2011/05/15
Pentelhos e Coelhos
Enquanto os Leites, Ferreiras e Nogueiras, peroram, o Jardim poncha, o Marcello recadeia, o Durão amolece lá ao longe, o Cavaco se prepara para gozar dos rendimentos, o Santana continua por aí, o Menezes manda recados lá do norte, o Relvas apara os golpes, o Rangel homilia, Macedos e Frasquilhos têm dias, a Teixeira da Cruz se mostra consoante muda e o Arnaut se revela vogal surda, sim, enquanto isso, o PS sobe nas sondagens e o Catroga acha, com toda a legitimidade, que andam todos a discutir pentelhos. Na realidade deviam andar a discutir Coelhos, essa variedade capilar nunca devidamente glosada...
Inside job 2
A notícia da detenção do director do FMI, por alegada tentativa de violação de uma empregada num hotel novo-iorquino, não sendo um "unicum" no currículo de Strauss-Kahn (anteriormente condenado por assédio sexual de uma assistente) é demasiado grave para passar em claro. Desde logo pelas repercussões que este caso terá em França, onde Strauss era apontado como um potencial candidato à presidência francesa, mas também em relação à instituição que preside, da qual terá, obviamente, de se demitir.
Não deixa de ser irónico que o FMI, uma organização conhecida por reformas violadoras da soberania financeira dos países que supostamente "ajuda", tenha à sua frente um CEO "violador". É caso para dizer que o "trabalho sujo" começa a ser feito dentro de casa.
Não deixa de ser irónico que o FMI, uma organização conhecida por reformas violadoras da soberania financeira dos países que supostamente "ajuda", tenha à sua frente um CEO "violador". É caso para dizer que o "trabalho sujo" começa a ser feito dentro de casa.
2011/05/14
Leituras para o Pentecostes
Duas leituras para o fim de semana. Falam do mesmo tema, cada um no seu modo, e se juntarmos o post do Rui Mota de ontem aqui no Face, já temos aqui um dossier que dá que pensar...
O primeiro que recomendo é (mais) um do meu amigo Fernando Mora Ramos, chamado o "O enterro do conceito". Encontrá-lo-ão aqui. O segundo que queria igualmente distinguir é de São José Almeida, chama-se "A Contra-Reforma" e saiu hoje no Público. Para o lerem podem aceder a este link, se forem assinantes do jornal, ou dirigirem-se ao vosso quiosque e comprar a edição de hoje.
Por que razão, para ler os comentadores cujas opinões dão que pensar, temos de pagar enquanto os imbecis nos chegam à borla e em catadupas pela televisão e pela rádio, quer a gente queira, quer não...? É por estas e por outras que hesitei muito antes de decidir se digitalizava o artigo ou não e o publicava aqui.
O primeiro que recomendo é (mais) um do meu amigo Fernando Mora Ramos, chamado o "O enterro do conceito". Encontrá-lo-ão aqui. O segundo que queria igualmente distinguir é de São José Almeida, chama-se "A Contra-Reforma" e saiu hoje no Público. Para o lerem podem aceder a este link, se forem assinantes do jornal, ou dirigirem-se ao vosso quiosque e comprar a edição de hoje.
Por que razão, para ler os comentadores cujas opinões dão que pensar, temos de pagar enquanto os imbecis nos chegam à borla e em catadupas pela televisão e pela rádio, quer a gente queira, quer não...? É por estas e por outras que hesitei muito antes de decidir se digitalizava o artigo ou não e o publicava aqui.
2011/05/13
Coisas simples de perceber
Portugal entrou hoje, oficialmente, em recessão técnica (dados do INE). Uma notícia esperada, que o ministro da economia (Vieira da Silva) logo veio desvalorizar com o fantástico argumento de que estas coisas são naturais em época de crise económica.
Simultaneamente, vamos sabendo que os juros a pagar pelo empréstimo de 78.000 milhões de euros, rondam os 30.000 milhões, a taxas de 5% e mais por cento. Ou seja, um total de 110.000 milhões de euros que ninguém sabe muito bem quando serão pagos, com uma economia a crescer a menos de 1% ao ano.
Hoje mesmo a Agência Bloomberg concluia que Portugal não terá condições para pagar esta dívida, opinião que confirma a análise da Standard & Poors de há dias e da maior parte dos economistas nacionais e internacionais de renome.
O mais provável será Portugal chegar a 2013 com os juros pagos e - como a economia não crescerá mais do que 2% - entrar de novo em recessão e ser obrigado a pedir mais dinheiro para pagar a dívida que, entretanto, contraiu...
Como sabemos da Grécia e da Irlanda, a terapia de choque aplicada pelo FMI e pelo BCE, naqueles países, agravou a sua condição social e económica, de tal modo que o desemprego disparou para níveis nunca atingidos e os juros no mercado chegam aos 20 e mais por cento! Um cenário provável para o nosso país que alguns arautos da economia liberal desvalorizam e chamam de previsões "catastrofistas". O principal argumento destes iluminados crâneos é que não há volta a dar e que a alternativa é sair do Euro o que tornaria as coisas ainda piores. Postos perante a alternativa de (re)negociar a dívida de forma a obter prazos mais dilatados e juros mais baixos (única forma de não estrangular a economia que tem de crescer para podermos criar riqueza e, dessa forma, pagar a dívida), dizem-nos que isso é criar calotes e Portugal tem de pagar aos seus credores. Ou seja, para pagarmos agora aos credores, ficamos endividados até às calendas, pois nenhuma economia débil (como a nossa) tem capacidade de recuperar desta crise (estrutural e conjuntural) em que Portugal está metido há mais de dez anos.
Neste contexto de especulação internacional, os nossos obedientes governantes (os actuais e os que vierem após 5 de Junho) querem-nos impôr o "pensamento único" que advoga o conformismo em relação à situação por eles próprios criada.
Porque com esta gente não iremos a lado nenhum, é tempo dos cidadãos criarem formas democráticas de participação activa, para obrigar os políticos a defender os interesses nacionais, ou sairem pelo seu próprio pé, única forma de darem voz a quem de direito. Ou seja, só fora do modelo parlamentar actual, controlado por partidos acomodados e reféns do sistema, parece ser hoje possível construir uma democracia mais participativa, pois a democracia não se esgota no modelo representativo (eleições de 4 em 4 anos) que afasta cada vez mais os cidadãos conforme as percentagens de abstenção claramente o indicam. O desinteresse e a apatia conduzem ao conformismo que poderá revelar-se fatal no dia em que formos governados por um regime autoritário para o qual indirectamente contribuimos.
Simultaneamente, vamos sabendo que os juros a pagar pelo empréstimo de 78.000 milhões de euros, rondam os 30.000 milhões, a taxas de 5% e mais por cento. Ou seja, um total de 110.000 milhões de euros que ninguém sabe muito bem quando serão pagos, com uma economia a crescer a menos de 1% ao ano.
Hoje mesmo a Agência Bloomberg concluia que Portugal não terá condições para pagar esta dívida, opinião que confirma a análise da Standard & Poors de há dias e da maior parte dos economistas nacionais e internacionais de renome.
O mais provável será Portugal chegar a 2013 com os juros pagos e - como a economia não crescerá mais do que 2% - entrar de novo em recessão e ser obrigado a pedir mais dinheiro para pagar a dívida que, entretanto, contraiu...
Como sabemos da Grécia e da Irlanda, a terapia de choque aplicada pelo FMI e pelo BCE, naqueles países, agravou a sua condição social e económica, de tal modo que o desemprego disparou para níveis nunca atingidos e os juros no mercado chegam aos 20 e mais por cento! Um cenário provável para o nosso país que alguns arautos da economia liberal desvalorizam e chamam de previsões "catastrofistas". O principal argumento destes iluminados crâneos é que não há volta a dar e que a alternativa é sair do Euro o que tornaria as coisas ainda piores. Postos perante a alternativa de (re)negociar a dívida de forma a obter prazos mais dilatados e juros mais baixos (única forma de não estrangular a economia que tem de crescer para podermos criar riqueza e, dessa forma, pagar a dívida), dizem-nos que isso é criar calotes e Portugal tem de pagar aos seus credores. Ou seja, para pagarmos agora aos credores, ficamos endividados até às calendas, pois nenhuma economia débil (como a nossa) tem capacidade de recuperar desta crise (estrutural e conjuntural) em que Portugal está metido há mais de dez anos.
Neste contexto de especulação internacional, os nossos obedientes governantes (os actuais e os que vierem após 5 de Junho) querem-nos impôr o "pensamento único" que advoga o conformismo em relação à situação por eles próprios criada.
Porque com esta gente não iremos a lado nenhum, é tempo dos cidadãos criarem formas democráticas de participação activa, para obrigar os políticos a defender os interesses nacionais, ou sairem pelo seu próprio pé, única forma de darem voz a quem de direito. Ou seja, só fora do modelo parlamentar actual, controlado por partidos acomodados e reféns do sistema, parece ser hoje possível construir uma democracia mais participativa, pois a democracia não se esgota no modelo representativo (eleições de 4 em 4 anos) que afasta cada vez mais os cidadãos conforme as percentagens de abstenção claramente o indicam. O desinteresse e a apatia conduzem ao conformismo que poderá revelar-se fatal no dia em que formos governados por um regime autoritário para o qual indirectamente contribuimos.
2011/05/11
Ali Babá, precisa-se
Um dia destes, confrontei-me com uma linha no extracto bancário que me mandaram, que, na singeleza de duas abreviaturas, traduzia um roubo: «desp man», assim rezava. E debitava-me 15 euros e tal.
Lá fui eu ao banco, aonde já há anos (desde que me permitiram acesso pela Internet) não me deslocava. Ah, e tal, que a minha conta tinha um saldo mensal médio de pouco mais de mil euros, logo inferior a 2500, que aquilo correspondia a despesas de manutenção, porque eles mandavam-me o extracto todos os meses, e assim. «Pois podem deixar de mandar, que eu não preciso disso para nada, pois movimento tudo pela net, como devem saber, pois há anos que não me põem a vista em cima.» E , falando grosso: «Só há duas hipóteses: ou me voltam a creditar o dinheiro que me debitaram ou, em vez de mil euros por mês, passam a ter zero euros, porque mudo para outro banco.» Se não se tinham impressionado com a minha vintena de anos «de casa», sempre sem lhes criar problemas, menos se impressionaram como a minha ameaça. «Faça como achar melhor, mas olhe que nós praticamos das taxas mais baixas do mercado, e nos outros bancos não irá decerto pagar menos.» Saí furioso, mas depressa constatei que eles tinham razão: nos outros bancos que abordei, também se praticava a taxa de «manutenção» e o preço era o mesmo; variavam outras condições (como a cobrança ou não de taxa por transferências, por exemplo), mas dos 15 eróis não me safava.
Nunca mais apareci no banco, mas aqui envergonhadamente confesso a humilhação de não ter cumprido a minha ameaça; ia ter de me chatear com burocracias e, como vêem, não ganhava nada com isso.
Segundo a minha leitura, o que se passa é que ao emprestar o seu dinheiro aos bancos, as pessoas se comprometem a uma destas duas alternativas: ou mantêm o tal saldo superior a 2500 euros, ou lerpam em 15 euros e tal por trimestre. Isto é contra a própria lógica do sistema: ainda não há muito tempo, lembro-me bem, os depósitos à ordem eram remunerados a uma taxa que variava de banco para banco, exactamente por efeito da concorrência, como forma de aliciamento dos clientes.
Emprestar-se dinheiro a uma instituição e esta fazer o emprestador pagar por isso não é a única aberração deste processo. Repare-se que quem paga não são todos: só os mais necessitados, os que têm saldo inferior a um certo montante. Poder-se-ia dizer que só põe o dinheiro no banco quem quer; mas o problema é, como o Carlos já referiu neste blogue, o de «certos pensionistas, que se vêem obrigados a receber as suas magríssimas pensões através de conta bancária». Não é só o problema destes, mas de todos os que, como eu, fazem alguns recebimentos por transferência bancária. Isto é, toda a gente integrada na vida social normal é, hoje em dia, obrigada a ter conta bancária aberta.
Em resumo, dado que quem paga são os mais pobres, assistimos a um fenómeno de duvidosa constitucionalidade, para não falar de grosseira imoralidade, que consiste em lançar um imposto sobre os mais desfavorecidos. Em proveito do Estado? Não, em favor da banca.
A isto acresce o que atrás se insinua: será por acaso que a taxa é igual em todos os bancos, não havendo possibilidade de escolha por parte do consumidor? O que mais será preciso para o Banco de Portugal investigar se se trata de uma atitude de cartel? Será isto constitucional?
O que mais me dói é que estamos de tal modo anestesiados nas nossas capacidades de cidadania que nos resignamos, nos curvamos, sem protestar, ante um facto a todos os títulos aberrante.
2011/05/10
Sequestros, sequestradores e sequestrados
"Fui sequestrado pá, e eu não gosto de ser sequestrado!" dizia o almirante Pinheiro de Azevedo naquele verão de todos os confrontos. Não o recordo aqui por ter qualquer simpatia especial pela sua memória e pelo seu legado. Recordo apenas velhos sequestros como pretexto para falar dos novos.
Depois deste regime ter gerado o caos presente preparamo-nos para "escolher" os nossos próximos representantes políticos, entre os próprios autores do caos. Os mesmos que juram a pés juntos que abominam esse caos que criaram, e que esfregam as mãos de contentes porque os portugueses se aprestam a legitimar com o seu voto a sua absolvição.
Preparamo-nos para fazer até mais: deixá-los limitarem-se a gerir e a implementar um programa feito no exterior para controlar os estragos do caos português nos seus territórios, poupando os seus autores, poupando-os à obrigação de pensarem pela sua cabeça e evitando perigos maiores para os seus próprios regimes. Depois de cumprida a missão, assegurado o pagamento, a troika voltará para casa e nós retomaremos o nosso triste estatuto habitual, até à próxima crise.
É isto que nos espera. Se não agirmos o futuro que nos espera é ainda pior.
Depois de dar o poder ao PS e de renovar esse acto, confirmando-o, em claro benefício ao infractor, para um segundo mandato, dizem as sondagens que o fautor principal do caos poderá continuar a contar com as preferências dos eleitores, isto porque o partido eleito há muito como "alternativa de poder", decidiu deixar passar para o lugar do condutor um jovem que se tem revelado um confrangedor ignis fatuus. O PSD é um total falhanço, uma desilusão sem classificação. A situação gerada por esta liderança é tão má que levou, por uma lado, diversos "senadores" a ter de vir apressadamente dar-lhe a mão e outros a demarcarem-se sem rebuço. E o desnorte e a falta de credibilidade no campo da "alternativa" social-democrata é tanto que até o presidente do CDS --um partido cuja ideia de serviço público se resume a sentar-se à beira da estrada, de perna aberta, à espera que passe um cliente-- vê campo liberto para pressionar a "sua" alternativa, antevendo-se como primeiro ministro. A ideia foi insinuada, primeiro, através da proclamação por parte de alguns membros do partido, e confirmada depois pelo próprio. Eram dele seguramente aqueles gritos de ambição que se ouviam através da janela aberta do Palácio de S. Bento, durante uma entrevista de José Sócrates a Judite de Sousa...
PS, PSD e CDS formam esta santa aliança arqueada que faz do sequestro a sua profissão. Mas estes são sequestros e sequestradores que deviam ser já amplamente conhecidos de todos, nada disto é novidade.
Do outro lado do espectro há outros sequestros e outros sequestradores. Os partidos de esquerda fingem estar fora do regime, mas as suas propostas, embora falem em ruptura, não o abjuram, são feitas dentro dele e debaixo do seu escudo protector. Não há risco, não há pisar do risco. Há circo. A única diferença entre o comportamento institucional da esquerda e o da direita, no que concerne a fidelidade a este regime, é o uso da gravata. A gravata é mesmo a única coisa que distingue a esquerda da direita.
Não há ruptura com o regime, não há confronto com este sistema que levou a vida dos portugueses ao estado em que está.
Ouvimos dos partidos de esquerda propostas que muitas vezes parecem justas, neste país onde a injustiça é tanta que dar esmola parece um acto de justiça. Mas elas são feitas de dentro e pelo regime que determinou os factos que agora criticam. O problema actual não reside na natureza das medidas a tomar, mas no próprio regime que lhes deu origem. É o regime que está em causa e nada de bom podemos esperar de dentro dele. Não há soluções para os problemas que afligem os Portugueses dentro do regime, seja qual for a forma como o regime é ocupado, com ou sem gravata. A esquerda parlamentar não tem um verdadeiro projecto de ruptura, qualquer movimento civil a ultrapassa facilmente e não têm por isso qualquer credibilidade as propostas que faz. A esquerda parlamentar não tem um verdadeiro programa de acção que rompa com o status quo. Não propõe atacar o cerne da questão, e, nesse sentido, é também regime, está feita com ele e ajuda-o a perpetuar-se. É o palhaço pobre do regime, que lhe dá significado. É o parceiro sem o qual o palhaço rico não tinha ninguém a quem dar estaladas. Mas, neste sentido, a "esquerda" sequestra o povo de esquerda e impede soluções de esquerda.
Há, portanto, o regime, os seus partidos e os seus chefes de fila. Há estes partidos, com ou sem gravata, que se alimentam todos da mesma ambição: transformar a precariedade inerente ao exercício do serviço público num emprego para a vida e defender esse "direito" com todo o arreganho.
Não interessa nada, neste momento, saber se o "povo" é ou não culpado porque dá aos agentes do regime a sua legitimidade. Não foi para isto que agora temos, certamente, que o povo votou. Os culpados são os donos do regime: estes partidos e o mestre-escola de Belém.
Não vejo, assim, outra alternativa para resolver os problemas graves que nos afligem senão afrontando a sério este regime. É este regime que gera os nossos problemas, que contém os mecanismos de auto-protecção de que gozam todos os seus agentes e lhes garante a imunidade que lhes permite ir sobrevivendo à sua acção. Não estou necessariamente a preconizar andar à chapada, mas antes levar à letra e até às últimas consequências a ideia do sobressalto que alguns pimpões --julgando certamente que os consideramos alheios aos problemas, que nos causaram-- preconizam.
Sair do sequestro, uma saída possível, capaz de causar um verdadeiro sobressalto, é inquirir os sequestradores. O que é que verdadeiramente impede isso? Por que razão não promovemos essa inquirição? O movimento do "voto branco" devia ser responsável e dinamizar esse processo. De outra forma o "voto em branco" não passará nunca de demissão. Devíamos levar muito, muito a sério a sugestão feita pelo economista Gylfi Zoega e "determinar exactamente o que se passou aqui, promover uma investigação independente, descobrir o que está errado no governo e no sistema político, quem deixou isto acontecer, para que ninguém esqueça e não volte a acontecer." É verdadeiramente um conselho de amigo este que o sr. Zoega dá.
Também eu não gosto de me sentir sequestrado, pá!
Depois deste regime ter gerado o caos presente preparamo-nos para "escolher" os nossos próximos representantes políticos, entre os próprios autores do caos. Os mesmos que juram a pés juntos que abominam esse caos que criaram, e que esfregam as mãos de contentes porque os portugueses se aprestam a legitimar com o seu voto a sua absolvição.
Preparamo-nos para fazer até mais: deixá-los limitarem-se a gerir e a implementar um programa feito no exterior para controlar os estragos do caos português nos seus territórios, poupando os seus autores, poupando-os à obrigação de pensarem pela sua cabeça e evitando perigos maiores para os seus próprios regimes. Depois de cumprida a missão, assegurado o pagamento, a troika voltará para casa e nós retomaremos o nosso triste estatuto habitual, até à próxima crise.
É isto que nos espera. Se não agirmos o futuro que nos espera é ainda pior.
Depois de dar o poder ao PS e de renovar esse acto, confirmando-o, em claro benefício ao infractor, para um segundo mandato, dizem as sondagens que o fautor principal do caos poderá continuar a contar com as preferências dos eleitores, isto porque o partido eleito há muito como "alternativa de poder", decidiu deixar passar para o lugar do condutor um jovem que se tem revelado um confrangedor ignis fatuus. O PSD é um total falhanço, uma desilusão sem classificação. A situação gerada por esta liderança é tão má que levou, por uma lado, diversos "senadores" a ter de vir apressadamente dar-lhe a mão e outros a demarcarem-se sem rebuço. E o desnorte e a falta de credibilidade no campo da "alternativa" social-democrata é tanto que até o presidente do CDS --um partido cuja ideia de serviço público se resume a sentar-se à beira da estrada, de perna aberta, à espera que passe um cliente-- vê campo liberto para pressionar a "sua" alternativa, antevendo-se como primeiro ministro. A ideia foi insinuada, primeiro, através da proclamação por parte de alguns membros do partido, e confirmada depois pelo próprio. Eram dele seguramente aqueles gritos de ambição que se ouviam através da janela aberta do Palácio de S. Bento, durante uma entrevista de José Sócrates a Judite de Sousa...
PS, PSD e CDS formam esta santa aliança arqueada que faz do sequestro a sua profissão. Mas estes são sequestros e sequestradores que deviam ser já amplamente conhecidos de todos, nada disto é novidade.
Do outro lado do espectro há outros sequestros e outros sequestradores. Os partidos de esquerda fingem estar fora do regime, mas as suas propostas, embora falem em ruptura, não o abjuram, são feitas dentro dele e debaixo do seu escudo protector. Não há risco, não há pisar do risco. Há circo. A única diferença entre o comportamento institucional da esquerda e o da direita, no que concerne a fidelidade a este regime, é o uso da gravata. A gravata é mesmo a única coisa que distingue a esquerda da direita.
Não há ruptura com o regime, não há confronto com este sistema que levou a vida dos portugueses ao estado em que está.
Ouvimos dos partidos de esquerda propostas que muitas vezes parecem justas, neste país onde a injustiça é tanta que dar esmola parece um acto de justiça. Mas elas são feitas de dentro e pelo regime que determinou os factos que agora criticam. O problema actual não reside na natureza das medidas a tomar, mas no próprio regime que lhes deu origem. É o regime que está em causa e nada de bom podemos esperar de dentro dele. Não há soluções para os problemas que afligem os Portugueses dentro do regime, seja qual for a forma como o regime é ocupado, com ou sem gravata. A esquerda parlamentar não tem um verdadeiro projecto de ruptura, qualquer movimento civil a ultrapassa facilmente e não têm por isso qualquer credibilidade as propostas que faz. A esquerda parlamentar não tem um verdadeiro programa de acção que rompa com o status quo. Não propõe atacar o cerne da questão, e, nesse sentido, é também regime, está feita com ele e ajuda-o a perpetuar-se. É o palhaço pobre do regime, que lhe dá significado. É o parceiro sem o qual o palhaço rico não tinha ninguém a quem dar estaladas. Mas, neste sentido, a "esquerda" sequestra o povo de esquerda e impede soluções de esquerda.
Há, portanto, o regime, os seus partidos e os seus chefes de fila. Há estes partidos, com ou sem gravata, que se alimentam todos da mesma ambição: transformar a precariedade inerente ao exercício do serviço público num emprego para a vida e defender esse "direito" com todo o arreganho.
Não interessa nada, neste momento, saber se o "povo" é ou não culpado porque dá aos agentes do regime a sua legitimidade. Não foi para isto que agora temos, certamente, que o povo votou. Os culpados são os donos do regime: estes partidos e o mestre-escola de Belém.
Não vejo, assim, outra alternativa para resolver os problemas graves que nos afligem senão afrontando a sério este regime. É este regime que gera os nossos problemas, que contém os mecanismos de auto-protecção de que gozam todos os seus agentes e lhes garante a imunidade que lhes permite ir sobrevivendo à sua acção. Não estou necessariamente a preconizar andar à chapada, mas antes levar à letra e até às últimas consequências a ideia do sobressalto que alguns pimpões --julgando certamente que os consideramos alheios aos problemas, que nos causaram-- preconizam.
Sair do sequestro, uma saída possível, capaz de causar um verdadeiro sobressalto, é inquirir os sequestradores. O que é que verdadeiramente impede isso? Por que razão não promovemos essa inquirição? O movimento do "voto branco" devia ser responsável e dinamizar esse processo. De outra forma o "voto em branco" não passará nunca de demissão. Devíamos levar muito, muito a sério a sugestão feita pelo economista Gylfi Zoega e "determinar exactamente o que se passou aqui, promover uma investigação independente, descobrir o que está errado no governo e no sistema político, quem deixou isto acontecer, para que ninguém esqueça e não volte a acontecer." É verdadeiramente um conselho de amigo este que o sr. Zoega dá.
Também eu não gosto de me sentir sequestrado, pá!
2011/05/05
"O rabo é mais sadio"
"Martim de Tavora comendador da Chavaqueira, digo da Savacheira foy £.º de P.to Docem ˜q se falou asima, era n.lmente m.to raivozo e desconcertadiço; se alg˜u fidalgo lhe dizia ˜q andava a sua mula gorda respondia elle, por˜q naõ a de andar a minha mula gorda se naõ come mas ˜q meyo alq.re de sevada como as outras, e se alguem lhe dizia ˜q andava magra, tornava elle muito agastado, por˜q a de andar S.or a minha mula magra se come m.º alqueire de sevada como as outras, comia h˜u dia elRey D. João o 3º, e comia peixe, veio h˜u [homem] a meza, e disse h˜u dos médicos ˜q acestiaõ a ella, p.ª elRey, coma V. A. do rabo ˜q he mais sadio, quis elRey saber do mesmo medico a razaõ por ˜q o rabo do peixe era mais sadio ˜q o demais corpo, a ˜q o medico satisfes, dizendo: o peixe S.or he m.to humido e como anda sempre dando com o rabo com aquelle movim.to lança delle muita parte da humidad.e natural, e fica por esta razaõ sendo o rabo menos humido e mais sadio; acudio Martim de Tavora ˜q estava também prez.te dizendo p.ª elRey, hora eu S.or andei athe agora m.to descontente do rabo da minha mula por˜q anda sempre dando com elle mas hoje com o ˜q ouvi ao D.or estou mais conçolado por˜q o rabo he a melhor parte ˜q ella tem."
("Anedotas portuguesas e memórias biográficas da corte quinhentista", Leitura do texto, introdução, notas e índices por Christopher C. Lund, Almedina, Coimbra)
("Anedotas portuguesas e memórias biográficas da corte quinhentista", Leitura do texto, introdução, notas e índices por Christopher C. Lund, Almedina, Coimbra)
2011/05/03
Uma história mal contada
De acordo com as informações divulgadas pelo governo americano, o inimigo nº 1 dos EUA terá sido morto ontem durante um "raid" da unidade especial de fuzileiros "Navy Seals", numa operação militar que durou 40 minutos e acabou 11 horas mais tarde, no mar alto, com o funeral de Bin Laden. Muito profissional.
Vamos admitir que tudo se passou como relatado nos jornais. Porque é que os EUA não produziram, até agora, provas insofismáveis da morte de Bin Laden?
Três hipóteses:
1) A operação correu bem (neutralização de Bin Laden) e o governo americano aguarda apenas o melhor momento (campanha eleitoral de Obama) para divulgar as provas que possui.
2) A operação correu mal (morte de Bin Laden) e o governo americano necessita de construir uma versão mais verosímil para a opinião pública.
3) Bin Laden estaria morto há muito tempo e havia que "matá-lo" em tempo útil (antes da retirada do Afeganistão).
Pois não faz sentido que os EUA soubessem (desde Agosto) que Bin Laden vivia naquela casa e os serviços secretos paquistaneses o não soubessem. Da mesma forma que não faz sentido que esta operação fosse feita à revelia do governo paquistanês, que teria sempre de ser informado do que ia passar-se. Também não se percebe a pressa em desfazerem-se do corpo, prova última de que tinham capturado a presa mais desejada. Fizeram-no no passado com Che Guevara (exposto ao Mundo em 1967 na Bolívia) e, mais recentemente, com os filhos de Sadam depois de terem sido mortos e com o próprio Sadam Hussein, a sair de um esconderijo e a ser analisado por um médico no Iraque.
Sabemos que os tempos e os governos (americanos) são outros. Mas, também sabemos que, desde 2001, Bin Laden não era visto e que a sua influência na estrutura do Al Qaeda era considerada diminuta, seja porque estava em fuga, seja porque estava morto...
Se não estava morto, foi agora morto. Ou, como bem lembrou um comentador televisivo, pode estar vivo e a ser interrogado, mas será sempre morto. Por isso, os EUA podem ter avançado a história do corpo lançado ao mar a partir de um porta-aviões, pois ninguém o poderá refutar.
A CIA o criou, a CIA o matou. End of story.
Adenda: ler, a propósito deste caso, o artigo de Tariq Ali, publicado no "The Guardian" online com o título: "Bin Laden'dead: Why killing the goose?" (na coluna à direita do blogue), onde este autor explica porque Bin Laden ainda não tinha sido entregue pelo governo paquistanês.
Vamos admitir que tudo se passou como relatado nos jornais. Porque é que os EUA não produziram, até agora, provas insofismáveis da morte de Bin Laden?
Três hipóteses:
1) A operação correu bem (neutralização de Bin Laden) e o governo americano aguarda apenas o melhor momento (campanha eleitoral de Obama) para divulgar as provas que possui.
2) A operação correu mal (morte de Bin Laden) e o governo americano necessita de construir uma versão mais verosímil para a opinião pública.
3) Bin Laden estaria morto há muito tempo e havia que "matá-lo" em tempo útil (antes da retirada do Afeganistão).
Pois não faz sentido que os EUA soubessem (desde Agosto) que Bin Laden vivia naquela casa e os serviços secretos paquistaneses o não soubessem. Da mesma forma que não faz sentido que esta operação fosse feita à revelia do governo paquistanês, que teria sempre de ser informado do que ia passar-se. Também não se percebe a pressa em desfazerem-se do corpo, prova última de que tinham capturado a presa mais desejada. Fizeram-no no passado com Che Guevara (exposto ao Mundo em 1967 na Bolívia) e, mais recentemente, com os filhos de Sadam depois de terem sido mortos e com o próprio Sadam Hussein, a sair de um esconderijo e a ser analisado por um médico no Iraque.
Sabemos que os tempos e os governos (americanos) são outros. Mas, também sabemos que, desde 2001, Bin Laden não era visto e que a sua influência na estrutura do Al Qaeda era considerada diminuta, seja porque estava em fuga, seja porque estava morto...
Se não estava morto, foi agora morto. Ou, como bem lembrou um comentador televisivo, pode estar vivo e a ser interrogado, mas será sempre morto. Por isso, os EUA podem ter avançado a história do corpo lançado ao mar a partir de um porta-aviões, pois ninguém o poderá refutar.
A CIA o criou, a CIA o matou. End of story.
Adenda: ler, a propósito deste caso, o artigo de Tariq Ali, publicado no "The Guardian" online com o título: "Bin Laden'dead: Why killing the goose?" (na coluna à direita do blogue), onde este autor explica porque Bin Laden ainda não tinha sido entregue pelo governo paquistanês.
2011/04/25
Lamentável "comemoração"
Nunca se percebe bem, para começar, a quem se dirigem as apreciações que esta gente faz. Nunca são claros quanto ao cravo e à ferradura em que pretendem acertar, nunca se sabe muito bem quem é, ao certo, o alvo das suas críticas. A verdade é cuidadosamente velada. A crítica não vai além do escandalosamente óbvio e é sempre feita de forma a não perturbar os humores mais sensíveis.
São obscuros em tudo, menos numa coisa: os portugueses é que viveram acima das suas possibilidades. Nesse caso a sugestão de culpas é clara e precisa: há pobreza, mas são, afinal, os pobres que têm culpa. A estratégia é antiga.
Que exemplo (haveria que dar o exemplo, afinal há crise ou não?!!) dão e que moral têm estas criaturas, beneficiárias, elas próprias, de vastas mordomias de que não prescindem, imerecidas e incompatíveis com os resultados obtidos, que moral, dizia eu, tem esta gente para criticar situações que resultam exclusivamente da sua actuação desqualificada ao longo dos mandatos para que foram eleitos? Quem se revê e quem confia nestes políticos? As decisões erradas ou a ausência de decisões que nos conduziram a este estado foram responsabilidade de quem? Quem assinou as leis? Quem tem as rédeas do poder? Quem comanda afinal, exactamente, as instituições que determinam as grandes linhas do nosso quotidiano colectivo? Quem discrimina, quem determina as políticas, quem controla?
Os portugueses, é certo, podem votar. Mas, serão as condições de escolha justas e claras? Será por não o serem que se abstêm? E se os portugueses são culpados por não intervirem mais na sua vida colectiva, o que pensar então daqueles que se propõem intervir, não obtêm resultados, mas se aproveitam deste seu estatuto para continuarem a ter privilégios indevidos, como se tivessem obtido esses resultados? Que exemplo dá esta gente?
Em vésperas do 25 de Abril, a falta de democracia levou-nos ao apelo "Bota no Marcello!" Querem ver que vamos ter de voltar à "bota útil"?
O que é bom para a banca é bom para o país?
É a pergunta que se impõe perante uma notícia publicada no dia em que o actual e os antigos presidentes da república se juntam todos, em acto de simbólica singeleza, para comemorar os 37 anos da Revolução de Abril. A notícia da Lusa é peremptória e não pode deixar de nos comover a todos: o "resgate internacional" é bom para a banca portuguesa. Não é nada que não se soubesse, mas dito assim, de forma tão cândida e tão sintética, e confirmado, sobretudo, por analistas financeiros tão cândidos e tão insuspeitos, tem outro sabor.
Viva a banca, viva o 25 de Abril...
Viva a banca, viva o 25 de Abril...
2011/04/24
2011/04/22
Leituras de Páscoa
Enquanto os católicos reflectem sobre o mistério da morte, duas leituras de textos recentes sobre a democracia, vêm a propósito. Um que aborda a realidade interna e outro que aborda a realidade externa. De uma leitura cruzada concluímos, sem embargo de uma reflexão profunda e urgente sobre os termos da nossa democracia, que a crise interna não se vai resolver sem a que a crise externa esteja resolvida. Mas, esperem! De que crise estaremos nós afinal a falar?
Do meu amigo Fernando Mora Ramos recomendo este texto intitulado "Mediocridade, partidocracia, mérito e democracia". A democracia "é um sistema que serve apenas directamente parte dos que votam, mais ou menos, e os partidos que são proprietários da democracia – é uma democracia para os partidos e não para o interesse de todos." É o défice democrático cuja contabilidade este texto nos ajuda a decifrar.
De Noam Chomsky recomendo este outro texto intitulado "Is the World Too Big to Fail? The Contours of Global Order". Entre cheiro concentrado a petróleo e a concentração do poder e da riqueza, Chomsky proclama que "as eleições transformaram-se numa farsa, dirigida pela indústria de relações públicas".
Seja qual for a longitude ou a latitude, seja qual for a realidade sócio-económica, com legendas em inglês, em português ou noutra língua qualquer, a verdadeira crise é a da globalização deste modelo de democracia em que vivemos, que necessita de ir à revisão urgentemente.
Do meu amigo Fernando Mora Ramos recomendo este texto intitulado "Mediocridade, partidocracia, mérito e democracia". A democracia "é um sistema que serve apenas directamente parte dos que votam, mais ou menos, e os partidos que são proprietários da democracia – é uma democracia para os partidos e não para o interesse de todos." É o défice democrático cuja contabilidade este texto nos ajuda a decifrar.
De Noam Chomsky recomendo este outro texto intitulado "Is the World Too Big to Fail? The Contours of Global Order". Entre cheiro concentrado a petróleo e a concentração do poder e da riqueza, Chomsky proclama que "as eleições transformaram-se numa farsa, dirigida pela indústria de relações públicas".
Seja qual for a longitude ou a latitude, seja qual for a realidade sócio-económica, com legendas em inglês, em português ou noutra língua qualquer, a verdadeira crise é a da globalização deste modelo de democracia em que vivemos, que necessita de ir à revisão urgentemente.
2011/04/21
Farto destes gajos!
Nobre, Coelho... a generosidade de Soares é maior que a do Banco Alimentar! Há tempo foi o "apoio" dado à candidatura de Fernando Nobre. Deu-lhe a mão e, depois dele lhe ter feito o frete, largou-o aos bichos. Agora é Passos Coelho. O jovem líder do PSD vai aprender em breve o significado da palavra descartável e vai aprender outra coisa importante: nem tem tempo para cometer erros.
Mário Soares continua a conspirar e a manobrar para manter este regime defeituoso e ineficaz, que já foi por três vezes à glória e de que ele, with a little help from his friends, é um dos grandes obreiros.
Não parece, mas a influência desta malta continua grande. Já era tempo destes senadores (Soares, Almeida Santos e outras figuras desta nossa pardacenta democracia), que nos deixaram de tanga, largarem a toga e desaparecerem de cena.
O país continua nesta, a precisar de estar noutra, mas esta malta não "deslarga".
Mário Soares continua a conspirar e a manobrar para manter este regime defeituoso e ineficaz, que já foi por três vezes à glória e de que ele, with a little help from his friends, é um dos grandes obreiros.
Não parece, mas a influência desta malta continua grande. Já era tempo destes senadores (Soares, Almeida Santos e outras figuras desta nossa pardacenta democracia), que nos deixaram de tanga, largarem a toga e desaparecerem de cena.
O país continua nesta, a precisar de estar noutra, mas esta malta não "deslarga".
2011/04/20
Mitos
Vale a pena uma chamada de atenção para este post do excelente blog Desmitos que ajuda a perceber, em traços rápidos, muito do que tem sido a coisa pública nos últimos 25 anos. Fica claro, por exemplo, o peso da crise internacional na nossa crise interna (o mito à vista), como também fica claro a partir de quando é que começa o declínio inexorável do produto do país (o mito escondido).
Vejam os anos e dêem-lho o nome.
Vejam os anos e dêem-lho o nome.
2011/04/19
Origens da palavra "entendimento"
"Com a verdade me enganas", diz o adágio popular. Rui Rio, por exemplo, diz que se os partidos não se entenderem (leia-se, os partidos do tal "arco"), o país fará "uma caminhada irresponsável até ao colapso" (leia-se, estes mesmos partidos, a cujo entendimento Rio apela, podem ser apeados e perder o tacho que têm partilhado durante todos estes anos de alternância do poder).
Venha o colapso!
Venha o colapso!
As eleições não deviam ter lugar
Não sei se é ou não técnica ou constitucionalmente possível anular a convocatória para as eleições. Não sei qual o conceito de "governo forte" que os inúmeros utilizadores dessa expressão têm, mas sei —tenho a certeza!— que a brutalidade das medidas que se adivinham e a atitude para com os partidos que representam exclusivamente quem mais vai sofrer com essas medidas é uma receita para o desastre social. O Presidente da República tem essa responsabilidade em cima dos ombros: evitar o desastre. Em vez de armar, ele e os líderes dos auto-proclamados partidos "democráticos", em rapaziada sensata e com juizinho (viu-se no que deu esta "sensatez" e "juízo"...) , por que não tomam a atitude correcta e desistem das eleições? Estão à espera de quê...?
Começaram tortas as "negociações" entre os prestamistas internacionais (chamam-lhe a troika) e as diversas instituições e organizações portuguesas envolvidas no processo do resgate financeiro do país. Segundo foi revelado por Jerónimo de Sousa, o PCP, por exemplo, uma dessas organizações, um partido legítimo português com representação parlamentar, foi convocado telefonicamente, ontem de manhã, para uma reunião a efectuar à tarde com os ditos prestamistas, sem sequer ter tido acesso à informação necessária para poder dar um fundado contributo. Tudo isto acontece sem que se ouça uma única voz a condenar tudo isto. De forma subserviente os partidos "democráticos" não assinalam este atentado à democracia e lá vão ao beija mão.
Uma convocatória nestas circunstâncias é uma provocação inqualificável e totalmente irresponsável. Está visto que a troika não está interessada em conhecer as opiniões dos representantes de um largo sector da população portuguesa.
O PCP, naturalmente, recusou a reunião. O BE e os Verdes fizeram o mesmo. Mário Soares comenta, leviano, dizendo não estar surpreendido porque nem PCP, nem BE quiseram alguma vez a Europa. Como se o objectivo destas "negociações" fosse discutir a "Europa". É um escândalo!
Não foram os partidos de esquerda que se auto-excluíram deste esforço. São os "troikos" que os tratam de forma arrogante e provocatória, como se fosse possível passar sem o povo. E fazem-no com a tranquilidade de que não serão eles que irão sofrer com a contestação que se vai inevitavelmente gerar.
Preparam-se entretanto eleições sabendo-se de antemão que não servem para nada e que absolutamente nada com elas vai mudar. Sabe-se que quem quer que seja que ganhe as eleições vai ser um amanuense dos "troikos". A "crise" no discurso político dos partidos do "arco do cego", por sua vez, não parece passar de arma de jogo político. No discurso e na prática destes partidos o argumento da crise, quando surge, não passa de instrumento que lhes permita marcar-se tacticamente para ver como melhor hão-de tirar o cavalinho da chuva e como melhor hão-de tirar o maior dividendo possível de todo este imbróglio.
Se a "gravidade" da situação fosse uma realidade de facto para os partidos do "arco", se estes quisessem superar a verdadeira crise, as soluções seriam outras, a mobilização, os entendimentos e consensos teriam de ser diferentes.
Os Portugueses, por seu lado, já perceberam que o papel de quem quer que seja que tome conta do poder não vai passar do de administrador da massa falida e não esperam destas eleições nenhuma alteração de rumo, nenhuma correcção de processos, nenhuma compensação pela ausência de medidas tomadas em tempo oportuno. Para o povo português não há nada a esperar do que aí vem, a não ser meter o pescocinho o mais a jeito possível para enfiar a canga, enquanto continuam a observar os jogos florais dos partidos do "arco".
Parece-me bizarro que se façam eleições neste quadro. Devíamos ser poupados a este triste espectáculo porque não vamos ganhar nada com esta solução. As eleições não passam de um processo de branqueamento dos responsáveis pela crise, não trazem soluções para ela e vão reforçar o carácter indigente da governação do país. E parece-me igualmente bizarro que se esteja a hostilizar justamente aquelas organizações que representam a maioria, se não a totalidade, dos sectores da sociedade que mais vão sofrer com as medidas que aí vêm.
Ou seja: no dia 5 de Junho vamos votar um governo inútil, que vai fazer cumprir medidas que os partidos de esquerda foram impedidos sequer de discutir. Partidos que são provocatoriamente levados a não discutir essas medidas, mas que são constituídos na sua quase totalidade, ou mesmo na sua totalidade, pelo sector da população portuguesa que vai ser vítima dessas medidas.
Sentido patriótico e atitude responsável era pois e quanto a mim, procurar nesta altura, a todo o transe, uma solução política digna e alargada de facto a todas as forças partidárias para negociar os termos do acordo com os "troikos", poupando-nos à fantochada das eleições, uma solução que assegurasse um acordo mínimo para uma mudança efectiva e consensual no rumo político do país. Uma solução mobilizadora, activa, sem preconceitos mesquinhos, que garantisse o contributo de todos, segundo as suas responsabilidades e meios, para mais rapidamente sair da crise. Um consenso obtido em sede própria e não forçado à mesa das negociações com entidades alienígenas e por elas condicionado.
De outra forma não penso que venha aí nada de bom para ninguém. E não creio que seja possível deixar sem resposta firme a arrogância e o desrespeito com que estamos a ser tratados.
Começaram tortas as "negociações" entre os prestamistas internacionais (chamam-lhe a troika) e as diversas instituições e organizações portuguesas envolvidas no processo do resgate financeiro do país. Segundo foi revelado por Jerónimo de Sousa, o PCP, por exemplo, uma dessas organizações, um partido legítimo português com representação parlamentar, foi convocado telefonicamente, ontem de manhã, para uma reunião a efectuar à tarde com os ditos prestamistas, sem sequer ter tido acesso à informação necessária para poder dar um fundado contributo. Tudo isto acontece sem que se ouça uma única voz a condenar tudo isto. De forma subserviente os partidos "democráticos" não assinalam este atentado à democracia e lá vão ao beija mão.
Uma convocatória nestas circunstâncias é uma provocação inqualificável e totalmente irresponsável. Está visto que a troika não está interessada em conhecer as opiniões dos representantes de um largo sector da população portuguesa.
O PCP, naturalmente, recusou a reunião. O BE e os Verdes fizeram o mesmo. Mário Soares comenta, leviano, dizendo não estar surpreendido porque nem PCP, nem BE quiseram alguma vez a Europa. Como se o objectivo destas "negociações" fosse discutir a "Europa". É um escândalo!
Não foram os partidos de esquerda que se auto-excluíram deste esforço. São os "troikos" que os tratam de forma arrogante e provocatória, como se fosse possível passar sem o povo. E fazem-no com a tranquilidade de que não serão eles que irão sofrer com a contestação que se vai inevitavelmente gerar.
Preparam-se entretanto eleições sabendo-se de antemão que não servem para nada e que absolutamente nada com elas vai mudar. Sabe-se que quem quer que seja que ganhe as eleições vai ser um amanuense dos "troikos". A "crise" no discurso político dos partidos do "arco do cego", por sua vez, não parece passar de arma de jogo político. No discurso e na prática destes partidos o argumento da crise, quando surge, não passa de instrumento que lhes permita marcar-se tacticamente para ver como melhor hão-de tirar o cavalinho da chuva e como melhor hão-de tirar o maior dividendo possível de todo este imbróglio.
Se a "gravidade" da situação fosse uma realidade de facto para os partidos do "arco", se estes quisessem superar a verdadeira crise, as soluções seriam outras, a mobilização, os entendimentos e consensos teriam de ser diferentes.
Os Portugueses, por seu lado, já perceberam que o papel de quem quer que seja que tome conta do poder não vai passar do de administrador da massa falida e não esperam destas eleições nenhuma alteração de rumo, nenhuma correcção de processos, nenhuma compensação pela ausência de medidas tomadas em tempo oportuno. Para o povo português não há nada a esperar do que aí vem, a não ser meter o pescocinho o mais a jeito possível para enfiar a canga, enquanto continuam a observar os jogos florais dos partidos do "arco".
Parece-me bizarro que se façam eleições neste quadro. Devíamos ser poupados a este triste espectáculo porque não vamos ganhar nada com esta solução. As eleições não passam de um processo de branqueamento dos responsáveis pela crise, não trazem soluções para ela e vão reforçar o carácter indigente da governação do país. E parece-me igualmente bizarro que se esteja a hostilizar justamente aquelas organizações que representam a maioria, se não a totalidade, dos sectores da sociedade que mais vão sofrer com as medidas que aí vêm.
Ou seja: no dia 5 de Junho vamos votar um governo inútil, que vai fazer cumprir medidas que os partidos de esquerda foram impedidos sequer de discutir. Partidos que são provocatoriamente levados a não discutir essas medidas, mas que são constituídos na sua quase totalidade, ou mesmo na sua totalidade, pelo sector da população portuguesa que vai ser vítima dessas medidas.
Sentido patriótico e atitude responsável era pois e quanto a mim, procurar nesta altura, a todo o transe, uma solução política digna e alargada de facto a todas as forças partidárias para negociar os termos do acordo com os "troikos", poupando-nos à fantochada das eleições, uma solução que assegurasse um acordo mínimo para uma mudança efectiva e consensual no rumo político do país. Uma solução mobilizadora, activa, sem preconceitos mesquinhos, que garantisse o contributo de todos, segundo as suas responsabilidades e meios, para mais rapidamente sair da crise. Um consenso obtido em sede própria e não forçado à mesa das negociações com entidades alienígenas e por elas condicionado.
De outra forma não penso que venha aí nada de bom para ninguém. E não creio que seja possível deixar sem resposta firme a arrogância e o desrespeito com que estamos a ser tratados.
2011/04/16
Marinho e Pinto perdeu uma excelente ocasião para estar calado
O bastonário da Ordem dos Advogados veio apelar à abstenção. Perdeu (mais) uma excelente ocasião para estar calado e devia, na minha opinião, pedir desculpa aos Portugueses.
A abstenção e a capitulação perante o status quo não são opções válidas para os Portugueses. O estado actual do País tem a sua origem, justamente, na abstenção e na capitulação. Abstêm-se aqueles que aceitam o "arco do poder" e votam de forma acrítica nos partidos que o compõem, como se abstêm aqueles que não aceitam esse "arco da velha" mas não vão votar porque "não vale a pena". Não há diferença qualitativa entre estas duas posições. Mudar o País é participar mais, não fugir.
Estamos habituados às tiradas do doutor Marinho e Pinto. Aceitamos que enquanto bastonário da sua ordem emita opiniões publicamente sobre a sua organização e a sua área de actividade. Aceitamos até que emita opiniões sobre questões de cidadania na perspectiva técnica que é a sua. Mas, considero inaceitável que emita opiniões pessoais deste teor, encavalitado no estatuto público que detém e aproveitando como parasita os megafones que lhe estendem por causa disso. É uma atitude totalmente irresponsável.
Não fora Bastonário e a voz de Marinho e Pinto não chegava ao céu. Por isso devia usar o seu estatuto de modo responsável. Este tipo de irresponsabilidade faz também parte do conjunto de problemas de que sofre o país.
Pena não podermos votar nas eleições para bastonário da OA...
A abstenção e a capitulação perante o status quo não são opções válidas para os Portugueses. O estado actual do País tem a sua origem, justamente, na abstenção e na capitulação. Abstêm-se aqueles que aceitam o "arco do poder" e votam de forma acrítica nos partidos que o compõem, como se abstêm aqueles que não aceitam esse "arco da velha" mas não vão votar porque "não vale a pena". Não há diferença qualitativa entre estas duas posições. Mudar o País é participar mais, não fugir.
Estamos habituados às tiradas do doutor Marinho e Pinto. Aceitamos que enquanto bastonário da sua ordem emita opiniões publicamente sobre a sua organização e a sua área de actividade. Aceitamos até que emita opiniões sobre questões de cidadania na perspectiva técnica que é a sua. Mas, considero inaceitável que emita opiniões pessoais deste teor, encavalitado no estatuto público que detém e aproveitando como parasita os megafones que lhe estendem por causa disso. É uma atitude totalmente irresponsável.
Não fora Bastonário e a voz de Marinho e Pinto não chegava ao céu. Por isso devia usar o seu estatuto de modo responsável. Este tipo de irresponsabilidade faz também parte do conjunto de problemas de que sofre o país.
Pena não podermos votar nas eleições para bastonário da OA...
2011/04/15
Inside Job, crisis abroad...
O filme "Inside Job" já tinha abordado o tema. Parte do "job" é assegurada pelas chamadas "agências de rating", a pirataria no século XXI a que os senhores do poder se deixaram submeter e submetem os povos que representam.
Agora ficamos a conhecer os detalhes e as várias dimensões de todo este sórdido e triste episódio através das conclusões da investigação oficial. Vale a pena ler este Levin-Coburn Report On the Financial Crisis publicado anteontem.
Agora ficamos a conhecer os detalhes e as várias dimensões de todo este sórdido e triste episódio através das conclusões da investigação oficial. Vale a pena ler este Levin-Coburn Report On the Financial Crisis publicado anteontem.
2011/04/13
"Demitida por se recusar a inventar uma notícia"
"Demitida por se recusar a inventar uma notícia". A notícia, brutal, chega-me por via do blogue Ponto Media do António Granado. Não deixa de causar uma enorme náusea ver acontecer uma coisa destas, trinta e sete anos depois do 25 de Abril... Não foi seguramente para isto que andámos todos a batalhar. Este soube-se, mas quantos outros casos não terão ocorrido sem sequer termos tido deles conhecimento?
A verdade é que a mordaça fascistóide e a tentação totalitária não acabaram nunca verdadeiramente. Modernizaram-se e já não usam polainas ou botinha de elástico, mas existem. E nunca será demais denunciá-lo.
Um amigo meu declarava-me hoje, com orgulho, que ninguém mandava na sua consciência e que gozava, no que a ela diz respeito, de total liberdade. Sei que sim, sei a coragem que isso requer e admiro-o muito por isso. Mas quantos se podem orgulhar do mesmo? Quantos não preferem ainda a trela a troco de uma qualquer sinecura? E porque raio a tentação totalitária prevalece e a liberdade, tanto tempo depois de a termos conquistado, ainda é entre nós um facto digno de admiração? Qual a justificação para ainda termos de continuar a ter de "lutar" por ela? Porque razão continua a ser algo que evoca coragem inusitada e suscita admiração? Porque razão não se tornou, ao fim de todo este tempo, uma questão comezinha, indelével e umbilicalmente ligada à nossa vida colectiva?
Como é que poderemos aspirar vencer o défice económico antes de conseguir vencer o défice democrático?
Como é que poderemos aspirar vencer o défice económico antes de conseguir vencer o défice democrático?
2011/04/12
Eles andem aí...
How long will you stay?
As long as we need...
Do you know the value?
We don't know...
As long as we need...
Do you know the value?
We don't know...
2011/04/11
O arco e as flechas
Não percebo, com toda a franqueza, esta admiração em torno da inclusão de Fernando Nobre nas listas do PSD. Creio que só mesmo quem se quis deixar enganar terá votado nele para a presidência da república. A Presidência da República Portuguesa não é uma ONG e Fernando Nobre não demonstra, não tem!, as capacidades para ocupar um lugar destes (*). Se tivesse estofo de político, teria percebido que, no quadro de uma democracia, o que propõe é atributo de actuação de um partido. Para levar o seu desígnio em frente teria de criar um programa e um partido para o levar a sufrágio. Em alternativa, inventou esta coisa bizarra que é propôr um partido... apartidário. Uma espécie de SGPS unipessoal (**). Um disparate, destinado à derrota. Não fosse a mãozinha do clã Soares e Fernando Nobre nem ganhava a Câmara de Vila do Conde. Nobre nunca quis fazer política. Como escrevia ainda hoje o meu amigo Pedro Barroso, tudo não passa de uma "insuperável sede de protagonismo pessoal." Pelo lado de Fernando Nobre a cambalhota não deve, pois, admirar.
Já pelo lado do PSD a coisa não é tão clara. Parece estranho que o PSD, enquanto partido do "arco" se tenha disposto a acolher esta ideia de ter um presidente-partido, como candidato apartidário a presidente do orgão onde os partidos digladiam as suas teses. Confusos? Também eu!
Há nisto tudo uma estratégia suicidária que ainda não consegui perceber e, ou muito me engano, ou as asneiras não vão ficar por aqui. Passo a passo, Coelho dá tiros atrás de tiros nos pés. Em breve se revelará que a perna é mais curta que o Passos. Se alguém tinha esperança de que o PSD pudesse ser alternativa ao regabofe PS e pudesse fazer frente ao seu perturbante e ameaçador cerrar de fileiras demonstrado este fim de semana, o melhor é rever o seu raciocínio.
Com o País entalado como está, com o PCP e o BE a desperdiçarem ingenuamente uma oportunidade de ouro de pressionar o PS e estabelecer uma dinâmica de verdadeira alternativa de poder, estamos de novo entregues ao "arco". Faltam as flechas.
(*) Se o actual inquilino do Palácio de Belém tem capacidade para ocupar o lugar que ocupa é outra conversa...
(**) Verdade seja dita que o vencedor dessa eleição também inventou uma outra coisa bizarra que é a categoria de político... apolítico. E ganhou! Tudo é possível, pois, dentro do rectangulozinho lusitano.
Já pelo lado do PSD a coisa não é tão clara. Parece estranho que o PSD, enquanto partido do "arco" se tenha disposto a acolher esta ideia de ter um presidente-partido, como candidato apartidário a presidente do orgão onde os partidos digladiam as suas teses. Confusos? Também eu!
Há nisto tudo uma estratégia suicidária que ainda não consegui perceber e, ou muito me engano, ou as asneiras não vão ficar por aqui. Passo a passo, Coelho dá tiros atrás de tiros nos pés. Em breve se revelará que a perna é mais curta que o Passos. Se alguém tinha esperança de que o PSD pudesse ser alternativa ao regabofe PS e pudesse fazer frente ao seu perturbante e ameaçador cerrar de fileiras demonstrado este fim de semana, o melhor é rever o seu raciocínio.
Com o País entalado como está, com o PCP e o BE a desperdiçarem ingenuamente uma oportunidade de ouro de pressionar o PS e estabelecer uma dinâmica de verdadeira alternativa de poder, estamos de novo entregues ao "arco". Faltam as flechas.
(*) Se o actual inquilino do Palácio de Belém tem capacidade para ocupar o lugar que ocupa é outra conversa...
(**) Verdade seja dita que o vencedor dessa eleição também inventou uma outra coisa bizarra que é a categoria de político... apolítico. E ganhou! Tudo é possível, pois, dentro do rectangulozinho lusitano.
Do surrealismo nacional
Num fim-de-semana marcado pelo congresso que mais não pretendia do que apoiar acefalamente um líder eleito por maioria albanesa, a proposta mais desconcertante acabaria por não surgir em Matosinhos, mas no Funchal, onde o líder da oposição anunciou o "trunfo maior" para as eleições em Lisboa: Fernando Nobre como primeiro nome da lista do PSD.
Pensávamos ter visto tudo e, de facto, de pouco nos admiramos já; mas esta de Nobre ser candidato pelo PSD, com a promessa de vir a ser o presidente da Assembleia Nacional caso aquele partido ganhe as eleições, não lembrava ao careca! Estamos sempre a aprender...
Pensávamos ter visto tudo e, de facto, de pouco nos admiramos já; mas esta de Nobre ser candidato pelo PSD, com a promessa de vir a ser o presidente da Assembleia Nacional caso aquele partido ganhe as eleições, não lembrava ao careca! Estamos sempre a aprender...
2011/04/09
O medo de existir
Quarenta e sete "personalidades" da vida portuguesa vieram apelar a um "compromisso nacional " numa carta aberta publicada no Expresso. É uma salada de "personalidades", com tacões nos sapatos, alguns, para lhes dar a altura que lhes falta para apelar a um "compromisso nacional". Estão longe da dimensão necessária para fazer um apelo desta natureza.
Uns, raros, são inocentes, outros são culpados. Uns fazem parte do problema, outros são o problema. Outros finalmente nem fazem parte do problema, nem são problema, não são nada. Estão lá, como estarão amanhã na Gala da Caras. A misturada dá altura aos tacos de pia, mas denigre os valorosos.
O que me parece a mim é que isto é tudo gente que tem simplesmente medo que, chegados ao ponto a que chegámos, os injustiçados portugueses façam justiça pelas suas próprias mãos e vinguem as humilhações por que têm passado desde há tanto tempo...
É apenas de INJUSTIÇA que estamos a falar quando discutimos os problemas do País. O resto é poeira para os olhos.
Uns, raros, são inocentes, outros são culpados. Uns fazem parte do problema, outros são o problema. Outros finalmente nem fazem parte do problema, nem são problema, não são nada. Estão lá, como estarão amanhã na Gala da Caras. A misturada dá altura aos tacos de pia, mas denigre os valorosos.
O que me parece a mim é que isto é tudo gente que tem simplesmente medo que, chegados ao ponto a que chegámos, os injustiçados portugueses façam justiça pelas suas próprias mãos e vinguem as humilhações por que têm passado desde há tanto tempo...
É apenas de INJUSTIÇA que estamos a falar quando discutimos os problemas do País. O resto é poeira para os olhos.
2011/04/07
Banca portuguesa, patriotismo e solidariedade...
Para quem não tenha ainda notado, a banca é um negócio artificial baseado num conceito artificial: o dinheiro, uma mera convenção, um simples padrão criado para facilitar o nosso relacionamento uns com os outros e permitir uma mais simples troca dos produtos que cada um de nós produz ou necessita, tornado, ele próprio e de uma forma aberrante, "mercadoria". O negócio consiste em tomar o nosso dinheiro para nos proteger do risco de sermos roubados no meio da rua, serviço pelo qual nos é concedido o privilégio de sermos roubados dentro do banco. Vale tudo e os métodos vão dos mais descarados (como aquele que saca a certos pensionistas, que se vêem obrigados a receber as suas magríssimas pensões através de conta bancária, uma comissão para "manutenção" da conta) até às mais subtis.
É assim que enquanto um enorme coro de vozes de todos os sectores anunciava que depois do resgate vêm aí mais sacrifícios, mais impostos, cortes e contracções, a banca portuguesa ganhava hoje, um dia após o anúncio do pedido desse mesmo resgate, 350 milhões de euros.
Segundo o Económico, hoje na Bolsa de Lisboa o "sector da banca registou ganhos em redor de 5%, com o BPI a liderar e a acelerar 5,12% para 1,31 euros. Já o BES e o BCP ganharam 4,18% e 4,07%, respectivamente. Ambos os bancos estão entre os que mais subiram na Europa, segundo o índice da Bloomberg para o sector."
Entretanto, ainda segundo o Económico, os banqueiros rejeitam a afirmação de que "a recusa da banca em continuar a financiar o Estado português teria sido o factor decisivo para que Portugal endereçasse um pedido de ajuda Bruxelas" e de que os bancos viraram as costas ao governo.
Não se trata de virar ou não as costas ao "Governo", digo eu. Trata-se é de virar ou não as costas a PORTUGAL.
Patriotismo e sentido de comunidade são bons... para o Banco Alimentar.
É assim que enquanto um enorme coro de vozes de todos os sectores anunciava que depois do resgate vêm aí mais sacrifícios, mais impostos, cortes e contracções, a banca portuguesa ganhava hoje, um dia após o anúncio do pedido desse mesmo resgate, 350 milhões de euros.
Segundo o Económico, hoje na Bolsa de Lisboa o "sector da banca registou ganhos em redor de 5%, com o BPI a liderar e a acelerar 5,12% para 1,31 euros. Já o BES e o BCP ganharam 4,18% e 4,07%, respectivamente. Ambos os bancos estão entre os que mais subiram na Europa, segundo o índice da Bloomberg para o sector."
Entretanto, ainda segundo o Económico, os banqueiros rejeitam a afirmação de que "a recusa da banca em continuar a financiar o Estado português teria sido o factor decisivo para que Portugal endereçasse um pedido de ajuda Bruxelas" e de que os bancos viraram as costas ao governo.
Não se trata de virar ou não as costas ao "Governo", digo eu. Trata-se é de virar ou não as costas a PORTUGAL.
Patriotismo e sentido de comunidade são bons... para o Banco Alimentar.
2011/04/06
Confirmação
A alocução de José Sócrates, no telejormal desta noite, confirmou a notícia que toda a gente dava como certa, mas que o PM negava ser necessária. Confirmou-se o pedido de ajuda externa solicitado pelo governo português, ainda que os seus contornos não sejam totalmente claros. Trata-se do FMI, do FEEF ou de um empréstimo intercalar?
Agora que a "ajuda" se tornou inevitável, ainda menos se percebe porque foi esta medida sendo adiada. A menos que, conforme Manuel Carrilho ontem declarava na TVI, estejamos a assistir à "estratégia de Xerazade", que consistia em ir contando histórias ao rei como única forma de adiar a sua própria morte...
Agora que a "ajuda" se tornou inevitável, ainda menos se percebe porque foi esta medida sendo adiada. A menos que, conforme Manuel Carrilho ontem declarava na TVI, estejamos a assistir à "estratégia de Xerazade", que consistia em ir contando histórias ao rei como única forma de adiar a sua própria morte...
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