2013/08/03

A crise é uma oportunidade...

Quem o disse foi o PM. E da reciclagem do indigente Relvas resultou um "Alto Comissário da Casa Olímpica da Língua Portuguesa," como revelou nesta quinta-feira o jornal i.
Pela boca morre o peixe, mas pela língua ressuscita o Relvas.
Qual será exactamente a função do ex-ministro? Agente do Linguado? Embaixador Linguareiro? Facilitador de Línguas? Director do Linguajar? Língua estufada? Capo Linguista, Emérito & Jubilado? Destorcedor de línguas bífidas? 
E o novo organismo, em construção? Irá chamar-se Relvas, Promoção da Língua Portuguesa, Unipessoal? Relvas Rent-a-Línguas? Relvas, Indústrias Criativas?
A palavra ao senhor Primeiro Ministro.

2013/07/24

O Monge

O novo ministro dos negócios estranhogeiros diz que as críticas que lhe foram dirigidas reflectem "a podridão dos hábitos políticos".
O hábito faz o monge, diz-se. E quem não quer ser monge não lhe veste o hábito.

2013/07/23

Kama-Sutra


De acordo com as declarações do primeiro-ministro, Paulo Portas será vice-primeiro no novo governo, mas não ficará acima da ministra das finanças. Será que fica por baixo?

2013/07/21

E agora, Cavaco?

Enquanto o Presidente da República prepara mais uma comunicação ao país, vale a pena relembrar as alternativas existentes, para sair do impasse politico em que nos encontramos desde que Gaspar bateu com a porta e deixou o governo a braços com a maior crise dos últimos anos.
Desde logo, as descartáveis:
1) Não haverá eleições, porque o presidente não as quer e a direita receia perder o poder.
2) Não haverá governo de iniciativa presidencial, porque a constituição não o permite desde 1982.
Depois, as mais prováveis:
3) Poderá haver a recondução da actual coligação, mas não se percebe muito bem com que ministros e ministérios.
4) Poderá haver a recondução da actual coligação, de acordo com a proposta de Passos Coelho (na qual Paulo Portas passará a supervisionar os ministérios mais importantes do governo, entre os quais o das Finanças).
Estas são as alternativas e nenhuma é boa, como já se percebeu. Nem Cavaco parece muito inclinado a aceitar a proposta de Passos, nem acredita nesta coligação a dois e, por isso, sugeriu um entendimento entre os três maiores partidos, que falhou esta semana.
Voltámos pois à “estaca zero” e, a menos que o governo se demita (por iniciativa própria ou por sugestão do Presidente) não vislumbramos nenhuma solução fora deste quadro.
É pouco e não augura nada de bom.
Quanto mais tempo esta situação durar, maiores serão as pressões internas e externas, pelo que não será de descartar uma solução grega à “la Papademos” ou à italiana à “la Monti”, ambas impostas de fora, pela Comissão Europeia, com a conivência da Alemanha e, claro está, dos seus homens de mão nos respectivos países.
É difícil acreditar que Cavaco tenha alguma solução milagrosa na manga. Preparemo-nos para o pior. Ou seja, mais do mesmo...

2013/07/11

Coulrofobia

Dificilmente alguém pode admitir que a solução proposta ontem pelo presidente de república seja fruto de alguém que se tem por tão reflexivo, tão atento, tão dialogante, tão experiente, como ele pretende ser lido pelos portugueses. Por mais tolerância que possa ainda encontrar escondida no meu alforge político, por mais que tente encontrar explicações para o novelo em que Cavaco nos colocou só me sobra uma enorme fobia por este personagem de ópera bufa.
Cavaco gasta mais tempo e recursos a polir a imagem do que a exercer, de facto, o seu cargo. Se trabalhasse mais, se interviesse a tempo, se exercesse com rigor humilde a função clara que os seus compatriotas o incumbiram de executar, teria sido outro o desfecho deste triste espectáculo a que assistimos nestes tempos mais recentes. Assim,  o arauto da estabilidade aumenta a instabilidade, o defensor da Constituição desrespeita-a, o paladino do bom senso propõe soluções inexequíveis, o defensor dos mercados provoca-lhes reviravoltas incómodas.
Ninguém sai ileso desta fogueira para onde Cavaco Silva nos lançou. Nem ele. 
Que ele vá para o inferno da política portuguesa quando morrer é coisa que não pode deixar de ser considerada positiva e que não poderei nunca deixar de saudar. Que nos arraste a todos, na sua insanidade política, para esse inferno é algo que nunca lhe poderei, nunca lhe poderemos, perdoar. Como primeiro responsável por tudo isto, não lhe podemos perdoar.

2013/07/10

Cavaco não vê televisão


De acordo com as notícias que vão correndo nos principais canais televisivos, o Presidente da República anunciará hoje ao país a sua decisão sobre a actual crise politica. Após três dias preenchidos com audiências em Belém, onde recebeu os representantes das chamadas forças sociais, desde partidos a sindicatos, passando pelas confederações de patrões, banqueiros e “tuti quanti”, Cavaco parece ter encerrado esta fase de auscultações sobre tão importante decisão.
Compreende-se. Depois de o terem deixado com a “criança nos braços”, após o inacreditável episódio da tomada de posse de uma ministra sem governantes e na eminência da queda do governo (o que afastaria a direita do poder por muitos e bons anos), Cavaco tinha de encontrar uma saída airosa para a crise.
Perante os cenários possíveis (manutenção do actual governo, um governo de inspiração presidencial ou convocação de eleições) o Presidente, que sempre vendeu a “mantra” da estabilidade e nunca escondeu a sua aversão a eleições, viu-se na necessidade de ensaiar uma farsa democrática, pedindo a todas as forças vivas da nação que passassem pelo palácio, a fim de escutar uma segunda opinião.
Entretanto, o governo, feito em cacos, fazia de conta que existia e (noblesse oblige) enviava a recém-empossada ministra das finanças a Bruxelas, para dar ar de que tudo corria de acordo com a normalidade. E não é que a presença de Maria Luís Albuquerque, na reunião do Ecofin, foi saudada por todos os colegas europeus presentes, como a solução acertada para um problema sem conserto?
Tivesse Cavaco perdido menos tempo a ouvir os parceiros sociais portugueses e ligado a televisão na segunda-feira de manhã e teria ouvido o ministro Schauble a declarar em Bruxelas que a Europa (leia-se Alemanha) aprovava a continuação do actual governo e a escolha de Albuquerque para continuar a aplicação do programa da Troika em Portugal.
Moral da história: se o presidente ouvisse as notícias, teria poupado tempo e dinheiro à nação, pois muito antes da decisão que irá anunciar ao país, já os Alemães sabiam que não ia haver eleições em Portugal e que o actual governo era para continuar.

ETIQUETAS: Alemanha, Cavaco, Europa, Farsa, Governo, RM    
   

2013/07/07

O dia em que Paulo Portas chegou a 1º ministro

Caso o Presidente da República aceite a solução de governo proposta por Passos Coelho – e tudo indica que o faça – teremos esta semana a continuação da coligação governamental actual, com uma pequena, mas importante alteração: Paulo Portas, o ministro cuja demissão era irrevogável há dias atrás, tornar-se-á, de facto, o governante com mais poder no actual governo. De acordo com o organigrama ontem apresentado por Passos, Portas acumulará o actual pasta dos Negócios Estrangeiros, com a coordenação da Economia, do QREN, das Finanças e das relações com a TROIKA, tendo ainda conseguido o almejado ministério da Economia, que será entregue a Pires de Lima, do seu partido. Ou seja, o CDS, um partido com 12% de votos, terá 4 ministros no novo governo, entre os quais um super-ministro que acumula os dossiers mais importantes da governação. É obra!
Como é isto possível? Bom, de Portas já não nos admiramos de nada e acreditamos que seja capaz de vender a sua própria mãe (de resto, a única pessoa que ainda deve acreditar nele). Do Presidente, há muito que deixámos de acreditar e ficaríamos espantados se, depois de tudo o que se passou, tivesse a coragem (coisa que não lhe conhecemos) para demitir esta cambada de vira-casacas e vende pátrias que nos governam. Finalmente, Passos, um líder fraco e sem ideias, que tendo chegado ao poder em condições excepcionais, só sobreviveu à custa de muletas (Relvas, primeiro e Gaspar, depois) os verdadeiros ideólogos nestes dois anos que já leva a coligação. Restava, pois, Portas, um politico desleal, mas suficientemente hábil para levar o programa de austeridade a bom porto, mesmo que este programa tenha falhado redondamente como a própria carta de Gaspar o denunciava.
“Last but not least”, perante a eventualidade de eleições antecipadas (a única saída verdadeiramente democrática para este drama shakespeariano) os mercados deram sinal de nervosismo (aumento de juros a médio e longo prazo) e a Troika logo avisou que novas eleições dariam origem a um segundo “resgate” e um regresso mais tardio aos mercados. Chantagem pura, pois.
Resta a oposição, ou o que dela resta: Do PS, e para além dos formais discursos de discordância, nada podemos esperar o que faz algum sentido, pois não é de admitir que Seguro queira ir para o governo já, agora que a crise está no seu auge. Provavelmente, a sua estratégia será a de aguardar até 2015, altura em que, espera ele, o governo estará tão desgastado que o poder lhe cairá nas mãos. Do PCP, Bloco e Verdes, a exigência de eleições antecipadas, ainda que correcta, é insuficiente para mudar a situação criada.
Estamos nisto e isto é mau demais para acreditar. O que faltará ainda acontecer?

2013/07/04

Tintim no país dos sovietes


Edward Snowden, até há pouco tempo um anónimo analista informático da Agência de Informação Americana, saltou para as primeiras páginas da imprensa internacional quando resolveu “pôr a boca no trombone” e denunciar aquilo que muita boa gente desconfiava, mas que poucos ousavam revelar. E que revelou Snowden?
Que a NSA (Agência Nacional de Segurança) controlava milhões de telefones e endereços electrónicos de cidadãos americanos e do Mundo, através de um programa (PRISM) numa clara violação da privacidade, sem que existisse qualquer autorização oficial para tal. A revelação caiu como uma bomba e pôs em causa, não só o direito inalienável à privacidade em qualquer estado de direito, como abalou a confiança dos cidadãos de todo o Mundo no governo americano e em empresas como a Google e a Microsoft, que já vieram confirmar terem cedido informações de mais de 20.000 contas dos seus clientes à NSA. Logo, não só era verdade, como é muito grave.
Snowden fez esta declaração em finais de Maio, a partir de um quarto de hotel em Hong-Kong, onde se tinha refugiado, em trânsito para um pais que lhe concedesse asilo politico. Desde então, os acontecimentos precipitaram-se e, como era previsível, os EUA lançaram a maior operação de caça ao homem desde Assange, o fundador da agência de informação WikiLeaks, igualmente acusado da divulgação de documentos classificados e que, por essa razão, se encontra refugiado há mais de um ano numa embaixada em Londres.
O que se tem passado nestas últimas semanas, relativamente a Snowden e ao seu paradeiro, é conhecido e tem sido abertura diária nos telejornais, sempre mais interessados na “fuga” do espião, do que na notícia que este revelou e que nos devia preocupar a todos. Mais: já em Moscovo, onde se encontra algures na zona do aeroporto para passageiros em trânsito, aguardando a concessão de um eventual asilo politico, Snowden continua a revelar segredos escaldantes, entre os quais a escuta em embaixadas de países aliados dos EUA, como a França, a Itália ou a Alemanha.
É aqui que Putin, nitidamente incomodado com a presença do americano no seu pais, decide jogar a sua cartada: oferecer asilo politico a Snowden (provocando dessa forma o governo dos EUA), com a condição deste se calar (para não ferir as relações bilaterais que lhe interessa manter). Uma jogada inteligente, que Snowden recusa, forçando o seu papel de mártir, agora cada vez mais isolado.
Nesta história, digna de Le Carré, não podia faltar o elemento de “suspense”, bem representado no caricato episódio do avião presidencial de Morales, retido em Viena sob o pretenso argumento de falta de condições técnicas para sobrevoar o espaço aéreo europeu. Diligente como sempre, o demissionário ministro Portas não resistiu a prestar vassalagem ao “amigo americano” e deu, provavelmente, a sua última ordem como MNE, proibindo a aterragem do avião boliviano em Lisboa. Como era previsível, Snowden não se encontrava a bordo do jacto de Morales. Onde está o americano?
Enquanto esperamos pelos próximos capítulos desta história inacreditável, lemos algures que uma famosa ex-espia russa teria oferecido casamento a Snowden, como forma de legalizá-lo no pais. Esta é, verdadeiramente, digna de Hergé.

Vira casacas, traidor, oportunista ou "all of the above"? E os seus apoiantes?

Os espectaculares flic-flacs de Portas são conhecidos desde há muito tempo. Depois de todo aquele recente espalhafato, parece agora que vai ser promovido.
A luta vai obviamente agudizar-se, é uma questão de tempo.
Há contudo uma questão que me parece pertinente e que diz respeito à acção das oposições.
O que é que pensarão disto os que votaram nesta coligação, se sentiram defraudados, exultaram com o pedido de demissão do Portas e agora vêem tudo andar para trás? Será que se juntam a nós para derrubar estes canalhas ou vão-se afundar mais uma vez...? O que vão fazer os partidos da oposição para os cativar para a inevitável luta? O que é preciso fazer?
Somos agora mais ou os mesmos?

2013/07/03

(Muitas) dúvidas

Os acontecimentos das últimas horas trouxeram-nos um coro de pequenos cantores –moralistas de ocasião, uns, apoiantes e promotores até das políticas do láparo, outros, amnésicos, outros ainda– a gritar contra o "mal" que a coligação está agora a fazer ao país. É um coro já com os naipes todos de vozes preenchidos. Exibem um ar compungido como se não tivessem nada a ver com isto.
A pergunta que tenho inevitavelmente de fazer é a seguinte: que credibilidade tinha afinal a política que estes animais, que não hesitam em provocar nesta altura este triste espectáculo, decidiram seguir, da forma obstinada, traiçoeira, fria, incompetente, canhestra, criminosa até, que todos pudemos e podemos sentir? Será que quem é capaz de lançar o caos que agora presenciamos, será que quem é capaz de suscitar a angústia que muitos hoje sentem ao verem as "inevitabilidades" do Coelho transformarem-se nisto, poderia jamais ter um programa credível para o País? Em suma: é possível aceitar que quem tem este comportamento pudesse alguma vez ter ideias virtuosas para o País?
Será que, por outro lado, quem faz isto agora poderia, logo à partida, estar à altura das responsabilidades que se propôs assumir?
E, já agora, permitam-me deixá-los com mais duas perguntas e outras tantas dúvidas. O que vai acontecer às reformas necessárias a partir deste momento? E quem estará disposto a fazê-las? Quem terá o talento para as fazer e limpar, ao mesmo tempo, os estragos entretanto provocados, depois dos resultados vergonhosos que o governo de Passos Coelho, com o beneplácito do presidente Cavaco Silva, obteve?
Não terá a prestação vergonhosa de Passos Coelho, com o beneplácito de Cavaco Silva, comprometido definitivamente quaisquer alterações necessárias no futuro? Como pedir-lhes contas?

Obviamente, eleições!

Enquanto Passos Coelho voa para Berlim, tentando ganhar tempo para enfrentar um “imbróglio” do qual ele é um dos principais culpados (o outro é, obviamente, o Presidente da República), o país real comenta estupefacto a sucessão de acontecimentos das últimas 48 horas.
Parece cada vez mais claro que Gaspar, não só há muito desejava sair do governo (leia-se a sua carta de demissão), como já chegara à conclusão que a receita de austeridade imposta pela troika e que ele “alegremente” ia pondo em prática, não estava a dar resultados. Ou seja, apesar de todos os sacrifícios impostos aos portugueses e das promessas de um futuro melhor, esse futuro apresentava-se cada vez mais longínquo, qual “linha do horizonte” que se afasta à medida que dela nos aproximamos. Um problema insolúvel, como toda a gente - da esquerda à direita - previa e que ele, teimosamente, procurava contrariar com os seus modelos explicados em “powerpoint”. Perante uma situação de impasse, agravada pela recente “greve dos professores”, que o impediu de conseguir um corte nas despesas de 4.500 milhões de euros, imposto pela Troika, só lhe restava mesmo deitar a “toalha ao chão”.
Outro caso, completamente diferente, é o de Paulo Portas, o escorpião da fábula que, depois de ter sido levado para o governo, picou a rã (Passos Coelho) que lhe deu a mão. Contrariamente ao que algumas manchetes dos jornais escrevem, não foi Passos que amarrou Portas ao recusar a sua demissão, mas Portas quem tirou o tapete a Passos, tornando-o refém da sua estratégia de aranha. Um verdadeiro Maquiavel, o Paulinho, que nunca enganou ninguém, pois, como dizia o escorpião da fábula, a traição faz parte da sua natureza. Ele é mesmo assim e percebeu (a jogada é arriscada) que saindo agora, poderá tirar dividendos de uma provável vitória do PS em futuras eleições.
Uma coisa parece certa: o pais, os portugueses, não podem suportar mais esta gente calculista e impreparada que nos governa e devem exigir uma clarificação desta crise aos órgãos de soberania que os representam. Haja alguém que explique a Passos Coelho e a Cavaco Silva que este governo está morto e acabado, Acabou ontem e deve demitir-se ou ser demitido, para poderem ser convocadas novas eleições.

2013/07/02

Eis o responsável!



Se amanhã formos penalizados pelos "mercados" por causa da instabilidade política, se esta ditar um agravamento das condições de vida de todos nós, se tudo isto resultar da sua incapacidade para resolver o problema deste governo e se daí advier um agravamento da crise, quem é o responsável? A AR?!

Até quando?

Ontem o Daniel Oliveira fez aqui uma das mais lúcidas análises que tenho lido sobre a situação da esquerda portuguesa desde há muito tempo.
Não vejo, infelizmente, maneira de ultrapassar os problemas que o D.O. aponta neste artigo.
Hoje o PR avisa que só a AR determina se há ou não há crises políticas, votando ou não moções de censura. Sorridente (de que sorri ele?) e consciente da total impunidade de que goza, goza connosco e sacode a água do capote.
Até quando vamos continuar a ter estes trastes a dominar o país? Até quando vamos estar neste impasse? Até onde vamos deixar chegar isto?!
Quanto tempo mais vai ser preciso para a esquerda compreender que está a dar um tiro fatal no pé e que vai pagar duramente o impasse em que fez colocar a actual situação política portuguesa?

PS- Acabo de saber que Paulo Portas apresentou a demissão. Os acontecimentos correm mais de forma mais veloz que o baudrate da minha ligação à internet... Afinal o PR não pode continuar a sorrir. A esquerda ultrapassada pela direita. O meu post durou pouco mais tempo do que vai durar o mandato da nova ministra das finanças!

2013/07/01

Foi-se embora o mau polícia, ficou a boa polícia


Desenganem-se aqueles que pensam que, com a saída de Victor Gaspar do governo, a austeridade e os ataques ao estado social em Portugal vão diminuir.
Ainda que a saída de Gaspar não tenha sido propriamente uma surpresa, pois já era falada desde Outubro de 2012, a verdade é que daí para cá o ex-ministro nunca se coibiu de aplicar sistematicamente a estratégia previamente delineada com a Troika, de quem ele era o representante oficioso em Portugal.
Nunca, como nos últimos dois anos, a população portuguesa foi submetida a tal provação e, se houve um rosto que personalizava a politica fundamentalista dos neoliberais que governam Portugal, esse rosto era o de Gaspar, ele mesmo um quadro do Banco Central Europeu em comissão de serviço.
A sua substituição pela Secretária do Estado do Tesouro que o acompanhava na teoria e na prática desta politica, ainda que lógica na forma (afinal ela conhece bem os “dossiers” e é conhecida dos seus pares em Bruxelas), encerra em si vários perigos: para o governo o facto de Maria Albuquerque estar comprometida com a mal explicada trapalhada dos “swaps”, que podem custar ao erário público a módica quantia de 1000 milhões de euros: para os portugueses, a ilusão de que esta ministra (que goza de um estatuto de rigor e conseguiu alguns êxitos, como a privatização da ANA) possa inverter a marcha dos acontecimentos e deixe alguma folga nesta austeridade sem resultados.
Nada de essencial vai mudar e, com ou sem Gaspar, a politica da Troika continuará a ser aplicada em Portugal, pois essa é a receita delineada em Bruxelas, Washington e Berlim, as verdadeiras capitais de Portugal.
Saiu o mau policia, para dar lugar a uma policia só aparentemente melhor, segundo a velha máxima de Lampedusa: “é preciso que algo mude, para que tudo fique na mesma”.

Afinal, isto anda tudo ligado...

O que têm as manifestações de Istambul, Ancara, Cairo, Alexandria, S. Paulo ou do Rio de Janeiro, em comum?
Aparentemente, nada.
Na Turquia, o que começou por ser a ocupação pacífica de uma das praças mais emblemáticas de Istambul - contra planos urbanísticos que punham em causa um parque na cidade - tornou-se uma gigantesca onda de protesto nacional contra o governo de Erdogan e as suas politicas de islamização da sociedade turca, um estado formalmente laico desde os anos vinte do século passado. Mais do que os ocupantes da praça Taksim, os cidadãos de dezenas de outras cidades turcas que aderiram ao protesto, lutam agora por uma Turquia moderna e democrática, onde questões como a educação, o emprego e o meio-ambiente, passaram a estar na ordem do dia.
No Egipto, dois anos depois dos protestos da praça Tahir - que estiveram na origem da queda do governo de Mubarak - os habitantes do Cairo voltaram à rua, desta vez para exigirem a demissão do governo do presidente Morsi, acusado de manipulação dos resultados eleitorais que lhe deram a vitória há um ano atrás e da crescente islamização da sociedade egípcia desde que a Irmandade Muçulmana ascendeu ao poder. Também aqui os jovens da praça Tahir exigem democracia, educação e emprego.
Finalmente, o que começou por ser um protesto dos habitantes de S. Paulo - contra o aumento das tarifas dos transportes da cidade – alastrou a dezenas de cidades brasileiras, agora já não apenas contra os preços dos bilhetes, mas por melhores transportes, melhores escolas e melhores hospitais, exigências num pais democrático, onde 1/3 da população continua a não ter acesso a uma vida decente. Isto, ao mesmo tempo que o governo brasileiro gasta centenas de milhões de euros na organização de eventos desportivos para glorificação da suas classes dirigentes.
Alguma coisa está a passar-se em países e sociedades tão diversas, onde, há relativamente pouco tempo, as populações pareciam mergulhadas numa apatia geral, certamente explicadas pelos regimes de “democracia musculada” em que viviam, ou, na alternativa brasileira, numa bolha de crescimento económico, que se revelou artificial.
Se há um denominador comum em todos estes protestos, este deve ser procurado na recusa das novas gerações em aceitar regimes autoritários e corruptos, que mais não fazem do que reproduzir os modelos dos governos que eles próprios derrubaram, com a promessa de que, a partir de agora, tudo seria diferente,. Não foi. Não é. É isso que estes jovens, muitos deles educados, mas desempregados e sem futuro em sociedades onde a população jovem é maioritária, já perceberam. E porque deixaram de acreditar e não têm tempo para construir um futuro diferente, mais não lhes resta do que protestar. Para já, de forma espontânea e, aparentemente, desorganizada, mas com a coragem que exigem os grandes momentos. E este é, ainda que pelas piores razões, um importante momento histórico. O que se está a passar na Turquia, no Egipto ou no Brasil, apesar das suas diferenças, pode afinal estar bem mais perto do que as distancias geográficas fazem crer.

2013/06/26

Trabalho, sim...

Um primeiro ministro que opta por dizer "que o país precisa menos de greves e mais de trabalho" já perdeu definitivamente o tino. É uma observação reles, cruel mesmo, de uma criatura sem dimensão.
Mas, sim, é um facto: o País precisa de mais trabalho. Nisso, está V. Exa. completamente certo.
Por agora contentamo-nos com o muito trabalho que nos está a dar mandá-lo para o lugar que merece. Mas há-de ir!

2013/06/16

“Sugar Man”

Com estreia simultânea em diversas salas da capital, chegou finalmente a Portugal o aclamado documentário “Searching for Sugar Man” (À procura de Sugar Man”) um docudrama filmado pelo sueco Malik Bendjelloul, a partir de uma história relatada pelos sul-africanos Stephen “Sugar” Segerman e Craig Bartholomeu Strydom, editores dos álbuns de Rodriguez, um “sing songwriter” americano, idolatrado na África do Sul.
O filme, que teve a sua premiére no Festival Sundance de 2012, recebeu este ano o Óscar para o melhor documentário em Hollywood, o 66º British Award for the Best Documentary e o Bafta Award for Best Documentary 2012, tendo ainda passado em Lisboa, durante o último “DOCs”, onde teve boa aceitação da audiência e da critica.
Fazendo jus ao velho princípio de Hollywood “a good story, is a good story, is a good story”, Bendjelloul encontrou a história, que necessitava para o seu filme, ao ler um texto de Stephen Segerman (na contracapa de um dos álbuns de Rodriguez), onde este dono de uma loja de discos na cidade do Cabo, exortava os leitores do texto a procurarem o cantor norte-americano, autor de dois álbuns míticos que fizeram furor na África do Sul na década de setenta e que tinha, depois disso, desaparecido sem deixar rasto...
O desafio intrigou o realizador sueco que, juntamente com Segerman, decidiu pôr mãos à obra e iniciar a sua própria investigação. Depois de meses de procura e muitas peripécias (reconstituídas no filme) o acaso levou-os a uma familiar do músico dado como desaparecido, de quem se dizia ter cometido suicídio em pleno palco. Para surpresa dos dois homens, não só Rodriguez estava vivo, como se dispôs a colaborar no filme e a ir cantar à África do Sul, onde é idolatrado devido à popularidade das suas canções, usadas nas décadas de setenta e oitenta durante a resistência ao regime do “Apartheid”.
O documentário relata a procura do homem que toda a gente julgava morto e que, apesar do insucesso nos Estados Unidos (onde os seus álbuns tinham sido um “flop”) continuava a ser um herói na África do Sul, onde vendeu centenas de milhares de “bootlegs” que a juventude sul-africana conhecia e cantava de cor.
Uma história verídica, filmada em supper8mm, que alterna imagens reais e reconstituição dos principais passos da investigação, para retraçar o percurso de “sixto” Rodriguez, o sexto filho de uma família de emigrantes mexicanos, que passou ao lado de uma carreira musical, apesar da qualidade inquestionável da sua música e textos que, alguém no filme, compara aos de Bob Dylan.
Pesem algumas limitações técnicas, dados os constrangimentos orçamentais que obrigaram algumas filmagens a serem feitas com um IPod Camera especial, o documentário vale pela história e o exemplo humilde de um cantor e compositor magnifico que, apesar do seu desaparecimento, nunca foi esquecido e hoje, graças a este documentário, recebe o reconhecimento que lhe é devido.
Nota Final: Rodriguez, que continua a viver, humildemente, na sua casa de sempre nos subúrbios de Detroit, recebeu no passado dia 9 de Maio, um doutoramento “honoris causa” da Wayne State University em Detroit, pela sua contribuição para a música e poesia americana.
Vão ver este filme magnífico, baseado numa extraordinária história de um artista excepcional.

2013/06/13

200 gramas de selos

A estação de correios do meu bairro, inaugurada com pompa e circunstância há 15 anos, encerrou no passado dia 1 de Junho. Era uma estação de correios pequena, mas moderna e funcional, onde 3 empregadas exerciam diariamente as suas funções, sempre com agrado dos utentes, entre os quais eu. Apesar de tratar de muitos assuntos pela NET, continuo a ser um cliente dos correios tradicionais, onde envio cartas, encomendas, pago contas e levanto correspondência registada em meu nome. Em média, utilizo os serviços de correio uma vez por semana. Como eu, milhares de clientes, novos e velhos, portugueses e estrangeiros, pensionistas, letrados e iletrados que não possuem contas bancárias e ali pagam as suas contas e levantam as suas reformas. A “minha” estação de correios foi modernizada há 15 anos, precisamente porque havia aumento da procura e as antigas instalações, a funcionarem no mesmo espaço da Junta de Freguesia, já não satisfaziam as necessidades da população que, entretanto, tinha crescido exponencialmente.. À época, os moradores do bairro organizaram-se, fizeram uma petição ao presidente da Junta e este conseguiu que uma nova estação fosse aberta, num edifício alugado para o efeito. Abriu inicialmente com dois funcionários e, posteriormente, o número de funcionários foi aumentado para três, também graças a uma petição. Toda a gente satisfeita com a estação que, aparentemente, dava lucro, pois não consta que uma estação que tinha uma procura constante e, para além dos serviços habituais, vendia toda a espécie de artigos, desde “best-sellers” a CD’s, bonés ou porta-chaves, não fosse rentável.
No dia 29 de Maio, estive lá pela última vez a enviar uma carta para o estrangeiro e, como já circulava o boato de que a estação poderia fechar, perguntei a uma das funcionárias se esse rumor se confirmava. Respondeu-me que não sabia, pois não havia ordens internas explícitas sobre o encerramento deste posto em particular. Isto, dois dias antes do seu encerramento!
Era esta informação verdadeira? Se não, porque mentiu a funcionária? Se sim, como é possível os serviços nem sequer informarem os seus próprios funcionários do que iria passar-se?
Na passada segunda-feira confirmaram-se os meus piores receios. As montras da estação estavam cobertas com papel pardo e um edital avisava que, a partir desse dia, os clientes tinham de dirigir-se a um supermercado do bairro para enviar as suas cartas.
Lá fui, esta semana, experimentar os “novos” serviços. Como receava, tudo piorou. Num balcão improvisado, ao lado da empregada da papelaria, no meio de material escolar, jornais, revistas e perfumes, estava um empregado (em pé) a ser instruído por uma das ex-funcionárias da estação que tinha encerrado. Perguntei-lhe se ela, agora, vendia perfumes, ao que me respondeu que só estava a ensinar o empregado do supermercado a pesar e selar a correspondência. De facto, pesar maçãs, ou cartas, qual é a diferença? Pedi-lhe 200 gramas de selos, para não andar sempre a comprar...

2013/06/10

Em cima de um tapete, a correr 1500 metros...


Na passagem de mais um “10 de Junho”, a televisão oferece-nos a reportagem do costume. Desta vez a partir da cidade de Elvas, um cenário ideal agora que a UNESCO reconheceu as suas fortificações como parte integrante do património construído da humanidade.
Infelizmente, as melhores fortalezas não chegam para esconder a miséria social existente dentro dos seus muros, como outras reportagens da mesma televisão nos têm lembrado periodicamente. Em apenas dois anos, a autarquia viu-se obrigada a duplicar o número de refeições oferecidas às escolas da cidade, única forma de alimentar, já não só todas as crianças malnutridas, como as suas próprias famílias, muitas delas sem emprego e apoios sociais, numa das regiões mais desertificadas e pobres do pais. Ou seja, parte significativa da população de Elvas é hoje obrigada a recorrer à assistência social, prestada pela Câmara, para poder sobreviver. Uma realidade que foi lembrada no discurso do presidente da autarquia, Roldão de Almeida, ainda na cerimónia que antecedeu o dia de hoje.
E que disse o Presidente da República de significante neste seu discurso de “10 de Junho”? O mesmo de sempre, mas para pior. Falou da pátria (que tem as costas largas), dos sacrifícios das forças militares (que compreendem o momento que a nação atravessa), da dependência do estrangeiro (não é a primeira vez) e do regresso à agricultura (como panaceia para todos os males).
Não fora a mudança de cidade e personagens nestas cerimónias, que pouca alteração conheceram nos rituais desde os “dias da Raça” salazarentos, e julgávamos não ter mudado de regime. O cenário muda todos os anos, é verdade, mas os discursos continuam bafientos e grande parte dos agraciados com medalhas não se recomendam, como de resto não eram recomendáveis os condecorados do tempo da ditadura.
Cá fora, o ambiente não foi melhor e, se alguma novidade houve, essa foi a contestação de uma parte dos populares que assistiam à chegada dos governantes. Também aí, nada de especial a assinalar, tal o número de protestos com que os representantes do governo são amiúde recebidos fora de Lisboa.
Uma tristeza, este “Dia da nacionalidade, de Camões e das Comunidades”, onde tudo é ensaiado previamente, segundo um guião que nunca conseguiu mobilizar verdadeiramente o povo português.
Num ciclo marcado pela maior crise dos últimos 40 anos, não ouvimos quaisquer referências de Cavaco ao desemprego, à emigração forçada de milhares de jovens, à diminuição de salários e pensões, ou à miséria gritante de milhões de portugueses, nomeadamente no Alentejo, onde se encontrava.
Em vez disso, ouvimos um apelo patético para o regresso à agricultura e a apologia do desporto, dando como exemplo o seu treino diário de 1500 metros em cima do tapete. Ou seja, o presidente farta-se de correr sem sair do mesmo sítio...
Não me lembraria de melhor metáfora para o pais.

2013/05/29

Não há PIB que nos salve...

Abro a televisão e deparo-me com Victor Gaspar, numa comissão parlamentar que dá pelo sugestivo nome de “Comissão eventual para o acompanhamento das medidas do programa de assistência financeira a Portugal”. Um título que é todo um programa...
Ouço a intervenção do ministro que, no tom monocórdio a que nos habituou, vai debitando números e pareceres do governo, para sustentar a sua visão do Mundo e uma realidade que, aparentemente, só na sua cabeça continua a existir.
Por coincidência, a estação televisiva onde vejo a emissão passa, em simultâneo num roda-pé, as conclusões mais significativas do último relatório da OCDE relativas ao nosso pais. E o que diz o relatório deste organismo internacional, que tem a confiança do governo?
Que a dívida pública vai ser de 130% do PIB (superior às previsões do governo); que a recessão vai ser de 2,7% (superior às previsões do governo); que o défice vai ser de 5,6% (superior às previsões do governo); que o crescimento vai ser de -0,6% (inferior às previsões do governo) e que o desemprego vai ultrapassar os 19% (superior ás previsões do governo). Ou seja, falharam todas as previsões deste executivo!
Perante tal disparidade de conclusões, pergunto-me o que pensarão os especialistas da matéria, face a uma realidade que não se compadece com análises macroeconómicas, independentemente do que delas possamos pensar, uma vez que estas são diariamente desmentidas pelo quotidiano que nos rodeia.
E das duas uma: ou andamos todos com o passo trocado e Gaspar é a única pessoa no pais a marchar correctamente: ou o nosso ministro das finanças perdeu de vez o (pouco) contacto com a realidade, como vem sendo sistematicamente denunciado à esquerda e à direita, inclusive por insuspeitos economistas internacionais, como foi o caso do Nobel Paul Krugman, ainda esta semana no NYT.
O país está exangue, as pessoas desesperadas e, pior do que tudo isto, não há uma réstia de esperança nesta estratégia suicida que nos conduz para o abismo.
Como tenho vindo a escrever neste blogue, não me parece que Gaspar seja um palhaço.
Gaspar é apenas o peão de uma estratégia internacional desenhada em Berlim, que tem o apoio do BCE, da Comissão Europeia e do FMI, com o objectivo último de desregular as relações laborais em Portugal e, dessa forma, reduzir as “benesses” de um estado social considerado muito generoso e impeditivo de podermos fornecer mão-de-obra mais barata para competir com os países emergentes.
Acontece que, nem a desvalorização do preço do factor trabalho será alguma vez suficiente para poder competir com os países asiáticos, nem a economia será competitiva enquanto o consumo não for estimulado. Logo, enquanto a economia não crescer significativamente, coisa que não está a acontecer, nem em Portugal, nem em nenhum pais da UE, à excepção da Alemanha, onde esse crescimento é de apenas 0,1%., muito aquém dos míticos 4% do século passado...
Como se este quadro não fosse, já por si, suficientemente negro, fomos nos últimos dias confrontados com o “debacle” do clube que, supostamente, mais contribui para o PIB nacional. O Benfica é, por estes dias, a metáfora perfeita do país. Quem o declarou foi esse insuspeito “lampião” que dá pelo nome de António Mexia, o executivo mais bem pago da EDP, a empresa que mais ganha com o fornecimento da luz que nos ilumina.

2013/05/22

Olho por olho

Já não serão assim tão poucos os Portugueses que morreram em consequência directa ou indirecta das políticas do actual governo, chefiado por Passos Coelho. São mortes autoinfligidas ou potenciadas pela leviandade, pelas carências, pelos maus tratos, pela angústia e pelo stress que resultam da política de  "inevitabilidades" deste governo. Outros estão condenados a uma agonia mais lenta, e irão, do mesmo modo, acabar por sofrer, em slow motion, as consequências desta política. Querem sobreviver, mas vão asfixiar, devagarinho, impotentes.

Os Portugueses não votaram neste grupo de coveiros sádicos. Votaram para que do seu voto saísse um governo que está obrigado constitucionalmente a "promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais."

Não tenho razoes científicas para justificar estas minhas previsões. É a intuição e a experiência própria que me levam a tirar estas conclusões. Conhecer a verdade sobre tudo isto será tarefa para os futuros investigadores da demografia histórica. Para nós, por enquanto, nós que estamos a viver a hecatombe, resta-nos lutar para que o pesadelo acabe o mais depressa possível e o curso da história seja mudado.

Segundo o jornal i de hoje, o pai de Passos Coelho assegura que o filho “está morto por se ver livre disto.” Se houvesse mesmo justiça, tendo em conta o que ficou dito acima, Passos Coelho deveria antes estar morto por nos ter metido "nisto..."

2013/05/20

Vales zero!

Muita gente ilustre se tem manifestado contra a convocação do Conselho de Estado que neste momento decorre em Belém. Entre as razões para esta discordância, destaca-se a inoportunidade da convocatória e a agenda do conclave. Jorge Miranda vai ao ponto de classificar esta iniciativa como uma "tentativa desesperada" do PR face ao vazio político em que o país se encontra e António Capucho, antigo conselheiro de Estado, diz sobre os resultados expectáveis desta reunião que coloca "a fasquia um pouco em baixo."
As instituições do Estado desgastam-se com esta iniciativa imprudente de Cavaco Silva.
Carlos César vem hoje juntar-se ao coro de críticas, chamando a atenção para a coincidência da data desta reunião de um órgão superior do Estado (do qual faz parte por inerência o Presidente do Governo Regional dos Açores) com o Dia da Região Autónoma dos Açores. E classifica a ideia como uma "manifestação de ignorância."
Esqueceu-se Carlos César de valorizar o escarcéu institucional que o Estatuto Político-Administrativo dos Açores —aprovado em 2008, vetado duas vezes e finalmente declarado inconstitucional pelo TC— mereceu ao PR e do quanto ele se mostrou agastado, em tom dramático, por este "restringir o exercício das competências do Presidente da República."
Ele há instituições e instituições, regiões e restrições. "Restrições não, autonomia più meno!", parece querer Cavaco Silva dizer com isto...
Desespero, ignorância, fasquia baixa, são expressões que deixam antever que a reunião de hoje do Conselho de Estado já era um flop político antes de começar.
Que dizer então de um PR que sujeita estes importantes órgãos de Estado a um desgaste destes? Que dizer destes conselheiros que se sujeitam ao desgaste e que vão sair dali como entraram: politicamente più meno?
Há anos, Jô Soares tinha um engraçado sketch de inspiração política num dos seus programas (alguns estarão recordados), que terminava sempre com a expressão "vales zero." A iniciativa de Cavaco Silva e a resposta dos conselheiros a ela valem zero.
Cavaco Silva e os membros do Conselho de Estado valem zero! O povo não merece ser representado por nulidades.