2010/06/19

Fuso Luso 6


A 64º de latitude, estou nos limites da "ocidentalidade" a norte. Se continuasse a percorrer este meridiano em que me encontro, desse o pequeno passo que falta para ultrapassar a latitude 90º e me desviasse uns 70º para a minha direita, iria com toda esta facilidade e por uma via muito mais curta (se os navegadores soubessem...) tombar no outro lado, num outro norte, situado nas mesmas latitudes da ocidentalidade, mas com diferenças maiores do que a simples diferença entre o dia e a noite. Deste lado de cá não percebemos que há ali  uma vantagem ancestral. É aquele lado que primeiro vê o dia nascer. Eles sabem isso, sabem  a vantagem que têm e demonstam uma paciência sábia perante a nossa impaciência atrevida.
Ainda assim, apesar de percorrermos outras longitudes, continuamos a falar de norte. Se continuarmos, porém, a progredir ao longo deste mesmo meridiano em que me encontro (se os navegadores soubessem...), à queda do norte ocidental num norte oriental juntar-se-ia o trambolhão no sul. Onde nos vamos estatelar todos a sério!
Nestas latitudes remotas onde me encontro percebe-se melhor o quanto a ocidentalidade vive auto-convencida e alheada destas verdades meridianas.
Quando acordar arrisca-se a ser tratada com o mesmo respeito que Johan Ludvig Runeberg --o poeta nacional da Finlândia, representado na estátua da foto-- merece à gaivota nela pousada.
Não foi Gandhi que disse, a propósito da "civilização ocidental", que achava que seria uma boa ideia...?
E Portugal? Como vai lidando com todos estes problemas? Na região do fuso luso, esta dança dos quadrantes vai sendo tratada com a costumeira "astrolábia" dos dirigentes políticos, navegadores de águas chocas, desconhecedores do regime dos ventos, da força das marés e das regras da mareação actual. A marujada, por seu turno, opta pela arte da navegação solitária, já que ninguém a consegue mobilizar para um rumo comum. E como navegar é (continua a ser) preciso, toca de levantar ferro.

2010/06/18

José Saramago (1922-2010)

"A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu"

(em "As Intermitências da Morte", 2005)

2010/06/16

Fuso luso 5

É impossível não ficar esmagado pela paisagem vista aqui da montanha de Koli. Uma paisagem que é enjoativa de linda. São onze da noite e o sol brilha. Esmagado pela paisagem (não me esmagam facilmente!), baralhado pelo sol da meia noite e pela estafa da viagem, ainda tento perceber a verdadeira natureza destes finlandeses, as linhas que separam a Nokia da total e generalizada incompetência dos funcionários do aeroporto, a fronteira entre o acolhimento quente e jovial e os silêncios gélidos e prolongados (quem não ficaria silencioso e gelado perante a imensidão desta beleza?), a divisória entre a internet que jorra generosamente à borla por todo o lado e a televisão cobrada nos quartos do hotel a preços exorbitantes.
Sibelius passou por Koli e inspirado certamente, como eu fiquei, por uns retemperantes 6º C ao meio dia a meio de Junho, escreveu a sua 4ª sinfonia.
Não sei se vou conseguir arranjar tempo para escrever a minha quarta sinfonia, porque ainda me falta escrever as primeiras três, mas que estou inspirado lá isso estou.

2010/06/11

I've got a feeling

Começou o "circo" e os prognósticos, nesta altura do campeonato, não podiam ser piores.
Se o apuramento para a fase final já tinha sido "arrancado a ferros", o que se seguiu apenas confirmaria as piores impressões: uma selecção constituida por jogadores em baixo de forma, lesões preocupantes, um seleccionador sem soluções para lugares-chave da equipa, um estágio "morno" na Covilhá, fracas prestações nos jogos de preparação e uma forma física decepcionante. Às críticas da "bancada", o verdadeiro treinador respondeu sempre fleumaticamente, afirmando sermos os "maiores" e que vamos prová-lo no hemisfério sul. Mal tinhamos chegado a África e já o nosso melhor acrobata (duplo salto com flic-flac) tinha partido a clavícula. No meio deste "karma" lusitano, nem os jornalistas do "bungalow" conseguiram escapar. Valeu estarem já a dormir, o que ajuda sempre nestas situações.
A esperança renasceu esta semana com a infelicidade do Drogba, mas hoje os noticiários passavam em roda-pé que, afinal, sempre vai jogar contra Portugal. Quem parece não acreditar nos "navegadores" é o Toni, que preferiu ser "olheiro" a "patrioteiro", segundo a velha máxima "trabalho é trabalho, cognac é cognac".
O que é que ainda faltará acontecer à selecção? Não sabemos. Já provámos que somos sensíveis às "vuvuzelas", pois ninguém parece ouvir nada dentro do campo. Daí, a razão de cada um jogar por si. Pode ser que seja essa a táctica. Os adversários estão à espera de um modelo de jogo e nós ainda andamos à procura dele. Às vezes, dá resultado.

A ascensão asiática

2010/06/07

O jazz no centro

Terminou a oitava edição do Jazz ao Centro, Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra. Não conheço as estatísticas mas estou certo que foram mais um retumbante sucesso os Encontros deste ano.
Mais um êxito porque, em primeiro lugar, a persistência da equipa liderada pelo Pedro Rocha Santos conduziu a um caso de sucesso que é, em si, um facto digno de assinalar. Organizar (uma máquina a organização deste JaC!) ao longo de todos estes anos um festival com esta dimensão, sem quebras de qualidade e transformar o seu figurino, ampliando-o, dando-lhe uma dimensão nacional e impondo um carácter ainda mais transcendendente, através, nomeadamente, das suas publicações, das suas exposições e de uma dimensão pedagógica, única nas iniciativas desta natureza levadas a cabo no país, é um feito assinalável que merece enorme destaque.
Mas, é também um êxito porque, ao cuidado na programação e nas condições técnicas de produção, junta-se uma coisa única que eu creio que também ajuda o evento a destacar-se de eventos da mesma índole, que observamos no panorama nacional e internacional: apetece ouvir e tocar música no JaC.
A atmosfera gerada em Coimbra pelo JaC, a hospitalidade, o cuidado posto pela organização no acolhimento dos seus espectadores e convidados e nas condições proporcionadas a todos, a magia que circula no ar, ajudam a criar um evento sem paralelo, que transborda de vibrações positivas e em todos deixa uma marca de grande optimismo e alegria. Pela minha parte, o meu público obrigado. Que se mantenha este Jazz ao Centro por muitos e bons anos! Venha 2011!

2010/06/05

Os "mercados"

"Estranha modernidade esta que avança às arrecuas", escrevia o Subcomandante Marcos, há mais de 15 anos, num artigo chamado "A quarta guerra mundial já começou".
Ontem as bolsas cairam depois de se saber que, entre outros problemas, o emprego nos E. U. A. não cresceu o que se esperava. Estranha reacção esta: os investidores não investem, o desemprego mantém-se e esses investidores, que têm o poder de criar empregos, castigam as bolsas porque… o emprego não cresce!
Os estados que continuem com a tarefa de sustentar o desemprego, originado por uma crise criada, por sua vez, pela actuação dos investidores! Os estados que continuem a aumentar a sua "dívida soberana" para sustentar a "crise", diminuindo com isso as classificações das agências de "rating".
Agências de rating, essas instituições pardas que ninguém elegeu, mas que exercem um controlo fatal e total sobre os eleitos das democracias representativas, condicionando a vida dos eleitores. Agências de rating que estão fora do sistema democrático, incontroláveis e inimputáveis, cujos desaires, porém, os eleitores têm de pagar para não haver agitação sistémica...
Neste momento os "mercados" encontraram um negócio muito melhor do que investir para criar novos negócios que dêem origem a novos empregos: vender dinheiro mais caro aos estados para estes controlarem o défice provocado pelas desmandos…  dos "mercados". Um desenvolvimento que seguramente ilustra na perfeição o comentário do Subcomandante Marcos.
Está na hora de abandonar a fase do patriotismo primário e de explicar aos cidadãos o verdadeiro significado de expressões como "estado soberano" e "democracia". Não é questão de somenos nestes tempos de globalizações.

2010/05/31

Da semântica "socialista"

Contrariando a opinião de parte significativa dos seus militantes, a comissão política do PS acabou por anunciar Manuel Alegre como o candidato do partido às próximas eleições presidenciais. Nada que não se esperasse.
Que a escolha nunca foi consensual ficou logo bem patente nas reacções de alguns intervenientes na sessão do largo do Rato.
Desde logo, o maçónico Ramalho, que saíu mesmo antes da votação ter sido efectuada, certamente para mostrar o desagrado da facção soarista que nunca escondeu a afronta de 2006. Depois, a deputada Marta Rebelo (quem?) uma jovem aquisição da bancada "socialista", que foi mesmo mais longe ao declarar que nunca apoiaria Alegre por este "ter-se aproximado perigosamente da esquerda" (!?). E, finalmente, o próprio Sócrates que, mostrando um sorriso amarelo, lá foi dizendo que apoiava Alegre por este ser "progressista". Progressista?
Este é o estado de um partido onde, após cinco anos de despolitização continuada (foi para isso que serviu a tão proclamada "terceira" via) já nem os responsáveis ousam utilizar a palavra "esquerda". Saberá este geração de dirigentes que o Partido Socialista é, supostamente, de esquerda? Duvidamos. A lavagem ao cérebro, durante o reinado do grande líder, deve ter sido tão grande, que nem eles próprios se apercebem da vacuidade do discurso que utilizam.
Com "amigos" destes, Alegre não necessita de inimigos. Vai, muito provavelmente, perder estas eleições como, de resto, já tinha perdido há cinco anos atrás.

2010/05/30

Eleições já!

Há muito, confesso, que não ia a uma manifestação. Mas, ontem lá desci a Avenida com todo o gosto, juntamente com o RM e estive ao lado de quem eu mais gosto de estar. Não sei se foram 300 000 se foram apenas 150 000, pouco importa.
Para mim estão claríssimas três coisas na actual conjuntura, como sói dizer-se. Primeiramente, este governo está a mais. Por mais voltas e retórica que tentem despejar por cima da evidência, é claro que este governo já devia ter ido à vida há tempo demais porque não serve para resolver o problema que temos, antes o complica. Por trapalhadas bem menos graves, por incompetência bem menos óbvia já outros governos foram para o caixote de lixo da história. Cada minuto que passa com este primeiro ministro à frente deste governo é um minuto a mais de agravamento de uma pena que os portugueses não merecem.
Em seguida --o corolário afinal deste argumento-- este Presidente da República é a causa de uma série de padecimentos pelos quais os portugueses estão a ser obrigados a passar. O PR tem todas a prerrogativas para agir. Não o fazendo tornou-se parte do problema. Uma minoria, um governo minoritário, um presidente é uma fórmula que, temos de convir, não serve o país e agrava o nosso problema. Nem quero imaginar que a ausência de acção por parte do PR se fique a dever a uma agenda pessoal escondida. Ao menos que esta inacção presidencial se fique a dever à inépcia política que todos lhe reconhecemos.
É para mim também, finalmente, claro que nenhum dos protagonistas explícitos ou implícitos desta jornada --PR, PM e o seu governo, AR,  centrais sindicais (a presente e a ausente) e restantes parceiros sociais -- que o futuro do país é neste momento uma questão que não parece suscitar preocupação por aí além. Ora, ou o eixo da acção de todos passa a ser claramente o desenvolvimento e a alteração do actual paradigma social e económico em que o país vive, ou Portugal vai ter de ceder a sua concessão a existir e, tal como o concebemos, vai desaparecer a prazo.
Que se lixe a "crise", que a pague quem a provocou. Do que nós precisamos é de mudar, senhoras e cavalheiros.
Precisamos de mudar...! Comecemos por mudar os governantes.
Comecemos por eleições

2010/05/24

A ouvir e ver atentamente...

O "abafador"

No tempo em que as crianças ainda brincavam com berlindes, havia sempre alguém que aparecia com uns berlindes maiores e mais coloridos que davam pelo nome de "abafadores". Quem possuía um "abafador", tinha o "direito" de roubar os berlindes monocromáticos que valiam "menos".
Nos tempos modernos, as técnicas de "abafamento" tornaram-se mais sofisticadas e são, agora, justificadas com o argumento jurídico da "acção directa".
Ricardo Rodrigues, agindo directamente perante as câmaras, furtou dois gravadores a jornalistas em pleno Parlamento e resolveu entregá-los ao Tribunal, como prova da pressão psicológica a que supostamente estava a ser submetido.
Acontece que - a acreditar nas notícias - os gravadores desapareceram. Ou, estão em parte incerta, o que vai a dar ao mesmo. Não sabemos o que aconteceu aos gravadores, mas sabemos, porque vimos, como eles foram furtados.
Perante tais evidências, pergunta-se o cidadão comum, com razão, quem o protege da lei do mais forte que, pelo simples facto de pertencer ao partido do governo, pode "abafar" a propriedade alheia e não ser perseguido por isso.
Porque das duas uma: ou a cleptomania deixou de ser crime punível por lei e, a partir de agora, qualquer pessoa pode "abafar" o que lhe der na real "gana"; ou o senhor Rodrigues, tem de ser acusado daquilo que ele é - um ladrão - e, como tal, prestar contas do furto que praticou.
Que o deputado do PS não tenha dignidade para se demitir, já é grave. Que o partido ao qual pertence não o demita, é uma ofensa a todos os votantes que escolheram estes deputados para os representarem. Haja vergonha!

2010/05/21

O baile de máscaras

Hoje foi dia da discussão e votação da moção de censura. O PS obteve uma vitória de espirro. Uma vitória constipada, quero eu dizer. Vem aí a pneumonia, quer eles queiram, quer não. Há-de-lhes cair a máscara, raios me partam!
Falando de máscaras, foi interessante ver os deputados do PS a bater palmas ao chefe, submissos, soltando balidos, envergando aquela máscara de carneiros que tão bem lhes assenta. Foi também interessante ver o PSD com aquelas máscaras duplas. Pela frente, o PSD refilão, que se finge alternativa. Por trás, o PSD oportunista e rasteirinho, sem querer, sem poder ou sem saber utilizar a ocasião soberana que tem pela frente de se tornar uma alternativa real a esta seita miserável que vai mantendo o país estabilizado entre a denegação do escândalo e o presupuesto marketing. Foi e é sempre giro, sei lá, e fresco ver o CDS com a sua máscara de esquerda. Como já viram que se for pela direita não conseguem a ultrapassagem, toca de ultrapassar pela esquerda. Se aplicássemos o Código da Estrada à prática política a acção do CDS estaria dentro das regras. Assim, a esquerda ri-se, a direita reza...
Uma palavra para os partidos de esquerda da AR. O BE usa uma máscara que não se entende bem qual é. Uma máscara que é uma espécie de direito e de avesso ao mesmo tempo. Bem podiam descobrir o rosto e assumir responsabilidades. Que diabo, há lá gente com idade para ter juízo...! Está na altura do desmame. Vamos lá apagar o charro e fazer qualquer coisa mais consequente... O PCP, que tem tido uma actuação política verdadeiramente inenarrável ultimamente, fez, por uma vez, aquilo que tinha de ser feito: apresentou a moção de censura. Era a única resposta possível às malfeitorias que o governo tenta fazer aos portugueses. E a única resposta possível, responsável e coerente dos críticos deste governo era votar a favor! Quem o não fez desmascarou-se. Tem razão o primeiro ministro: uma moção de censura destina-se de facto a derrubar o governo. É isso que Portugal deseja, o PC interpretou bem este sentimento e este governo PS há-de caír seja lá de que maneira for, com mais ou menos estrondo. O PCP tirou a máscara e assumiu-se de cara lavada. Tem razão Jerónimo de Sousa: rompeu-se o contrato celebrado entre os portugueses que votaram PS e o partido. Como aqui escrevi há oito dias, isso de facto só pode conduzir a eleições.
O que nos leva à máscara final. A do amador de joker Cavaco Silva. Então ó senhor Presidente o país precisa de estabilidade?! De qual, desta que estamos a viver?! E precisamos de combater o flagelo número um que é, todos o reconhecemos, o desemprego?! Mas, como?! Com "estabilidade"? Sem programa? Sem política? Com roteiros? Tire a máscara senhor Presidente da República: por menos do que aquilo que agora se está a passar já outros primeiros ministros foram convidados a saír do baile. Se tiver coragem, demita este primeiro ministro, crie um governo de iniciativa presidencial que se reuna na sede própria (na sede da Presidência do Conselho de Ministros e não na sede da Presidência da República) e convoque eleições. A gente encarrega-se de votar, descanse. Nós não queremos estabilidade, queremos clarificação! E competência.
Ou então vai ter de arranjar uma maneira de explicar aos tais desempregados, pelos quais subitamente os bem empregados vertem tantas lágrimas, que quando faltar o pãozinho na mesa, basta a "estabilidade" proporcionada por este governo para saciar a fome.

2010/05/18

Esquizofrenia

Pacheco Pereira ouviu as escutas e declarou hoje, na Comissão de Inquérito, que o material escutado é de uma de gravidade extrema e comprova a tentativa do governo em silenciar a TVI.
Perante esta afirmação, Ricardo Rodrigues, um homem conhecido por não gostar de gravadores, replicou que as escutas - em tanto que material de prova - são ilegais, pelo que se trata de uma violação da justiça.
Temos, assim, provas em escutas e escutas que não podem constituir provas. Uma situação completamente surreal, uma vez que a Comissão solicitou as gravações, o que foi aceite pela Procuradoria da República e, agora, que as gravações podem ser escutadas, os deputados do PS dispensam a sua audição e refutam as conclusões de quem as escutou.
Quem é que, afinal, não está interessado em conhecer a verdade?

2010/05/17

Portunhol

Já conheciamos o inglês "técnico" da Universidade Independente, mas não sabíamos que também existiam cursos de "portunhol" para primeiro-ministros, "pero, se necessitan dos para bailar el tango, no?"
Felizmente, muitos dos presentes estavam a dormir...
Foi hoje em Madrid e o sucesso, segundo Rosa Veloso, foi enorme. "Vale!"

A Comunicação

Há já algumas horas que está a passar em roda-pé nos principais canais televisivos o anúncio de uma comunicação, do Presidente da República, a ser transmitida em horário nobre. Será logo à noite e o assunto é a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Que motivo poderá levar a presidência da república a anunciar, com tanto destaque, uma comunicação à nação sobre tal tema? E logo no dia contra a homofobia.
Imagino que Cavaco, na "dúvida", se tenha aconselhado com o Papa. Quem melhor do que o chefe da igreja católica para o elucidar?
Aguardo uma comunicação a justificar um veto da lei. Uma lei que o próprio presidente já considerou "fracturante". Espero estar enganado.

Adenda: Afinal, Cavaco Silva, promulgou o diploma. Por motivos "éticos", claro.

2010/05/16

Eleições (3)

Não percebo por que razão a palavra eleições incomoda tanto, tanta gente hoje em dia em Portugal... E não percebo por que raio não pode haver eleições antecipadas.
Repito o que já escrevi aí mais para baixo: alguém desejaria que, depois de lhe roubarem a casa, fosse o ladrão a mudar a fechadura?
Quando é que os arautos das "mudanças estruturais" querem que se mude de facto de paradigma em Portugal? Quando os actuais esbirros do regime estiverem já instalados no novo paradigma?

Baltasar Garzon

Pelo que se passou em Espanha com o juiz Garzon e tendo em conta o tipo de gente que ele incomodou com os processos que levantou, se percebe que a escumalha fascistóide não anda a dormir e que democracia é uma palavra com picos ainda para muita gente.

2010/05/14

Eleições (2)

Deixar que eventuais medidas para controlar o descalabro das contas públicas e da economia portuguesa em geral sejam feitas pelas mesmas pessoas que as deixaram chegar a este estado é o mesmo que ter a casa assaltada e pedir aos ladrões para mudarem a fechadura...
Está na hora de aqueles que têm andado a criticar a governação tomem agora a iniciativa para alterar este rumo.

2010/05/13

Eleições (1)

As medidas aunciadas hoje pelo governo deveriam conduzir à sua destituição imediata. Tornou-se, a partir deste momento, um governo ilegítimo. A oposição não merece qualquer confiança. As reacções dos partidos de direita são patéticas. As dos partidos de esquerda dão vontade de rir. O PR já devia ter tomado uma posição, mas anda entretido com o Papa. Com toda essa azáfama, resta-lhe, compreensivelmente, pouco tempo para atender aos assuntos sérios do país.
Chegámos a um beco sem saída ao persistirmos nesta solução política. Não se trata de discutir se há ou não TGV, ou se se implementa ou não o PEC. Trata-se de destituir estes políticos!
Os portugueses têm, pois, o direito e o dever de exprimir claramente o que querem que se faça para mudar o rumo dos acontecimentos, já que tudo aquilo que foi feito até agora deu nisto que se sabe. Os portugueses --os portugueses que sustentam tudo isto-- têm o direito e o dever de exprimir o que querem para o seu futuro, uma vez que o contrato democrático que foi estabelecido com todas as forças e personalidades que dirigem os destinos do país foi desvirtuado. Estes políticos têm de obedecer àquilo que os portugueses ordenarem.
Eleições JÁ!

Na Cova dos Leões

"Este livro é porventura um dos mais emblemáticos textos "subversivos" impressos em Portugal durante o salazarismo. Foi escrito por um republicano racionalista e livre-pensador abjurado pela Igreja Católica e pelo regime autoritário e "catolaico" do Estado Novo. Depois, a democracia nascida da revolução de 25 de Abril de 1974 acabou também por o ostracizar"(...)"O livro mais anticlerical de sempre, que desmonta e denuncia a grande e espectacular mentira de Fátima, humilhando a Igreja e a padralhada em geral"

("Na Cova dos Leões", de Tomás da Fonseca, Editora Antígona, 2009)

2010/05/12

Os portugueses, esse povo manso...

Teixeira dos Santos, antecipando as medidas que o governo se prepara para anunciar, disse hoje esperar contestação social, mas não violência, que os portugueses não são como os gregos...

2010/05/11

Peixes, cardumes e pescadores

Nestes dias que correm, ameaçados de novo pelas poeiras do Eyjafjallajökull (ou era isso ou a economia grega ou vulcão islandês, não havia safa possível!), percorro as estradas à volta aqui da minha terra e vejo hordas de peregrinos que se dirigem, com passo decidido e olhar determinado, para Fátima, imagino eu.
Observo-os há vários dias. Estão entre o campista e o jogger. Vestem coletes daqueles reflectores para o carro, roupa sem marca explícita, ténis, uma mochila ou um bornel e muitos andam com um cajado ou bordão (o que será...?), decorado com uns penduricalhos que não consigo distinguir. Não percebo porquê, mas a indumentária masculina inclui frequentemente camuflados e uns chapéus a fazer lembrar o Crocodile Dundee.
Caminham para ir ver o Papa certamente. Caminham muitas vezes em grupo, vão-se juntar a um outro -- previsivelmente -- grande grupo, mas querem sobretudo a salvação individual.
Tirando o 1º de Maio de 1974, nunca vi, antes ou depois, caminhadas colectivas ou grandes ajuntamentos em Portugal, organizados ou espontâneos, com o objectivo de contribuir para o País, como se de um grande colectivo se tratasse. Não há grandes movimentos colectivos de mobilização geral para a salvação colectiva.
Os católicos ajoelham e rastejam perante a possibilidade de salvar a alma, falam com ar compungido da "nova pobreza", alarmam-se com a crise, mas revelam-se totalmente incapazes de se organizarem para colectivamente, enquanto força com expressão social significativa, lhes darem combate. Só lhes interessa a solução individual. Afinal a norma é ajudar "os outros como a ti próprio", não da forma que os outros precisam, mas como tu próprio desejas para ti...
Ouvimos repetidamente -- já sem ligar muito, é certo -- o slogan "Portugal país predominantemente católico", mas nem o facto de o catolicismo ser, alegadamente, a confissão dominante entre a população portuguesa dá a este grupo um sentido de solidariedade que lhe permita ver para além da salvação própria.
Haverá excepções, mas o objectivo procurado, mesmo nos movimentos de solidariedade católica que ainda vão fazendo alguma coisa em prol do colectivo, é sempre o de encontrar a via individual para o tal mundo melhor. Oferecem peixes, sentem-se confortados por oferecerem peixes, mas são raríssimos os movimentos católicos que ensinam a pescar. Uma confissão implícita, afinal, da vacuidade deste cardume. Uma réplica do milagre da multiplicação dos peixes, agora em versão 3D.
Escrevia estas linhas quando, por coincidência, me chega uma nota sobre a publicação de mais uma "Dear Colleague Letter" de Yi-Fu Tuan, o geógrafo americano de origem chinesa de quem já aqui tenho falado várias vezes. Nesta última intitulada "Bobby, the last Kantian in Nazi Germany", Tuan pergunta se a Ética é ou não acerca do outro. Lembra que na tradição hindu e grega a acção se centra na salvação pessoal. Na tradição judaico-cristã, pelo contrário, o foco aponta na direcção do outro. E o outro é o estranho total, nem sequer o vizinho ou mesmo o familar. Nesta tradição, porém, à medida que o individualismo ganha quota de mercado, o outro desvanece-se, cada vez de forma mais ténue.
Com o País em êxtase perante a resplandecência do Santo Padre e com o Presidente da República a ajudar à missa, totalmente incapaz de reunir o rebanho, os princípios da tradição judaico-cristã foram-se definitivamente. A crise segue dentro de momentos.
Que se lixe o outro. Entre cinzas e "mercados",  na melhor tradição grega, tratemos mas é de salvar a alminha.

O livro do dia

Se a visita do Papa lhe estragou o dia e não tem programa para hoje, poderá sempre aproveitar para fazer uma visita à feira do Livro de Lisboa.
Entre as muitas curiosidades, e no âmbito do périplo papal, a editora Antígona está a promover o livro "Na Cova dos Leões" de Tomás da Fonseca (1958).
Trata-se de uma obra polémica e corajosa, escrita por um livre pensador republicano, onde é desmistificado o negócio de Fátima. O livro esteve proibido durante o regime salazarista e acabaria por esgotar após o 25 de Abril.
A actual edição, de 2009, está à venda no Pavilhão da editora Antígona. Se lá for, pagará apenas 11,90euros em vez dos 19,90euros habituais.
Há males que vêm por bem...

2010/05/08

Os números do desespero

Em conversa com alguém que trabalha na área da sociologia da medicina, foi-me revelado que é particularmente significativo o número de casos de suicídio ou tentativas de suicídio registados ultimamente. Pelo menos um caso por dia, dizem-me, aparece no banco de um hospital da zona da Grande Lisboa. Num só dia desta semana, foram quatro os casos de tentativas frustradas de suicídio. Gente nova, gente de meia idade e idosos, homens, mulheres, aparece de tudo.
Não sei se se trata de uma situação particular, não sei se as estatísticas confirmam aumento, estagnação ou diminuição do número de suicídios e de tentativas de suicídio relativamente a anos anteriores, não sei se existe algum estudo que esclareça esta situação, corrobore os número ou explique a natureza deste fenómeno. Sei que não será caso "rotineiro" porque terá levado os médicos a estranhar este surto e sei que, em valor absoluto e, em qualquer circunstância, quatro casos de tentativa de suicídio num só dia, num banco de um hospital, não parece ser coisa boa.
Os tempos vão maus, a incerteza perante o dia de amanhã nunca foi tão grande, a falta de soluções é gritante, os horizontes encolhem a cada hora, as desiguladades de oportunidades, a descriminação e as diferenças de tratamento entre os portugueses constituem matéria para procedimento criminal. Há quem derrame lágrimas de crocodilo pela "nova pobreza", há quem se aproveite dela e há quem tenha o poder para a atenuar ou erradicar, mas prefira perpetuá-la por forma a manter privilégios obscenos ou para obedecer a critérios "políticos" nojentos e mesquinhos.
E há quem sofra tudo isto na pele. E haverá seguramente quem, no desespero que resulta de ter de lidar com todos estes problemas opte pelo suicídio. É profundamente triste, mas não é coisa que nos possa, em boa verdade, deixar muito supreendidos.
Isabel Jonet, que dirige o Banco Alimentar, diz, com toda a razão, que atenuar o sofrimento dos pobres (dos novos e dos de sempre, digo eu) não nos deve desviar do objectivo único: acabar com a pobreza. E ilustra o absurdo a que se chegou, chamando a atenção para as recentes medidas relativas ao subsídio de desemprego, desmontando a sua "lógica" verdadeiramente criminosa, que --é mesmo caso para dizer-- se não fosse verdadeiramente trágica, daria uma enorme vontade de rir.
Esperemos, já agora, que tudo isto não perturbe demasiadamente o sono dos responsáveis políticos que conduziram e conduzem o país a este estado.
Os jornais noticiam, entretanto, que aumentou a segurança de certos políticos com medo de algum problema. Não vá algum candidato a suicida enganar-se e, no seu desespero, "suicidar" a pessoa errada...

2010/05/06

A Corporação

Passadas mais de 24 horas sobre a transmissão das imagens que mostram o furto de dois gravadores por um deputado do PS em pleno parlamento, o partido que mais se reclama da ética republicana continua a defender um acto indefensável, qualquer que seja o ponto de vista em que nos coloquemos. De Soares a Assis, de Gama a Maria de Belém, todos procuram uma justificação para algo que deviam ser os primeiros a condenar. Chega a ser patética esta forma de corporativismo, só possível em países com um fraco nível de tradição democrática e onde os detentores de cargos públicos confundem o poder que representam com absoluto poder. Em qualquer democracia avançada, Ricardo Rodrigues, caso não tomasse a iniciativa de pôr o lugar à disposição, seria obviamente demitido, única forma de preservar a honra da sua bancada. Ao recusar criticar explicitamente o seu deputado, o Partido Socialista não só não contribui para melhorar a imagem de um parlamento desprestigiado, como mostra o seu lado mais tenebroso: o de uma agremiação com tiques mafiosos que não olha a meios para atingir os seus fins. Quem pensa esta gente que é?