2010/10/13

Lições do Chile

Ainda nem metade dos mineiros chilenos soterrados foi resgatada e já se podem tirar algumas conclusões sobre tudo isto. Estou convicto que toda esta operação vai ter consequências profundas.
É um acidente e, como tal, uma coisa fortuita, imprevisível. É até um acidente de dimensões relativamente reduzidas quando comparado com episódios recentes como New Orleans ou o Haiti. É um acidente de dimensão reduzida quando comparado com o terramoto que ocorreu no próprio Chile!
Mas, se, por um lado, perante essas tragédias, não nos transformámos em cidadãos de qualquer destes lugares, neste caso de facto tornámo-nos "todos chilenos", como diz o RM no último post, e "somos todos mineiros" como me disse o FL. Porquê?
Fica demonstrado de forma inequívoca que a opção pelo primado da dimensão humana não tem discussão, nem escala padrão, e que o engenho, a solidariedade, a capacidade de sacrifício postos ao serviço dos outros não são "commodities", que possam ser sujeitas às oscilações do mercado de valores ou à especulação bolsista. O clima em que hoje se vive faz crer que tudo se resume aos "mercados". No Chile escreve-se neste momento o texto que demonstra justamente o contrário.
Parece-me também difícil justificar no futuro a aniquilação deliberada de seres humanos e a leviandade dos "danos colaterais" quando se vê o mundo ficar às avessas e comover-se até às lágrimas, depois de se ter sentido encurralado como e com estes 33 mineiros. No Chile apagaram-se os pretextos para as divisões artificiais. 33 ou 33 milhões, todos os encurralados querem libertar-se.
Se os meios justificassem os fins, estes 33 mineiros estariam a esta hora certamente mortos. Esta operação não peca por falta de meios e não houve estudos custo-benefício que impedissem o seu emprego. Fica claro de uma vez por todas a falsidade deste princípio e o crime que é aplicá-lo torcendo pela força a lógica das coisas. No Chile a realidade é maior que o mais "real" reality show e demonstra que quem está convicto do fim, não olha a meios.

2010/10/12

Luz ao fundo do túnel

Hoje, somos todos chilenos.

Internacionalismo interesseiro?

Aquilo que me pareceu ser uma imbecilidade de todo o tamanho, pode afinal ser uma jogada de mestre! É que ontem ouvi a reacção do PCP à entrega do prémio Nobel da Paz. Uma reacção que me pareceu, à primeira vista, tão desastrada, tão desastrada, de um primarismo tão grande que nem queria acreditar no que ouvia.
Hoje leio que Wang Yong, do banco central chinês, aconselha a compra da dívida soberana dos países em dificuldade (Portugal, Grécia, Irlanda e Itália) para evitar a valorização do yuan acima dos 3%, pretendida pelos americanos. Ah!, pensei eu, afinal sempre traz água no bico a posição do PCP...
O PCP diz que o Nobel é "inseparável das pressões económicas e políticas dos EUA à República Popular da China". My mistake... Afinal, o PCP não foi desastrado, nem o Nobel atribuído a Liu Xiaobo é a condenação de um acto arbitrário de um estado que vive, em certos aspectos, numa situação de inexplicável paragem no tempo. Afinal o Nobel da Paz é um instrumento de pressão económica. E o PCP, numa atitude patriótica e surpreendentemente europeísta, faz o rapapé aos Chineses não vão eles chatear-se, como se chatearam já com a Noruega, e desistir da hipótese de "contribuir activamente para a resolução da dívida europeia", excluindo, nomeadamente, Portugal desse pacote de apoio activo.
Os insondáveis desígnios da diplomacia e da política internacional...

O défice explicado para quem não tenha ainda percebido

Hoje chegou-nos a notícia que os tratamentos de infertilidade ministrados na Maternidade Alfredo da Costa tinham sido interrompidos. A interrupção resulta de uma circular do Ministério da Saúde que determina a limitação desses tratamentos a um durante este ano, por casal.
Até agora eram ministrados dois tratamentos anualmente. Quem estiver neste momento a aguardar por um segundo tratamento terá de esperar por 2011.
Há, porém, casos em que a interrupção foi ordenada já após o início do segundo tratamento, mesmo em pleno processo de preparação para esse tratamento, ao que consta. Uma "brutalidade", dizem alguns testemunhos que a comunicação social recolheu naquela maternidade. Uma situação que está a provocar revolta. Uma solução tecnicamente "incorrecta e incompreensível", diz uma responsável da D. G. de Saúde, ouvida pela TSF.
A MAC terá assim agido nestes casos por iniciativa própria, pelo que se percebe.
Independentemente das contradições burocráticas e do risco clínico, independentemente do facto de que estão previstos programas para o ano que ministrarão os três tratamentos desde sempre preconizados  (e não apenas os dois que eram actualmente administrados), o que tudo isto vem desvendar perante os cidadãos é o caos, o grau de demência e de insensibilidade que reinam na administração pública portuguesa. "Até hoje nem sequer um telefonema da MAC com nenhum tipo de apoio, quando sabem que isto psicologicamente afecta muito," diz uma das mulheres ouvidas pela TSF.
Em Abril de 2009, o Governo determinou o "apoio aos casais que precisassem de tratamentos de fertilidade, aumentando a comparticipação dos medicamentos necessários de 37 para 69 por cento e o encaminhamento dos casais em lista de espera no público para clínicas privadas. A medida foi uma das grandes apostas do executivo Sócrates para a saúde em 2009," como nota o Público. Agora o défice manda fechar a loja e, mais papista que o Papa, a MAC revelando a sensibilidade de um pneu e tripudiando sobre os mais elementares princípios do comportamento humano, administra sem hesitar um preceito "incorrecto", segundo da DGS, revelando um desvelo que merecerá certamente nota "Excelente" na avaliação.
Aonde chegou a cegueira, a insensatez, o desnorte, o egoismo e a falta de solidariedade das instituições públicas neste País. Se é assim com  a saúde reprodutiva, se é assim com a fragilidade da maternidade, é fácil imaginar o que se passará noutros sectores da vida portuguesa.

2010/10/07

Um Nobel ao retardador

O Nobel da literatura, hoje atribuído ao escritor peruano Vargas Llosa, premeia um dos mais destacados e prolíferos escritores da actualidade. Ainda que o seu nome não constasse há muito da lista de nomeáveis em que o "gossip" de Estocolmo é fértil, poucas vezes uma "obra" (porque é disso que se trata) recolheria tal unânimidade. É verdade que estas coisas valem o que valem e Llosa não precisava do Nobel para ser reconhecido como grande escritor que é. Mas fica sempre bem à Academia Sueca premiar os melhores na sua área. Foi o caso e deve registar-se.

Os cães ladram e a investigação continua

Há tempo escrevi aqui um comentário sobre o cinismo que os instalados no poder revelam ao abordar a questão do mérito. O mérito, para além de ser necessário tê-lo, precisa de ser reconhecido, e precisa de ser reconhecido através de actos concretos. Se assim não for, o mérito não passará nunca de uma curiosidade, de um número de variedades.
Em Portugal, o mérito é doença que suscita imediatas e violentas reacções de rejeição. Poder e falta de mérito vão aqui de mãos dadas. O exemplo vem de cima e pega como fogo em seara seca, por isso, o reconhecimento oficial do mérito, na prática, não existe.
Por mais "roteiros presidenciais" (iniciados por Mário Soares, recorde-se, que Cavaco segue à letra), por mais visitas simbólicas aos "centros de excelência", feitos por suas excelências, o círculo de giz caucasiano não se rompe. Fala-se em mérito e, na prática, ouve-se logo sacar da pistola!
Ainda há dias o professor António Damásio dizia, em entrevista na SICN —por palavras cuidadosamente escolhidas, mas dizia!— que a sua investigação não seria possível em Portugal. A ele coube reagir à falta de condições que tinha e escolher os EUA para fazer o seu trabalho. A nós todos, sobretudo os mais responsáveis, caber-nos-ia e cabe-nos perguntar, porque não? E é aqui que esta questão do mérito e do seu reconhecimento se começa a embrulhar num novelo cuja ponta precisamos de urgentemente encontrar.
Hoje o Público, num artigo de Teresa Firmino, refere que uma equipa de cientistas portugueses,  que trabalha com a equipa que ganhou o Nobel da Física pela descoberta do grafeno, viu o financiamento de um projecto seu que permitiria avançar no domínio da investigação sobre este novo material, ser recusado pela FCT. Um responsável da equipa portuguesa, o professor Nuno Peres da Universidade do Minho, diz, ainda segundo o Público, que "vamos continuar a trabalhar —sem dinheiro, com mais dificuldade—, porque a nossa motivação é compreender a natureza e daí tirar vantagens para a vida das pessoas."
Um dia destes vão todos tentar alapar no "mérito" destes investigadores, vão ver. Talvez mesmo distingui-los em breve com uma paragem do "roteiro" eleitoral e, para o ano, o presidente eleito vai conceder-lhes uma medalha de um "mérito" qualquer, num qualquer dia, de um qualquer Camões, sem corar de vergonha pelo ridículo do seu acto...
Depois continua tudo na mesma.

Uma petição oportuna

Agora que tantos economistas vão à televisão falar da actual crise e das soluções para combatê-la, seria bom ouvir outras opiniões para além dos "especialistas do sistema" que diariamente nos lavam o cérebro com as suas receitas.
Uma petição oportuna é esta aqui.
Assinem e divulguem.

2010/10/05

Atirar a toalha na questão presidencial

O antigo Presidente da República Ramalho Eanes diz que a gravidade da situação do País exige consensos entre os partidos. Ora aqui está uma frase, aparentemente inócua, que tem muito mais que se lhe diga. De repetida de forma ora automática, ora acéfala, esta ideia de que os partidos é que geram consensos acaba por ir fazendo "jurisprudência".
No meu entender, a situação do país —de há muito, não só de hoje— exige discussão e esclarecimento dos portugueses. Exige consenso, mas entre os portugueses. Que os partidos depois reflectirão, claro, mas que tem de emanar dos cidadãos. Uma das, senão mesmo a questão central da nossa democracia é este cheque em branco que os cidadãos concedem aos partidos. Que deu no que deu, como sabemos. A democracia não se esgota, como é sucessiva e inutilmente repetido por alguns, nas eleições, nem o nosso papel enquanto cidadãos acaba no momento em que conseguimos que alguém assuma o papel de nos representar politicamente. Este é um debate que urge fazer na sociedade portuguesa e que, naturalmente, não vai ser nunca promovido pelos partidos.
Há poucos dias o secretário-geral da CGTP defendeu a necessidade de aproveitar a eleição presidencial que se aproxima para um debate profundo sobre a situação do país, que inclui a perspectiva —correcta, no meu entender— da crítica do exercício do poder presidencial. Não posso concordar mais. Habituámo-nos a criticar o Governo, e em particular o Primeiro Ministro, pelos pecados da governação, mas esquecemo-nos frequentemente que o Presidente da República tem grossa percentagem de culpa no cartório e é co-responsável pelo estado a que as coisas chegaram. Não como sócio gerente, mas como silent partner. Negligenciámos avaliar o papel que esta figura tem nos acontecimentos nacionais.
O PR tem, mesmo numa interpretação light dos seus poderes constitucionais, muito mais poder de intervenção do que faz crer a interpretação oportunista que da Constituição fazem alguns parasitas da nossa vida política e, seguramente, muito mais do que aquele que o actual detentor do cargo evidencia. Por outro lado, o exercício deste cargo implica uma margem de assertividade que não tem sido de todo a tónica do mandato deste Presidente. O exercício da Presidência da República feito por Cavaco Silva faz-me lembrar um personagem do Jô Soares de há uns largos anos, conhecido pelo "não me comprometa"! E falo na versão light porque se formos para a versão com todos, o mandato deste Presidente é um fracasso total, na perspectiva do interesse nacional.
Na minha opinião, o desastre da governação do consulado Sócrates ocorre nesta matriz e nela tem também de ser enquadrado.
Ora, o que o comentário de Carvalho da Silva parece vir justamente pôr em destaque é a necessidade de não "arrumar" a questão das eleições presidenciais na secção dos "resolvidos" —aquela em que parece que a generalidade dos doutos comentadores e fazedores de opinião já encafuou a questão— e exigir mais! Partindo do princípio que as expressões "presidente de todos os portugueses" e "equidistânca dos partidos" não são vãs, é fácil concluir que há um terreno imenso onde a acção e a iniciativa do Presidente da República podem ter lugar e que estas não se esgotam no jogo de atirar pinos abaixo no bowling dos partidos. Devíamos ambicionar mais e o PR deveria ser um agente particularmente activo nesse desígnio.
Não vamos eleger o "monarca", figura decorativa, passiva e passada, como alguns desejam. Estamos noutra!
Falando de dificuldades de fazer uma comunicação decente do que está em jogo na presente situação política, teria sido mais últil que, em vez de chamar os partidos, como fez ultimamente, Cavaco Silva tivesse promovido uma discussão muito ampla e aprofundada sobre o que está verdadeiramente em causa. Há mil maneiras de o levar a cabo e não lhe faltariam decerto meios para o fazer. Falta-lhe, manifestamente, é o talento, a criatividade e a visão correcta de um verdadeiro estadista. Deve estar esgotado com as duas mil assinaturas que teve de apor nos diplomas todos que promulgou. Cãibra de escrivão, portanto.
E em resultado de tricas mesquinhas, ódios pessoais e interesses partidários inomináveis preparam-se todos para entregar de mão beijada, de novo, o cargo de Presidente da República a este homem.

2010/10/04

Uma entrevista oportuna

Saiu hoje no Público uma entrevista com Henrique Neto que pode ser lida aqui.


(Foto retirada da edição online do Púbico de autoria de Pedro Cunha)

2010/09/30

A Crise (2)

Não fora a pressão dos "mercados" e ainda hoje o governo português continuaria a anunciar as obras do regime e a apregoar a saúde da nossa economia, quando comparada a outros países em crise por essa Europa fora.
Ontem foram anunciadas medidas drásticas, mas agora é tarde. É tarde porque já deviam ter sido tomadas em 2008, quando a crise nos bateu à porta; e será sempre tarde, porque, como vimos na Grécia e na Irlanda, as medidas tomadas não melhoraram a situação. É tarde, ainda, porque o governo andou a mentir este tempo todo e agora vem com ar compungido dizer que não havia outra alternativa.
Com o agravamento das "medidas de austeridade" - desinvestimento nas obras públicas, aumento do IVA, cortes salariais na função pública, congelamento de salários, diminuição das reformas e nos diversos apoios sociais - a espiral da pobreza só terá tendência para aumentar. Sem investimento não haverá relançamento da economia e sem economia a crescer não haverá aumento de emprego, do consumo e do comércio. O desemprego tenderá a aumentar e sem apoios sociais a pobreza será ainda maior.
Hoje mesmo a "Ernst & Young" anunciou que o segundo semestre será pior para as contas públicas pelo que a recessão tenderá a agravar-se. Más notícias? Nem por isso: de acordo com Almeida Santos, a "eminência parda" do governo, os portugueses devem considerar-se felizes por terem um governo que ousa tomar medidas impopulares. Por esta é que nós não esperavámos. Infelizmente, Santos não está tão senil como algumas pessoas receiam. Antes estivesse.

2010/09/29

Responsabilidades

Aqui há já algum tempo correu nos cinemas o filme de Michael Haneke "O Laço Branco". Era um filme perturbante sobre as virtudes públicas e os pecados privados, sobre a hipocrisia, sobre a plasticidade da moral aplicada intra ou extramuros.
Hoje tenho-me lembrado bastante deste filme. Ao longo do dia fomos ouvindo altos dignitários da governação e da vida política apelar ao sentido de responsabilidade. Esta foi a palavra mais ouvida em tudo o que foi noticiário e reportagem sobre intervenções políticas a propósito do orçamento e das medidas para remediar o problema do défice das contas portuguesas. Uma palavra repetida febrilmente em todos os tons e declinações.
Estranha palavra e estranho apelo este...
Serão aqueles que espetam o dedo moralista e fazem agora, com ar grave e compungido, este apelo à responsabilidade, os mesmos que, quer do lado do governo, quer do lado da oposição, revelaram ao longo de todos estes anos de exercício do poder um comportamento totalmente irresponsável. Serão estes arautos da responsabilidade os mesmos que não hesitaram em fazer prevalecer os seus interesses mesquinhos e egoístas sobre os interesses de todos, sabendo que o desgoverno a que assistimos hoje seria a inevitável consequência dos seus actos? É para o PEC(n) que os portugueses votam nestes imbecis?
E, pergunto, serão menos irresponsáveis aqueles que os premeiam então com o seu voto?
Quem tem medo da crise política? Quem tem medo de reconhecer que os representantes do regime não estão à altura das necessidades do País e que o País sustenta e avaliza representatntes que o não servem? É mesmo para uma mudança muito profunda de regime que devemos apontar.

2010/09/24

A Crise

Agora que Cavaco Silva se preparava para anunciar a sua (re)candidatura a Belém e o que menos desejaria era falar, eis que a realidade se impôe à estratégia presidencial e o obriga a tomar posição sobre a actual crise. Falhadas que foram as conversações entre os dois maiores partidos sobre o OE, mais não resta a Cavaco do que tentar o impossível que é, neste momento, evitar a entrada do FMI em Portugal.
Com uma economia a crescer abaixo de 1%, uma dívida externa correspondente a 80% do PIB e a pagar uma taxa de juro de 6,2% (a maior, na Europa, depois da Irlanda) tudo aponta para que, dentro em breve, Portugal ultrapasse os 6,4% da Grécia, o "momento" em que o FMI "entrou" naquele país. Os resultados estão à vista e não consta que os gregos tivessem ficado melhores com a terapia de choque que lhes foi aplicada. Para já, e no que diz respeito a Portugal, com ou sem Orçamento, as previsões económicas para o próximo ano são ainda piores do que as actuais: congelamento de salários, aumento de impostos, aumento de desemprego, desempregados de longa duração sem meios de subsistência, redução de prestações sociais, redução de comparticipações em medicamentos. Estas são algumas das medidas que têm em vista reduzir o "déficit" que ultrapassa actualmente os 9%. Mas, estas medidas não vão chegar. E porquê? Porque a despesa do estado continua a crescer e, como não há dinheiro para pagá-la, teremos de pedir mais dinheiro emprestado, o que fará aumentar a dívida e os respectivos juros...
Como explicam os analistas económicos todos os dias na televisão, sem aumento da produtividade não há aumento de riqueza e, sem esta, não haverá maneira de distribuir melhor e pagar a dívida que tornar-se-á, a prazo, insustentável. Perante esta verdadeira quadratura do círculo, gostaríamos de saber o que diz o economista Cavaco, pois o Cavaco presidente já sabemos o que pensa.

2010/09/22

De Queiroz ao FMI, passando por Mourinho

O folhetim do seleccionador nacional entrou numa nova temporada. Vale a pena pensar no que foi a temporada anterior.
Creio que foi o major Valentim Loureiro que disse uma vez que o futebol não é mais que um reflexo do país. Se não foi ele foi alguém do género. Temos de admitir que o personagem tinha nisto alguma razão. Não se podem atribuir ao futebol nem todos os malefícios das suas derrotas, nem todas as virtudes dos seus sucessos. Mas, o futebol espelha de facto o País e este episódio Queiroz é disso exemplo.
Em todo este processo se vê a mesquinhez, a invejinha, o resíduo inquisitorial do poder, a leviandade com que os portugueses nele investidos tratam os seus concidadãos, o que é a justiça e o respeito pela lei das instituições que têm de velar por tudo isto. O que é e para que serve o Estado Português, em suma.
Em todo este processo se vê também a insolência do poder e como este (este ou qualquer outro poder, seja político ou institucional, como foi e é o caso da Secretaria de Estado da Juventude e Desportos ou da Federação Portuguesa de Futebol) trucida, com total leviandade, as pessoas no seu continuado e nunca verdadeiramente questionado livre arbítrio. Uma vez conquistado o "poderzinho", vale tudo. No "enterro" de Queiroz, mas também no "convite" a Mourinho se vê como não passamos todos de peões perante os poderes conjunturais que tudo e todos tentam manipular, seja qual for o nosso estatuto, seja qual for o nosso ramo de actividade.
O Estado em Portugal continua, séculos depois da revolução cidadã, a ser eu. Ou, numa versão mais colorida e, sem dúvida, mais fiel, "eu é que sou o presidente da junta!"
Em todo este processo se percebe também que perante as necessidades mais sérias deste país a resposta continua a ser D. Sebastião, chame-se Mourinho ou FMI. Em qualquer caso, no futebol como na economia, a qualificação de Portugal está em risco.
Queiroz foi engolido. Mourinho foi ingénuo e esteve quase a entrar na escala de serviço para o ser. Apenas me consola a ideia de que o FMI, se cá viesse, iria certamente sair de mãos na cabeça jurando nunca mais cá voltar. Nem de férias!

2010/09/21

Um embaixador incómodo

"Portugal manteve a sua posição relativa no mundo, e nomeadamente na Europa: continuamos no pelotão dos mais atrasados, dos mais periféricos, dos mais aflitos. Não progredimos suficientemente mais do que os outros, como precisávamos de fazer para alterar a nossa posição no conjunto dos países. E, na última década, foi mesmo o contrário que aconteceu".

Manuel Maria Carrilho em "E agora? - Por uma nova República".

Adenda: Carrilho, até ontem embaixador português na UNESCO, foi substituido no cargo após a publicação da obra citada e da última entrevista que deu ao "Expresso". Nada que nos surpreenda, num partido que sempre privilegiou a fidelidade canina em detrimento do pensamento autónomo dos seus membros. A verdade sempre incomodou os mediocres.

2010/09/17

A Europa dos Povos

A discussão em curso sobre a repatriação dos ciganos romenos e búlgaros ordenada pelo governo francês tem, pelo menos, uma virtude: mostrar a dupla moral de um país europeu que apregoa a solidariedade e inclusão de minorias como uma das suas bandeiras civilizacionais, ao mesmo tempo que emite circulares cujo texto não destoaria de escritos emitidos durante a ocupação nazi. Andou bem a comissária Viviane Reding ao denunciar tal acto como uma "desgraça", quando comparou as expulsões deste grupo étnico específico (e o texto da circular não mente) com práticas usadas durante a última grande guerra. Obviamente que os ciganos em questão não foram enviados para campos de concentração e receberam, inclusive, apoios financeiros para a viagem de regresso. Mas, o governo francês sabe que a circulação dos cidadãos europeus é livre pelo que, daqui a uns meses, estes ou outros ciganos, voltarão a França ou a outro pais da União Europeia onde decidam viver. As medidas tomadas por Sarkozy, ainda que apoiadas por uma larga percentagem de franceses, tentam escamotear um crise estrutural da sociedade, onde o desemprego, a perca de regalias sociais, o aumento da idade de reforma e o escândalo Loreal (financiamento do partido do governo) minam a autoridade do presidente. Junte-se a isto os "fait-divers" relacionados com a primeira dama, de quem a última biografia é um exemplo, e percebe-se melhor a falta de popularidade de um governo em queda abrupta. Era necessário recuperar a confiança da extrema-direita, agora que o centro-direita parece estar a fugir. Os ciganos estavam ali à mão de semear e são o grupo ideal para funcionar como "bode expiatório". A história não está a seu favor e poucas pessoas (inclusive na Roménia) parecem gostar deles...
O caso francês, sendo o mais mediático, não é sequer único. Diversos países europeus (Suécia, Itália) têm aplicado medidas selectivas de expulsão, enquanto outros preparam alterações às leis nacionais que facilitem a expulsão. A Holanda, por exemplo, que ainda há uma década atrás recebia dezenas de milhares de refugiados políticos, tornou-se um dos países mais restritivos nesta área, a ponto de ter sido alvo de críticas por parte de organismos internacionais como a Amnistia Internacional.
A ascensão ao poder da direita mais retrógada (de que políticos como Sarkozy e Berlusconi são os rostos visíveis) veio reforçar a tendência securitária e discriminatória que alastra pela Europa. Em tempo de crise económica e social a ideologia xenófoba vai fazendo o seu caminho. Denunciar medidas como as que foram tomadas pelo governo francês pode ter um efeito profilático. Nesse sentido, as palavras da comissária luxemburguesa, revelam que nem tudo está podre na Europa.

...E o Poceirão aqui tão perto...

Em última instância, há sempre a possibilidade de apanharmos o ferry para Cacilhas e o autocarro para o Poceirão. Daí a Badajoz é um instantinho e, depois, logo se verá...

2010/09/16

D. Sebastião mora em Espanha

O inenarrável Madail está em Madrid a tentar convencer Mourinho a aceitar uma missão impossível: salvar a selecção de uma eliminação anunciada. À hora a que escrevemos não são conhecidas as "démarches" do presidente "vitalício" da FPF, mas, dado o seu histórico na matéria ("fugas para a frente" após todos os fiascos da selecção, desde a Coreia de 2002 até à África do Sul, em 2010) não nos admirávamos nada que conseguisse os seus intentos. Resta saber se o Real Madrid aceitaria ficar com um treinador em "part-time" o qual, caso aceitasse a "maçã envenenada" de Madaíl, corria o risco de perder em duas frentes: no clube que lhe paga para ser campeão e numa selecção sem futuro. Quem não terá nada a perder, será sempre o presidente da federação que, deste modo, deve recandidatar-se a um novo mandato e permanecer no cargo "ad eternum", quem sabe até ao campeonato do Mundo de 2018 que poderá ser disputado em Portugal...
Só mesmo um verdadeiro "sobrevivente" poderia continuar a acreditar em D. Sebastião. Digam lá se o homem não pensa no seu futuro?

2010/09/06

Monstruosidades

Enquanto o país, suspenso, aguarda a publicação das fundamentações que estiveram na origem das condenações do processo Casa Pia, assiste-se a uma crítica geral à decisão do tribunal por parte de todos os arguidos sem excepção. Nas palavras do mais mediático acusado, este processo não passaria mesmo da mais "pura fantasia" pelo que as conclusões do MP só poderiam ser uma verdadeira "monstruosidade jurídica".
Ainda que tenhamos dificuldade em aceitar tal argumentação, após oito anos de investigação durante os quais foram dadas todas as possibilidades de defesa e contra-argumentação de prova aos suspeitos (que tudo fizeram para adiar as conclusões), manda o bom-senso que consideremos todos os acusados "não-culpados" até ao fim dos recursos interpostos. Um ciclo que pode durar entre três a seis anos até ao Supremo Tribunal de Justiça, não contando com a possibilidade do recurso ao Tribunal de Direitos do Homem em Estrasburgo ou mesmo à prescrição de todas as condenações. Um longo percurso, numa saga que já dura há demasiado tempo e para a qual poucas pessoas parecem estar disponíveis. Resta a questão central, neste mega-processo que abalou as boas consciências sem com isso parecer ter abalado a congénita hipocrisia da sociedade portuguesa. Monstruosidade jurídica (como querem fazer crer os arguidos e seus defensores) ou monstruosidade institucional (como parece não haver dúvidas em relação às violações a que foram sujeitos os menores entregues à Casa Pia) em qualquer dos casos este processo deixou de fora muitos nomes badalados da nossa sociedade e contra os quais não foram interpostos processos por prescrição de prazos. Lembremos que, no "caso Polansky", a lei americana não reconheceu a prescrição do crime de pedofilia, ainda que tivessem passado mais de trinta anos sobre os acontecimentos dos quais o realizador foi acusado. Fosse o nosso código penal outro e, provavelmente, para além dos seis acusados, estaríamos hoje em presença de uma galeria de notáveis "homens de bem" da nossa sociedade, que vão continuar por aí livres e impunes na sua actividade predadora de sempre. Isto sim, parece-nos ser uma verdadeira monstruosidade.

2010/09/03

Que fazer com este livro...?

Os sinais na Europa, em matéria de convivência intercultural, são preocupantes. Basta lembrar as medidas do presidente Sarkozy contra os ciganos.
Uma notícia perturbante que nos vem agora da Alemanha faz adensar esta preocupação: um vice-presidente do Bundesbank, Thilo Sarrazin, publicou na passada segunda feira um livro -- chamado "Deutschland schafft sich ab" ("A Alemanha destrói-se a si própria")-- onde é enunciada uma série de teses racistas. O livro está a causar ume enorme controvérsia e a suscitar pressões para que Sarrazin seja demitido do cargo que ocupa. Mas, tem muitos apoiantes...
Na origem desta controvérsia estão os comentários dirigidos sobretudo aos imigrantes turcos na Alemanha. Uma das muitas teses defendidas por Sarrazin é a de que as comunidades muçulmanos têm prejudicado mais do que têm ajudado a economia alemã, já que preferem viver da segurança social. Segundo este banqueiro, transformado em sociólogo e antropólogo amador, os muçulmanos são dotados de uma "estupidez hereditária" mas, ao mesmo tempo, têm uma taxa de fertilidade maior, o que está a contribuir para baixar o QI colectivo do país.
Podem ler-se aqui, aqui e aqui ecos de alguma da polémica que rodeia a publicação deste livro e aqui podem ler-se ainda alguns comentários proferidos ao longo dos tempos pelo dr. Sarrazin, coligidos pelo Spiegel, bem como a análise da imprensa alemã sobre este assunto.
O que as inúmeras análises e notícias saídas sobre este tema não relevam é que, por um lado, há sondagens que mostram que 1/3 da população está de acordo com as teses do dr. Sarrazin e, por outro lado, que ele é membro do SPD.
Os comentários contra as teses de Sarrazin são muitos. Há também quem o aponte como uma vítima da livre expressão do pensamento.  Será, mas a simples leitura do resumo da prosa de Sarrazin (não li o livro) pode levar-nos a pensar que estamos perante um documento daqueles que contêm as teses preparatórias de um qualquer congresso do partido nacional-socialista. Mas, não! É um livro escrito por um social-democrata, hoje, na Alemanha.

2010/09/01

O polvo, a nuvem e o terramoto

Que há um "polvo", e não só o da série televisiva italiana, parece-me claro.
Que há muita gente interessada, em lançar uma "nuvem" sobre esta história absurda, é por demais evidente.
Que esta situação deve poder provocar um "terramoto" nas instâncias responsáveis - FPF, ADoP e Secretaria do Desporto - são os meus desejos mais sinceros.

2010/08/31

Novo Amanhecer

Sete anos após a invasão, as tropas dos EUA deixaram hoje, formalmente, o Iraque. No país permanecem 50.000 militares e consultores que deverão retirar definitivamente em finais de 2011. O que começou com uma das mais infames mentiras dos tempos modernos - a invasão e ocupação de um país soberano e independente com o argumento da existência de armas de destruição maciça - terminou sem honra e sem glória. Para trás, ficam 4.421 soldados mortos, 35.000 feridos, mais de 185.000 vítimas civis, 3.000 biliões de dólares gastos, um estado inoperacional, milhões de desalojados, um governo inexistente, uma indústria petrolífera semi-operacional, um dos mais valiosos espólios museológicos do Mundo vandalizado, aumento exponencial da mortalidade infantil e epidemias diversas devido à destruição dos hospitais e falta de medicação adequada, um país dividido e ameaçado de ruptura no futuro...É esta a herança da política cega levada a cabo pela administração Bush que, para além de ter destruído o país, isolou os EUA do Mundo e contribuiu para a perda de influência americana na região. Esta parece, de resto, ser a percepção de Obama, que fez desta retirada um "ponto de honra" e anunciará hoje o cumprimento da sua promessa eleitoral. Desta vez, sem usar o termo caro a Bush "missão cumprida", mas aceitando a amarga realidade que lhe foi imposta pelo impasse militar: a consciência de que a América pode ter ganho a guerra, mas não ganhou certamente a paz.

Adão e Evo

Sala de espera das consultas externas do Hospital de Cascais. Apinhada. Um casal, na casa dos setentas, procura a casa de banho. A mulher "quer fazer xixi", o homem segue-a. Lá encontram a porta da dita casa de banho. Antes de entrar, a mulher entrega a mala de mão ao marido.
Este fica a olhar o objecto por um instante e, de repente, desata a gritar "— Toma lá isto (a mala...)! Não percebo porque é que tenho de ficar a segurar isto (olha com desdém para a mala...) sempre que vais à casa de banho. Depois fico aqui à espera, de mala na mão, pareço um maricas!" E lá vai ele, furioso, casa de banho dentro, devolver a mala à mulher...
Evo Morales tem razão. Este não comeu frango com hormonas de certeza. E não era careca, tão pouco.

2010/08/30

A ADoP castigou Queiroz

Esperemos agora que TODAS as figuras públicas envolvidas em casos e polémicas neste país sejam julgadas e condenadas com a mesma rapidez e com o mesmo exacto rigor usado para enforcar o seleccionador nacional! 
Se isto é assim com um caso que envolve uns gajos que se limitam a andar a correr atrás duma bola e a urinar para um frasquinho, para verificar se correm por gosto ou por outro motivo qualquer, pergunto como deveria ser com os casos que polvilham diariamente os nossos orgãos de comunicação, que exigem, a meu ver, pelo menos critérios equivalentes.
E espero mais! Espero que a próxima revisão constitucional consagre a ADoP como 4º poder e que seja definido o competente lugar na hierarquia do Estado. Como está a coisa agora, a constitucionalidade da decisão de suspender o seleccionador nacional e as competências que tem este organismo parecem ser duvidosas...
Se a ADoP for, de facto, consagrada constitucionalmente como um dos pilares do Estado de direito, alimento a secreta esperança de que ainda possamos, quiçá, ver o dr. Luís Horta sentado nas cerimónias oficiais ao lado do PR, do Presidente da AR, do PM, dos Presidentes dos Tribunais, das chefias militares, etc, a ver desfilar as tropas em parada...

Devo confessar que a ideia me atrai...

2010/08/21

Para além da ficção

A série 24 teve uma enorme popularidade, como se sabe. Uma estrutura narrativa formalmente perfeita, acção a rodos, os heróis do 24 surgiam em qualquer parte do mundo para defender a América dos ataques das mais variadas hordas terroristas, desejosas de destruir o "império". Os cenários em que decorriam os episódios da série eram sempre de uma inverosimilhança na iminência, digamos, da verosimilhança, se assim me posso exprimir. Ou melhor, parafraseando Borges, eram cenários ainda inexistentes, mas perigosamente possíveis.
A ficção está, contudo, a milhas da realidade que é bem mais apimentada. O 24 é mentira, mas aquela conduta é real e a realidade é ainda mais escabrosa.
Há uma empresa privada americana de segurança antes chamada Blackwater Worldwide, agora, pelos vistos, rebaptizada Xe Services. Ex-Blackwatre Xe. O Departamento de Estado dos E.U.A. mantinha com esta empresa privada um lucrativo contrato. Os seus "empregados" faziam segurança diplomática, participavam nas mais delicadas acções da C.I.A., no Iraque e no Afeganistão, e faziam transporte de detidos. Segundo o NYT, a "Blackwater tornou-se alvo de intensa crítica pelo que os Iraquianos descreveram como conduta insolente por parte dos guardas de segurança" [i.e., os empregados da Blackwater], no decurso das diversas acções que levavam a cabo, das quais chegou a resultar a morte de civis.
A empresa terá cometido vários atropelos à lei (imagine-se, os malandros...!) que incluiam, ainda de acordo com o NYT, entre outras coisas, a exportação ilegal de armas para o Afeganistão, propostas de treino de tropas no Sudão e o treino de snipers da polícia do Taiwan. Em 2009 perderam o contrato e perante a possibilidade de serem incriminados, os da Blackwater Worldwide, agora Xe Services, chegaram a acordo com o citado Departamento de Estado americano para o pagamento de uma multa de 42 milhões de dólares, relativa a (pasme-se!) centenas de violações do código... de exportações americano. E volta Xe que estás perdoada!
Perante a actividade de uma empresa —privada, de "segurança"— chamada Blackwater, que actua "worldwide" e agora se chama Xe Services, o poder da ficção televisiva empalidece. Este é o mundo que muda a cacha.
Ex-Blackwater-Xe! Em breve disponível em DVD, para deleite do nosso olhar distraído, 24 horas por dia...

2010/08/19

Probabilidades

Uma empresa de desenvolvimento de semicondutores, a Lyric Semiconductor, concebeu um processador que, em vez de se limitar a fazer umas contas simples, como o processador que está dentro do computador que o leitor usa para ler este post, vai mais além: calcula probabilidades. Mediante o  influxo de dados calcula a probabilidade de ocorrência de um determinado resultado possível. "Decidimos que há montes de problemas de probabilidades que são tão importantes que merecem o seu próprio hardware," afirmou ao NYT o senhor Ben Vigoda, co-fundador da Lyric e seu principal responsável.
Uma empresa de venda on-line poderá assim, por exemplo, sugerir um determinado produto baseado nos dados que o potencial cliente introduziu na sua pesquisa e os metereologistas terão uma ferramenta que lhes permite uma maior rapidez e fiabilidade na previsão do tempo, com base nos dados que lhe estão a chegar. O novo processador pode até prever a probabilidade de uma compra com um cartão de crédito on-line ser fraudulenta, baseado em dados de compras anteriores. Para já, sabe-se que são as instituições militares americanas que beneficiarão deste novo "brinquedo", para prever, quiçá, qual o país com maior probabilidade de ser invadido a seguir.
Em Portugal também este novo processador vai ter um enorme sucessso e prevejo mesmo um novo modelo do Magalhães, destinado exclusivamente aos membros do governo, equipado com o novo processador da Lyric, em substituição daqueles computadores obsoletos que vemos nas reuniões do CM, atrás de cujos monitores se escondem os ministros uns dos outros.
Teremos assim uma gestão do país mais qualificada. Querem ver?
Problema: Mais de metade da Mata do Cabril ardeu? O Magalhães Lírico diz que a probabilidade de que não ocorram, entretanto, reacendimentos é alta porque já escasseia a matéria combustível. Solução: mandar recolher o "dispositivo" que já nos está a custar balúrdios em horas extraordinárias...
Problema: Aumentou o número de desempregados de longa duração? O Magalhães Lírico diz que a  probabilidade desses desempregados morrerem, entretanto, de fome é forte. O seu número vai provavelmente diminuir. Solução: canalizar as verbas do IEFP para mais submarinos que estes dois que vamos agora ter, só, não chegam e os almirantes já andam nervosos...
Problema: As pessoas criticam os encerramentos das escolas, a desclassificação de monumentos ou o fim de subsídios por parte do Estado? O Magalhães Lírico diz que é provável que já haja pouca coisa mais para encerrar, desclassificar ou poucos subsídios que restem ainda para atribuir. Solução: toca a cortar tudo o que ainda sobra, porque estes temas, assim, deixam mais depressa de ser motivo de conversa.
Problema: O problema das SCUT não se resolve e a empresa concessionária vai "mandar a factura" relativa aos meses vencidos sem cobrança? O Magalhães Lírico diz que a probabilidade de ter de ser o PSD a levar com a resolução do problema é alta. Solução: deixa andar, porque quem paga no final é sempre o Zé e, assim, o anjinho do Passos Coelho leva com o odioso.
Problema: O país está num impasse político? O Magalhães Lírico diz que a probabilidade da oposição ou do PR terem uma intervenção qualificada e responsável para encontrar soluções para esse impasse é nula. Solução: deixa, mais uma vez, andar.
Fica aqui uma sugestão para o primeiro-ministro: traga para cá a Lyric. Dê-lhes vinte anos de isenções fiscais e mão de obra barata arrebanhada nos Centros de Emprego. Exija, em contrapartida, esses chips maravilha para todos os computadores da PCM e a promessa da administração Obama de intervir sobre as agências de rating do seu país com a recomendação: go easy on these guys!