De acordo com o mais recente "ranking", de salários mínimos praticados na Europa, Portugal ocupa o 11º lugar numa lista de vinte países onde este rendimento foi instituído:
Luxemburgo: € 1570
Irlanda: 1430
Reino Unido: 1361
Holanda: 1301
Bélgica: 1259
França: 1254
Grécia: 668
Espanha: 666
Malta: 585
Eslovénia: 522
PORTUGAL: 426
R. Checa: 288
Hungria: 258
Polónia: 246
Estónia: 230
Eslováquia: 217
Lituânia: 174
Letónia: 172
Roménia: 114
Bulgária: 92
Confrontado com esta disparidade dos mínimos europeus, o primeiro-ministro declarou ser o recente aumento o maior em termos percentuais. Eu diria mesmo mais: comparados com o Darfur, somos uns ricaços...
2007/12/20
2007/12/16
Azar ou ASAE?

Devo confessar que não assino porque não concordo com os pressupostos do texto. Como tenho pacientemente explicado a todos os estimados amigos e conhecidos que se apressaram a enviar-me o dito abaixo assinado, acho que, entre a ASAE e os contestatários, a uns lhes falta bom senso, e aos outros bom senso lhes falta... Ao leitor caberá decidir quem é quem nesta dicotomia.
Enquanto observo este intenso e arrebatador confronto vou subindo ao céu com um cozidinho da panela, preparado de forma rigorosamente tradicional como a foto ilustra (foto que foi tirada em local que por razões de bom senso não vou revelar...)
Participar num ritual destes é coisa que temos de merecer. A tradição começa nas próprias panelas que foram há muito convenientemente tratadas com toucinho. Este tratamento preliminar prepara-as para esta delicada e longa operação. Os ingredientes são, de cada vez, seleccionados pessoalmente pela cozinheira e provêm directamente do produtor. O prato é confeccionado com os ritmos, os vagares e os procedimentos que a regra tradicional dita. Usam-se brasas, nada de gás! A preparação, que dura cerca de seis horas, é levada a cabo por mãos experientes e carinhosas. A cozinheira aliás sorri serenamente --com um sorriso que nos permite perceber a razão primeira da excelência de tamanha iguaria-- quando lhe falamos nestas coisas de ASAEs, abaixo-assinados, etc e tal...
Azar dos membros da ASAE se, por fundamentalismo, nunca tiverem a oportunidade de se confrontar com um pitéu deste calibre. E azar dos "abaixo-assinantes" se alguma vez, por falta de uma ASAE por perto, lhes derem cozido com carne de gato por cozido com carne de lebre...
2007/12/14
Irene Pimentel
2007/12/12
Realidade e ficção
Ultimamente, temos vindo a ser bombardeados com uma avalanche de notícias sobre crimes ligados aos chamados "negócios da noite". "O país", como escreve João Paulo Guerra no Diário Económico de hoje, "assiste à sucessão de crimes violentos associados aos negócios da noite como se visse um filme".
De facto, a esmagadora maioria do "país" ouve e lê as notícias (aqueles que felizmente ouvem e lêem as notícias...), olha para a realidade à sua volta e não pode deixar de ser levado a pensar que há para aqui algo de errado com esta imagem que está a ser promovida. Os crimes são reais e parece até haver, efectivamente, um novo paradigma criminal a que até agora não estávamos habituados. Parece mesmo claro que as causas dos crimes e da falta de actuação da polícia estão perfeitamente identificadas. Há novas realidades que conduziram ao presente estado de coisas, novas estruturas sociológicas que se foram instalando paulatinamente e que não foram atempadamente previstas. O Estado não sai, com efeito, bem deste retrato. Tudo isto, creio, era previsível e não teria sido difícil adoptar medidas para prevenir a situação. Alguém deveria ir para o quadro dos excedentários por não ter feito o trabalho para que é pago...
Mas, para a esmagadora, esmagadora maioria dos portugueses isto não passa de um realidade distante. E, para nós que temos liberdade de movimentos, podemos observar o que se passa à nossa volta e conseguimos pagar 1.50 € pelo Diário Económico, o fenómeno chega-nos como se tratasse, de facto, de uma má série, made in USA, sobre o "universo da noite" das cidades portuguesas.
Mas, pensemos em quem não se pode mexer, ou em quem não tem possibilidade de observar por dentro o que se passa. Para esses a realidade fica expurgada da ficção.
O que o PSD faz neste momento ao usar o tema como arma de arremesso, numa manifestação de inacreditável oportunismo político, é de uma leviandade extrema. Não sei mesmo qual será o maior crime: se os homicídios dos tais empresários da noite, se a tentativa de instalar um clima de pânico como faz o PSD pela voz de Luís Filipe Menezes.
O recém eleito responsável pelo PSD deveria, sim, meditar seriamente sobre a insensatez e irresponsabilidade desta estratégia e sobre as vantagens que para o país resultam de pintar um retrato de Portugal que está mais próximo de uma qualquer favela brasileira do que da realidade.
A quem pedir responsabilidades pelos crimes futuros?
De facto, a esmagadora maioria do "país" ouve e lê as notícias (aqueles que felizmente ouvem e lêem as notícias...), olha para a realidade à sua volta e não pode deixar de ser levado a pensar que há para aqui algo de errado com esta imagem que está a ser promovida. Os crimes são reais e parece até haver, efectivamente, um novo paradigma criminal a que até agora não estávamos habituados. Parece mesmo claro que as causas dos crimes e da falta de actuação da polícia estão perfeitamente identificadas. Há novas realidades que conduziram ao presente estado de coisas, novas estruturas sociológicas que se foram instalando paulatinamente e que não foram atempadamente previstas. O Estado não sai, com efeito, bem deste retrato. Tudo isto, creio, era previsível e não teria sido difícil adoptar medidas para prevenir a situação. Alguém deveria ir para o quadro dos excedentários por não ter feito o trabalho para que é pago...
Mas, para a esmagadora, esmagadora maioria dos portugueses isto não passa de um realidade distante. E, para nós que temos liberdade de movimentos, podemos observar o que se passa à nossa volta e conseguimos pagar 1.50 € pelo Diário Económico, o fenómeno chega-nos como se tratasse, de facto, de uma má série, made in USA, sobre o "universo da noite" das cidades portuguesas.
Mas, pensemos em quem não se pode mexer, ou em quem não tem possibilidade de observar por dentro o que se passa. Para esses a realidade fica expurgada da ficção.
O que o PSD faz neste momento ao usar o tema como arma de arremesso, numa manifestação de inacreditável oportunismo político, é de uma leviandade extrema. Não sei mesmo qual será o maior crime: se os homicídios dos tais empresários da noite, se a tentativa de instalar um clima de pânico como faz o PSD pela voz de Luís Filipe Menezes.
O recém eleito responsável pelo PSD deveria, sim, meditar seriamente sobre a insensatez e irresponsabilidade desta estratégia e sobre as vantagens que para o país resultam de pintar um retrato de Portugal que está mais próximo de uma qualquer favela brasileira do que da realidade.
A quem pedir responsabilidades pelos crimes futuros?
2007/12/10
Circo Darfur (2)
Agora que a "Cimeira de Lisboa" terminou não faltam os auto-elogios. Do "espírito" da dita, à "ponte" que Lisboa parece simbolizar, os olhos dos nossos governantes querem à viva força fazer-nos acreditar que tudo foi bom e a partir daqui nada ficará como dantes. Infelizmente, a realidade não se compadece com o triunfalismo das declarações de ocasião. Os direitos humanos só raramente estiveram na agenda das reuniões e os acordos negociais não agradaram a todos os países africanos. Não fora Merkel "puxar as orelhas" a Mugabe, ninguém ouviria o nosso governo dizer o que quer que fosse sobre a presença dos ditadores em Lisboa. De acordo com as informações publicadas, estiveram em Lisboa oito líderes africanos que poderão vir a responder à justiça: Omar al-Bashir (Sudão), Meles Zenawi (Etiópia), Isaías Afewerki (Eritreia), Robert Mugabe (Zimbabwe), Jose´Eduardo dos Santos (Angola), Muammar Kadhafi (Líbia), François Bozizé (República Centro-Africa) e Paul Kagamé (Ruanda). Uma galeria de títeres.
Cá fora, e à excepção de algumas manifestações de exilados africanos contra os regimes do Zimbabwe, Angola e Líbia, pouco se deu pela contestação. As únicas notas dissonantes parecem ter sido as agressões dos "gorilas" de Kadhafi aos líbios que protestavam contra o coronel e a humilhação a que foram sujeitos os repórteres portugueses, na tenda do líder, quando os seguranças líbios confiscaram o material filmado. Isto tudo nas "barbas" das autoridades portuguesas.
Curiosamente, e lendo as notícias estrangeiras, pode perceber-se que muita coisa ficou adiada nesta cimeira e os temas comerciais foram os menos consensuais. Ao mesmo tempo, na BBC de Londres, um padre negro anglicano cortava em tiras o seu colarinho como protesto contra o regime de Mugabe e, em Paris, as manifestações contra Kadhafi eram, não só de líbios exilados, mas de socialistas franceses que se opõem à visita do Coronel.
A tenda, em Lisboa ou em Paris, será certamente a mesma, mas os circos e os intervenientes são, apesar de tudo, diferentes. Cada país tem os palhaços que merece.
Cá fora, e à excepção de algumas manifestações de exilados africanos contra os regimes do Zimbabwe, Angola e Líbia, pouco se deu pela contestação. As únicas notas dissonantes parecem ter sido as agressões dos "gorilas" de Kadhafi aos líbios que protestavam contra o coronel e a humilhação a que foram sujeitos os repórteres portugueses, na tenda do líder, quando os seguranças líbios confiscaram o material filmado. Isto tudo nas "barbas" das autoridades portuguesas.
Curiosamente, e lendo as notícias estrangeiras, pode perceber-se que muita coisa ficou adiada nesta cimeira e os temas comerciais foram os menos consensuais. Ao mesmo tempo, na BBC de Londres, um padre negro anglicano cortava em tiras o seu colarinho como protesto contra o regime de Mugabe e, em Paris, as manifestações contra Kadhafi eram, não só de líbios exilados, mas de socialistas franceses que se opõem à visita do Coronel.
A tenda, em Lisboa ou em Paris, será certamente a mesma, mas os circos e os intervenientes são, apesar de tudo, diferentes. Cada país tem os palhaços que merece.
2007/12/08
Karlheinz Stockhausen (1928-2007)
Acabo de saber que o compositor Karlheinz Stockhausen faleceu no passado dia 5 de Dezembro na sua casa em Kuerten-Kettenberg. Houve outros compositores deste período que tiveram grande influência no meu trabalho, mas, juntamente com Iannis Xenakis, John Cage e Luciano Berio, Stockhausen foi o compositor cuja obra mantive e mantenho sempre à cabeceira, que marcou muito o meu próprio percurso musical.
Recordo o absoluto fascínio que rodeou a descoberta da sua música.
Recordo o impacte que teve a minha primeira audição de, entre muitas outras obras suas, Gesang der Jünglinge, Momente, Kreuzspiel, Gruppen, Carré, Kontakte, Kurzwellen, Prozession, dos Klavierstücken, Mikrophonie (I e II), de Hymnen, de Stimmung ou de Trans.
A propósito destas três últimas obras, recordo outros tantos momentos recentes em que tive a oportunidade de as ouvir aqui em Lisboa. Uma magnífica versão de Stimmung foi produzida pelo Sing Circle, no âmbito do Festival Música Viva em Outubro de 2006. Hymnen, na versão banda magnética foi executada em Novembro de 2005, com a presença do próprio compositor. Algum tempo antes tínhamos tido a oportunidade de ouvir a versão com orquestra, dirigida por Pedro Amaral. Mais recentemente, Trans teve estreia em Portugal também sob a direcção de Pedro Amaral.
Controverso, arrojado, único, inovador, Stockhausen foi tudo isto. Mas como acabará ele por ser recordado pela história da música?
Recordo o absoluto fascínio que rodeou a descoberta da sua música.
Recordo o impacte que teve a minha primeira audição de, entre muitas outras obras suas, Gesang der Jünglinge, Momente, Kreuzspiel, Gruppen, Carré, Kontakte, Kurzwellen, Prozession, dos Klavierstücken, Mikrophonie (I e II), de Hymnen, de Stimmung ou de Trans.
A propósito destas três últimas obras, recordo outros tantos momentos recentes em que tive a oportunidade de as ouvir aqui em Lisboa. Uma magnífica versão de Stimmung foi produzida pelo Sing Circle, no âmbito do Festival Música Viva em Outubro de 2006. Hymnen, na versão banda magnética foi executada em Novembro de 2005, com a presença do próprio compositor. Algum tempo antes tínhamos tido a oportunidade de ouvir a versão com orquestra, dirigida por Pedro Amaral. Mais recentemente, Trans teve estreia em Portugal também sob a direcção de Pedro Amaral.
Controverso, arrojado, único, inovador, Stockhausen foi tudo isto. Mas como acabará ele por ser recordado pela história da música?
2007/12/07
Circo Darfur
O circo chegou à cidade. Depois do "Soleil", que voltará em Abril, foi agora a vez do "Kadhafi", que já não víamos há alguns anos. Lá mais para o Natal, e como manda a tradição, será a vez do "Grande Circo de Pequim". Lisboa está na moda e tendas não faltam. É o que se chama uma cidade cosmopolita. A "comunicação social", excitadíssima, dá grandes planos da "tenda" de S. Julião da Barra à procura da "cacha" que faz vender jornais. Na televisão, os números não são menos impressionantes: mais de 50 chefes de estado, outros tantos primeiro-ministros e ministros do estrangeiro, 22 hotéis e 5.000 refeições diárias. Custos: 10 milhões de euros, não previstos no Orçamento de Estado. Brown não vem, mas veio Mugabe, que vende muito mais jornais. Coitado do Eduardo dos Santos, cuja notoriedade como ditador é ainda inferior à do Robert. Ainda por cima vai para um hotel de cinco estrelas, bem menos exótico do que uma tenda onde servem chá de menta.
Sobre os direitos humanos, pouca gente fala. O Zé Manel de Bruxelas ainda tentou "puxar pelos galões", ao lembrar que tinha apoiado os movimentos de libertação africanos, mas a vertigem circense quer espectáculo e está-se a marimbar para os direitos humanos. A crise humanitária no Sudão não faz parte da agenda de trabalhos. Já que não há pão, ao menos haja circo. E circo vai haver. Pelo menos durante o fim-de-semana, lá para os lados do Parque das Nações. Cá fora, entre "outdoors" que lembram o Darfur, o repórter de serviço pergunta a um cidadão anónimo: "Já ouviu falar do Darfur?". O homem responde afirmativamente. "Sabe o que é?". "Sei. Não é aquele grande armazém francês, que vende roupas e coisas assim?".
Sobre os direitos humanos, pouca gente fala. O Zé Manel de Bruxelas ainda tentou "puxar pelos galões", ao lembrar que tinha apoiado os movimentos de libertação africanos, mas a vertigem circense quer espectáculo e está-se a marimbar para os direitos humanos. A crise humanitária no Sudão não faz parte da agenda de trabalhos. Já que não há pão, ao menos haja circo. E circo vai haver. Pelo menos durante o fim-de-semana, lá para os lados do Parque das Nações. Cá fora, entre "outdoors" que lembram o Darfur, o repórter de serviço pergunta a um cidadão anónimo: "Já ouviu falar do Darfur?". O homem responde afirmativamente. "Sabe o que é?". "Sei. Não é aquele grande armazém francês, que vende roupas e coisas assim?".
2007/11/29
Daqui não sai!
De vez em quando o país cultural e o Ministério da Cultura agitam-se. Fruto desta visão e desta estratégia espasmódica que reduz a cultura à noção de uma convulsão primária que, inadiável, tem de se soltar, de vez em quando um frémito extático percorre os corredores alcatifados da cultura portuguesa. Agora o motivo do sobressalto é o Tiepolo. O quadro fica, o quadro é património português, o quadro está pré-classificado, pré-marcado, o quadro é nosso! E do país não sai!
Na falta de uma política cultural, na falta de uma vida cultural, na falta de medidas, na ausência de ideias surgem então estes episódios, generosamente alimentados por uma dose reforçada de exposição mediática. Agora é o Tiepolo, há tempos foi a colecção Berardo e outros factos político-culturais da mais alta envergadura hão-de surgir, certamente, para inflamar a plebe e dar ao mundo ar de que Portugal pertence efectivamente à elite, a cultura mexe e os propósitos mais nobres e elevados dominam as consciências.
O Tiepolo, vê-se logo, é nosso, tal como os pastéis de bacalhau e o vinho do Porto. E o hóquei em patins! Não nos esqueçamos do hóquei em patins!! E daqui não saem!
Os artistas e os cientistas portugueses, podem ter de fugir desta pátria madrasta para poder exercer a sua actividade e sobreviver, mas o Tiepolo, esse fica! Podemos estar na cauda das caudas de tudo o que seja susceptível de ser aferido por qualquer indicador válido, por mais básico que seja, mas o Tiepolo daqui não sai!
PS- Parece que sou bruxo... Já depois deste "escrito" estar publicado soube-se que o Estado Português arrematou o Tiepolo. Afinal sempre vai havendo massa! Uma milhão e quinhentos UMA! Uma milhão e quinhentos DUAS! Uma milhão e quinhentos TRÊS! Vendido à senhora dos óculos de massa!!
Na falta de uma política cultural, na falta de uma vida cultural, na falta de medidas, na ausência de ideias surgem então estes episódios, generosamente alimentados por uma dose reforçada de exposição mediática. Agora é o Tiepolo, há tempos foi a colecção Berardo e outros factos político-culturais da mais alta envergadura hão-de surgir, certamente, para inflamar a plebe e dar ao mundo ar de que Portugal pertence efectivamente à elite, a cultura mexe e os propósitos mais nobres e elevados dominam as consciências.
O Tiepolo, vê-se logo, é nosso, tal como os pastéis de bacalhau e o vinho do Porto. E o hóquei em patins! Não nos esqueçamos do hóquei em patins!! E daqui não saem!
Os artistas e os cientistas portugueses, podem ter de fugir desta pátria madrasta para poder exercer a sua actividade e sobreviver, mas o Tiepolo, esse fica! Podemos estar na cauda das caudas de tudo o que seja susceptível de ser aferido por qualquer indicador válido, por mais básico que seja, mas o Tiepolo daqui não sai!
PS- Parece que sou bruxo... Já depois deste "escrito" estar publicado soube-se que o Estado Português arrematou o Tiepolo. Afinal sempre vai havendo massa! Uma milhão e quinhentos UMA! Uma milhão e quinhentos DUAS! Uma milhão e quinhentos TRÊS! Vendido à senhora dos óculos de massa!!
2007/11/28
Descordo ortográfico
O tema anda por aí. Não sou de forma alguma perito, nem me sinto capaz de juízos sobre esta matéria com a necessária autoridade. Mas, como há, por um lado, em todo este processo questões que transcendem o problema "técnico" (se é que se lhe pode chamar assim) e, por outro lado, muitos "peritos" que tenho ouvido falar sobre esta matéria que me parecem não passar, como eu, de "peritos de bancada", aqui vão os meus dez reis de argumentação, porque eu escrevo, logo existo!
O "Acordo ortográfico", para mim, é um perfeito disparate. A existir e a tentar-se a sua implementação nunca passará de uma intenção. A língua é uma coisa viva, dinâmica e não pode ser "cristalizada" por decreto. Mesmo que uma intenção dessas tivesse sucesso, a nova realidade linguística estaria sujeita ao processo "evolucionista" natural e em breve passaria a ser outra realidade. Não creio sequer que seja assunto que nos deva preocupar porque se há um elemento de liberdade e de responsabilidade, de anarquia em estado quase puro, na vida humana esse é o que a língua nos proporciona. Ninguém me pode de facto impedir, por mais que tente, de "inventar" a língua (falada ou escrita) como quiser e cabe-me a mim (e não a qualquer burocrata com tempos livres para queimar...) decidir como hei-de articular esta minha margem de invenção, com a margem de invenção dos outros. Falada ou escrita, a língua é minha!
Este o problema essencial.
Entre os que defendem a "normalização" têm aparecido argumentos que me deixam espantado. Há um, por exemplo, que tenho ouvido também por aí da boca de gente que o diz com ar sério, sobre o prejuizo que a falta de "normalização" traz aos países lusófonos, sobretudo quando falamos de organismos internancionais que usam o português como língua de trabalho.
Que eu saiba (corrijam-me, no entanto, se estiver enganado), não existe qualquer "norma" para o inglês ou para o francês. Seria interessante saber o que resultou da tentativa de "normalizar" a grafia alemã. Lembro-me de na altura isso ter gerado enorme polémica mas não acompanhei mais o assunto. Não ouço em nenhum país anglófono ou francófono este argumento bacoco de que têm de ser produzidas diferentes versões de um mesmo documento usando as diferentes grafias adoptadas e isso custa dinheiro. E esses países costumam ser mais cuidadosos com os gastos do que os portugueses...
Aqui há uns anos lembro-me de ter lido um artigo sobre o problema da escrita chinesa e dos computadores. Em síntese, o articulista dizia que ou a China conduzia um processo de reforma profunda do seu sistema ortográfico, ou arriscava-se a passar ao lado da revolução informática. Mas, por outro lado, lembrava também o articulista, o que acontecerá à Humanidade (e não só à China) se este património incalculável desaparecer por força do cilindro normalizador?
"Acordo ortográfico"? Eis as razões do meu descordo...
O "Acordo ortográfico", para mim, é um perfeito disparate. A existir e a tentar-se a sua implementação nunca passará de uma intenção. A língua é uma coisa viva, dinâmica e não pode ser "cristalizada" por decreto. Mesmo que uma intenção dessas tivesse sucesso, a nova realidade linguística estaria sujeita ao processo "evolucionista" natural e em breve passaria a ser outra realidade. Não creio sequer que seja assunto que nos deva preocupar porque se há um elemento de liberdade e de responsabilidade, de anarquia em estado quase puro, na vida humana esse é o que a língua nos proporciona. Ninguém me pode de facto impedir, por mais que tente, de "inventar" a língua (falada ou escrita) como quiser e cabe-me a mim (e não a qualquer burocrata com tempos livres para queimar...) decidir como hei-de articular esta minha margem de invenção, com a margem de invenção dos outros. Falada ou escrita, a língua é minha!
Este o problema essencial.
Entre os que defendem a "normalização" têm aparecido argumentos que me deixam espantado. Há um, por exemplo, que tenho ouvido também por aí da boca de gente que o diz com ar sério, sobre o prejuizo que a falta de "normalização" traz aos países lusófonos, sobretudo quando falamos de organismos internancionais que usam o português como língua de trabalho.
Que eu saiba (corrijam-me, no entanto, se estiver enganado), não existe qualquer "norma" para o inglês ou para o francês. Seria interessante saber o que resultou da tentativa de "normalizar" a grafia alemã. Lembro-me de na altura isso ter gerado enorme polémica mas não acompanhei mais o assunto. Não ouço em nenhum país anglófono ou francófono este argumento bacoco de que têm de ser produzidas diferentes versões de um mesmo documento usando as diferentes grafias adoptadas e isso custa dinheiro. E esses países costumam ser mais cuidadosos com os gastos do que os portugueses...
Aqui há uns anos lembro-me de ter lido um artigo sobre o problema da escrita chinesa e dos computadores. Em síntese, o articulista dizia que ou a China conduzia um processo de reforma profunda do seu sistema ortográfico, ou arriscava-se a passar ao lado da revolução informática. Mas, por outro lado, lembrava também o articulista, o que acontecerá à Humanidade (e não só à China) se este património incalculável desaparecer por força do cilindro normalizador?
"Acordo ortográfico"? Eis as razões do meu descordo...
2007/11/25
Um bocadinho mais para a esquerda...
Agastado com o actual rumo do partido que ajudou a fundar, Mário Soares vem hoje apelar, em entrevista no DN, a um maior empenhamento das hostes socialistas junto dos mais desfavorecidos da sociedade. Para quem, na década de setenta "meteu o socialismo na gaveta" não deixa de ser uma observação curiosa. Diz ele, a determinada altura, que o governo devia fazer uma política "um bocadinho mais para a esquerda", pois as desigualdades sociais são cada vez maiores e o número de pobres não pára de aumentar.
A frase é todo um programa e faz-nos lembrar a cena inicial do filme "Aprile" de Nanni Moretti, onde a personagem principal (interpretada pelo próprio Moretti) olha desolado para a televisão que transmite um discurso do lider socialista italiano, enquanto comenta: "Por favor, diz qualquer coisa de esquerda. Uma coisa de esquerda. Ao menos, uma coisa de esquerda"!
Soares já nem uma política de esquerda quer. Apenas, um bocadinho mais para a esquerda...
A frase é todo um programa e faz-nos lembrar a cena inicial do filme "Aprile" de Nanni Moretti, onde a personagem principal (interpretada pelo próprio Moretti) olha desolado para a televisão que transmite um discurso do lider socialista italiano, enquanto comenta: "Por favor, diz qualquer coisa de esquerda. Uma coisa de esquerda. Ao menos, uma coisa de esquerda"!
Soares já nem uma política de esquerda quer. Apenas, um bocadinho mais para a esquerda...
2007/11/24
Uma mentira conveniente
Ramos Horta, Presidente de Timor-Leste e Prémio Nobel da Paz, vai propôr Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, para Prémio Nobel da Paz em 2008. Da Paz? Não fosse a credibilidade da notícia e julgaríamos estar em presença de uma mentira do 1 de Abril...em Novembro.
Mas, pensando bem, percebe-se porquê. Não foi Ramos Horta, o amigo americano de serviço, quem sempre apoiou a invasão do Iraque, chegando a escrever um artigo sobre o assunto largamente citado na imprensa internacional? Quem melhor do que um cúmplice da guerra, para "limpar" o Nobel da Paz?
Sabendo que Durão é, dos quatro participantes na "Cimeira dos Açores", o único que manterá as suas funções para lá de 2008, Horta joga no futuro. Dá sempre jeito ter um amigo português e presidente da Comissão, eleito em 2009. Se for Nobel melhor. Se for da Paz, então não se fala! Ele há cada uma...
Mas, pensando bem, percebe-se porquê. Não foi Ramos Horta, o amigo americano de serviço, quem sempre apoiou a invasão do Iraque, chegando a escrever um artigo sobre o assunto largamente citado na imprensa internacional? Quem melhor do que um cúmplice da guerra, para "limpar" o Nobel da Paz?
Sabendo que Durão é, dos quatro participantes na "Cimeira dos Açores", o único que manterá as suas funções para lá de 2008, Horta joga no futuro. Dá sempre jeito ter um amigo português e presidente da Comissão, eleito em 2009. Se for Nobel melhor. Se for da Paz, então não se fala! Ele há cada uma...
2007/11/18
Uma verdade inconveniente
"Li informações, que não eram verdadeiras, sobre o Iraque"
(Durão Barroso, em entrevista ao DN)
(Durão Barroso, em entrevista ao DN)
2007/11/16
A corrente "página 161"
Rini Luyks (colaborador do blogue "Anacruses") incluiu "A Face Oculta da Terra" numa lista de cinco blogues a quem desafia continuar uma "corrente literária" com base nos seguintes pressupostos:
1. Escolher um livro ao acaso, com mais de 161 páginas.
2. Abrir na página 161 e escolher a 5ª frase completa dessa página.
3. Transcrevê-la no blogue.
4. Descrever o seu contexto.
5. Indicar 5 blogues e desafiá-los a fazer o mesmo.
Respondendo ao desafio (sabe-se lá o que o destino me trará de bom!) aqui vai a frase encontrada:
"Nesse teu jardim - disse Noel - o que é que lá plantaste?"
(do livro: "A Vida e o Tempo de Michael K" de J.M. COETZEE, Trad. Ricardo Fernandes, Ed. D. Quixote, 2007)
O livro relata a odisseia de um jovem (Michael K) que decide levar a sua mãe, doente, para fora da área policial da península do Cabo, durante o regime "apartheid" na África do Sul. Trata-se da mais recente tradução portuguesa de J.M. Coetzee (que não o seu último livro) um dos grandes escritores da actualidade.
Aproveito, para sugerir outros cinco blogues:
"aspirina b"
"crónicas da terra"
"miniscente"
"respirar o mesmo ar"
"esculpir o tempo"
Boas leituras!
1. Escolher um livro ao acaso, com mais de 161 páginas.
2. Abrir na página 161 e escolher a 5ª frase completa dessa página.
3. Transcrevê-la no blogue.
4. Descrever o seu contexto.
5. Indicar 5 blogues e desafiá-los a fazer o mesmo.
Respondendo ao desafio (sabe-se lá o que o destino me trará de bom!) aqui vai a frase encontrada:
"Nesse teu jardim - disse Noel - o que é que lá plantaste?"
(do livro: "A Vida e o Tempo de Michael K" de J.M. COETZEE, Trad. Ricardo Fernandes, Ed. D. Quixote, 2007)
O livro relata a odisseia de um jovem (Michael K) que decide levar a sua mãe, doente, para fora da área policial da península do Cabo, durante o regime "apartheid" na África do Sul. Trata-se da mais recente tradução portuguesa de J.M. Coetzee (que não o seu último livro) um dos grandes escritores da actualidade.
Aproveito, para sugerir outros cinco blogues:
"aspirina b"
"crónicas da terra"
"miniscente"
"respirar o mesmo ar"
"esculpir o tempo"
Boas leituras!
2007/11/13
OTA "jamais"?
Agora que a presidência portuguesa "europeia" vai terminando o seu mandato, regressa a polémica da OTA. O processo, interrompido em Junho para evitar danos que podiam tornar-se irreparáveis para o executivo, foi adiado por seis meses com a promessa de mais e melhores estudos sobre a localização definitiva do aeroporto de Lisboa. Uma manobra inteligente, que afastou temporariamente as atenções de um ministro desastrado e permitiu ao governo dedicar-se a questões internacionais mais importantes. Só que o tempo não pára e, aos estudos encomendados pelo governo, outras encomendas se seguiram, das quais a primeira (CIP) já é, entretanto, conhecida. Outra se seguirá (ACP) e nada prova que seja pior que as anteriores.
Temos assim, duas propostas conhecidas e uma em vésperas de tornar-se pública, para além de um instituto (LNEC) que fará a análise comparativa e a avaliação definitiva do que - espera-se! - seja a última palavra sobre esta interminável saga.
Em todo este intrincado processo algumas questões parecem óbvias. Por exemplo: como é possível que, durante os trinta anos de estudos, a opção Alcochete nunca tenha estado em cima da mesa? Se esta não era possível (dada a existência de um campo de tiro) porque é que uma simples intervenção do Presidente da República alterou definitivamente as limitações da escolha? Mais, como é possível que o estudo da CIP, em apenas meia-dúzia de meses, tivesse chegado a conclusões notoriamente mais favoráveis do que todos os estudos precendentes encomendados pelo governo?
Estas são, naturalmente, perguntas do senso-comum que qualquer cidadão interessado fará. Não se percebe, por isso, a reacção do ministro Lino, ao desvalorizar as conclusões que dão preferência a Alcochete e declarar, inclusive, que não tem tempo para ler todos os relatórios que lhe chegam às mãos. Pior, ao que parece encomendou um terceiro estudo (RAVE) que contraria as conclusões do estudo da CIP. Ou seja, mesmo que não seja essa a intenção do ministro, dificilmente ele conseguirá fazer passar a ideia de que tudo está a ser feito para construir o aeroporto no melhor sítio e ao melhor preço possível. Se não é assim, porquê estas reticências?
A menos que haja razões que a razão desconhece, este comportamento relembra-nos um passado não muito distante em que a margem Sul não passava de uma miragem. Confesso que já tinha algumas saudades da "stand-up comedy" nacional.
Temos assim, duas propostas conhecidas e uma em vésperas de tornar-se pública, para além de um instituto (LNEC) que fará a análise comparativa e a avaliação definitiva do que - espera-se! - seja a última palavra sobre esta interminável saga.
Em todo este intrincado processo algumas questões parecem óbvias. Por exemplo: como é possível que, durante os trinta anos de estudos, a opção Alcochete nunca tenha estado em cima da mesa? Se esta não era possível (dada a existência de um campo de tiro) porque é que uma simples intervenção do Presidente da República alterou definitivamente as limitações da escolha? Mais, como é possível que o estudo da CIP, em apenas meia-dúzia de meses, tivesse chegado a conclusões notoriamente mais favoráveis do que todos os estudos precendentes encomendados pelo governo?
Estas são, naturalmente, perguntas do senso-comum que qualquer cidadão interessado fará. Não se percebe, por isso, a reacção do ministro Lino, ao desvalorizar as conclusões que dão preferência a Alcochete e declarar, inclusive, que não tem tempo para ler todos os relatórios que lhe chegam às mãos. Pior, ao que parece encomendou um terceiro estudo (RAVE) que contraria as conclusões do estudo da CIP. Ou seja, mesmo que não seja essa a intenção do ministro, dificilmente ele conseguirá fazer passar a ideia de que tudo está a ser feito para construir o aeroporto no melhor sítio e ao melhor preço possível. Se não é assim, porquê estas reticências?
A menos que haja razões que a razão desconhece, este comportamento relembra-nos um passado não muito distante em que a margem Sul não passava de uma miragem. Confesso que já tinha algumas saudades da "stand-up comedy" nacional.
Leituras cruzadas
O meu amigo, o encenador Fernando Mora Ramos, publicou no Público do passado dia 10 de Novembro um artigo intitulado "Um em cada cem". O artigo aborda a questão das verbas destinadas pelo OE à cultura e a este propósito lembra a posição do governo: que não haja "ilusões, o Governo tem de definir prioridades."
FMR afirma "Como a história ensina não há transformação sem uma base cultural forte. E a mudança actual é para trás, não ao contrário. Não tenhamos ilusões."
Mas, então e os propósitos anunciados pelo governo quanto ao desenvolvimento? E a aposta no incremento do conhecimento e na qualificação dos Portugueses? E a ciência? A ciência não é cultura?
Quis o acaso que andasse a ler um livrinho intitulado "Scientific Curiosity", de Cyril Aydon, onde a páginas tantas deparo com o seguinte parágrafo (traduzo livremente):
"A ciência, tal como hoje a concebemos, aconteceu apenas duas vezes na história do mundo. E entre o crepúsculo do mundo Grego e o amanhecer da moderna era científica tivemos um hiato de 1500 anos, durante o qual pouco ou nada foi acrescentado ao nosso património de conhecimento científico. Porquê? Poderia ser genético. Os Gregos não eram mais espertos que os Romanos ou os Chineses, nem os habitantes da Europa mais espertos que os Aztecas, ou o povo do Zimbabwe. Talvez a explicação esteja na economia: a ciência só pode prosperar em sociedades suficientemente ricas para permitir que uma série de gente se sente para pensar e conversar. Mas, a riqueza e o tempo livre não podem ser a explicação senão a antiga Roma e a China Clássica teriam sido fábricas de ciência. A explicação deve ser de índole cultural, para além de econonómica. Algumas sociedades estão organizadas de forma --e desenvolvem hábitos de pensamento-- que torna a ciência viável. Outras, igualmente prósperas, tem formas de organização, códigos de crenças e formas de pensamento que fazem definhar a ciência. As sociedades com um respeito exagerado pelo passado não podem gerar a atitude de desafio às ideias feitas que produz novas formas de compreensão. As sociedades em que os sacerdotes têm poder tendem a aprisionar ou suprimir aqueles que ameaçam o seu monopólio na explicação das coisas. Quando o discurso e o pensamento livres são constrangidos, a mente e o corpo apodrecem agrilhoados."
Não há sequer mudança em Portugal. Nem para trás, nem para a frente.
FMR afirma "Como a história ensina não há transformação sem uma base cultural forte. E a mudança actual é para trás, não ao contrário. Não tenhamos ilusões."
Mas, então e os propósitos anunciados pelo governo quanto ao desenvolvimento? E a aposta no incremento do conhecimento e na qualificação dos Portugueses? E a ciência? A ciência não é cultura?
Quis o acaso que andasse a ler um livrinho intitulado "Scientific Curiosity", de Cyril Aydon, onde a páginas tantas deparo com o seguinte parágrafo (traduzo livremente):
"A ciência, tal como hoje a concebemos, aconteceu apenas duas vezes na história do mundo. E entre o crepúsculo do mundo Grego e o amanhecer da moderna era científica tivemos um hiato de 1500 anos, durante o qual pouco ou nada foi acrescentado ao nosso património de conhecimento científico. Porquê? Poderia ser genético. Os Gregos não eram mais espertos que os Romanos ou os Chineses, nem os habitantes da Europa mais espertos que os Aztecas, ou o povo do Zimbabwe. Talvez a explicação esteja na economia: a ciência só pode prosperar em sociedades suficientemente ricas para permitir que uma série de gente se sente para pensar e conversar. Mas, a riqueza e o tempo livre não podem ser a explicação senão a antiga Roma e a China Clássica teriam sido fábricas de ciência. A explicação deve ser de índole cultural, para além de econonómica. Algumas sociedades estão organizadas de forma --e desenvolvem hábitos de pensamento-- que torna a ciência viável. Outras, igualmente prósperas, tem formas de organização, códigos de crenças e formas de pensamento que fazem definhar a ciência. As sociedades com um respeito exagerado pelo passado não podem gerar a atitude de desafio às ideias feitas que produz novas formas de compreensão. As sociedades em que os sacerdotes têm poder tendem a aprisionar ou suprimir aqueles que ameaçam o seu monopólio na explicação das coisas. Quando o discurso e o pensamento livres são constrangidos, a mente e o corpo apodrecem agrilhoados."
Não há sequer mudança em Portugal. Nem para trás, nem para a frente.
2007/11/07
Duelo ao Sol
A "discussão" sobre o Orçamento de Estado que, por estes dias, vai decorrendo no Parlamento é bem um exemplo da estagnação ideológica instalada na sociedade portuguesa.
O que devia constituir um momento de excepção para avaliar da estratégia económica e financeira do governo para o próximo ano, transformou-se num espectáculo mediático antecipado em grandes parangonas pelos mais respeitáveis orgãos de comunicação social do país. Mais do que procurar interpretar as medidas governamentais que irão influenciar a vida dos portugueses, os nossos colunistas de opinião (há excepções) concentraram a sua atenção num imaginário duelo entre o chefe do governo e o lider da bancada da oposição, como a grande novidade deste debate.
Não nos lembramos, em recentes anos, de tal empolamento jornalístico em redor do que devia constituir o normal e regular trabalho da Assembleia elegida para controlar e julgar o trabalho do governo. Contrariamente ao que possa pensar-se, a atenção não se fixou em saber se as despesas vão ser contidas ou se haverá outras receitas para além daquelas extraídas do aumento da carga fiscal. Não, a atenção concentrou-se no debate entre "dois velhos conhecidos" que, de há muito, personificam a ideologia velha que nos governa de há vinte anos a esta parte. Como era de esperar, numa situação em que o governo dispõe de maioria absoluta e não necessita de apoios ou compromissos para impôr outra política que não de direita, a direita, propriamente dita, ficou sem espaço para poder oferecer uma alternativa credível ao país. Chegámos assim a uma situação de impasse ideológico total, agora que um partido - o do governo - "secou" o centro político e pode agir politicamente a seu belo prazer sem risco de ver contestadas as medidas que toma.
Para já, os índices de popularidade, dão-lhe (aparente) razão. Os portugueses, apesar de penalizados, não vêem alternativa concreta e basta o primeiro-ministro acenar com o passado recente para assustar os mais incautos. Quem quer ver de volta o "menino guerreiro"?
Foi isso que, ontem, se passou no hemiciclo. O "pistoleiro" enviado pela oposição para disparar mais rápido do que o "justiceiro" de serviço, mal conseguiu sacar do revolver e já estava crivado de balas. Na pradaria portuguesa, o "lonely ranger" continua a assobiar para o lado. Como nos filmes do Sergio Leone...
O que devia constituir um momento de excepção para avaliar da estratégia económica e financeira do governo para o próximo ano, transformou-se num espectáculo mediático antecipado em grandes parangonas pelos mais respeitáveis orgãos de comunicação social do país. Mais do que procurar interpretar as medidas governamentais que irão influenciar a vida dos portugueses, os nossos colunistas de opinião (há excepções) concentraram a sua atenção num imaginário duelo entre o chefe do governo e o lider da bancada da oposição, como a grande novidade deste debate.
Não nos lembramos, em recentes anos, de tal empolamento jornalístico em redor do que devia constituir o normal e regular trabalho da Assembleia elegida para controlar e julgar o trabalho do governo. Contrariamente ao que possa pensar-se, a atenção não se fixou em saber se as despesas vão ser contidas ou se haverá outras receitas para além daquelas extraídas do aumento da carga fiscal. Não, a atenção concentrou-se no debate entre "dois velhos conhecidos" que, de há muito, personificam a ideologia velha que nos governa de há vinte anos a esta parte. Como era de esperar, numa situação em que o governo dispõe de maioria absoluta e não necessita de apoios ou compromissos para impôr outra política que não de direita, a direita, propriamente dita, ficou sem espaço para poder oferecer uma alternativa credível ao país. Chegámos assim a uma situação de impasse ideológico total, agora que um partido - o do governo - "secou" o centro político e pode agir politicamente a seu belo prazer sem risco de ver contestadas as medidas que toma.
Para já, os índices de popularidade, dão-lhe (aparente) razão. Os portugueses, apesar de penalizados, não vêem alternativa concreta e basta o primeiro-ministro acenar com o passado recente para assustar os mais incautos. Quem quer ver de volta o "menino guerreiro"?
Foi isso que, ontem, se passou no hemiciclo. O "pistoleiro" enviado pela oposição para disparar mais rápido do que o "justiceiro" de serviço, mal conseguiu sacar do revolver e já estava crivado de balas. Na pradaria portuguesa, o "lonely ranger" continua a assobiar para o lado. Como nos filmes do Sergio Leone...
2007/11/02
2007/10/29
Womex sevilhana
No Outono, Sevilha parece ter mais encanto. Esta é, claro, a opinião de alguém que conhece melhor a cidade através da (sua) música e, de há dois anos a esta parte, através das músicas do resto do Mundo que por lá passam.
Acontece que a WOMEX (World Music Exhibition), a mostra mais importante do género musical, se deslocou com armas e bagagens para a capital andaluza, com quem tem um protocolo de três anos. Uma oportunidade única de provar as tendências musicais da actualidade e passar quatro noites numa cidade que dorme pouco.
Sobre a feira, muito haveria a dizer, desde os negócios entre produtores e distribuidores, às conferências sobre a indústria discográfia, a crise e as soluções para sair dela, passando pelo "networking" sempre presente nestas ocasiões.
Porque a feira é musical, era nos "showcases" que residia a nossa principal curiosidade, até por sermos parte interessada. Não saímos defraudados. Entre os mais de 40 concertos programados podíamos eleger uma boa dúzia de grandes momentos. Queremos, no entanto, destacar os "Gaiteiros de Lisboa" (únicos representantes portugueses) que deram um concertão de 45 minutos, ao nível dos melhores a que deles temos assistido; o concerto conjunto de Faiz Ali Faiz (Paquistão) e Duquende, Chicuelo e grupo (Espanha) que teve honras de abertura da feira; o extraordinário guitarista Yamandu Costa (Brasil); o virtuoso "Taksim Trio" (Turquia); o refinado duo "Tara Fuki" (República Checa); os nova-iorquinos "Balkan Beat Box"; os aclamados "Tango Bajofondo Club" (Argentina); o projecto mediterrânico "Aman, Aman" (Espanha/Grécia), os occitanos " Le Côr de La Plana" (França); o "tanguero" Melingo (Argentina) e a "Fanfara Tirana" (Albânia) a lembrar os filmes de Kosturica, sem esquecer o projecto de "Mamani Keita e & Nicolas Repac" (Mali/França) ou essa fabulosa cantora Tanya Tagaq (Canada), para citar alguns exemplos. Agora, só resta ouvir a música e esperar pelo próximo ano. Em Outubro, no Outono.
Acontece que a WOMEX (World Music Exhibition), a mostra mais importante do género musical, se deslocou com armas e bagagens para a capital andaluza, com quem tem um protocolo de três anos. Uma oportunidade única de provar as tendências musicais da actualidade e passar quatro noites numa cidade que dorme pouco.
Sobre a feira, muito haveria a dizer, desde os negócios entre produtores e distribuidores, às conferências sobre a indústria discográfia, a crise e as soluções para sair dela, passando pelo "networking" sempre presente nestas ocasiões.
Porque a feira é musical, era nos "showcases" que residia a nossa principal curiosidade, até por sermos parte interessada. Não saímos defraudados. Entre os mais de 40 concertos programados podíamos eleger uma boa dúzia de grandes momentos. Queremos, no entanto, destacar os "Gaiteiros de Lisboa" (únicos representantes portugueses) que deram um concertão de 45 minutos, ao nível dos melhores a que deles temos assistido; o concerto conjunto de Faiz Ali Faiz (Paquistão) e Duquende, Chicuelo e grupo (Espanha) que teve honras de abertura da feira; o extraordinário guitarista Yamandu Costa (Brasil); o virtuoso "Taksim Trio" (Turquia); o refinado duo "Tara Fuki" (República Checa); os nova-iorquinos "Balkan Beat Box"; os aclamados "Tango Bajofondo Club" (Argentina); o projecto mediterrânico "Aman, Aman" (Espanha/Grécia), os occitanos " Le Côr de La Plana" (França); o "tanguero" Melingo (Argentina) e a "Fanfara Tirana" (Albânia) a lembrar os filmes de Kosturica, sem esquecer o projecto de "Mamani Keita e & Nicolas Repac" (Mali/França) ou essa fabulosa cantora Tanya Tagaq (Canada), para citar alguns exemplos. Agora, só resta ouvir a música e esperar pelo próximo ano. Em Outubro, no Outono.
2007/10/20
Tamanho conta...
As declarações do cientista James Watson tiveram ampla cobertura mediática. Recordo que este cientista, vencedor do Nobel da Medicina, fez declarações de índole racista dizendo qualquer coisa como o tamanho da inteligência dos pretos não é igual ao dos brancos. Se fosse só a inteligência...
Mas a polémica não é de hoje. Os factos demonstram que este galardoado com o Nobel já há muito revela não estar na posse total das suas faculdades. São conhecidas as suas posições relativamente ao problema das bases de dados genéticas, e são igualmente conhecidas as suas gabarolices mariálvicas.
Na altura em que estes factos foram conhecidos ninguém pareceu chocado com as posições e revelações de Watson. Daí que pareça agora estranho o facto de o delírio de Watson ter passado subitamente a ser considerado chocante...
Escolha feliz, sem dúvida, a deste cavalheiro para presidente do conselho científico da Fundação Champalimaud...
Mas a polémica não é de hoje. Os factos demonstram que este galardoado com o Nobel já há muito revela não estar na posse total das suas faculdades. São conhecidas as suas posições relativamente ao problema das bases de dados genéticas, e são igualmente conhecidas as suas gabarolices mariálvicas.
Na altura em que estes factos foram conhecidos ninguém pareceu chocado com as posições e revelações de Watson. Daí que pareça agora estranho o facto de o delírio de Watson ter passado subitamente a ser considerado chocante...
Escolha feliz, sem dúvida, a deste cavalheiro para presidente do conselho científico da Fundação Champalimaud...
2007/10/18
Do Referendo
Estatísticas: Desde a adesão de Portugal à Comunidade Europeia, em 1985, nunca os portugueses puderam pronunciar-se sobre qualquer das grandes decisões da União: nem em 1986 (Lisboa), nem em 1992 (Maastricht), nem em 1997 (Amsterdão), nem em 1998 (Adesão ao Euro), nem em 2005 (Nice), nem em 2007 (Lisboa). O denominado "Tratado Reformador" é, na opinião do primeiro-ministro português, um dos momentos mais importantes deste percurso europeu. Se é assim tão importante, porque é que o Tratado não pode ser referendado?
2007/10/17
Da Pobreza
Estatísticas: Cerca de 2,1 milhões de portugueses (20% da população) são pobres e, deste total, 740 mil subsistem com seis euros por dia.
2007/10/15
Nova Linguagem
A "temporada política" foi este fim-de-semana inaugurada com a consagração do novo líder da oposição. A avaliar pelo seu discurso de posse (ainda longe das oito horas de Chávez...) é já notória a intenção de criar uma linguagem alternativa ao actual governo. O líder propõe "a criação de um programa de parcerias puvlico-pribadas para reformar o parque escolar e a separação definitiba da medicina pribada da medicina púvlica", acrescentando que a única coisa que existe é "um superabit de rebolta, de indignação de mandar emvora o PS e dar uma oportunidade ao PSD". O líder disse ainda que "achaba inaceitábel que um beto do Presidente da Repúvlica, relatibamente à justiça, possa ser ultrapassado por uma maioria parlamentar", para finalizar, dizendo que "o PSD bai começar a preparar um projecto de uma noba constituição, não uma rebisão". Os sulistas, elitistas e liverais que se cuidem...
2007/10/05
2007/09/27
Os "Fados" do Carlos
Carlos Saura é um autor espanhol de reconhecidos méritos. A atestá-lo estão filmes como "Ana e os Lobos", "Cria Corvos", "Elisa, vida minha", "Depressa, Depressa" ou "Taxi" e "Ay, Carmela!", a maior parte deles realizados durante a ditadura franquista. A partir da década de oitenta, nota-se uma inflexão na sua obra, agora mais centrada em temas musicais de influência flamenca - "Bodas de Sangue", "Carmen", "O Amor Bruxo" - onde já é reconhecível o seu gosto estético ligado à dança. É na década de noventa, no entanto, que Saura se afirma como documentarista de musicais, realizando algumas das suas obras mais populares: "Sevilhanas", "Flamenco" e "Tangos".
Com um currículo destes não é, pois, de admirar, que alguns "iluminados" tenham pensado nele como a pessoa indicada para fazer um filme sobre o Fado. Subjacente a este pensamento peregrino, estava uma candidatura do Fado a "património cultural intangível da humanidade", a apresentar à Unesco em futuro próximo; e a ideia (ainda mais peregrina) de que Saura estava a pensar fazer uma trilogia sobre músicas urbanas (Flamenco, Tango e Fado) pelo que esta era a oportunidade ideal...
Independentemente da Unesco vir, ou não, a considerar o fado "património cultural intangível" (não considerou o Tango, por exemplo) não consta que Saura, alguma vez, tenha posto a hipótese de fazer um filme sobre o Fado. Percebe-se porquê: não é a sua cultura, o fado é uma canção de texto (pouco apelativo em termos estéticos), não tem muitos nomes conhecidos internacionalmente e, dificilmente, é um tema que apaixone os patrocinadores. Resta, ainda, a questão do Flamenco ser uma música urbana, tema sobre o qual os especialistas se dividem.
Os nossos "experts" não se atemorizaram e vai de convidar o homem. Para o convencer, trouxeram-no a Lisboa, puseram-no a ouvir fado nas baiucas de Alfama e da Mouraria, ofereceram-lhe discos e livros, fizeram-lhe uma "lista" de "fadistas incontornáveis" e trataram de arranjar o dinheiro para a "encomenda", que estas coisas não se fazem de graça, não é verdade? Nas palavras de um responsável, "deram-lhe mesmo um verdadeiro curso intensivo". Quem poderia resistir a tal "charme"?
Desde logo foram anunciados os nomes "sonantes": Carlos do Carmo, Mariza e Camané (os cantores), Ruy Vieira Nery (consultor científico), Carlos do Carmo (consultor musical), Eduardo Serra (director de fotografia) e o próprio Saura, apoiado por Ivan Dias (produtor) no "guião". A Câmara Municipal de Lisboa, o Turismo de Lisboa e a TVI, apoiaram a iniciativa com 1 milhão de euros e o restante (2 milhões) foi conseguido através do programa Media-Europa e de Espanha (TVE, Turismo Espanhol, etc...). Aparentemente, tudo bem. Restava, fazer a "obra".
Acontece que, nestas coisas, os produtores "não brincam em serviço" e, naturalmente, exigem contrapartidas. As filmagens, previstas para Lisboa, foram transferidas para Madrid (por razões de produção); o director de fotografia (o prestigiado Serra) abandonou o projecto, depois de fazer algumas tomadas de "vista" de Lisboa; parte significativa dos nomes sugeridos, não foi utilizada e, em seu lugar, foram convidados os "sonantes fadistas": Chico Buarque, Caetano Veloso, Lura, Lilla Downs e Miguel Poveda...Como o fado não tem "dinâmica", o realizador lembrou-se de animar as cenas em que cantam os estáticos fadistas (Marceneiro, Camané, etc....) com corpos de baile espanhol, nomeadamente no "dueto" entre o flamenco Poveda e a fadista Mariza. O quadro, de resto, chama-se mesmo Fado-Flamenco (?). Desconhecia o género, mas uma pessoa está sempre a aprender...
Que mais posso dizer, que a prosa já vai larga? Bom, que como filme de "world music" é perfeito. Provavelmente, o melhor jamais feito sobre a música da "Lusofonia". E esse é o seu mérito. Por isso vai "vender" bem. Também é, esteticamente, um bom filme (mas isso já sabíamos de obras anteriores do realizador) com alguns bons momentos, precisamente aqueles em que o fado vale por si, ou seja: sem artifícios.
Um filme sobre o Fado, para divulgá-lo e apoiar a candidatura à Unesco? Parece-me risível e ninguém de bom senso vai deixar-se influenciar por tal produto comercial. Um bom musical, com muita dança à mistura e alguns nomes sonantes, não fazem um bom filme de fado. Um equívoco, pois.
Resta a dúvida, levantada por um crítico argentino na televisão portuguesa: "Será que Saura, gosta de fado?"
Com um currículo destes não é, pois, de admirar, que alguns "iluminados" tenham pensado nele como a pessoa indicada para fazer um filme sobre o Fado. Subjacente a este pensamento peregrino, estava uma candidatura do Fado a "património cultural intangível da humanidade", a apresentar à Unesco em futuro próximo; e a ideia (ainda mais peregrina) de que Saura estava a pensar fazer uma trilogia sobre músicas urbanas (Flamenco, Tango e Fado) pelo que esta era a oportunidade ideal...
Independentemente da Unesco vir, ou não, a considerar o fado "património cultural intangível" (não considerou o Tango, por exemplo) não consta que Saura, alguma vez, tenha posto a hipótese de fazer um filme sobre o Fado. Percebe-se porquê: não é a sua cultura, o fado é uma canção de texto (pouco apelativo em termos estéticos), não tem muitos nomes conhecidos internacionalmente e, dificilmente, é um tema que apaixone os patrocinadores. Resta, ainda, a questão do Flamenco ser uma música urbana, tema sobre o qual os especialistas se dividem.
Os nossos "experts" não se atemorizaram e vai de convidar o homem. Para o convencer, trouxeram-no a Lisboa, puseram-no a ouvir fado nas baiucas de Alfama e da Mouraria, ofereceram-lhe discos e livros, fizeram-lhe uma "lista" de "fadistas incontornáveis" e trataram de arranjar o dinheiro para a "encomenda", que estas coisas não se fazem de graça, não é verdade? Nas palavras de um responsável, "deram-lhe mesmo um verdadeiro curso intensivo". Quem poderia resistir a tal "charme"?
Desde logo foram anunciados os nomes "sonantes": Carlos do Carmo, Mariza e Camané (os cantores), Ruy Vieira Nery (consultor científico), Carlos do Carmo (consultor musical), Eduardo Serra (director de fotografia) e o próprio Saura, apoiado por Ivan Dias (produtor) no "guião". A Câmara Municipal de Lisboa, o Turismo de Lisboa e a TVI, apoiaram a iniciativa com 1 milhão de euros e o restante (2 milhões) foi conseguido através do programa Media-Europa e de Espanha (TVE, Turismo Espanhol, etc...). Aparentemente, tudo bem. Restava, fazer a "obra".
Acontece que, nestas coisas, os produtores "não brincam em serviço" e, naturalmente, exigem contrapartidas. As filmagens, previstas para Lisboa, foram transferidas para Madrid (por razões de produção); o director de fotografia (o prestigiado Serra) abandonou o projecto, depois de fazer algumas tomadas de "vista" de Lisboa; parte significativa dos nomes sugeridos, não foi utilizada e, em seu lugar, foram convidados os "sonantes fadistas": Chico Buarque, Caetano Veloso, Lura, Lilla Downs e Miguel Poveda...Como o fado não tem "dinâmica", o realizador lembrou-se de animar as cenas em que cantam os estáticos fadistas (Marceneiro, Camané, etc....) com corpos de baile espanhol, nomeadamente no "dueto" entre o flamenco Poveda e a fadista Mariza. O quadro, de resto, chama-se mesmo Fado-Flamenco (?). Desconhecia o género, mas uma pessoa está sempre a aprender...
Que mais posso dizer, que a prosa já vai larga? Bom, que como filme de "world music" é perfeito. Provavelmente, o melhor jamais feito sobre a música da "Lusofonia". E esse é o seu mérito. Por isso vai "vender" bem. Também é, esteticamente, um bom filme (mas isso já sabíamos de obras anteriores do realizador) com alguns bons momentos, precisamente aqueles em que o fado vale por si, ou seja: sem artifícios.
Um filme sobre o Fado, para divulgá-lo e apoiar a candidatura à Unesco? Parece-me risível e ninguém de bom senso vai deixar-se influenciar por tal produto comercial. Um bom musical, com muita dança à mistura e alguns nomes sonantes, não fazem um bom filme de fado. Um equívoco, pois.
Resta a dúvida, levantada por um crítico argentino na televisão portuguesa: "Será que Saura, gosta de fado?"
Santana Lopes 1- SIC Notícias 0
Soube hoje por um jornal on-line que Santana Lopes abandonou uma entrevista que estava a dar na SIC Notícias. Por uma vez Santana Lopes (personagem com quem nem sequer simpatizo) esteve bem.
Mas, atenção: eu estou melhor ainda ! Não vi o programa e não vejo televisão. Já há muito que "abandonei" as entrevistas, os entrevistadores, os entrevistados, os "canais de notícias" e os "generalistas", os "pivots" e as dentaduras deles, os jornalistas e o as técnicas de marketing... perdão de comunicação.
Não foi uma atitude inusitada, nem desproporcionada, a minha. Foi.
Mas, atenção: eu estou melhor ainda ! Não vi o programa e não vejo televisão. Já há muito que "abandonei" as entrevistas, os entrevistadores, os entrevistados, os "canais de notícias" e os "generalistas", os "pivots" e as dentaduras deles, os jornalistas e o as técnicas de marketing... perdão de comunicação.
Não foi uma atitude inusitada, nem desproporcionada, a minha. Foi.
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