2013/06/16

“Sugar Man”

Com estreia simultânea em diversas salas da capital, chegou finalmente a Portugal o aclamado documentário “Searching for Sugar Man” (À procura de Sugar Man”) um docudrama filmado pelo sueco Malik Bendjelloul, a partir de uma história relatada pelos sul-africanos Stephen “Sugar” Segerman e Craig Bartholomeu Strydom, editores dos álbuns de Rodriguez, um “sing songwriter” americano, idolatrado na África do Sul.
O filme, que teve a sua premiére no Festival Sundance de 2012, recebeu este ano o Óscar para o melhor documentário em Hollywood, o 66º British Award for the Best Documentary e o Bafta Award for Best Documentary 2012, tendo ainda passado em Lisboa, durante o último “DOCs”, onde teve boa aceitação da audiência e da critica.
Fazendo jus ao velho princípio de Hollywood “a good story, is a good story, is a good story”, Bendjelloul encontrou a história, que necessitava para o seu filme, ao ler um texto de Stephen Segerman (na contracapa de um dos álbuns de Rodriguez), onde este dono de uma loja de discos na cidade do Cabo, exortava os leitores do texto a procurarem o cantor norte-americano, autor de dois álbuns míticos que fizeram furor na África do Sul na década de setenta e que tinha, depois disso, desaparecido sem deixar rasto...
O desafio intrigou o realizador sueco que, juntamente com Segerman, decidiu pôr mãos à obra e iniciar a sua própria investigação. Depois de meses de procura e muitas peripécias (reconstituídas no filme) o acaso levou-os a uma familiar do músico dado como desaparecido, de quem se dizia ter cometido suicídio em pleno palco. Para surpresa dos dois homens, não só Rodriguez estava vivo, como se dispôs a colaborar no filme e a ir cantar à África do Sul, onde é idolatrado devido à popularidade das suas canções, usadas nas décadas de setenta e oitenta durante a resistência ao regime do “Apartheid”.
O documentário relata a procura do homem que toda a gente julgava morto e que, apesar do insucesso nos Estados Unidos (onde os seus álbuns tinham sido um “flop”) continuava a ser um herói na África do Sul, onde vendeu centenas de milhares de “bootlegs” que a juventude sul-africana conhecia e cantava de cor.
Uma história verídica, filmada em supper8mm, que alterna imagens reais e reconstituição dos principais passos da investigação, para retraçar o percurso de “sixto” Rodriguez, o sexto filho de uma família de emigrantes mexicanos, que passou ao lado de uma carreira musical, apesar da qualidade inquestionável da sua música e textos que, alguém no filme, compara aos de Bob Dylan.
Pesem algumas limitações técnicas, dados os constrangimentos orçamentais que obrigaram algumas filmagens a serem feitas com um IPod Camera especial, o documentário vale pela história e o exemplo humilde de um cantor e compositor magnifico que, apesar do seu desaparecimento, nunca foi esquecido e hoje, graças a este documentário, recebe o reconhecimento que lhe é devido.
Nota Final: Rodriguez, que continua a viver, humildemente, na sua casa de sempre nos subúrbios de Detroit, recebeu no passado dia 9 de Maio, um doutoramento “honoris causa” da Wayne State University em Detroit, pela sua contribuição para a música e poesia americana.
Vão ver este filme magnífico, baseado numa extraordinária história de um artista excepcional.

2013/06/13

200 gramas de selos

A estação de correios do meu bairro, inaugurada com pompa e circunstância há 15 anos, encerrou no passado dia 1 de Junho. Era uma estação de correios pequena, mas moderna e funcional, onde 3 empregadas exerciam diariamente as suas funções, sempre com agrado dos utentes, entre os quais eu. Apesar de tratar de muitos assuntos pela NET, continuo a ser um cliente dos correios tradicionais, onde envio cartas, encomendas, pago contas e levanto correspondência registada em meu nome. Em média, utilizo os serviços de correio uma vez por semana. Como eu, milhares de clientes, novos e velhos, portugueses e estrangeiros, pensionistas, letrados e iletrados que não possuem contas bancárias e ali pagam as suas contas e levantam as suas reformas. A “minha” estação de correios foi modernizada há 15 anos, precisamente porque havia aumento da procura e as antigas instalações, a funcionarem no mesmo espaço da Junta de Freguesia, já não satisfaziam as necessidades da população que, entretanto, tinha crescido exponencialmente.. À época, os moradores do bairro organizaram-se, fizeram uma petição ao presidente da Junta e este conseguiu que uma nova estação fosse aberta, num edifício alugado para o efeito. Abriu inicialmente com dois funcionários e, posteriormente, o número de funcionários foi aumentado para três, também graças a uma petição. Toda a gente satisfeita com a estação que, aparentemente, dava lucro, pois não consta que uma estação que tinha uma procura constante e, para além dos serviços habituais, vendia toda a espécie de artigos, desde “best-sellers” a CD’s, bonés ou porta-chaves, não fosse rentável.
No dia 29 de Maio, estive lá pela última vez a enviar uma carta para o estrangeiro e, como já circulava o boato de que a estação poderia fechar, perguntei a uma das funcionárias se esse rumor se confirmava. Respondeu-me que não sabia, pois não havia ordens internas explícitas sobre o encerramento deste posto em particular. Isto, dois dias antes do seu encerramento!
Era esta informação verdadeira? Se não, porque mentiu a funcionária? Se sim, como é possível os serviços nem sequer informarem os seus próprios funcionários do que iria passar-se?
Na passada segunda-feira confirmaram-se os meus piores receios. As montras da estação estavam cobertas com papel pardo e um edital avisava que, a partir desse dia, os clientes tinham de dirigir-se a um supermercado do bairro para enviar as suas cartas.
Lá fui, esta semana, experimentar os “novos” serviços. Como receava, tudo piorou. Num balcão improvisado, ao lado da empregada da papelaria, no meio de material escolar, jornais, revistas e perfumes, estava um empregado (em pé) a ser instruído por uma das ex-funcionárias da estação que tinha encerrado. Perguntei-lhe se ela, agora, vendia perfumes, ao que me respondeu que só estava a ensinar o empregado do supermercado a pesar e selar a correspondência. De facto, pesar maçãs, ou cartas, qual é a diferença? Pedi-lhe 200 gramas de selos, para não andar sempre a comprar...

2013/06/10

Em cima de um tapete, a correr 1500 metros...


Na passagem de mais um “10 de Junho”, a televisão oferece-nos a reportagem do costume. Desta vez a partir da cidade de Elvas, um cenário ideal agora que a UNESCO reconheceu as suas fortificações como parte integrante do património construído da humanidade.
Infelizmente, as melhores fortalezas não chegam para esconder a miséria social existente dentro dos seus muros, como outras reportagens da mesma televisão nos têm lembrado periodicamente. Em apenas dois anos, a autarquia viu-se obrigada a duplicar o número de refeições oferecidas às escolas da cidade, única forma de alimentar, já não só todas as crianças malnutridas, como as suas próprias famílias, muitas delas sem emprego e apoios sociais, numa das regiões mais desertificadas e pobres do pais. Ou seja, parte significativa da população de Elvas é hoje obrigada a recorrer à assistência social, prestada pela Câmara, para poder sobreviver. Uma realidade que foi lembrada no discurso do presidente da autarquia, Roldão de Almeida, ainda na cerimónia que antecedeu o dia de hoje.
E que disse o Presidente da República de significante neste seu discurso de “10 de Junho”? O mesmo de sempre, mas para pior. Falou da pátria (que tem as costas largas), dos sacrifícios das forças militares (que compreendem o momento que a nação atravessa), da dependência do estrangeiro (não é a primeira vez) e do regresso à agricultura (como panaceia para todos os males).
Não fora a mudança de cidade e personagens nestas cerimónias, que pouca alteração conheceram nos rituais desde os “dias da Raça” salazarentos, e julgávamos não ter mudado de regime. O cenário muda todos os anos, é verdade, mas os discursos continuam bafientos e grande parte dos agraciados com medalhas não se recomendam, como de resto não eram recomendáveis os condecorados do tempo da ditadura.
Cá fora, o ambiente não foi melhor e, se alguma novidade houve, essa foi a contestação de uma parte dos populares que assistiam à chegada dos governantes. Também aí, nada de especial a assinalar, tal o número de protestos com que os representantes do governo são amiúde recebidos fora de Lisboa.
Uma tristeza, este “Dia da nacionalidade, de Camões e das Comunidades”, onde tudo é ensaiado previamente, segundo um guião que nunca conseguiu mobilizar verdadeiramente o povo português.
Num ciclo marcado pela maior crise dos últimos 40 anos, não ouvimos quaisquer referências de Cavaco ao desemprego, à emigração forçada de milhares de jovens, à diminuição de salários e pensões, ou à miséria gritante de milhões de portugueses, nomeadamente no Alentejo, onde se encontrava.
Em vez disso, ouvimos um apelo patético para o regresso à agricultura e a apologia do desporto, dando como exemplo o seu treino diário de 1500 metros em cima do tapete. Ou seja, o presidente farta-se de correr sem sair do mesmo sítio...
Não me lembraria de melhor metáfora para o pais.

2013/05/29

Não há PIB que nos salve...

Abro a televisão e deparo-me com Victor Gaspar, numa comissão parlamentar que dá pelo sugestivo nome de “Comissão eventual para o acompanhamento das medidas do programa de assistência financeira a Portugal”. Um título que é todo um programa...
Ouço a intervenção do ministro que, no tom monocórdio a que nos habituou, vai debitando números e pareceres do governo, para sustentar a sua visão do Mundo e uma realidade que, aparentemente, só na sua cabeça continua a existir.
Por coincidência, a estação televisiva onde vejo a emissão passa, em simultâneo num roda-pé, as conclusões mais significativas do último relatório da OCDE relativas ao nosso pais. E o que diz o relatório deste organismo internacional, que tem a confiança do governo?
Que a dívida pública vai ser de 130% do PIB (superior às previsões do governo); que a recessão vai ser de 2,7% (superior às previsões do governo); que o défice vai ser de 5,6% (superior às previsões do governo); que o crescimento vai ser de -0,6% (inferior às previsões do governo) e que o desemprego vai ultrapassar os 19% (superior ás previsões do governo). Ou seja, falharam todas as previsões deste executivo!
Perante tal disparidade de conclusões, pergunto-me o que pensarão os especialistas da matéria, face a uma realidade que não se compadece com análises macroeconómicas, independentemente do que delas possamos pensar, uma vez que estas são diariamente desmentidas pelo quotidiano que nos rodeia.
E das duas uma: ou andamos todos com o passo trocado e Gaspar é a única pessoa no pais a marchar correctamente: ou o nosso ministro das finanças perdeu de vez o (pouco) contacto com a realidade, como vem sendo sistematicamente denunciado à esquerda e à direita, inclusive por insuspeitos economistas internacionais, como foi o caso do Nobel Paul Krugman, ainda esta semana no NYT.
O país está exangue, as pessoas desesperadas e, pior do que tudo isto, não há uma réstia de esperança nesta estratégia suicida que nos conduz para o abismo.
Como tenho vindo a escrever neste blogue, não me parece que Gaspar seja um palhaço.
Gaspar é apenas o peão de uma estratégia internacional desenhada em Berlim, que tem o apoio do BCE, da Comissão Europeia e do FMI, com o objectivo último de desregular as relações laborais em Portugal e, dessa forma, reduzir as “benesses” de um estado social considerado muito generoso e impeditivo de podermos fornecer mão-de-obra mais barata para competir com os países emergentes.
Acontece que, nem a desvalorização do preço do factor trabalho será alguma vez suficiente para poder competir com os países asiáticos, nem a economia será competitiva enquanto o consumo não for estimulado. Logo, enquanto a economia não crescer significativamente, coisa que não está a acontecer, nem em Portugal, nem em nenhum pais da UE, à excepção da Alemanha, onde esse crescimento é de apenas 0,1%., muito aquém dos míticos 4% do século passado...
Como se este quadro não fosse, já por si, suficientemente negro, fomos nos últimos dias confrontados com o “debacle” do clube que, supostamente, mais contribui para o PIB nacional. O Benfica é, por estes dias, a metáfora perfeita do país. Quem o declarou foi esse insuspeito “lampião” que dá pelo nome de António Mexia, o executivo mais bem pago da EDP, a empresa que mais ganha com o fornecimento da luz que nos ilumina.

2013/05/22

Olho por olho

Já não serão assim tão poucos os Portugueses que morreram em consequência directa ou indirecta das políticas do actual governo, chefiado por Passos Coelho. São mortes autoinfligidas ou potenciadas pela leviandade, pelas carências, pelos maus tratos, pela angústia e pelo stress que resultam da política de  "inevitabilidades" deste governo. Outros estão condenados a uma agonia mais lenta, e irão, do mesmo modo, acabar por sofrer, em slow motion, as consequências desta política. Querem sobreviver, mas vão asfixiar, devagarinho, impotentes.

Os Portugueses não votaram neste grupo de coveiros sádicos. Votaram para que do seu voto saísse um governo que está obrigado constitucionalmente a "promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais."

Não tenho razoes científicas para justificar estas minhas previsões. É a intuição e a experiência própria que me levam a tirar estas conclusões. Conhecer a verdade sobre tudo isto será tarefa para os futuros investigadores da demografia histórica. Para nós, por enquanto, nós que estamos a viver a hecatombe, resta-nos lutar para que o pesadelo acabe o mais depressa possível e o curso da história seja mudado.

Segundo o jornal i de hoje, o pai de Passos Coelho assegura que o filho “está morto por se ver livre disto.” Se houvesse mesmo justiça, tendo em conta o que ficou dito acima, Passos Coelho deveria antes estar morto por nos ter metido "nisto..."

2013/05/20

Vales zero!

Muita gente ilustre se tem manifestado contra a convocação do Conselho de Estado que neste momento decorre em Belém. Entre as razões para esta discordância, destaca-se a inoportunidade da convocatória e a agenda do conclave. Jorge Miranda vai ao ponto de classificar esta iniciativa como uma "tentativa desesperada" do PR face ao vazio político em que o país se encontra e António Capucho, antigo conselheiro de Estado, diz sobre os resultados expectáveis desta reunião que coloca "a fasquia um pouco em baixo."
As instituições do Estado desgastam-se com esta iniciativa imprudente de Cavaco Silva.
Carlos César vem hoje juntar-se ao coro de críticas, chamando a atenção para a coincidência da data desta reunião de um órgão superior do Estado (do qual faz parte por inerência o Presidente do Governo Regional dos Açores) com o Dia da Região Autónoma dos Açores. E classifica a ideia como uma "manifestação de ignorância."
Esqueceu-se Carlos César de valorizar o escarcéu institucional que o Estatuto Político-Administrativo dos Açores —aprovado em 2008, vetado duas vezes e finalmente declarado inconstitucional pelo TC— mereceu ao PR e do quanto ele se mostrou agastado, em tom dramático, por este "restringir o exercício das competências do Presidente da República."
Ele há instituições e instituições, regiões e restrições. "Restrições não, autonomia più meno!", parece querer Cavaco Silva dizer com isto...
Desespero, ignorância, fasquia baixa, são expressões que deixam antever que a reunião de hoje do Conselho de Estado já era um flop político antes de começar.
Que dizer então de um PR que sujeita estes importantes órgãos de Estado a um desgaste destes? Que dizer destes conselheiros que se sujeitam ao desgaste e que vão sair dali como entraram: politicamente più meno?
Há anos, Jô Soares tinha um engraçado sketch de inspiração política num dos seus programas (alguns estarão recordados), que terminava sempre com a expressão "vales zero." A iniciativa de Cavaco Silva e a resposta dos conselheiros a ela valem zero.
Cavaco Silva e os membros do Conselho de Estado valem zero! O povo não merece ser representado por nulidades.

2013/05/19

Sobre as gorduras, o mau colesterol e a necessidade de mudar o regime...

"Há cada vez mais políticos com pensão vitalícia," diz a TVI24, que acrescenta "despesa deverá aumentar em 2013"...

L'État c'est qui alors?

 

Joaquim Ferreira do Amaral foi, como é sabido, o ministro responsável pelas Obras Públicas, Transportes e Comunicações, durante o consulado (dir-se-ia, para muitos, o consolado...) de Cavaco Silva. Foi ele que começou este processo de transformar Portugal num arquipélago banhado por um mar de auto-estradas, e foi ele que lançou também o projecto da ponte Vasco da Gama. Actualmente, o engenheiro Amaral é presidente do conselho de administração da Lusoponte, empresa do grupo Mota-Engil, que gere, entre outras, a dita ponte Vasco da Gama.
A Mota-Engil é um dos grupos formal e explicitamente acusados pelo vice-presidente da Integridade e Transparência, Associação Cívica, Paulo Morais, de corrupção, o factor determinante que está, segundo ele, na  origem da presente crise que o País vive.
Paulo Morais acusou o grupo Mello e o grupo Espírito Santo, para além desta Mota-Engil,  de se locupletar, por via ilegítima, com "seis a sete por cento dos recursos do Orçamento de Estado," acusação nunca refutada por qualquer destes grupos.
Ora, o engenheiro Ferreira do Amaral, presidente do conselho de administração da Lusoponte, uma empresa que explora uma obra lançada por ele durante o período em que foi responsável pela pasta das obras públicas, de acordo com um modelo contratual que foi aprovado por ele, vem agora explicar-nos os subtis contornos do contrato que existe entre a Lusoponte e o Estado Português e ameaçar que "o Estado vai ter de ter muita imaginação (sic!) para encontrar forma de dar a volta à questão [da renegocição das PPP]."
Valeu a pena ouvir e ver toda a entrevista porque, finalmente, fiquei a perceber o significado da frase L'État c'est moi quando ouvi Ferreira do Amaral dizer nesta entrevista que "É bom para o Estado fazer isto."
É bom, quer ele dizer, que um ministro da República se lembre, de repente, que uma ponte era mesmo, mesmo, mesmo necessária, embora confesse que o Estado não tinha dinheiro para a fazer. É bom, quer ele dizer, que, mesmo não tendo dinheiro, ele tivesse mandado avançar a obra, aceitando que o Estado pode viver acima das suas possibilidades. É bom, quer ele dizer, que por meio de um contrato congeminado de forma ardilosa o Estado, embora não tivesse o cacau, tivesse ficado agarrado durante anos e anos, por uma coisa que ele decidiu que era mesmo, mesmo, mesmo, necessária. É bom, quer ele dizer, que ele tenha vindo a assumir a direcção da empresa que explora justamente a obra que ele achou que era mesmo, mesmo, mesmo necessária. E é bom, quer ele dizer, que agora, enquanto gestor da empresa que explora a ponte que ele decidiu que era mesmo, mesmo mesmo importante, ele possa vir agora ameaçar o Estado se alguma vez lhe passar pela cabeça parar com a extorsão.
E, dito isto assim, de forma cândida, com o coração nas mãos, com um ar presque mignon, eu, que nesta altura da vida me comovo com enorme facilidade, não evitei derramar uma pequena lágrima e emitir um quase imperceptível soluço...

2013/05/11

"Ceci n'est pas une pipe"



Ouvimos Manuela Ferreira Leite insurgir-se esta semana, em vocalizos muito amplificados, contra a insensibilidade e crueldade com que o executivo trata os reformados. Já tínhamos ouvido Pacheco Pereira falar em "desobediência civil" e alertar para o sofrimento que as políticas de Coelho & Cia. causa ao povo e para o perigo que isso representa para a democracia e para as instituições democráticas. Ouvimos Bagão Félix acusar o governo de promover uma OPA hostil sobre as pensões dos reformados. Nem mais! Ouvimos Adriano Moreira defender a Constituição de Abril. Ouvimos, ainda hoje, Carlos Abreu Amorim dizer que o ciclo Gaspar acabou e que o ministro tem de abandonar, não a política que conduz, mas o próprio cargo. Acabou o seu ciclo, afirma grave.
O Povo, a Constituição, a Democracia. De Abril.
Ouvimos tudo isto e pasmamos. É gente de direita! Soa a esquerda, mas, não! Não há ilusão: é gente de direita, proveniente de uma matriz ideológica de direita.
Ouvimos, no passado, a esquerda a queixar-se vezes sem conta do mesmo de que esta direita agora se queixa em tom inflamado. Ouvimo-la usar até, sem qualquer efeito que se perceba, o mesmo discurso, por vezes, até a mesma linguagem que esta direita agora usa. Ouvimo-la reclamar a demissão do governo. Ouvimos tudo isto, mas não podemos nunca confundir as razões da queixa. Só poderemos lamentar a falta de eficiência do protesto de esquerda.
Neste momento estamos a assistir a um fenómeno absolutamente inaudito: ouvimos o discurso indignado da direita, cínica e despudorada, contra a política que andou a promover, por acção ou omissão, durante quase 40 anos!
Há, no que à esquerda diz respeito, qualquer coisa que me deixa perplexo. Anos a reclamar contra a política de desastre conduziram... à vitória da política do desastre! De anos a reclamar contra a política do desastre resulta que os responsáveis por essa política venham agora criticá-la. E receio mesmo, com fundadas razões, que será a "narrativa" da direita que ficará retida na mente dos portugueses. É o grito de Manuela Ferreira Leite contra o governo que vai ficar no ouvido. É a sua indignação que vai merecer a atenção das vítimas do desastre, não o grito do PCP ou do BE. Se Gaspar sair do governo não será em consequência da política desastrosa que os partidos de esquerda o acusam de estar a levar a cabo. Neste momento será sempre porque Amorim o exigiu.
Quem vai beneficiar politicamente do profundo descontentamento que a política do desastre está a gerar não será a esquerda, mas a própria direita que a provocou. Depois de se livrar das abencerragens que aterraram no poder dos respectivos partidos, a direita estará back in business.
A direita tem um património de credibilidade política que a esquerda não tem ou não quer ter, ocupada que tem andado certamente com problemas muito mais prementes...
Seria normal que as vítimas geradas pela política de direita seguida ao longo de todos estes anos, se virassem  para os adversários naturais dessa política e com eles congregassem esforços para a combater. Mas, não! A esquerda não conseguiu senão ganhos marginais entre as vítimas da política de direita, seus companheiros de jornada naturais. É a direita e a sua política, esta mesma ou travestida, que vai acabar por sair vitoriosa deste momento de provação.
Não admira que a direita não tenha aquele tombo nas sondagens que o desastre, o sofrimento, a crueldade e a insensibilidade social de que é acusada fariam prever. É a própria direita que se mostra mais eficaz a combate-la!
Quando fala em tom indignado contra a política de direita, é, paradoxalmente, a direita que tem a credibilidade para aparecer como paladina do combate à política que ela própria ajudou a implementar. Esperar mudanças políticas profundas e fiáveis desta direita que nos calhou em rifa é um exercício inútil quod erat demonstrandum, mas ela mantém intactas a sua credibilidade política e a reserva junto do eleitorado de que é capaz de o fazer. É no jogo democrático —que a esquerda recusa jogar em pleno— e na tibieza da esquerda que a direita ganha credibilidade política. Tudo o resto é folclore.
A ignorância, a ausência de cultura cívica e democrática, a iliteracia, a falta de sustentação profunda de que o inegável desenvolvimento gerado pela Democracia de Abril obviamente padece, apenas explicam uma parte de todo este problema. Um outro contributo não despiciendo é o que resulta do papel absolutamente de embrulho que a esquerda portuguesa vem cumprindo desde há anos. Uma esquerda frouxa que demonstrou até agora ser parte indevisível do problema, que joga o jogo da democracia da bancada e a feijões. Uma esquerda que representa bem o carácter merdoso das elites portuguesas.
Um traço que a direita —que consegue ser bem mais merdosa, mas que evidencia uma habilidade e uma aderência ao terreno de que a esquerda carece escandalosamente— parece ser tão bem capaz de parasitar.

2013/05/02

De morrer a rir


Há dias, alguém (certamente com sensibilidade delicada e digestões difíceis) me chamava a atenção para o tom "sério" deste blog. É tudo muito reactivo, muito "militante", muito grave, muito solene. A solução, segundo este sujeito, seria o humor. Temos de rir, rematava assertivo.
Pois bem, queres (querem) rir? Aqui vão então umas piadolas e outros tantos motivos para umas gargalhadas fartas.
O actual primeiro ministro submeteu-se ao veredicto popular com um programa que preconizava o contrário do que depois veio a ser executado? Ahahahahahah, é de partir o coco! O primeiro ministro comprometeu-se a nunca invocar as escorregadelas do governo anterior para justificar as suas incapacidades e não fez outra coisa desde que tomou posse? Ahahahahahah, estás a gozar! As metas que o primeiro ministro traçou —mesmo indo contra o seu próprio programa eleitoral— não foram cumpridas? Ahahahahahah, é demais, pára, pára! Passaram mesmo a metas volantes?! Ahahahahahah, assim não! Todos os índices que permitem avaliar a acção governativa demonstram o agravamento da situação que o próprio primeiro ministro considerava grave quando tomou posse? Ahahahahahah, eh pá estou quase a mijar-me a rir! Aqui há anos, uma taxa de desemprego de cerca de um terço da actual provocava a ira dos partidos, o cataclismo social e era motivo para queda imediata do governo? Ahahahahahah, por favor, mais não! E o governo prevê que essa taxa aumente para o ano, com mais 200 000 desempregados a invadir os centros de desemprego? Ahahahahahah, caraças, pára!! E a forma de combater este flagelo, mais os problemas "estruturais" da economia portuguesa, é aquilo que o Álvaro apresentou?! Ahahahahahah, nem me consigo conter! Ou "reestruturar a economia" é diminuir os encargos com a segurança social, despedir à vontade e diminuir o tempo de atribuição do subsídio de desemprego, ou mesmo acabar com ele? Ahahahahahah, ai que não aguento!! E, já agora, deixa-se morrer os velhos, termina-se mais cedo o fim dos doentes terminais, tira-se os remédios aos doentes sem remédio, não vão eles viver demais e locupletar-se com o xanax uma eternidade, e deixa-se os miúdos a cair de fome nas escolas, ou, melhor ainda, fecham-se as escolas, porque assim eles têm fome em casa e fica-lhes (e fica-nos!) mais barato?! Ahahahahahah, essa não!, é de partir o caroço!
Entretanto, a criatura de Belém limpa os cantos da boca, cospe um resto de bolo rei ainda escondido na dentadura, faz um ar de mestre escola e apela ao consenso para que se concebam mais medidas que prolonguem a enrabadela geral e funda de que os portugueses estão a ser vítimas? Ahahahahahah, não, não, não, pronto, já rebentei uma veia a rir!!
É oficial: doravante, aqui, por mim, é só rir!

2013/04/07

Um fim triste

Ficou hoje definitivamente claro que os portugueses são uma chatice para o Primeiro Ministro de Portugal. Ao dizer o que disse e ao usar o tom que todos pudemos testemunhar, Passos Coelho declarou-nos guerra e esta só pode ter um desfecho. É que nós somos mais do que ele.
Esta intervenção de hoje é, para além do mais, feita no registo da oração fúnebre de Relvas. O tom auto laudatório e, sobretudo, o alijar responsabilidades (a culpa para o Primeiro Ministro é sempre dos outros) têm a marca do amigo e sócio. E vejam o que acabou por lhe acontecer...

2013/04/04

Circo do PSD

O falso barítono, o auto-ventríloquo, o equivalente a trapezista e o domador de sardinhas em escabeche. Últimos espectáculos...!


Há dias assim...(2)


Custou, mas foi. O inenarrável Relvas demitiu-se. Resta saber se o fez de vontade própria antecipando uma remodelação governamental que se adivinha, ou se a isso foi obrigado, devido as revelações sobre a licenciatura turbo, na posse do ministro Nuno Crato. 
Seja como for (e ainda falta o parecer do tribunal constitucional sobre as novas medidas do OE) esta semana não tem corrido bem ao governo, ainda que este tenha sobrevivido à moção de confiança no parlamento. Há dias assim...

Relvas demite-se, governo rua!!!!


2013/03/31

Que os banqueiros nunca descubram o negócio dos colchões!


Há já algum tempo, estarão recordados, houve uma polémica em Portugal por causa do pagamento de pensões através de crédito em conta bancária. O governo de então instituiu essa obrigatoriedade para obviar o problema dos títulos de pagamento roubados e das pensões indevidamente levantadas.
Os bancos responderam de imediato cobrando custos de manutenção aos clientes que tendo sido obrigados a abrir conta para poderem receber a sua pensão, se viram, de repente, despojados de uma parte, para eles, muito significativa da sua magra remuneração em virtude do saldo não atingir o mínimo que os isentaria do pagamento desses custos. O abuso (que ilustra na perfeição o que é a banca comercial, qual a sua verdadeira natureza...) foi imediatamente corrigido, com o governo (por acaso, o de José Sócrates...) a instituir a isenção de custos de manutenção para estas contas e a obrigar os bancos a devolver as verbas que tivessem sido, entretanto, cobradas.
Vem isto a propósito das declarações do senhor Jeroen Dijsselbloem, ministro holandês das finanças, que, pelo que percebi, não mereceram a atenção que suscitou a entrevista de José Sócrates.
Disse ele, em tom indisfarçavelmente ansioso, que no futuro terão de ser os bancos, os seus accionistas e depositantes sem seguro de depósito, a assumir os riscos de financiarem os bancos com o seu dinheiro. O alerta foi dirigido a quem, na generalidade, confia o seu dinheiro aos bancos. Compreender o risco e agir de forma adequada seria assim o caminho para termos uma banca saudável, disse ele, mais palavra menos palavra. Os Estados, rematou, não poderão continuar a proteger a banca cada vez que esta se estampa em operações ruinosas. Disse isto e desdisse-o logo de seguida, tal terá sido o efeito que esta deflagração ocasionou no território do euro, embora sem, na verdade, se desdizer...
Dificilmente veremos os milhares e milhares de trabalhadores, reformados e pensionistas que recebem, se calhar contra vontade, as remunerações a que têm direito através do sistema bancário como “investidores” na banca. Mas, já se percebeu quem são sempre as primeiras vítimas das crises dos bancos. Dir-me-ão: mas, não, não é a estes que o senhor Dijsselbloem se dirige. Pois não, mas não estão livres deste problema e serão, seguramente, as suas primeiras vítimas.
É que, reparem, desta triste criatura não ouvimos nem uma palavra contra os banqueiros, financeiros e accionistas que cometem crimes contra a sociedade sem que alguém os detenha; nem um sinal de que os responsáveis pela catástrofe colectiva para que os povos europeus estão a ser empurrados serão duramente castigados; nem uma palavra sobre a obrigação de apertar o controlo da actividade bancária. Não! Pelo contrário: este palhaço prevê ipso facto e aceita como normal que esta situação volte a ocorrer. Quem pagará então as novas crises? Enquanto houver depósitos nos bancos e ordenados para penhorar, taxar e roubar, pelo que diz a Lei de Dijsselbloem, não serão os banqueiros.
Imaginem um exemplo com os serviços de águas. Imaginem que o fornecimento da água era interrompido porque os dirigentes destes serviços se abotoavam com a água toda, desviando-a para os seus depósitos particulares. Imaginem que, na falta generalizada da água, os consumidores eram obrigados a ir de baldinho na mão buscar água às nascentes para encher os depósitos públicos. Imaginem agora obrigá-los a pagar essa água, como se um serviço normal a tivesse fornecido e imaginem que por cada balde carregado iriam mais tarde obrigá-los ainda a deixar parte dessa água no depósito dos directores. É o que se está a passar com a banca. Andamos todos a deitar baldinhos de água nos depósitos dos banqueiros.
A “chiprelhada” irá seguramente espalhar-se a outros países e a solução que parece desenhar-se para a remediar irá ser sempre a que começou por ser tentada em Chipre, se a seita louca que tomou conta dos assuntos de estado na Europa não for corrida e se os seus povos não abrirem os olhos. A insegurança que os cidadãos europeus sentem e sua a falta de confiança nos políticos e instituições europeias nunca foram tão grandes. Aquele cavalheiro Schäuble (que parece estranhamente saído do filme Dr. Strangelove), aquele mesmo de quem Silva Peneda diz que “quer despertar fantasmas de guerra,” já veio, com o beneplácito do BCE, apoiar Dijsselbloem, pois então. Para que não restem dúvidas sobre quem anda a defender os interesses de quem e para que todos nós saiamos desta situação menos apreensivos e mais confiantes...
Enquanto assistimos, frustrados, a episódios como este da dupla Schäuble-Dijsselbloem, enquanto vamos vendo os indicadores europeus cairem para níveis inimagináveis, que trazem ecos da Europa pós-guerra a este século XXI, cresce a certeza de que nos espera o dilúvio se não pararmos estes dementes. Já se viu que nenhum ideal de democracia e justiça fará parar esta gente.
Entretanto, o colchão, esse eterno e sempre fiável conceito primordial da ciência económica, é, de momento, o único "produto financeiro" em que podemos verdadeiramente confiar.

Nota:
Alguns links interessantes:
Disciplina bancária, mera ilusão de ótica! 
O dinheiro como dívida

2013/03/28

Memórias do Subdesenvolvimento

Alguém imagina um país europeu, onde todos os canais de televisão têm, em permanência, políticos (comentadores) nos seus programas a comentar a actualidade política na qual eles próprios são parte interessada? Eu não conheço nenhum. A excepção é Portugal.
Reparem só: Marques Mendes (ex-ministro), Bagão Félix (ex-ministro), Jorge Coelho (ex-ministro), Francisco Louçã (ex-deputado), todos na SIC; Marcelo Rebelo de Sousa (ex-deputado),  Pedro Santana Lopes (ex-primeiro-ministro), Francisco Assis (ex-deputado), Fernando Rosas (ex-deputado), todos na TVI; Morais Sarmento (ex-ministro), José Sócrates (ex-primeiro-ministro), todos na RTP. Esqueci-me de algum? 
E os comentadores, propriamente ditos? Bem, esses também lá estão e são, claro, em maior número.  Mas, nesse caso, que estão eles lá a fazer, se os políticos controlam o espaço público e privado das estações que os contrataram como profissionais de opinião?  A única explicação é o clientelismo endémico de que padecem as sociedades subdesenvolvidas, onde as relações de patrocinato são um traço característico do atraso cultural em que estas sociedades ainda se encontram. 
As coisas são o que são e, enquanto não mudarmos esta mentalidade, não há estratégias de desenvolvimento que nos valham.

2013/03/23

Ao chão!

A deputada Teresa Leal Coelho acha que "não vamos deitar ao chão o percurso que já fizemos com sangue suor e lágrimas."
Está a senhora deputada redondamente enganada. Vamos deitá-la mesmo ao chão, com suor certamente, esperemos que com poucas lágrimas, e, sobretudo, sem sangue. Mas com grande aparato!

2013/03/20

Há dias assim...


De acordo com as notícias, hoje é “Dia Internacional da Felicidade”. 
Quer dizer, a ONU (who else?) declarou o dia de hoje como o Dia da Felicidade. Se a ONU achou por bem proclamar tal coisa, quem sou eu para contradizer uma instituição tão prestigiada?  
Porque está sol (afinal, começa hoje a Primavera...) e estou bem disposto, nada como ler as notícias, mesmo aquelas mais improváveis, pois desde há uns anos a esta parte que o Mundo passou a ser um lugar imprevisível e nunca estamos a salvo de surpresas, mesmo as mais improváveis. Até agora, e ainda o dia vai a meio, já foram três... 
Primeira surpresa: O parlamento cipriota rejeitou, por maioria absoluta e inequívoca, o plano de ajuda europeu a Chipre, que implicava a taxação dos depósitos bancários abaixo de 100.000 euros. Depois da Islândia (que não pertence sequer ao grupo do Euro) não me lembro de uma resposta tão clara de um país à chantagem das actuais instituições europeias.
Segunda surpresa: O Tribunal Cível de Lisboa pronunciou-se negativamente sobre a candidatura de Fernando Seara à Câmara de Lisboa, no seguimento de uma providência cautelar interposta pelo grupo de cidadãos “revolução branca”, contra a candidatura do presidente da Câmara de Sintra, após três mandatos consecutivos à frente de uma autarquia.
Terceira surpresa: O apartamento da Sra. Christine (FMI) Lagarde  em Paris, foi hoje objecto de busca por parte da policia francesa, devido a alegado envolvimento no branqueamento de capitais do Sr. Tapie, quando ela era ministra de finanças de Sarkozy. 
Dirão os leitores deste “post”: nenhuma destas notícias é algo com que nos possamos regozijar. É verdade.  Mas, como dizia o poeta: “algo és algo”. Ou já não se pode ser feliz?

2013/03/16

Um programa mal concebido


Soubemos hoje, após mais uma avaliação da Troika e da extraordinária comunicação do  ministro Gaspar ao pais, que nenhuma das previsões tinha sido atingida e que todos os indicadores determinantes (valor do défice, produto interno bruto, recessão e taxa de desemprego) tinham piorado. Isto, depois da última visita da troika, em finais do ano passado e das recentes previsões (em alta) do ministro colossal, em Janeiro deste ano. 
Como o disparate há muito deixou de ser quantificável, o “crânio” especializado em economia e finanças que dá pelo nome de Miguel Frasquilho, veio esta tarde ler um comunicado de imprensa onde dizia que “estas revisões deixam à vista de todos que o programa original apresentado em Maio de 2011 tinha sido mal desenhado, mal concebido, com projecções e efeitos que, sabemos agora, tinham pouca ou nenhuma adesão à realidade”.  Como? 
Esta gente ensandeceu, é apenas incompetente, ou pensa que as pessoas andam a dormir? 
Então não foram os partidos desta coligação que, juntamente com o PS, é bom lembrá-lo, assinaram o Memorando em 2011 e que tudo fizeram nestes últimos dois anos, para “ir além da troika” como, muito ufanos no seu papel de bom aluno da Alemanha, sempre afirmaram?
Não fosse a trágica dimensão desta crise, que nos vai conduzir, no curto prazo, a um ponto de não retorno e a uma situação sem paralelo nas últimas décadas, quase dava vontade de rir tanta idiotice junta.  Infelizmente, é verdade. 
Pior ainda, porque mais trágica, foi a completa subserviência da comunicação social portuguesa nesta encenação lúgubre, em que não ouvimos uma pergunta critica sobre a “má concepção” deste programa que nos andam a impingir. Perante esta complacência acrítica, é de recear o pior. Toda esta gente mete nojo.