Faço-o aqui a título pessoal, na convicção de que o PR tem toda a razão. Lembremo-nos pois das novas gerações...


Mensagem de Victor Louro, antigo Deputado à Assembleia da República, ao Grupo Parlamentar PS:

Permitam lembrar Brecht: de cedência em cedência (antes, era só um operário; depois, apenas um padre; depois, era ainda só um
comunista...) acabam por nos cortar a cabeça...a nós próprios, que não éramos nada disso!
Tenho o dever cívico de vos manifestar profunda indignação pela atitude do PS na 6ª feira na Assembleia da República a propósito do voto de pesar ao cónego Melo. Mesmo que ela tenha ocorrido após a vergonha da homenagem do seu Presidente ao Dr. A. J. Jardim: temos o direito - e o dever - de não nos habituarmos !
É que Melo agiu, em 1974/75, activamente e por meios terroristas contra a democracia que dava os primeiros passos: os comunistas eram as primeiras vítimas, mas o objectivo era a própria Democracia. Por isso que é intolerável que na hora da provocação, o PS encontre um qualquer alibi para não se pôr do outro lado da barreira. A vossa abstenção é uma traição à Democracia !
Digo-vo-lo com a responsabilidade de vos ter precedido na representação popular no Parlamento. E de ser filho de um Homem que também vos precedeu, Victor de Sá, como outros perseguido durante a luta contra o fascismo, que se viu obrigado a fugir de casa, em Braga, nesse "verão quente" para não ser abatido pela camarilha do cónego que deixásteis que o Parlamento homenageasse como um democrata.
É pelo respeito que os nossos mortos nos devem merecer, aqueles que lutaram para que Portugal vivesse em liberdade, que vos manifesto a repulsa democrática por essa indignidade que alguns de vós personificásteis. Não vos queixeis do divórcio do Povo!
Esta vossa atitude teve ainda a ironia de ocorrer quando se invocam os 40 anos do Maio 68: alguns de vós estavam, como eu, do lado dos que se revoltaram contra o stato quo do poder estabelecido. E agora, que sois Poder ?
Victor Louro, antigo Deputado à Assembleia da República.

Manicómio

Tomara eu ser como a panela de pressão! Ter uma válvula que andasse naquele rodopiar, largando a pressão em excesso e mantendo as coisas lá dentro em equilíbrio operacional... Mas, não! Não tenho válvula, desculpem. Neste final de semana extra longo fomos bombardeados com uma operação gigantesca de recolha de alimentos, de bancos alimentares e de organizações variadas para praticar o desporto favorito da sociedade bem portuguesa: a caridade! A fazer fé nos relatórios e reportagens dos jornais e televisões, o país está em derrocada total! Que seria de nós sem a "caridadezinha"!!?
Voltámos (ou talvez nunca tenhamos de lá saído) à canção do Barata Moura...
Faz-me uma enorme confusão esta coisa de as pessoas demonstrarem um engenho brutal para organizar operações e estruturas extremamente complexas destinadas a suprir falhas estruturais da sociedade (e até ter sucesso com isso!), conseguirem juntar até um número significativo de gente para o efeito, mas revelarem-se totalmente incapazes de se entenderem e organizarem-se como país, de modo a que tenhamos todos uma vida que respeite os "mínimos", mais justa, digna e sem favores. Tantos milhares de "voluntários" que acodem ao apelo caritativo, mas não conseguem acordar num projecto para este sacana deste país!!
E faz-me também uma enorme confusão este retrato que os portugueses parecem estar a fazer de si próprios: um povo esquelético e angustiado, que deambula perdido pelo território árido, esgravatando sem esperança as terras secas em busca de umas magras sementes para se alimentar, enquanto, ao mesmo tempo na vida real e por esses centros urbanos fora, vai enchendo os carrinhos dos supermercados, cruzando incessantemente os centros comerciais, pulando de loja em loja, dessas de "marca" que enxameiam por todo lado, enchendo a transbordar a noite nas discotecas e formando filas intermináveis de carros à hora de ponta, mesmo com a gasolina caríssima!
O Alto Comissário para os refugiados, que é português, como sabemos, terá certamente razão para vir fazer uma missão especial a Portugal... Preparem os hospitais de campanha! Mandem vir as missões humanitárias!!
Hoje as notícias dão-nos conta de um relatório da OCDE que indica que a emigração aumentou em Portugal 50%! Acto de resistência ontem, a emigração continua a ser uma maneira de lidar com a insanidade deste país. Hoje, se calhar, perante as novas realidades do país (democracia, integração europeia, euro) a motivação destes portugueses será um pouco diferente. O melhor, pensarão decerto estes novos emigrantes, é pirar-me deste manicómio...

2008/05/04

Ainda a propósito da juventude e política

Dois artigos sobre a questão da juventude e o 25 de Abril que merecem algum comentário. Tiago Tribolet de Abreu (TTA) escreveu no Público (08/05/01) um artigo intitulado "A geração de Abril ou os velhos do Restelo que se seguem" e hoje Daniel Sampaio (DS) escreve, também no Público, um outro chamado "Vendedores de ilusões."
Escrevo estas notinhas no seguimento do que eu próprio escrevi há dias sobre o tema.
O primeiro articulista "atira-se" ao que chama a "geração de Abril" e zurze forte e feio a geração que tinha 20-30 anos em 74. O segundo fala dos discursos pronunciados na AR pelo deputado José Moura Soeiro e pelo PR.
Devo confessar que o artigo de TTA me apanhou em cheio! Serei sem dúvida um dos visados no artigo, porque estava justamente na casa dos 20-30 anos em 74. E partilho os reparos que ele faz a esta geração que é a minha. Quanto ao artigo de DS, também me tocaram bastante as palavras do deputado Soeiro. O que "desempata" então isto é o discurso do PR. Não partilho de todo os elogios --como aliás deixei claro no meu post sobre este assunto-- que são feitos ao PR por ter abordado esta matéria no seu discurso na Assembleia.
Como disse no meu post "parece mesmo que o cidadão que ocupa actualmente o cargo de Presidente da República não contribuiu generosamente, enquanto primeiro ministro" para o desinteresse da juventudo pela política que hoje aponta com a solenidade de uma intervenção na AR.
Mas, não é só afinal o PR que chuta para canto. No fim de contas até o percebo. O pior é que olhando para a sociedade portuguesa hoje, ó Tiago Abreu e ó José Soeiro!, continuo a ler nas vossas palavras a auto-desresponsabilização, o atirar as culpas para o parceiro, o mesmo queixume e a mesma lógica do "pronto a vestir". Continuamos a observar um estado quase doentio de inanidade e uma languidez patológica. E nisto, Tiago Abreu e José Soeiro, não há generation gap! Estamos todos no mesmo barco. Na hora de ser coerente falhámos e falhamos, vocês e nós... Observo os mesmos padrões de comportamento nos "vintistas" de hoje e nos "vintistas" de ontem. Na minha geração ainda houve muita resistência e demonstração de coragem. A vossa resiste a quê?
Se é verdade que há um défice patético de modernidade nos cinquentenários e sexagenários de hoje (já eram "antigos", muitos deles, há trinta anos, acreditem...), há um enorme défice de coragem e de sentido de responsabilidade nos "vintistas" de hoje. Sacodem a água do capote para os "vintistas" de ontem, como gerações sucessivas de portugueses têm feito para as gerações precedentes desde há séculos...
Estou farto de ouvir o mesmo discurso! Estão à espera de quê? Que o futuro vos seja dado por aqueles que vocês criticam? Por este andar a "espécie" velho do Restelo já tem descendentes anunciados...

2008/05/03

Em terra de cegos...

Andam os médicos oftalmologistas portugueses, Bastonário da Ordem incluído, preocupados com as operações às cataratas praticadas em Cuba. É compreensível. Se a moda pega (e parece estar a pegar), os cirurgiões nacionais podem perder uma boa parte dos seus potenciais clientes que é, como quem diz, negócio.
O que se passa afinal?
De acordo com as informações da Ministra da Saúde, dos 500.000 portugueses que aguardam uma primeira consulta hospitalar, 120.000 esperam por uma consulta de oftalmologia. Destes, 29.000 necessitam de uma operação às cataratas. As operações são, normalmente, feitas em hospitais públicos cujas listas de espera chegam a atingir três anos. Sei do que falo, pois a minha mãe esperou mais de dois anos, até poder ser operada através do Serviço Nacional de Saúde. Tinha, à época, 88 anos e, como é compreensível, não podia esperar mais tempo...
Esta é a situação da maioria dos idosos com cataratas, cujos rendimentos não lhes permitem apressar uma intervenção, relativamente fácil, mas para a qual parecem não existir meios ou médicos suficientes.
Por esta razão, algumas autarquias - Alcoutim, Vila Real de Sto. António, Santarém, Aljezur, Castro Marim e Alandroal - aderiram a um protocolo com Cuba, que inclui internamento em Havana, diagnóstico e operação, para além de uma estadia de duas semanas na ilha de Fidel, por cerca de 2000 euros. Caro?
De acordo com o presidente de Vila Real, mais barato e mais rápido do que em Portugal, com vantagens inequívocas, pois muitos dos idosos corriam o risco de cegar. Mais do que o preço, trata-se de um problema humano.
É pois, natural, que os oftalmologistas portugueses comecem a fazer contas à vida. Agora que os seus honorários podem diminuir, têm de praticar preços mais baixos. Felizmente que há cada vez mais gente a ver melhor...

2008/04/26

26 de Abril

Os comentários do Presidente da República a propósito do suposto desinteresse da "juventude" pela política são curiosos. Habilmente, de uma forma que só os políticos conseguem (ou têm lata para) fazer, o ónus da culpa é invertido. Até parece que a forma como os políticos servem o poder aos cidadãos não entra nesta equação. Parece mesmo que o cidadão que ocupa actualmente o cargo de Presidente da República não contribuiu generosamente, enquanto primeiro ministro, para esse desinteresse. Parece, enfim, que este mesmo PR não continua a ser um contribuinte activo, apesar dos seus reparos contristados, para esse desinteresse ao ignorar publicamente os desvarios do Presidente do Governo Regional da Madeira, quando todos esperávamos que esta oportunidade para dignificar a prática política (esta prática política de que eles próprios são protagonistas!) não fosse desperdiçada. Rico exemplo que fica para as gerações futuras!
Neste contexto, pergunto-me se os mesmos jovens deputados que intervieram ontem na sessão comemorativa do 25 de Abril na AR terão a noção de que, naquele hemiciclo, são tanto parte do problema como aqueles que eles próprios criticam. Não vi nenhum dos jovens levantar-se da cadeira do poder em que nalguns casos, episodicamente, se sentaram quando o PR teceu as suas considerações.
No 25 já estávamos a 26...?

2008/04/25

25 de Abril

Hoje de manhã, aqui na minha nova terra, naquilo que aparentava ser parte do programa de "comemoração" local do 25 de Abril, um grupo de crianças fazia uma demonstração de dança no largo principal ao som de um tonitruante "Fame, I'm gonna live forever"...
Na AR, entretanto, decorria a sessão anual de comemoração desta data. Ouvi com atenção as intervenções dos deputados mais jovens e confesso que fiquei comovido com elas. Não foi para ouvir as suas queixas, em muitos casos totalmente legítimas, que o 25 de Abril se fez. Há 34 anos todos ansiávamos por criar condições diferentes para os nossos filhos. É triste e duro ouvir algumas das suas críticas sobre a precariedade, a falta de horizontes, o espartilho desta democracia.
Em todo o caso, cabe-lhes a eles fazerem a sua revolução. Que curiosamente continua, apesar de todos estes anos passados, a ser ainda a minha revolução...
O pior que eles poderão fazer é ficar pela crítica e esperar milagres.

Marinhas de sal de Rio Maior

Um local, para mim, desconhecido cuja visita aconselho. Dizem-me que são as únicas salinas de sal-gema existentes em Portugal. Dizem-me também que a extracção do sal neste local deverá remontar à era romana, embora só existam referências explícitas às salinas a partir de 1177.
O local contém ampla matéria de reflexão e vale a pena lançar-lhe um olhar demorado, perceber o seu modo de funcionamento e conhecer as origens de tudo isto.
Inexplicavelmente, a perspectiva que este local transmite ao visitante deixa muito a desejar. A esmagadora maioria das lojas, cafés e restaurantes instalados nas curiosas casas de madeira, antigamente usadas para guardar o sal, está fechada e a informação e as referências ao local, que dista uns 3 km da cidade de Rio Maior, são escassas, e, no mínimo, carecem de uma abordagem mais profissional.
Mereciam mais estas salinas naturais de Rio Maior...

2008/04/23

The Big Race

Apesar de esperado, o triunfo de Hillary Clinton na Pensilvânia veio animar uma campanha que, há menos de um mês, dava como quase certa a vitória de Obama nas primárias norte-americanas.
Com 99% dos resultados apurados, a candidata democrata tinha obtido 55% dos votos contra 45% do seu rival, correspondendo a 81 delegados, no total dos 158 lugares em disputa.
As grandes tendências demográficas mantêm-se, com as mulheres, os colarinhos azuis e os seniores brancos a votarem em Hillary; enquanto os negros, os colarinhos brancos e os jovens, continuam a votar Obama.
Para quem pense que Hillary é a candidata com maior apoio financeiro, os números divulgados não mentem: a candidata tem "apenas" $3.8 milhões para gastar, enquanto Obama dispõe de um "budget" de $11, o que nesta fase da corrida pode vir a revelar-se determinante.
Pese o bom momento de Obama, a verdade é que o candidato de Illinois não consegue "descolar" da rival. Para esta aparente contradição, os analistas dão cinco explicações: a "raça" (os americanos não estarão preparados para um presidente negro); a "inexperiência" (o candidato não tem experiência internacional); "os colarinhos azuis" (o candidato não consegue cativar os mais mal pagos); o "reverendo Wright" (as ligações ao pastor racista da sua paróquia) e a "mudança" (que ninguém sabe muito bem o que é).
Resta a opinião dos "super-delegados", que irá ser determinante na escolha do candidato democrata. Para já, a diferença entre delegados obtidos é de 1.719 para Obama, contra 1.591 para Clinton. Irá Hillary a tempo de recuperar?

2008/04/20

Palhaçada Atlântica

Quem estava à espera de uma reacção do Presidente da República, aos recentes dislates do régulo madeirense, saiu defraudado. Quem não estava à espera, pôde confirmar a fibra de que são feitos os políticos portugueses, PR incluído.
É caso para dizer: estão bem um para o outro.

2008/04/18

Menezes

Acreditar que a demissão de Menezes pode salvar o PSD da crise em que o partido caiu, depois da fuga de Durão e do desastre de Lopes, é não perceber que, desde então, o PS ocupou o espaço político dos sociais-democratas. São as políticas de direita de Sócrates que inviabilizam o regresso do PSD ao lugar de partido de oposição. Não há lugar para dois partidos ocuparem o centro. Por isso, eles são tão iguais. Na dúvida, os eleitores preferem o "menos mau".

2008/04/17

O "Testa de Ferro"

José Faria, ex-motorista de Avelino Ferreira Torres, deu uma entrevista à televisão portuguesa, digna das melhores histórias sicilianas. Disse o homem que receava pela sua vida e por isso tinha-se refugiado no Brasil, pois sabia demais e já tinha havido uma tentativa de "calá-lo". Para melhor ilustrar a sua tese, mostrou a boca, desdentada, onde podiam notar-se as marcas de uma alegada agressão. É possível. Depois de ver os impropérios e ameaças do ex-autarca de Marco de Canaveses, no tribunal onde está a ser julgado, diria mesmo mais: é bastante provável.
Temos pois, aqui, todos os ingredientes necessários a uma boa história de "omertá": numa pequena cidade do Portugal profundo, um cacique local domina a seu belo prazer, enquanto compra o "silêncio" dos seus apaniguados através de pequenas mordomias. O clientelismo, na sua forma mais larvar. Como as relações de patrocinato são sempre assimétricas, o protegido aceita as condições do patrono, a troco de protecção. O sistema funciona, enquanto o "eleito" puder distribuir mordomias. Um jantar aqui, uma festa acolá, viagens ao estrangeiro, favorecimento nos pequenos negócios da terra, aprovação de construção em terrenos interditos, são alguns dos exemplos de que as nossas autarquias estão cheias...
Em troca, o "padrinho" exige fidelidade absoluta e utiliza o "intermediário" para fazer negociatas em seu nome. Chama-se a isto um "testa de ferro". José Faria era o "testa de ferro" de Avelino Torres.
O pior foi quando este último perdeu a Câmara de Marco e, depois de uma tentativa falhada para conquistar a Câmara de Amarante, foi acusado de diversos crimes, pelos quais está hoje a responder perante a justiça. Nessa altura, o ex-motorista perdeu a protecção. Como parece não ter grande jeito para negócios e ainda por cima começou a dar com a "língua nos dentes", foi aconselhado a mudar-se para o Brasil. Lá tratavam dele. O home acreditou e hoje não tem dentes. Mas tem língua e por isso já declarou querer falar em tribunal, desde que sob protecção policial. Já vi este filme em qualquer lado, mas a história é sempre boa. Porque não adaptá-la ao cinema? Como os "Sopranos", por exemplo...

2008/04/14

Glossário ultra rápido do boyísmo (1)

Este glossário não respeita ainda as regras do acordo ortográfico, segue a sina antiga do p em óptimo e do c de gaita em facto, assumindo no entanto o y de boy sem receio de quem, sendo pelo ph, tenha, de há muito, optado por ser habitante de uma solidão elitista vocabular, em Ortugal (queda involuntária do P que, como na anedota do lete e do cafei, fugiu para Pespanha) e se decida pela agressão verbal contra o precário autor destas notas, um zé ninguém.
No país dos boys é óbvio (em breve obio) que boy e não boi prevalece dado que boi pertence manifestamente ao léxico taurino (tauino após a previsível queda do r de cornos, conos no âmbito acordado, coisa feia e não existente, que se grafará dentro de cinco anos istente).
Porctanto vejamos:
1. O Y distingue o boy do boi. O primeiro fala portinglês e o segundo fala à quarta classe antiga sendo mais clarividente e sensato que o primeiro. É porctanto comum e precvisível ouvir o boy dizer performance como flop como spréde como self made woman assim como nunca usa a expressão fast thinking apesar de portinglesa.
2. O verdadeiro boy usa gel e não usa chapéu. Normalmente o gel é da cor do nó da gravacta ou vice-versa.
3. O boy é de código genético um vice que sonha permanentemente com a oportunidade de ser um primeiro e que, logo que possa, mata o parceiro para lá chegar. Nos cromossomas traz um bafejo cheirando a nabos, a humildade dos nascidos remediados toscos numa beira alta ou baixa e gosta de n coisas caras nomeadamente de sonhar aristocrata turbo.
4. O boy é politicamente correcto pela frente e ladrão por detrás, chegando a vendar o pai, a mãe ou os irmãos. É muito comum não falar com a irmã mais velha por causa da quarta classe antiga dela.
5. O boy é centrista para os dois lados.
6. Os boys crescem como erva daninha.
7. Um boy pêessedê é muito diferente de um boy pêesse. O boy pêessedê consegue ser mais moderno, usar outro tipo de gel e o boy pêesse é mais ligado às sondagens e a perfumado de fresco.
8. Os boys detestam-se e chamam-se boys uns aos outros, depreciativamente, com o ânimo exaltado dos que afirmam o direito à indignação.
9. Há o grande boy de conselho de administração e há o pequeno boy para-autárquico. É comum que o último, depois de sete anos de nojo, chegue a um conselho privado de administração empresarial local ou mesmo público.
10. A história dos boys remonta à introdução do vinho do Porto nas encostas soalheiras do Douro aquando da chegada dos ingleses que nos descobriram assim como nós descobrimos os indianos da Índia. Nessa altura a palavra boy significava rapaz e não rapace, sentido actual do termo. O que os foi unindo na classe dos boys – o sindicato é clandestino – foi a defesa do mesmo princípio relativo à comissão: comissão para cá ou nada feito é a expressão que mais se ouve sempre que se fala de fazer qualquer coisa em que entrem dinheiros públicos. O boy nunca fez nem fará nada de próprio porque ele é, como diz Agamben, o pequeno burguês planetário, o que tudo aposta na indiferenciação indistinta. O boy age sempre na sombra e por conta própria. O boy é mais perigoso que o boi mesmo quando este é da lezíria.
É por estas razões que não gosto dos boys e gosto dos bois.
Finalmente o boy é um AMELO.

(1) Este glossário assume de modo vanguardista uma nova ordem alfabética atirando claramente o a de A para o fim das letras e assumindo o y de boYísmo como a letra Um.

Novo membro

Uma rápida nota de boas vindas ao FLeao, novo membro do Face .

Com genitais não se brinca

Ainda não foi desta que o homem mordeu o cão, mas o cão já mordeu o homem e logo nas suas partes mais sensíveis. Este é o teor da notícia que a comunicação social, televisão incluída, transmitiu este fim-de-semana.
Depois de terem sido achincalhados na praça pública, ao longo das últimas semanas, os "pitbulls" resolveram passar ao contra-ataque. Nada que não tivéssemos previsto.
Lá pôr-lhes o açaime ou prendê-los a uma trela, ainda vá que não vá. É nisso que um cão se distingue de um humano. Mas, castrá-los, impedindo-os de procriar e de ter algum prazer na curta vida que levam desta terra, já é demais.
E se assim "pensaram", melhor o fizeram. Foi um "pitbull", como podia ter sido um "rottweiler". Agora que têm a fama, também devem ter o proveito. Assim como assim, não vão desta para melhor sem fazerem sentir aos seus donos e amigos que com genitais não se brinca.
Pelos vistos, a "mensagem" passou. À cautela, a testemunha do caso, quando interrogada pela televisão, optou por falar de cara tapada. Ele lá saberá porquê...

2008/04/03

Contagem Decrescente

A confirmarem-se as previsões, não deve faltar muito para que o povo do Zimbabwe possa festejar a vitória das forças do MDC (oposição) nas eleições daquele país. Uma vitória que, a ser aceite pelo governo, significará o afastamento de um dos maiores títeres africanos em exercício. Um resultado que os democratas devem saudar.
Resta saber qual a reacção de Mugabe e daqueles que sempre o apoiaram, agora que nada mais lhes restará do que o exílio algures, provavelmente num país "irmão".
A avaliar pela reacção de alguns generais de Mugabe, não é de todo improvável que o ditador africano escolha a confrontação. Nogueira Pinto, um ideólogo do salazarismo que sabe do que fala, afirmou que essa opção (a de ficar, resistindo) dá mais garantias aos ditadores, pois estes não estão livres de serem presos no estrangeiro, como aconteceu a Pinochet durante uma visita médica a Londres...
Dois cenários, portanto, se perfilam: a aceitação da derrota por parte do ditador e o exílio dourado; ou a contestação dos resultados, com a inevitável escalada de violência entre grupos rivais, a exemplo do que aconteceu no vizinho Quénia.
Os democratas de todo o Mundo (juíz Garzon incluído), aguardam ansiosamente a confirmação das previsões indicadas nos resultados desta madrugada.

2008/03/31

Flamenco (ao) vivo!

O evento não teria importância de maior, não fosse esta a primeira vez que um Festival de Flamenco - a sério - tem lugar em Portugal. Iniciou-se na passada sexta-feira, com um "workshop" sobre os diferentes "palos" (estilos) que são a base de tudo; seguiu-se uma palestra sobre os "nuevos flamencos", a cargo de Mario Pacheco; e terminou com um excelente documentário alemão sobre a família Carmona (The Flamenco Clã).
Sábado, foi o dia do primeiro concerto "al toque" (instrumental) a cargo do guitarrista Pepe Habichuela e do Josemi Carmona Sexteto, retratados no filme da véspera.
Seguem-se os concertos de Miguel Poveda (al cante) e da companhia La Moneta (al baile), respectivamente a 19 de Abril e a 17 de Maio próximos.
Nos dias que antecedem os concertos haverá palestras, "workshops" de canto/dança flamenca e filmes (e.o. "Flamenco" de Carlos Saura). Até ao dia 19 de Abril estará patente a exposição fotográfica "Flamencos", de Mario Pacheco.
Todos as sessões são na Aula Magna da Reitoria da Cidade Universitária, temporariamente transformada em "tablao" lisboeta. É caso para dizer: não há fome que não dê em fartura...

2008/03/29

"E chamam a isto democracia"

Uma notável capacidade de síntese revela João Paulo Guerra na sua crónica de hoje do Diário Económico intitulada "Ciclo". A propósito da declaração do Primeiro Ministro que garantiu no Parlamento que a crise orçamental está "ultrapassada" e que os factores que a geraram estão "resolvidos", JPG caracteriza assim o "ciclo económico" português: "ordem para apertar o cinto, uma folga com a aproximação de eleições, cinto de novo apertado."
Assim, neste país amornado, onde o efeito do aquecimento global parece ser o de nos irmos deixando embalar, "as legislaturas têm um ano para enganar incautos e três para os espremer. E chamam a isto democracia."
Espremido e mal pago, o português só parece reagir quando alguém lhe tenta tirar o telemóvel.
..

2008/03/28

Uma visão do conflito no Tibete

Yi-Fu Tuan é uma geógrafo por quem tenho um enorme respeito, cuja vasta bibliografia conheço razoavelmente bem. Desde há algum tempo que mantém um site na internet que inclui uma secção chamada "Dear Colleague Letters". Já em tempos escrevi sobre ele aqui no Face.
Desta feita chamo a vossa atenção para a sua última letter que aborda a questão do diferendo entre o Tibete e a China. Uma visão especial de um americano de origem chinesa, académico de enorme gabarito e observador atento destas realidades sobre a qual vale a pena reflectir um pouco.

2008/03/27

E as Caldas aqui tão perto...

Para quem ainda duvide da descentralização cultural, aconselho a deslocar-se à antiga Lavandaria do Hospital das Caldas, onde a Companhia local - O Teatro da Rainha - leva à cena "Weisman & Cara Vermelha" (um western judaico) da autoria do dramaturgo George Tabori. Uma grande texto, de um autor relativamente pouco ensaiado em Portugal que, amiúde, nos remete para Beckett e Saul Bellow, na sua visão absurda e crítica da sociedade actual. Entre a memória (judaica) europeia e os valores (índio) americanos, os personagens movem-se num "décor" povoado por abutres que esperam uma morte anunciada: a dos valores da civilização ocidental.
A interpretação está a cargo de Fernando Mora Ramos (igualmente responsável pela encenação) para além dos excelentes Bárbara Andrez e Carlos Borges e do actor Octávio Teixeira. Os cenários/figurinos são de José Carlos Faria e a música, a condizer com a paisagem, é de Carlos "Morricone" Augusto. Este é, certamente, um bom motivo para visitar as Caldas da Rainha. Ou, como dizem os programas: agora, em últimas representações!

2008/03/21

Metade do problema

O impacto destas imagens que agora foram divulgadas pelos orgãos de informação e através do Youtube da aluna que tenta arrancar o telemóvel das mãos da professora é fortíssimo. Pessoalmente, o que observo ali é um "deseducador" despique, o total descontrolo de quem devia estar a dominar os acontecimentos, mas está a ser por eles dominado, uma total e absoluta ausência de autoridade, uma sala de aula transformada em "estúdio" de tv e uma notória e inexplicável falta de "técnica" para lidar com estes acontecimentos.
A cena do "clip" não é produto do momento. Levou certamente muito tempo até ter chegado àquele estado de coisas. Houve muito ensaio, muita direcção de actores. E não creio tão pouco que se trate de um acto imputável a este ou àquele professor, a este ou àquele aluno. Podemos imaginar muitos outros actores responsáveis até termos chegado àquela cena em concreto.
Neste momento particular, porém, não é isso que é valorizado e quer-me parecer que o burburinho à volta das imagens pretende passar uma outra mensagem, muito particular.
Estivéssemos nós numa altura diferente e, se calhar, teríamos visto um outro tipo de imagens. Talvez captadas por um aluno que se tivesse lembrado de filmar um momento de prepotência de algum professor, por exemplo...
Tivesse eu telemóvel com câmara quando andava na escola primária e nos primeiros anos do liceu, tivesse eu internet, e teria com toda a certeza colocado no Youtube várias imagens interesssantes de cenas que fui presenciando. Imagens de "castigos" aplicados, de forma mais ou menos fria, pelos professoress sob a forma de palmatoadas, reguadas e outro tipo de agressões ainda mais violentas. Não eram, direi, o pão nosso de cada dia, mas eram, certamente, bastante frequentes. Recordo-me de várias cenas lamentáveis, e de numa ocasião em particular --teria eu uns 11 anos-- um professor de português ter agredido de forma absolutamente selvática, ao pontapé, um colega por causa de um erro numa redacção.
Hoje, estou absolutamente convicto, já não seria possível presenciar cenas deste tipo. A gente, pelo menos, nunca as viu no Youtube...
Neste caso concreto, longe de servir para tirarmos daqui, todos, um qualquer ensinamento, estas imagens parecem-me estar a servir outros propósitos. O que é pena.
E para que o espetáculo continue, para que as responsabilidades se diluam, para ficarmos com uma visão completa sobre metade do problema e para ficarmos com aquela sensação de termos a "liberdade" de tudo poder discutir, para que tudo fique na mesma, talvez aquela senhora da RTP1 se lembre de fazer mais um debate encarniçado sobre este assunto, daqueles em que estão uns de uma lado e outros do outro...