2012/05/20

Cancioneiro popular



Ó Relvas, ó Relvas!
Até salta à vista.
Ligações secretas
Sem interacção.
Desculpas sem culpas,
Mas que confusão.
O melhor remédio 
É a demissão!
É a demissão!
É a demissão!
É a demissão!

2012/05/17

Grécia: e se não houver plano B?

Perante o falhanço das conversações interpartidárias na Grécia e a crescente subida do Syriza nas sondagens, que apontam para a vitória deste partido nas próximas eleições, o BCE não esteve com meias medidas: suspendeu todos os contactos com a banca grega. O mesmo aconteceu com o FMI, que anunciou só voltar à Grécia quando houver um governo estável. Resultado: uma corrida desenfreada aos bancos, donde foram levantados mais de mil milhões de euros esta semana. A este ritmo, dentro de um mês, o sistema económico entrará em colapso e a Grécia terá de declarar bancarrota, com todas as consequências daí advindas. Desde logo, a saída do Euro. Mas, não serão apenas os gregos a sofrer directamente as consequências. Toda a zona euro será afectada, a começar pelos credores, as economias mais débeis (Portugal) e mesmo outros países, como o Reino Unido, com relações económicas directamente dependentes da zona euro. A estratégia é clara: através desta pressão, a banca tenta destabilizar o processo eleitoral em curso, com vista a evitar a chegada ao poder da única força de esquerda que declarou querer romper com o programa da Troika e aliviar o programa de austeridade imposto à Grécia. Curiosamente, enquanto 80% dos gregos dizem querer continuar no Euro, figuras prominentes como a Sra. Lagarde (FMI) e a própria Merkel, dizem tudo querer fazer para ajudar o povo grego (!?). Em que ficamos, afinal? Porque a História avança e o tempo começa a ser curto para arrepiar caminho, seria bom saber quais as consequências para a moeda única em caso de bancarrota de um dos seus estados membros e se existe um plano B para salvar a Grécia. Vamos acreditar que sim, porque se não existe, então está tudo louco e, quem acreditar nesta gente, corre sérios riscos de ficar contaminado.

Inteligência e progresso



Platão criticou a escrita no Fedro. Porque, dizia, ela colocava o pensamento fora da sua sede natural, retirava-o da mente e dirigia-o para fora, para os apetrechos, artificiais e estranhos, dessa escrita. Ao fazê-lo, acrescentava ainda Platão, a escrita tornava também a mente preguiçosa porque enfraquecia os mecanismos da memória. Platão colocou felizmente as suas dúvidas por escrito, porque se assim não fosse não teríamos tido delas conhecimento...
Mas, não será esta a única debilidade do seus discurso. Longe estava Platão de imaginar que o pensamento escrito, condensado na literatura científica e filosófica e amalgamado ao longo da história, poderia vir um dia permitir a construção de máquinas —bem mais complexas que os simples implementos da escrita do seu tempo— comandadas... pelo pensamento.
Os jornais relatavam  ontem a criação de um braço robotizado que pode ser comandado pelo pensamento, à distância. Parece milagre, mas não é: foi obra de cientistas. É uma manifestação da inteligência humana que não pode deixar de deslumbrar. Mas, coloca também algumas interrogações, que vão para além do próprio objecto.
A consciência humana pode manifestar-se agora fora da mente. Com que fins? A que distância? Através de que corpos ou objectos?
É óbvio que a inteligência é capaz de feitos notáveis. Para o bem e para o mal. Apesar da evidência diária e dos esmagadores e aparentemente inelutáveis sinais de estupidez —também ela, ora consequente ora inconsequente— que nos chegam constantemente de todo o lado, a Humanidade lá vai progredindo qualquer coisita. Parece também, como me dizia a minha amiga AG, que a inteligência, quando colocada ao serviço do progresso, é, de facto, uma coisa extraordinária e esse é um factor que contribui sobremaneira para esse efeito de deslumbramento que esta invenção suscita.
Então por que diabo deixamos constantemente que a estupidez vença a inteligência? E por que razão permitimos que a inteligência maléfica triunfe? Qual a razão para a manifesta dificuldade que temos em  distinguir a inteligência que está ao serviço do progresso da que não está. Por que razão hesitamos em  premiar e proteger a primeira, mas não condenamos decididamente a segunda?
O que que nos impede de apreciar um qualquer acto de um indivíduo ou instituição, avaliando-o,  valorizando-o e distinguindo-o à luz deste princípio singelo: trata-se ou não de um acto de inteligência, ao serviço do progresso?

(Nota: a foto foi "picada" dos jornais, espero que, perante a importância do feito que documenta, com a indulgência do seu autor.)

2012/05/15

Da democracia na Grécia

É oficial: a Grécia vai para eleições, agora que o Presidente da República deu por terminada a ronda de conversações com os principais partidos gregos sem ter conseguido um acordo. Este era um desfecho previsto, quando os partidos da Troika (Nova Democracia e PASOK) não quiseram aliar-se num governo de coligação e a frente anti-troika (SYRIZA) não reunia votos suficientes para formar governo. Restava a opção tecnocrata, que todas as forças partidárias recusaram. Cabe ao povo grego (voltar a) escolher a via que deseja seguir: aceitar os ditames da Troika, sabendo que mais sacrificios e privações serão pedidos, numa espiral sem fim à vista; ou romper com este círculo vicioso, sabendo que os sacrifícios e privações continuarão de qualquer forma, ainda que feitos numa perspectiva libertadora. Uma escolha difícil, que irá condicionar, não só o futuro da Grécia, mas toda a Europa e os países intervencionados (Portugal e Irlanda) em especial. É por isto que estas eleições são tão importantes: uma derrota das forças progressistas significará o reforço das medidas neoliberais na Europa e um passo atrás na mudança da opinião pública (que, timidamente, começara a manifestar-se com Hollande); enquanto uma vitória dos partidos anti-troika, poderá significar um "turning point" na política de intervenção levada a cabo nos países da periferia que, desta forma, ficarão em melhores condições de renegociar os ditames dos credores internacionais. Também por isto, estas eleições não serão apenas gregas, pois a todos dizem respeito. Em particular, aos portugueses.

Relvas diz que nunca teve relação estreita com Jorge Silva Carvalho - TSF

Relvas diz que nunca teve relação estreita com Jorge Silva Carvalho
Não estaria na altura de ligar o corta-Relvas?

2012/05/10

Keep on going

"Sobre este caso em particular não tenho ideia de ter recebido qualquer informação particular, e disso não resultou qualquer interacção da minha parte" (Miguel Relvas, Ministro dos Assuntos Parlamentares)

2012/05/08

A Dívida



CATASTROIKA - Multilingual por infowar  Mais do que pagar ou não a Dívida, importa saber que Dívida devemos pagar, uma vez que nem toda a Dívida é da responsabilidade dos cidadãos dos países intervencionados, entre os quais Portugal. Este é o objectivo central do "Movimento da Democracia Participativa" que, em colaboração com a "Iniciativa por uma Auditoria Cidadã" e o CIDAC, levaram a cabo uma acção de formação no passado fim-de-semana. Entre os oradores, estiveram os economistas João Romão (A crise actual), José Maria Castro Caldas (O que é a Dívida?), Sara Rocha (A dívida portuguesa - casos específicos) e o sociólogo Guilherme da Fonseca Statter (A dívida portuguesa - a ratoeira da dívida), para além de Martins Gurreiro (O papel dos cidadãos) que na sua intervenção falou da criação deste movimento e o processo em curso. A anteceder as comunicações, João Camargo, representante português no fórum internacional dos movimentos de auditoria cidadã, apresentou o último filme da dupla Aris Chatzistafenou e Katerina Kitidi (autores de "dividocracia") que, nesta produção, abordam a estratégia da intervenção neo-liberal em diversos países e continentes.

2012/05/06

Tempos interessantes

A França e a Grécia votaram este fim-de-semana de acordo com as sondagens: Em França, com uma vitória do candidato de esquerda (François Hollande), ainda que com uma margem inferior à projectada nos últimos dias (52%); na Grécia, com a derrota dos partidos tradicionais (Nova Democracia e PASOK), que têm agora, em conjunto, pouco mais de 42% dos votos. Se a vitória do candidato socialista francês, em função dos anti-corpos gerados pelas políticas internas de Sarkozy, era esperada e desejada na Europa; a pulverização do quadro eleitoral grego, onde 60% dos votantes (à esquerda e à direita) votaram contra o "status quo", apresenta mais problemas que soluções. Se há um ponto comum entre estes dois resultados, este é o da rejeição das políticas de austeridade que atingem a maior parte dos países europeus. E agora? Não é certo que Hollande (de quem se conhece pouco) consiga impôr as ideias anunciadas em campanha. Pesem as "boas intenções", sabemos todos que os líderes políticos tendem rapidamente a esquecer as suas promessas quando chegam ao poder. Não será muito diferente desta vez. Já na Grécia, a chegada ao parlamento de partidos como o Syriza (coligação de esquerda), o segundo mais votado nestas eleições (16%), mostra que os gregos deixaram de acreditar nos dois partidos que, em alternância, governaram e arrastaram a Grécia para a situação em que este país se encontra. Resta saber se a influência da extrema-direita, pela primeira vez representada no parlamento grego, será um factor de destabilização, agora que a representação partidária está dividida por dez partidos. Uma coisa parece certa, nada será como dantes: nem em França, nem na Grécia. O que se passou este domingo nos dois países, irá certamente provocar "ondas de choque" em toda a Europa. Todos esperamos, agora, que seja a boa onda...

2012/05/05

De facto, sem gravata!


Cavaco não viu as imagens da tumultuosa "promoção" do Pingo Doce. Os seus conselheiros não o alertaram, ou ele não ouviu os alertas. Soares dos Santos disse que não sabia da campanha. Como seria estranho que uma pessoa que ocupa o seu lugar não soubesse o que se passa numa sua empresa, terá vindo depois dizer que a imprensa deturpou o que disse. Afinal saberia. A campanha terá então tido o aval do patrão. Ou não, ainda não se percebeu bem. A ministra da fé acredita que agora é preciso legislar. O deputado Luís Menezes, à falta de melhor argumento, perguntava, dirigindo-se às bancadas da oposição: "Os senhores querem meter-se na decisão livre de cada português escolher a quem compra e quando compra?" E o Álvaro, certeiro e lapidar, vai mesmo mais longe, "arrasando" irrefutavelmente, qualquer argumento que se possa invocar para criticar este espectáculo miserável que o Pingo Doce nos proporcionou: noutros países é normal haver promoções deste tipo.
Contudo, a ASAE, um organismo tutelado pelo próprio Álvaro, tinha iniciado investigações no próprio dia 1, encontrando motivos para duvidar desta "liberdade da decisão" e da "normalidade" de promoções como esta. A ASAE disse mesmo "ter encontrado indícios do incumprimento de algumas disposições do decreto-lei que rege a aplicação de preços e as condições de venda dos produtos a retalho" e enviou o processo do Pingo Doce para a Autoridade da Concorrência. Mas, esta é a mesma "Autoridade" na qual os portugueses depositarão uma confiança cega, que reiteradamente determina que o que se passa com os combustíveis, por exemplo, não indicia qualquer prática de cartelização...
Enquanto isto, Cavaco Silva, sempre igual a si próprio, volta a atacar. Em Cascais, numa reunião de um autodenominado "Conselho para a Globalização" (olhando globalmente para este painel percebe-se o alcance global do conselho que deste Conselho sairá,) apela à mobilização dos "portugueses" para que se projecte uma imagem diferente do país lá fora. De pronto, ele e os seus companheiros de jornada dão o exemplo. Tiram a gravata, et voilá!: num ápice, temos a imagem, que os factos citados acima documentam, de um país dirigido por um bando de fantoches e incompetentes de gravata, transformada numa outra, que a foto documenta, de um país governado por um bando de fantoches e incompetentes... sem gravata.

2012/05/02

1º de Maio de 2012

AO HESITANTE

Dizes tu:
A nossa causa não vai bem.
As trevas tornaram-se mais negras.
As forças diminuem.
Agora, depois de tantos anos de trabalho,
Estamos em situação mais difícil do que no começo.
O inimigo, porém, está aí e mais forte que nunca.
As suas forças parecem crescer.
Tomou um aspecto invencível.
Mas nós cometemos erros, não se pode negar.
O nosso número decresce.
As nossas palavras de ordem estão em desordem.
Algumas delas
Deturpou-as o inimigo; tornaram-se irreconhecíveis.
O que é que está errado daquilo que dissemos?
Só alguma coisa, ou tudo?
Seremos vestígios, (nós) os restantes, seres repelidos pelo rio da vida?
Ficaremos pra trás
Sem entendermos ninguém, sem que ninguém nos entenda?
Teremos de confiar na sorte?
Assim perguntas.
Não esperes
Outra resposta senão a tua!

(Bertold Brecht)




(Teresa Villaverde)

Ponto final


2012/04/30

Luto e luta

Acompanhei, com alguma curiosidade confesso, o evento que teve lugar ontem no Jardim de Inverno do S. Luiz, a propósito do falecimento de Miguel Portas. Um evento estranho. Um evento algo chocante.
O jornal i diz hoje que "Francisco Louçã não foi ontem o coordenador do Bloco de Esquerda. Paulo Portas também não foi o ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros. Nem sequer António Costa foi o presidente da câmara de Lisboa ou João Semedo o deputado bloquista. Ontem à tarde, no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, em Lisboa, despiram os cargos que ocupam. Deixaram em casa as poses de políticos para lembrar o que Miguel Portas foi para todos eles enquanto esteve vivo."
É verdade, mas preferia o contrário. Preferia que os políticos deixassem as "poses" quando tratam de política, que fossem mais autênticos (como me pareceu que foram aqui, de facto) e menos teatrais quando tratam de assuntos que nos dizem respeito a todos. Que tivessem, sobretudo, a humildade de levar em linha de conta na sua conduta que, mais cedo ou mais tarde, vamo-nos todos juntar ao Miguel. E, perante a morte, irei sempre preferir ver mais "pose", menos holofotes e mais recolhimento, numa situação que é e será sempre do foro íntimo de cada um.
Porque as lágrimas dos políticos, ao vivo na televisão, são e serão sempre espectáculo, mesmo involuntário. Terão leituras políticas possíveis que vão trair, se não forem acompanhadas de actos políticos adequados e coerentes, a sua autenticidade. Se a morte de Miguel Portas tem essa componente política acho que ela tem de ser mantida para lá do luto e ficar reservada para a intimidade da análise histórica. Se não tem essa componente política, não merece exposição pública e, neste caso, estamos então perante um acto de puro exibicionismo.
Sei que o mundo não é, de facto, preto e branco como este meu retrato pode sugerir. Mas, isso não me impedirá de perguntar que raio de esquizofrenia colectiva é esta que despe sem pudor o luto, mas que, habilidosamente, cobre com roupa enganadora a luta? Parece-me que o mérito e a lição de Miguel Portas, a razão última do consenso que gera, foi, justamente, não ter feito isto.

2012/04/29

É altura de mudar de dono...

Como se pode ver isto e ficar de braços cruzados, à espera...? Quem pode hesitar, ter dúvidas? Quem precisa de mais informação para agir?


 

2012/04/27

A arte da dissimulação

Logo após ouvir o discurso do Presidente da República do passado 25 de Abril invadiu-me um enorme sentimento de raiva e senti uma necessidade quase irreprimível de partilhar com os leitores do Face essa sensação.
Queria assinalar a minha total perplexidade pela tom de desresponsabilização que parecia inundar todo o discurso. "Temos todos o dever de mostrar que somos um país credível e com potencialidades que tantas vezes são ignoradas," disse Sua Excelência, num plural abusivo e manchado de tons levemente acusatórios. Queria manifestar a minha total revolta por esta tentativa de deitar para cima dos cidadãos comuns tarefas que incubem aos órgãos do Estado, por este driblar de competências. "Mostrar" o verdadeiro país é "uma tarefa para a qual são convocados todos os cidadãos," sentenciou Sua Excelência chutando a bola para fora. Queria enfim gritar alto que os feitos da Pátria que Sua Excelência reivindica para, pelo seu lado, "mostrar o País" foram cometidos apesar de haver a "pátria" e, frequentemente, com a "pátria" a exercer uma intolerável acção de boicote. Não é de hoje, certamente, mas a modernidade não passou ainda por aqui. Não será nunca a presença no Twitter que nos levará ao pódio. Mensagens ocas no Twitter, serão sempre ocas, em Português ou em Mandarim. Um provinciano no Facebook é sempre um provinciano.
A pouco e pouco fui percebendo, porém, que muitos outros portugueses tinham afinal ficado com uma igual sensação de revolta perante o discurso provocador, anestesiante, mas sempre sem asa do PR. E esse é o facto digno de nota.
Com um, aparentemente inócuo, discurso de circunstância o PR pretende fazer-nos acreditar que não tem nada a ver com esta realidade. Estamos todos convocados até para contribuir para o apagão. Mas, parece que a enorme tolerância de que o PR tem beneficiado ao longo dos anos (ele foi de facto eleito por um número significativo de portugueses (a)pagantes...) se estará a começar a esboroar. Mesmo os indefectíveis começam a dar sinal de cansaço. E isso é bom.
O Portugal que temos (todos, de facto) de mostrar ao exterior é um Portugal sem Cavaco e todos os outros responsáveis pela necessidade de termos agora, ao fim de 38 anos, que colmatar a nossa actual falta de "credibilidade [e] dignidade" e de desvendar "inúmeros aspetos positivos e imensas potencialidades," que gente como o actual PR foram paulatinamente destruindo ou, deliberada e convenientemente, escondendo ou boicotando ao longo de todos estes anos de acção política.
Não seríamos, nem eu nem o leitor, nunca nós os responsáveis por estas falhas, mesmo que nele tivéssemos votado.

2012/04/24

Sinais de mudança (2)

Demitiu-se esta segunda-feira a coligação governamental holandesa, constituida pelos partidos VVD (liberal) e CDA (democrata-cristão), que era apoiada pelo partido PVV (populista de direita). A demissão surge após sete semanas de duras negociações entre os três partidos, com vista a chegar a um acordo para implementar medidas de austeridade estimadas em 14 mil milhões de euros no próximo Orçamento de Estado. Ainda que a notícia já fosse conhecida desde o passado sábado, só ontem foi formalmente aceite pela rainha, que agora terá de marcar a data das próximas eleições. Em princípio, estas não devem acontecer antes de Setembro. Não causa grande surpresa esta demissão. Desde a sua instalação, em Outubro de 2010, que o governo dependia do apoio do PVV, partido liderado por Geert Wilders, um populista xenófobo que defende a proibição do Islão, a abolição da burka e a expulsão de muçulmanos não holandeses. Um programa que lhe valeu 15% de votos e 34 deputados nas últimas eleições. Dado os anti-corpos provocados na classe política holandesa, Wilders acabaria por não aceitar fazer parte do governo, mas garantia a maioria dos votos governamentais no parlamento. Uma construção, que os holandeses apelidavam de "governo tolerado", uma vez que a qualquer momento o PVV poderia retirar o seu apoio. Foi o que aconteceu agora, quando o governo propôs cortes significativos em áreas sociais sensíveis, como a idade e o valor das reformas, às quais o partido de Wilders se opõs. As reformas, aliás, eram um ponto de honra para Wilders que, a par da sua declarada Islamofobia, sempre defendeu os reformados de baixos recursos. Em queda de popularidade após os atentados de Oslo (quando as suas ideias foram elogiadas por Breivick) Wilders há que muito procurava uma saida airosa para a sua política de ódio e terra queimada. Aparentemente, a crise actual, ofereceu-lhe essa oportunidade. Ao distanciar-se das medidas do governo, espera ganhar a admiração dos holandeses mais pobres e, dessa forma, recuperar a popularidade perdida. Uma coisa parece certa: Wilders dificilmente voltará a ter a influência do passado e tudo aponta para que a próxima coligação governamental seja de centro-esquerda.

2012/04/23

Sinais de mudança

Sem surpresa, François Hollande ganhou a primeira volta das eleições francesas. Ainda que a diferença para Sarkozy não tenha ultrapassado os 2%, a vitória do candidato do PS abre boas perspectivas para uma mudança de governo. Resta a questão: em quem vão votar os eleitores de Marie Le Pen? Esta é a grande incógnita da 2ª volta, pois uma votação massiva da extrema-direita em Sarkozy daria a vitória ao actual presidente. Não seria a primeira vez e pode voltar a acontecer. Para já, os sinais são contraditórios. Ontem, no rescaldo das eleições, as primeiras sondagens eram francamente favoráveis a Hollande (54%); mas já hoje, na abertura das bolsas, os "mercados" davam os primeiros sinais de inquietação. Compreende-se: em tempos de austeridade, anunciar mais emprego e aumento de prestações sociais, equivale a uma maior despesa, logo maior risco de dívida, coisa que os investidores não desejam ver repetida. Temos, por isso, uma dupla incógnita: vão os eleitores de Le Pen continuar a rejeitar Sarkozy (abstendo-se) e dar assim a vitória à esquerda?; estará Hollande em condições de cumprir o que prometeu, caso ganhe as eleições? Uma coisa é certa, com Sarkozy teremos mais do mesmo, o que não trará benefícios para a Europa; com Hollande, poderá haver um maior contrapeso à política de Merkel e ao "diktat" alemão, o que poderá favorecer os países endividados. Para já, a maioria dos franceses parece acreditar no candidato socialista. Resta saber em quem acredita o candidato. Dito de outro modo: "como nenhum político acredita no que diz, fica sempre surpreso ao ver que os outros acreditam nele". A frase é atribuida a De Gaulle e ele sabia do que falava. Até lá, resta-nos esperar pelo dia 6 de Maio.

A gente tem mesmo de aturar isto?!

A conversa desta figurinha patética vale o que vale, claro, mas não deixa de merecer comentário. É um ministro do meu País, que está ao serviço do Povo Português, e este paleio suscita algumas interrogações.
O que se estará a passar em Portugal, afinal? O que é que se estará a passar de tão sério —para além do terrorismo do governo— que mereça os olhos esbugalhados e o palavreado proto-fascista desta criatura triste? Que outras perturbações estarão a suceder da ordem pública e da legalidade —para além do desemprego, dos cortes salariais, da quebra unilateral de contratos, do aumento insustentável dos impostos e do custo de vida, entre outros, gerados pela acção do próprio governo— que justifiquem este fraseado apocalíptico?
Achará este escarro que mete mesmo medo a alguém? Um nojo indescritível tudo isto.

2012/04/16

Para a Guiné e em força...

A Guiné-Bissau é, de todas as ex-colónias portuguesas, o país que mais tarda em afirmar-se como um estado democrático e soberano. O facto de ter sido a primeira colónia portuguesa a declarar unilateralmente a independência (ainda em 1973) não faria desta jovem nação um país mais democrático e progressista. Os golpes de estado sucedem-se a cada dois anos e as intromissões na sua política interna tornaram-se frequentes. Na realidade, estamos a falar de um estado sem poder onde se instalou o poder do narcotráfico. É neste difícil equilíbrio entre democracia e ditadura militar, que os portugueses que por lá andam - uns em projectos de cooperação, outros com negócios montados - fazem hoje "prova de vida" em todas as estações de rádio e televisão: que estão bem, não receiam pela sua vida (presume-se que estejam habituados às golpadas) e não pensam sair, pois a vida deles é lá. Impressionante, a calma dos portugueses da Guiné.
Bem mais nervoso, parece andar o nosso "ministro dos negócios estrangeiros, da terra, do mar e do ar" que, "in no time", ordenou o envio de uma fragata, uma corveta, um navio de abastecimento, um quadrimotor e centenas de militares, para evacuar os cidadãos portugueses em perigo. Já conheciamos o pendor guerreiro de Portas, o marinheiro por excelência da invencível armada portuguesa. Todos estamos ainda lembrados da corveta enviada em 2004 contra o "seawaves" (o barco holandês do aborto) que ameaçava as nossos brandos costumes na Figueira da Foz...
Para a "armada" ficar completa só faltam mesmo os submarinos. Logo agora que temos dois novos, acabadinhos de estrear que, ao que consta, já foram pagos, pois a Ferrostaal não "brinca" às guerras.

2012/04/13

A regra de ouro

Como era previsível, o Parlamento aprovou hoje por maioria a proposta de emenda ao Tratado Europeu vigente. Uma proposta da Alemanha, com vista a "disciplinar as finanças europeias", agora que a "zona euro" atravessa uma crise que já atinge as suas principais economias.
Em tese, uma proposta aparentemente lógica (quem não quer ter as suas finanças em ordem?); na prática, uma proposta que - mais uma vez - parece não ter em conta as diferenças existentes entre os países que fazem parte da "zona euro", exigindo o cumprimento de regras iguais para economias diferentes.
É o caso da obrigatoriedade de inclusão de um artigo especial (a regra de ouro) na Constituição de cada país, como forma de impedir os orçamentos nacionais de ultrapassarem um défice de 0,5%.
A "regra" não é sequer inédita, já que o Tratado de Maastricht (que implementou a moeda única) previa um tecto máximo de 3% nos défices nacionais, com a aplicação de sanções para os países que não cumprissem. Como os primeiros países prevaricadores foram precisamente a Alemanha e a França (as principais economias europeias) a UE "fechou os olhos", sem que tivessem sido aplicadas quaisquer sanções. Agora que a crise já atinge economias como a Itália e a Espanha (respectivamente a 3ª e a 4ª economias do Euro), soaram as campainhas de alarme e foi decidido, em reunião de líderes, exigir aos países do euro a inclusão desta regra nas suas constituições! Uma grave intromissão na soberania nacional, que o nosso governo se apressou a apoiar, na tradição acéfala e subserviente de governos portugueses anteriores.
Não se trata sequer de emendar o actual tratado, mas de criar um Tratado Internacional (à margem do existente) bastando uma maioria qualificada de 12 membros para o rectificar. Quem não o rectificar perde o direito aos fundos europeus (!?), uma clara chantagem sobre os países periféricos, como Portugal, que dependem dos apoios estruturais para convergirem economicamente com a média europeia.
Que a coligação no poder (PSD/CDS) tenha assinado de cruz, não nos surpreende. Que o PS, uma vez mais, dê o dito por não dito e, depois de apresentar uma versão alternativa ao Tratado Orçamental, tenha obrigado os seus deputados a votar a favor da "regra de ouro", só mostra a verdadeira face deste partido, que boicota sistematicamente qualquer hipótese de referendar as questões europeias, certamente temendo a resposta dos votantes.
Como diversos analistas (Rui Tavares, António Barreto, Pacheco Pereira) já assinalaram, nunca a questão europeia - que a todos diz respeito - foi referendada neste país. Perdeu-se, mais uma vez, a oportunidade. Resta saber, como bem lembrou Barreto, se esta alteração à Constituição poderá ser aprovada por maioria simples ou exige uma maioria qualificada de 2/3.
Quando se ignora a realidade, esta regressa sempre a galope...

2012/04/11

Ar do tempo

Meio-dia. Toca o telefone.
"Bom dia senhor Rui Mota. O meu nome é...da Optimus".
"Bom-dia"
"Bem disposto sr. Rui Mota?"
"Nem por isso"
"Porquê Sr. Rui Mota?"
"Estaria mais bem disposto, se o Gaspar não me cortasse na reforma"
"Pois é, Sr. Rui Mota. Compreendo-o. Diga-me Sr. Rui Mota, quem gostaria de ver como ministro das finanças?".
"Não tenho nomes. Eu voto em políticas, não voto em pessoas".
"Muito bem, Sr. Rui Mota. E que políticas é que preferia?"
"Outras que não estas. Onde se falasse verdade e houvesse mais justiça social".
"Também eu Sr. Rui Mota".
"Está a ver...".
"Olhe Sr. Rui Mota, eu penso que não é só o Gaspar. Os outros ministros também não valem nada. Ele é o Coelho, o ministro da Economia, de quem não me lembro o nome... Nem sequer se entendem entre eles, quanto mais..."
"É isso que eu penso".
"Digo-lhe mais, isto já não é uma democracia, é uma debitocracia".
"Isso. Ou uma dividocracia".
"Debitocracia, dividocracia, o que é isso interessa?"
"Pois é..."
"Eu também estou aqui, porque preciso, senão mandava-os bugiar..."
"Mas, afinal diga lá, o que é que você quer?"
"Eu vendo telefones, Sr. Rui Mota".
"Mas, eu já tenho um contrato com outra operadora e agora não vou desistir..."
"Compreendo, Sr. Rui Mota. Desculpe estar a incomodá-lo".
"Não faz mal, mande sempre".
"Obrigado Sr. Rui Mota. Gostei desta conversinha. Avante, camarada!".

A nova Ponte

Aqui há tempos um incidente com a Maternidade Alfredo da Costa gerou bastante sururu. Os tratamentos de infertilidade tinham sido interrompidos em circunstâncias polémicas e o caso motivou reacções enérgicas dos utentes e da própria DGS. Aparentemente a direcção da MAC terá agido por conta própria e criado uma situação escusada. Tanto quanto sei, o assunto nunca foi devidamente explicado, corpo clínico e utentes nunca mais se pronunciaram sobre este caso (tanto quanto sei, repito!)
O certo é que este caso, na altura, muito badalado na imprensa, gerou uma má imagem da MAC, uma instituição, até aí, sem mácula e credora dos melhores elogios.
Agora, perante a iminência do fecho, gera-se um movimento que contradiz totalmente, na forma e no conteúdo, qualquer sentimento menos positivo que a MAC pudesse ter gerado. A MAC afinal é isto: um cordão humano a fazer lembrar que existem milhares de cordões umbilicais de facto nunca totalmente cortados. A MAC está comprovadamente no coração de milhares de portugueses e tem todos os ingredientes para chegar ao coração de muitos mais.
Onde está a verdade? Nas explicações do primeiro ministro, dadas no Maputo, ou há de facto outras motivações para fechar a MAC? Ontem falava-se em interesses imobiliários, por exemplo, que estarão a condicionar este caso. Eu, que não acredito em bruxas nem em teorias da conspiração, diria que o problema que veio a público em Outubro de 2010 não passou de um mero incidente e não tem nada a ver com o que se está a passar hoje. Mas, depois lembro-me da história do "que las hay, las hay", ligo os dois factos e pergunto-me se a má imprensa gerada em 2010 terá sido assim tão inocente.
De qualquer forma, este governo parece que descobriu aqui o seu "caso da Ponte 25 de Abril", um caso aparentemente "inocente",  mas capaz de ter efeitos devastadores. Uma bota que estou cheio de curiosidade em ver como vai ser descalçada...

PS- Se quiser expressar a sua opinião sobre o encerramento da MAC há uma petição a correr, acessível aqui. Em dois dias recolheu mais de 11 000 assinaturas...

2012/04/05

A mentira instituida como regra

Já estávamos habituados, por isso não devíamos estranhar.
O seu uso começou há muito e nem sequer é apanágio dos políticos portugueses.
Digamos que faz parte do jogo político, ainda que a "política" continue a ser considerada a mais nobre das artes.
Também sabemos que a verdade é "revolucionária", mas nem toda a gente quer ouvir falar dela, quanto mais revelá-la.
Vivemos, assim, numa espécie de realidade virtual, onde nos impingem a mentira todos os dias para que, mesmo quando nela não acreditamos, possamos viver mais descansados com a nossa consciência. Porque a "consciência" anda adormecida, cometem-se as maiores barbaridades em nome de uma coisa que se chama democracia, sem que a maioria das pessoas se indigne.
O anúncio, ontem matreiramente anunciado pelo primeiro-ministro (sobre a extensão do período de congelamento dos subsídios de férias e de Natal até 2015) e hoje confirmado pelo ministro das finanças na AR, é o exemplo acabado do despudor a que chegaram estes merdosos políticos.
Pensávamos já ter assistido ao pior e queremos sempre acreditar que, lá no fundo, "eles" não são todos iguais e alguns (quais?) até querem o nosso bem. É mentira.
Por isso não devemos estranhar.
Mais: é preciso denunciá-los todos os dias, todos os políticos e todos os partidos que eles representam, porque eles não nos representam. Para que a mentira não seja instituida como regra.

2012/04/03

Amêndoas amargas...

Segundo o Comité de Protecção de Jornalistas, morreram desde 1992 em todo o mundo 908 jornalistas. Iraque, Síria, Argélia, Paquistão, Somália, Afeganistão, etc, são alguns dos países onde mais jornalistas foram mortos. Morreram no decorrer de missões perigosas, apanhados em fogo cruzado ou, na esmagadora maioria dos casos, assassinados.

Ao divulgar estas mortes, ninguém, incluindo este tipo de associações como o CPJ, as confunde com os conflitos no âmbito dos quais elas ocorreram. Tão pouco que ninguém, certamente, com um mínimo de senso, teria a lata de atribuir as causas dos conflitos à morte de um jornalista. Por mais heróica que seja a sua acção, os jornalistas são vítimas acidentais, mas conscientes, de acontecimentos que os transcendem. São espectadores indesejados que entram pelos bastidores do teatro de operações.

Hoje ficou-se a saber que os agentes que causaram os distúrbios do passado dia 22 vão ser objecto de procedimentos disciplinares. Em causa, pelo que se percebe, parecem contudo estar apenas as agressões de que foram vítimas os repórteres fotográficos da Lusa e da AFP. Os manifestantes e, em particular, os transeuntes vítimas da actuação indigna da polícia pouco parecem preocupar os responsáveis.

O que os génios da propaganda governamental (com o PR a fazer coro) parecem querer fazer é criar um "acontecimento" à volta das agressões aos repórteres para ofuscar os motivos e o debate em torno dos problemas que estão a levar as pessoas a vir reclamar para a rua. Os jornalistas da Lusa e da AFP deram um jeitão à agenda do governo. Só não vê, a partir de agora, quem não quiser mesmo ver: a origem de toda a crise que atravessamos reside no facto de a polícia ter batido nos jornalistas no passado dia 22...

Falando de governo, também parece que se quisermos saber se é verdade ou não que agentes à paisana se meteram no meio dos manifestantes, lançando petardos e provocações e, sobretudo, se é verdade ou não que a polícia recebeu ordens para provocar a desordem no dia 22 (*), o melhor é esperarmos sentados. Nem os jornais parecem preocupados com o assunto. Continuo sem perceber por que razão, quando há "jogos de risco" e possibilidades reais de distúrbios com claques dos clubes de futebol, é mobilizado um dispositivo significativo de agentes —com conferências de imprensa, pisteiros e batedores!— que consegue conter com sucesso uma turba de mentecaptos que não procuram outra coisa que não seja o confronto, e, no caso de uma manifestação cívica, como estas a que temos vindo a assistir, o mesmo dispositivo se revela totalmente incapaz de usar os mesmos procedimentos, a mesma tolerância, paciência e paninhos quentes usados com os mentecaptos para manter a ordem pública. E sem provocações! São mistérios que ninguém consegue entender...

Como estamos em período de celebração da Páscoa, o governo parece já ter encontrado os carneiros para o sacrifício. E a Associação Sindical dos Profissionais da Polícia acha bem...

(*) Os vários responsáveis por este triste espectáculo que foi a actuação da polícia no dia 22 ainda não perceberam que esta ideia do acto individual, para que apontam as "averiguações" em curso, piora a sua imagem e a da corporação. Se houvesse margem para tantos actos individuais é porque não havia comando.