2021/09/22

San Fernando de Cádiz: na Rota de "Camarón"

VIVER DEPRESSA, MORRER JOVEM 

José Monge Cruz (1950-1992), mais conhecido pelo seu nome artístico "El Camarón de La Isla" (o camarão da ilha) foi um cantor cigano de Flamenco. Considerado um dos maiores "cantaores" de sempre, colaborou e.o. com Paco de Lucía e Tomatito, três dos mais importantes intérpretes do revivalismo Flamenco da segunda metade do século XX. 

Nascido em S. Fernando de Cádiz, numa família Roma espanhola, foi o sétimo de oito filhos. A sua mãe, Juana Cruz Castro, "La Canastera", fabricava canastras que vendia no mercado local. O seu avó, José, alcunhou-o de "camarão", devido ao cabelo ruivo e à tez clara da sua pele. Após a morte do pai, quando tinha apenas oito anos de idade, o jovem "Camarón" viu-se na necessidade de ganhar a vida, o que fazia cantando em bares e paragens de autocarro, acompanhado pelo seu amigo de juventude, o famoso cantor flamenco, Rancapino.

Ainda jovem, começou a cantar na famosa "La Venta de Vargas", uma tertúlia flamenca, onde os aficionados do género se reuniam, para escutar os grandes cantores andaluzes que se deslocavam a San Fernando. Aí seria descoberto pelo empresário Miguel de Los Reys, que o convenceu a tentar a sorte em Madrid, para onde partiu em 1968 para se tornar cantor residente no famoso "tablao" madrileno "Torres Bermejas", onde permaneceu doze anos.

Durante a sua permanência no clube, conheceu Paco de Lucía, frequentador e acompanhante habitual de cantores residentes, com quem estabeleceu uma longa amizade. Juntos, gravariam um total de nove álbuns entre 1968 e 1977, numa das mais bem sucedidas parcerias da história do flamenco moderno. Durante esse período, viajaram e actuaram em inúmeras tournées dentro e fora de Espanha. Mais tarde, devido à carreira solista de Paco de Lucía, o cantor iniciou um período de colaboração com Tomatito, com quem gravaria os últimos álbuns. Voltaria a gravar com Paco de Lucía, no seu último disco "Potro de Rabia y Miel", datado de 1992, ano da sua morte.  

Em 1976, com 25 anos de idade, casaria com Dolores Montoya, uma cigana de La Línea de La Concepción, conhecida como "La Chispa". Quando se casaram, "La Chispa" tinha 16 anos. Tiveram quatro filhos.

Muitos consideram "Camarón" o solista mais popular e o mais influente "cantaor" (cantor) do período moderno do Flamenco, iniciado na década de setenta do século passado. Ainda que o seu trabalho tenha sido criticado por alguns tradicionalistas, foi um dos pioneiros na utilização de um baixo-eléctrico nas suas canções. Este foi um "point of no return" na história do Flamenco, que ajudou a distinguir o "nuevo" do "tradicional" Flamenco.

Na década de oitenta, no auge da fama, recebeu convites para se deslocar ao estrangeiro, que amiúde recusava. Das poucas vezes que aceitou, destaque para as históricas actuações no Madison Square Garden em Nova Iorque, no Cirque de L'Hiver em Paris e no Festival de Jazz de Montreux, onde foi apresentado por Quincy Jones, como o génio do Flamenco moderno. Estávamos em 1987 e, de todos estes concertos, há registos áudio e vídeo, que não mentem. Arrebatadora, a arte de Camarón. 

Nos últimos anos de vida sofreu diversos internamentos hospitalares, devido ao precário estado de saúde, deteriorado por uma longa vida de fumador e uso abusivo de drogas. Em 1992, Monge Cruz morreu de cancro de pulmão, numa clínica de Badalona (próximo de Barcelona), não sem antes ter gravado o seu último trabalho, sob a direcção e produção de Paco de Lucía. 

Foi sepultado numa cerimónia católica, no cemitério de San Fernando, como era seu desejo. No funeral, estiveram presentes mais de 100.000 pessoas, vindas de toda a Espanha. Nesse dia, 4 de Julho de 1992, a região autónoma da Andaluzia decretou luto nacional.

LA RUTA DE CAMARÓN

Esta foi a segunda vez que visitámos San Fernando, depois da malograda visita de 2018, quando a maior parte dos lugares de "peregrinação" (la ruta de Camarón) indicados pela "oficina de turismo" da cidade, estavam encerrados (era um sábado de Verão e as horas de expediente não se coadunavam com as nossas). Desta vez, confirmámos os horários e, após reserva gratuita "online", lá fomos ver o moderno "Centro Interpretativo El Camarón", inaugurado a 2 de Julho deste ano, dia da morte do cantor. 

"El Camarón" (Centro Interpretativo), é um museu multimédia, situado paredes-meias com "La Venta de Vargas", que serve refeições durante o dia e funciona como "peña" flamenca à noite. Um lugar mítico, por onde passaram inúmeras figuras do "cante" e onde o mais famoso filho da terra iniciou a sua carreira. Ao construir o Centro Interpretativo ao lado da "Venta",  a autarquia de San Fernando escolheu um lugar estratégico da cidade, já que os visitantes de carro, oriundos de Cádiz, têm de contornar a rotunda que antecede a Calle Real (via principal do burgo), onde está situada a Venta, o monumento a Camarón e, agora, o Museu. Só não visita os três lugares, quem não quiser. Para além destes três locais, "La Ruta", inclui mais três sítios de visita obrigatória: a Casa onde nasceu Camarón, situada no antigo bairro de pescadores; a "Frágua", onde a família possuía uma forja de ferreiro; e o mausoléu de Camarón, no cemitério da cidade.

Iniciámos a visita pela "Venta" à hora de almoço, quando o restaurante está a funcionar e os visitantes, nacionais e estrangeiros enchem o local para degustar o excelente menu e verem o pátio interior, pejado de cartazes e fotos alusivos à passagem de Camarón e outros ídolos flamencos. Ao lado do palco, a reprodução em azulejo da efígie do cantor, assim como um cartaz icónico, de uma homenagem feita poucos meses depois da sua morte, onde participaram os grandes nomes da arte flamenca. 

Porque o tempo o permitia, aproveitámos a hora da "siesta" para uma visita ao cemitério, situado na colina da cidade. Após algumas perguntas, foi fácil dar com o lugar. O mausoléu, encontra-se à entrada do lado esquerdo ("Não há que enganar", avisaram-nos). De facto. Um dos maiores mausoléus do cemitério, todo em mármore, onde se destaca, num pedestal, a figura do Camarón sentado, como estivera a cantar. A tumba estava coberta de flores e, pormenor curioso, nela se encontra também o seu irmão Manuel Monge, falecido em 2019, que víramos no documentário "A Lenda do Tempo", num longínquo Festival de Cinema em Roterdão. Apesar do calor, imenso àquela hora da tarde, não faltavam visitantes, a maioria estrangeiros. 

De volta à "baixa" da cidade, tempo para visitar o "Centro Interpretativo", onde uma longa fila de visitantes esperava a sua vez, pois as últimas visitas começam às 19h. Um edifício moderno, de dois andares onde, após uma breve introdução feita pelo guia, somos conduzidos ao primeiro andar. Neste piso, está exposta uma vasta colecção de objectos pessoais (cartas pessoais, documentos vários) e troféus diversos (discos de ouro, estatuetas, etc...) cedidos pela família, a troco de uma remuneração vitalícia. Para além deste vasto espólio, existem gravações em áudio e vídeo, que podem ser escutadas nos diversos "postes", espalhados por todo o andar. Há ainda ecrãs gigantes onde podem ser vistas imagens dos concertos mais icónicos do cantor enquanto, numa sala paralela, são exibidos adereços que Camarón utilizou em vida (trajes de actuações, sapatos, bonés, óculos, etc...). 

De regresso ao rés-do-chão, tempo para admirar a peça central da exposição, um mercedes-benz de luxo, que o cantor conduzia nas inúmeras digressões que fez por Espanha. Dado que o Centro se encontra em fase experimental, ainda não dispunha de uma loja de "souvenirs" a funcionar. Uma falta sem remissão, que nos obrigará a voltar a San Fernando, um destes dias. Sempre uma boa desculpa para revisitar os lugares por onde passou Camarón...

 

 

2021/09/17

Grândola: "Que é feito dos cantautores?"

Realizou-se no passado fim-de-semana, em Grândola, mais uma edição dos "Encontros da Canção de Protesto", uma iniciativa do "Observatório da Canção de Protesto" (OCP), organismo resultante da parceria entre a Câmara Municipal local, entidade promotora, a Associação José Afonso (AJA) a Sociedade Musical Filarmónica Operária Grandolense, os Institutos de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o Centro de Estudos de Sociologia Estética e Musical (CESEM), o Instituto de Etnomusicologia (INET-md) e o Instituto de História Contemporânea (IHC). 

Trata-se de um projecto, lançado em 2007, então denominado "Observatório Mundial da Canção de Protesto" que, numa primeira fase, foi apadrinhado pela autarquia em exercício e que, posteriormente (2015) seria recuperado com o nome actual, agora mais consentâneo com os fins a que se propõe. "Os seus objectivos são o estudo, a salvaguarda e a divulgação do património musical tangível e intangível da Canção de Protesto, produzida durante os séculos XX e XXI, através da realização de iniciativas culturais diversas" (dos objectivos). 

Esta foi a terceira edição dos Encontros, pelos quais têm passado alguns dos intérpretes nacionais mais marcantes da "Canção de Protesto", a que alguns chamam "Canção de Intervenção", "Canção de Resistência" ou "Canto Livre", de acordo com a época e os intervenientes do género musical.  Depois da edição de 2020, marcada pela pandemia que obrigou ao cancelamento de vários concertos (ex. Sérgio Godinho), esta edição, que decorreu entre 10 e 12 de Setembro, cumpriu rigorosamente a programação anunciada, ainda que nem sempre dentro dos horários previstos. Uma pecha menor já que, uma vez em Grândola, era difícil sair e os "encontros" servem para isso mesmo: voltar a encontrar quem não víamos há um ano...

Do programa desta edição, destaque para a comemoração dos 150 anos do hino "A Internacional", evocado em quatro momentos distintos: uma exposição de cartazes alusivos, produzida pelo OCP, que podia ser vista no Parque Central da vila; o concerto "Se toda a gente se juntar" pelo Coro da Achada, com textos e canções da Comuna de Paris; o documentário "The Internationale" (Peter Miller) e uma sessão testemunhal, que teve a participação de António e Carlos Moreira, Paulo Guimarães, Samuel Quedas e Hugo Castro, que evocaram as suas experiências com o hino em debate. 

Das sessões testemunhais mais concorridas, as dedicadas a "Grândola" (canção) e à sua gravação nos estúdios de Hérouville, por dois cantores presentes, Godinho e Fanhais (ao tempo a residir em Paris), constituíram momentos de emoção e humor, com histórias desconhecidas do grande público. Destaque ainda, no âmbito dos colóquios, para a comunicação de Anthony Seeger (sobrinho do grande Pete Seeger) que, dos Estados Unidos, participou por skype numa das mais interessantes sessões do certame, subordinada ao tema" A função política e social da canção", que teve a colaboração de Diana Dionísio, Mário Correia e Carlos Calixto. 

Finalmente, a parte musical, sempre a mais aguardada e participada, já que pelos palcos montados para os Encontros, passaram alguns dos nomes míticos da canção: 

Destaque para as boas intervenções do duo Grace Petrie (canto e guitarra) e Ben Moss (violino), dois "folkies" de gema, que deliciaram a assistência com canções de autoria própria, a comprovar que, em Inglaterra, o revivalismo folk dos anos setenta, continua vivo e de boa saúde. Outra agradável surpresa, seria o grupo "Al Sur", de nome espanhol, mas de origem portuguesa, que interpretou em modo pop-rock, baladas e canções de diversos autores, e.o. Saramago e José Afonso. Bom projecto musical.

Os momentos altos da festa estariam, no entanto, guardados para o palco principal, com as actuações (na primeira noite) de Sérgio Godinho e os Assessores que, em versão electrificada, recordaram canções dos primeiros álbuns do cantor, provando que a inovação não é inimiga da tradição; depois, o grande concerto de sábado à noite, com a presença dos míticos cantores espanhóis Paco Ibañez, Luís Pastor, Quico Pi de La Serra, Bernardo Fuster e dos portugueses Carlos Alberto Moniz e Samuel Quedas que, conduzidos pelo mestre de cerimónias José Fanha, alternaram em palco, nalgumas das suas mais conhecidas canções. Finalmente, o concerto de encerramento, evocativo do cinquentenário do LP "Cantigas do Maio", que foi integralmente cantado por Francisco Fanhais e João Afonso, acompanhados musicalmente por Rui Pato e pela Sociedade Musical Filarmónica Grandolense. Melhor final, era impossível. 

"Que fue de los cantautores?" (Que é feito dos cantautores?), perguntava-se Luís Pastor no seu poema-manifesto, que vem declamando há décadas e voltou a cantar em Grândola. Bom, eles continuam por aí e não desistiram, como os Encontros de Grândola comprovaram. Resta saber por quanto mais tempo. Para o ano, há mais. 

2021/09/02

Theodorakis, a alma grega

A primeira vez que recordo ter ouvido música de Mikis Theodorakis (1925-2021) foi no Inverno de 1967. Vivia, então, num centro holandês em De Bilt (Holanda) onde refugiados de diversos países,  aprendiam neerlandês 6 horas por dia. Éramos cerca de duas dezenas de estudantes, entre os quais, um grego. Eu tinha recusado a guerra colonial e ele a ditadura dos coronéis. As afinidades eram muitas e a língua não era obstáculo, já que ambos falávamos inglês e estávamos a aprender uma língua comum. 

Nos poucos meses em que convivemos, vinha sempre à baila a situação em ambos os países, sujeitos a duas das mais cruéis ditaduras da Europa Ocidental. Também falávamos da oposição e das formas culturais, que essa resistência assumia. As músicas (da canção de denúncia ou de protesto) eram temas aflorados. Eu falava de José Afonso (recém-regressado de África, onde tinha sido banido do ensino) e ele de um certo Mikis Theodorakis (preso e deportado para uma ilha grega). Nenhum de nós tinha discos, muito menos gira-discos e a música dos nossos países não passava na rádio holandesa.  

Até que um dia...uma amiga holandesa, que morava nos arredores e era visita habitual do centro, surgiu com um LP na mão, acabado de ser editado pela His Master Voice/EMI holandesa. A capa era cinzenta, com olhos desfocados em fundo, encimados por duas filas de arame farpado. Tinha dois nomes escritos na capa: Mauthausen Cyclus e Mikis Theodorakis. Convidou-nos a ir a sua casa para ouvirmos o disco e lá fomos no mesmo dia. 

À medida que escutávamos as canções, interpretadas pela magnífica Maria Farandouri, o grego chorava de emoção e alegria, enquanto eu, sem perceber patavina, senti que algo de transcendente se passava. Uma verdadeira epífania. Por esses dias (inícios de 1968) Theodorakis seria libertado do degredo grego e a sua música passou a fazer parte das emissões de rádio holandesas que, dessa forma, prestava homenagem ao compositor e resistente helénico. 

Não demoraria muito a adquirir o meu primeiro gira-discos (modelo Philips, de plástico, com altifalante incorporado na tampa) tendo o Mauthausen Cyclus, sido uma das primeiras aquisições. Ainda o guardo, apesar de, posteriormente, ter comprado duas versões em CD: a original grega, adquirida no aeroporto de Atenas e uma edição alemã, intitulada "Mauthausen Cantata", esta mais longa, com versões cantadas em hebraico (Eli Noar Moav Veniadis), grego (Maria Farantouri) e inglês (Nadia Weinberg). A condução da orquestra é de Mikis Theodorakis, Alexandros Karozas e Yossi Ben-Nun. O CD inclui ainda um discurso, em alemão, de Simon Wiesenthal, o conhecido "caçador de nazis". Os arranjos são mais solenes e lentos, mas a beleza musical é, se possível, ainda maior. Um monumento musical. 

Reproduzo, em tradução livre, as palavras de Theodorakis, na contra-capa desta última edição: "Um bom amigo meu, o poeta Iakovos Kambellis, foi prisioneiro em Mauthausen, durante a II Guerra Mundial. No início dos anos sessenta, escreveu as suas memórias desse tempo, com o título "Mauthausen". Em 1965, também escreveu quatro poemas sobre este tema e ofereceu-me a oportunidade de musicá-los. Fi-lo com grande prazer, primeiro porque gostei da poesia dos textos e, segundo, porque eu próprio estive encarcerado durante a ocupação nazi em prisões italianas e alemãs, mas, fundamentalmente, porque estas composições dão-nos a oportunidade de lembrar às jovens gerações da história, a história que nunca deve ser esquecida. Primeiro e acima de tudo, claro, a "Mauthausen Cantata" é dirigida a todos aqueles que sofreram sob o Fascismo e o combateram. Devemos ter os crimes nazis, continuadamente, nas nossas mentes, porque esta é a única garantia e a única forma de assegurar que eles não se repitam. E nós podemos ver isso, todos os dias: que o fantasma do fascismo está longe de derrotado. Raramente mostra a sua verdadeira face, mas culturas e mentalidades Fascistas existem em todo o Mundo. Para nós, que tivemos de viver neste tempo de horror, a tarefa mais importante é a de proteger os nossos filhos contra este perigo". Mikis Theodorakis.

Theodorakis morreu, mas a sua obra é imortal. Certamente, o maior compositor grego do século XX e um dos maiores vultos culturais da Europa e do Mundo. Um gigante. O governo grego decretou três dias de luto nacional pela sua morte. É bom saber que há países onde os seus heróis são homenageados. 

2021/09/01

Do período clássico ao período barraca

A imagem clássica: o comboy (também conhecido como o “mocinho”, no Brasil), no fim da fita, cavalgava em direcção à luz do Sol, depois de derrotar os “maus”, sorriso sereno e espírito de missão cumprida. Banda sonora heróica, a fechar a cena. 

A imagem actual: o major general Donahue, no fim da fita, o último cowboy a sair do Vietname, perdão, do Afeganistão, “return to sender”, pela calada da noite, furtivo, câmara de infravermelhos. A banda sonora de fecho é dada pela voz do novo patrão talibã, que diz que se cá voltares levas um tiro nos cornos! Com as armas que cá deixaste! 

Yahooooo!!!

2021/08/17

Afeganistão (here we go again...)

Não há inocentes nesta história. 

De um lado, um povo (o afegão) que sempre deu "porrada a quem passa" (para citar o Zeca, a propósito de outro povo conhecido...). Deu porrada nos macedónios do Grande Alexandre, nos ingleses (sempre bons na política de dividir para reinar), nos russos (nessa altura ainda eram soviéticos) e, como não podia deixar de ser - "noblesse oblige" - nos americanos, republicanos e democratas. Um fartote. 

Os actuais Talibãs, (criados nas madraças do Paquistão) sempre lá estiveram, mas só começaram a ganhar notoriedade depois de apoiarem Bin Laden que, de guerrilheiro Mujahidin (aquele que combatia pela Jihad) contra os russos, passou a ser terrorista contra os americanos. Em rigor, o Bin (saudita) não gostava nada da monarquia do seu país, que acusava de ser aliada dos Estados Unidos da América, a quem comprava armas, a troco de petróleo.

Apoiado pelos Talibãs, que entraram no Afeganistão e tomaram conta do poder nos anos noventa, o Bin criou o Al Qaeda e fez do Afeganistão a sua base. Isto, até ao 11 de Setembro, quando os americanos, como represália aos ataques às Torres Gémeas, decidiram bombardear e invadir o país. Destruídas as bases do Al Qaeda, os Talibãs recuaram estrategicamente para as montanhas (Tora-Bora) e para as fronteiras do Paquistão, onde continuaram a alimentar a guerrilha até aos dias de hoje. A partir daqui, a história é conhecida. 

Com a saída dos americanos e a confusão instalada, assistimos ao reescrever de mais um capítulo desta triste história. Os "senhores da guerra" voltaram ao palácio real para uma "fotografia de grupo" e esperam agora que o seu governo seja legitimado pelo Mundo Ocidental e outros países (Irão, Russia e China) que necessitam de ter acesso aos "pipe-lines" da região para exportarem o petróleo e o gás natural. Isto para não falar das célebres papoilas que, desfeitas em pó, provocam alucinações. Ou pesadelos.

2021/08/05

Portugal quer a taça e a medalha

A "euforia nacional" pelas medalhas portuguesas nos JO  é, no mínimo, caricata, e, no máximo, motivo  da maior apreensão, para qualquer pessoa preocupada com o País. Quando a euforia vem pela via institucional, a coisa começa a roçar a tragédia. 

O desporto em Portugal é uma anedota, e apenas tem verdadeiros motivos de regozijo na modalidade de "buraco no banco," praticado por alguns dos seus dirigentes. O verdadeiro discurso do "Estado da Nação" desportiva está todo clarinho neste escrito, que aconselho vivamente a ler. Este é o verdadeiro Portugal do desporto. 

Não há NADA a celebrar! Alapar nos feitos desportivos de Portugal, como é feito pelos do costume, é um verdadeiro escândalo. Os feitos (que o são, não haja dúvidas!) com direito a medalhas, não são do País, mas fruto da carolice dos do costume! Os clubes, alguns dirigentes mais generosos, os atletas e as suas famílias. Os responsáveis políticos portugueses deviam ter vergonha no trombil e deviam estar caladinhos quando elogiam os atletas que têm ganho medalhas nas grandes competições internacionais, em condições inacreditáveis. 

No caso de Pedro Pichardo, então, é ainda mais escandaloso! O presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, demolidor na análise que faz da situação do desporto em Portugal,  lembra que estes feitos são fruto de milhares de horas de trabalho. Onde decorreu a maior parte destas horas, no caso de Pichardo? Trata-se de um atleta que fez toda a sua formação em Cuba, altamente medalhado e com recordes obtidos antes do "salto para a felicidade" (como alguém já descreveu), que foi vir para Portugal. Cuba é um país com uma política desportiva excepcionalmente desenvolvido, onde o desporto é mesmo considerado um direito, que até se dá ao luxo de exportar treinadores, já cá tivemos alguns, como exporta profissionais de saúde. 

Agora Portugal alapa-se no Pichardo, como se de um feito português se tratasse. O País regozija-se, contentinho da silva, com se este fosse o seu ouro. Será, quando muito, apenas motivo de satisfação para o clube que o contratou e para os seus adeptos. 

Não vejo maneira de incluir Portugal nos festejos. Portugal tem, até à data, 24 medalhas nos JO, Cuba tem 238. Eu soletro: duzentas-e-trinta-e-oito!! Resta saber por que motivo o jovem Pichardo decidiu sair do seu país, onde tinha condições que nenhum atleta português tem ou terá nos tempos mais próximos, para vir para esta escola de desporto, que apenas se distingue, como tal, no dirigismo desportivo criminoso, para este oásis do desporto mundial, que é Portugal...

2021/07/18

A "comunicação social"


Noam Chomsky, é, seguramente,  um dos intelectuais vivos mais importantes. Chomsky criou esta lista de 10 estratégias de manipulação que a seguir reproduzirei, um série de estratégias levadas a cabo, permanentemente, através da chamada "comunicação social". Vale a pena reflectir seriamente sobre elas. 

O negacionismo e o "virar o bico ao prego" são formas de manipulação usadas pelo poder. Vemos isso constantemente em áreas tão diversas como o ambiente, a saúde, a educação ou a segurança. E, claro, vêmo-lo de forma particularmente insidiosa na economia, onde o chorrilho de escândalos se sucede, com grande alarido, sem que, no entanto, se antevejam quaisquer mudanças de fundo ou, sequer, vontade de as promover.
A "comunicação social" é um dos eixos principais e uma ferramenta chave desta manipulação.
Reparem como é raro ter hoje uma conversa com alguém sobre temas importantes da sociedade, sem que, mais cedo ou mais tarde, lá venha uma alusão a um qualquer programa de tv, sem que ouçamos uma citação de um "comentador" ou uma alusão a uma qualquer "notícia" vinda a público no dia. As pessoas "sabem" o que as mandam "saber."
Veja-se o exemplo actual de Cuba. De repente, uma data de "peritos" de bancada, que provavelmente nem sabem onde fica a ilha, surgiram a emitir "opiniões" e a largar postas de pescada sobre o tema. A revolução cubana iniciou-se em 1953 e consumou-se em 1958, Nunca, ao longo destes anos todos e das várias fases pelas quais a revolução passou, os ouvimos a falar sobre um tema tão complexo como este. Mas, de repente, até aqui no Somos, por um golpe de magia, surgem uns iluminados que sabem tudo sobre Cuba e insistem em nos presentear com as suas “opiniões.” De onde terá surgido e com que propósito, o súbito interesse desta gente pelo país? Cuba virou tema (sabe-se lá a mando de quem e com que propósito) e toca de mostrar empenho político relativamente a um assunto sobre o qual, na verdade, estes "comentadores" de ocasião revelam, na melhor das hipóteses, não mais que uma enorme ignorância. A verdade é que morderam todos o isco. O discurso que papagueiam, mesmo com ademanes de esquerda, é um discurso reacionário.
Parte deste frenesim participativo é instigado e fica-se a dever à acção da CS, cuja acção se exerce de diversas formas e se insinua, muitas vezes, de forma subtil, afectando mesmo quem pensa que está atento.
A capacidade de manipulação da CS é imensa. Só existe, aliás, uma estratégia para lhe pôr fim: cortar-lhe o pio. A maioria das pessoas fica horrorizada com o pensamento, como se, a simples consideração dessa hipótese, a ou o colocasse perante a iminência da mais desgraçada orfandade. Mas, neste capítulo, é mesmo a única estratégia possível. Experimente.
Entretanto, leia a análise de Chomsky sobre tudo isto...
“1-A estratégia de distração
O elemento primordial do controlo social é a estratégia de distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas e mudanças importantes decididas pelas elites políticas e económicas, através da técnica do dilúvio ou inundação, com contínuas distrações e informações irrelevantes. A estratégia de distração também é fundamental para evitar que o público se interesse por conhecimentos essenciais, na área da ciência, economia, psicologia, neurobiologia e cibernética. Manter a atenção do público desviada de problemas sociais reais, aprisionados por questões sem real importância. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem tempo para pensar, voltando para a quinta como os outros animais (cf. “Armas silenciosas para guerras silenciosas.”)
2- Crie problemas e depois ofereça soluções
Este método também é denominado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” que se espera que provoque uma certa reação do público, com o objetivo de que este seja o instigador das medidas que já deseja aceitar. Por exemplo: deixar a violência urbana espalhar-se ou aumentar; organizar ataques sangrentos, com o objetivo de fazer crer que é o público quem exige leis e políticas de segurança em detrimento da liberdade. Ou ainda: criar uma crise económica para obrigar a que o corte dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos sejam aceites como um mal necessário.
3- A estratégia da gradualidade
Para que uma medida inaceitável seja aceite, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. Foi assim que condições sócio-económicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatização, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que não mais garantiam rendimentos dignos, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas imediatamente.
4- A estratégia de adiamento
Outra forma de fazer com que uma decisão impopular seja aceite é apresentá-la como "dolorosa e necessária", ganhando aceitação pública, no momento, para futura aplicação. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que imediato. Em primeiro lugar, porque o esforço não é aquele empregado imediatamente. Em segundo lugar, porque o público, a massa, sempre tem a tendência para esperar ingenuamente que "amanhã tudo vai ser melhor" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isso dá ao público mais tempo para se habituar à ideia de mudança e para aceitá-la com resignação quando chegar a hora.
5- Dirigir-se ao público como a crianças
Grande parte da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e um tom particularmente infantil, muitas vezes próximo da fraqueza, como se o espectador fosse uma criatura de poucos anos ou um deficiente mental. Quanto mais se tenta enganar o espectador, maior é a tendência para usar um tom infantil. Porquê? “Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, maior será o seu poder de sugestão e, ela tenderá, com toda a probabilidade, a ter uma resposta ou reação mesmo sem sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos "(cf. "Armas silenciosas para guerras pacíficas.”)
6- Usar o aspecto emocional, muito mais do que reflexão
Explorar a emoção é uma técnica clássica para provocar um curto-circuito na análise racional e, em última instância, no sentido crítico do indivíduo. Além disso, o uso do registo emocional abre uma porta para o inconsciente, que permite implantar ou injectar ideias, desejos, medos e medos, compulsões ou induzir comportamentos.
7- Manter o público na ignorância e na mediocridade
Tornar o público incapaz de compreender as tecnologias e métodos usados ​​para o seu controlo e escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais mais baixas deve ser tão pobre e medíocre quanto possível, para que o fosso da ignorância pretendido para as classes mais baixas e mais altas seja e continue a ser impossível de preencher pelas classes mais baixas.”
8- Incentivar o público a ser complacente com a mediocridade.
Para fazer o público é preciso fazer acreditar que está na moda ser burro, vulgar e ignorante...
9- Promover a autoculpa
Fazer com que o indivíduo acredite que só ele é o culpado do seu infortúnio, seja pela sua pouca inteligência, pela sua falta de talento ou de capacidade de esforço. Assim, em vez de se revoltar contra o sistema económico que o condiciona, o indivíduo desvaloriza-se e culpa-se a si próprio, o que, por sua vez, cria um estado depressivo, um dos efeitos do qual é a inibição da ação. E sem ação não há revolução!
10- Conhece melhor os indivíduos do que a si próprio
Nos últimos 50 anos, os rápidos avanços na ciência geraram uma lacuna crescente entre o conhecimento do público e aquele que pertence e é usado pelas elites governantes. Graças à biologia, neurobiologia e psicologia aplicada, o "sistema" tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto no plano físico como mental. O sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que se conhece a si próprio. Isso significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um maior controlo e um grande poder sobre os indivíduos, um controlo maior do que aquele que o indivíduo exerce sobre si mesmo.”

2021/06/06

Sevilha: notas soltas

Após quatro meses de confinamento severo, as fronteiras terrestres entre Portugal e Espanha, reabriram no passado mês de Maio. Oportunidade para um regresso à capital andaluza, ainda sem os turistas habituais, mas já vibrante na sua "movida" e na oferta cultural, sempre diversificada.

Desta vez, e entre as escolhas possíveis, optámos por música, teatro e artes plásticas. 

Logo a abrir, no dia 13 de Maio, um concerto memorável, a cargo da cantora Emma Alonso e do pianista José Manuel Vaquero (El Pájaro), subordinado ao título "De Buenos Aires a Paris". Uma viagem musical de excelência, servida por dois intérpretes de excepção, tanto nos respectivos instrumentos (voz e piano), como no repertório escolhido e na qualidade das interpretações. O concerto, organizado pela "Fúndación Tres Culturas", teve lugar no mítico Pavilhão de Marrocos, uma reprodução palaciana, digna das "mil e uma noites", construída para a Expo'92 e doada pelo governo marroquino à cidade. A Fundação, tem ali a sua sede e programa regularmente eventos musicais, desta vez subordinados ao tema "Diversidade Cultural". 

Uma hora mágica, o concerto de Emma e de Vaquero, que passaram em revista canções de Mercedes Sosa, Milton Nascimento, Mikis Theodorakis, Astor Piazzolla, Kurt Weill, Tom Jobim, Edith Piaf e George Brassens, para além de duas "zambas" argentinas e um merengue venezuelano, para deleite da assistência. Um concerto para recordar, onde as vocalizações de Emma e os arranjos contidos, mas inovadores de Vaquero, se conjugaram para nos relembrar que, a boa música, quando bem interpretada, não morre nunca. 

Seguiu-se, dois dias mais tarde, uma visita ao teatro, para apreciar a peça "La Odisea de Magallanes-Elcano", no mítico "Lope de Vega",  a sala de visitas da cidade. "La Odisea", é fruto dos eventos de celebração do 5º Centenário da 1ª volta ao Mundo, que tem vindo a ser celebrado pelas autoridades espanholas de há dois anos a esta parte. Trata-se de uma co-produção da Junta de Andalucía, El Ayuntamiento de Sevilla, El Teatro Lope de Vega, certificado com o sêlo de qualidade da Comissão de Comemorações da 1ª volta ao Mundo  (Ministério da Cultura).

A peça, dirigida e encenada por Alfonso Zurro (director do Teatro Clássico de Sevilha), reproduz diversos episódios da épica viagem e foi escrita por oito dramaturgos e autores diferentes, sem seguir a cronologia dos factos. Muitos bons, alguns dos quadros, servidos por bons actores e meios técnicos (multimédia) a condizer. Os episódios, alternando entre o heróico, o burlesco e a traição, não esconde os ataques desabridos de Magalhães, nas Filipinas, que acabariam por lhe ser fatais. Seria o espanhol Elcano, a completar a viagem. Para a história, a epopeia da Circum-Navegação, que provou ser a Terra redonda.

Já nos derradeiros dias da visita, uma passagem pela Faculdade de Belas Artes, para apreciar a exposição "El Aire Habitado", do escultor francês, residente em Espanha,  Aurélien Lortet. Uma pequena, mas nem por isso menos interessante exposição, onde uma dúzia de objectos valem (e falam) por mil. Excelentes as suas criações (em madeira e metal) sobre temas tão diversos como o sonho, a alienação ou a repressão. A revisitar, este Lortet que, aparentemente, leva uma vida pacata em Carmona, a 30km de Sevilha...

Finalmente, um dos "pratos de resistência" deste périplo cultural sevilhano: um concerto de Luís Pastor, um dos mais conceituados "cantautores" do país vizinho, que já conhecíamos de diversas actuações em Portugal, onde tem sido convidado regular da Associação José Afonso. Desta vez, para apresentar o seu último trabalho discográfico "La Paloma de Picasso", um belíssimo disco, onde se fala da paz, mas também daqueles que a impedem, os tiranos de todas as latitudes e daqueles que os apoiam, uma constante da sua obra. Contemporâneo de Paco Ibañez, Lluis Llach, Joan Manuel Serrat, Carlos Cano e Patxi Andión (estes dois últimos, entretanto, falecidos) Luís Pastor, mantém uma óptima voz e um gosto apurado, como é facilmente detectável em números como "La Paloma de Picasso" (que dá o nome ao CD), "Los Hijos de España", "Verde Cabo de Mis Ojos" (uma homenagem a Cesária Évora), "Náufrago de Las Estrellas" (o meu número preferido), "Mariana Pineda" (com a colaboração da grande Carmen Linares) ou "Cambiar El Mundo" (com voz em "off" do ex-presidente uruguaio José Mujica). 

Um excelente concerto, que o cantor nos confidenciou esperar repetir em Portugal, onde virá no próximo mês de Setembro, a convite do Observatório da Canção de Protesto em Grândola. Lá o esperamos. 

2021/06/03

Da subserviência portuguesa (2)

Nunca mais aprendem, os nossos governantes.

Hoje, Portugal, deixou de pertencer à "green list" (lista verde) estabelecida pelo governo do Reino Unido para os turistas de ambos os países. Por outras palavras, Portugal voltou a ser um "país de risco" para os turistas britânicos (!?). Quem viajar de/para Portugal,  tem de fazer 2 (dois!) testes PCR e uma quarentena de 10 dias, quando entra/regressa ao Reino Unido. 

A partir de agora, os turistas britânicos de férias no "Allgarve", vão ter de sujeitar-se a estas regras, ou regressar mais cedo ao seu país, para evitarem a quarentena obrigatória. Muitos já estarão, neste momento, a fazer as malas e, outros, a cancelar as suas reservas de Verão. Como a medida é selectiva, poderão sempre marcar férias para Espanha, Croácia ou Grécia, que também têm sol e praia e maior escolha, logo mais baratas, em termos relativos.   

O director de turismo, da região algarvia, já veio lamentar-se (logo agora, que a região têm índices de ocupação a rondar os 90%) enquanto os empresários de hotelaria e de restauração algarvia, não escondem a sua indignação. Só falta o Augusto SS, que não deixará de aparecer em "prime time", para mostrar surpresa por tal decisão, menos de uma semana após nós termos sido tão generosos, a ponto de permitir uma final inglesa, com público inglês, em Portugal. Não se faz! Ainda por cima, ao mais "velho aliado"...

Moral desta triste história: "quem muito se agacha..."

2021/05/30

Da subserviência portuguesa

Episódio 1

TAP: Take Another Plane 

No passado dia 27 de Maio, fui impedido de embarcar num avião da TAP, que fazia o voo Sevilha-Lisboa.  Motivo: de acordo com a opinião das funcionárias (espanholas) que faziam o "check-in" no balcão da TAP, faltava-me um teste PCR, exigido na maior parte dos aeroportos internacionais. Formalmente, devia ser assim. Expliquei-lhes que, desde 1 de Maio último, as fronteiras entre Portugal e Espanha estavam abertas, por acordo entre os dois estados. Também expliquei que era cidadão português, que regressava ao meu país e que voava num avião da TAP, uma companhia portuguesa nacionalizada, paga pelos contribuintes portugueses, entre os quais me incluo. Em rigor, elas eram pagas com dinheiro público português. Disse isto tudo sem me rir e ficaram a olhar para mim, sem perceberem patavina. "O teste PCR, por favor", repetiam mecanicamente. Mostrei-lhes o teste PCR, feito em Lisboa há quinze dias atrás, necessário para entrar em Espanha e que a TAP não me pediu à partida de Lisboa. Também lhe mostrei o meu certificado da vacina completo (duas tomas de Pfizer) e o documento, fornecido pela DGS, sem o qual a companhia de aviação não me vendia o bilhete. Ou seja, ao preencher o formulário "online", a TAP (antes de vender o bilhete), alerta para o formulário de sanidade da DGS, que é necessário preencher para entrar no país. Imprimi tudo, enviei e paguei. As "señoritas" não estavam convencidas. Pedi-lhes para chamarem uma funcionária superior ou, na falta desta, entrar em contacto com o piloto a bordo (estávamos a meia hora do embarque) e ele que decidisse. Recusaram. Ali, em Espanha, mandavam elas...Respondi, que podiam mandar em Espanha, mas não mandavam em Portugal e muito menos em mim. Acrescentei (confesso que num tom de voz mais exaltado) que competia às autoridades portuguesas em Portugal, avaliar da minha sanidade e que eu faria um teste à entrada do meu país, caso este fosse exigido. Expliquei-lhes que elas estavam a violar um direito internacional e a impedir o regresso de um cidadão português ao seu país. "Que no, que no", elas sabiam e decidiam... 

Juntou-se uma terceira funcionária, enquanto se consultavam entre elas e os respectivos telemóveis, para avaliar das minhas objecções. Disse-lhes que queria fazer uma reclamação à TAP. Não podia ser, pois a TAP tinha encerrado o seu balcão no aeroporto de Sevilha e só o podia fazer pela NET (!?). "E quem me paga o prejuízo", perguntei? Só a TAP podia responder...Ao fim de mais de meia-hora de discussão, surge uma quarta personagem que, peremptória, afirma "no vas a embarcar, no vas a embarcar!".    

Nessa mesma tarde, graças à minha namorada espanhola, que me conduziu de automóvel até ao Algarve (150 km) pude ainda apanhar o comboio regional para Faro, onde cheguei a tempo de apanhar o último Intercidades para Lisboa. 

No dia seguinte, telefonei para a TAP e contei o sucedido a um assistente. Desfez-se em desculpas (sabe nestes tempos de pandemia, etc e tal...) e aconselhou-me a preencher o formulário de reclamação, onde podia escrever até 4000 caracteres. Já seguiu e estou à espera da resposta. Aproveitei para desancar a TAP e dizer-lhe que desta forma não há salvação para uma companhia que não protege os clientes e, ainda por cima, entrega a sua delegação a uma congénere espanhola, que se está positivamente a borrifar para Portugal. Como de resto, os espanhóis sempre fizeram em relação ao nosso país. 

Episódio 2

Futebol: A Final Europeia do Porto

Portugal, assistiu ontem, a mais um triste episódio de subserviência do nosso governo em relação ao turismo e à industria do futebol. O que se passou no Porto, é uma vergonha para todos: para o Governo, para o Presidente da República, para a Câmara Municipal do Porto e para a Federação Portuguesa de Futebol. 

Portugal não era obrigado a organizar a final da "Champions". Foi a FPF que se ofereceu à UEFA para organizar o jogo. Foi uma iniciativa do presidente da federação, com o aval do governo, claro. Acontece que, Portugal, não só organizou o jogo, como permitiu a entrada directa de 16500 "hooligans" ingleses no "Dragão", para além dos milhares que, sem bilhete, voaram para o Algarve e de lá assistiram ao jogo. Chegaram em mais de 50 voos "charter", a maior parte deles sem testes ou máscaras e passaram o dia todo a embebedar-se, como é habitual. No fim, bêbados que nem cascos, houve pancada da grossa entre as claques e ferimentos entre os polícias, que só hoje, de madrugada, puderam descansar. 

Perante a indignação geral e a polémica suscitada, Marcelo já veio comentar, naquele tom beatífico e hipócrita que o caracteriza, lamentando o sucedido e dizendo que temos de aprender com os erros (!?). Costa, o "habilidoso", não quis comentar e tentou passar entre os "pingos da chuva". A sonsa da Marianita (secretária de estado), veio hoje dizer que não podiam manter todos os adeptos dentro de uma "bolha" (do aeroporto para o estádio e regresso ao aeroporto) pois a maioria já estava espalhada pela cidade. O Cabrita, desta vez, não foi acusado de nada (estará perdido em combate?), enquanto Moreira, o presidente da CMP, veio dizer, que quem criticava o evento, não era amigo do Porto (!?). Sensivelmente, ao mesmo tempo, a policia de costumes, andava no parque do Casino Estoril, a controlar grupos de jovens que ali se juntam, para que estes não formassem grupos de mais de 6 pessoas e usassem máscaras sanitárias (!?). Extraordinário!

Perguntas óbvias: porque é que o jogo não se disputou no Reino Unido, já que a partida era entre dois clubes ingleses? Porque é que os jogos em Portugal não podem ter público e um jogo da UEFA, pode? Porque é que os portugueses são obrigados a manter o distanciamento social, a usar máscara e gel e os ingleses, não? Porquê? 

Bom, a única explicação, que nos ocorre, é que o turismo e a industria de futebol, são mais importantes que a pandemia. Venham os turistas, espanhóis ou ingleses, pouco importa, desde que gastem e deixem cá o dinheiro, naquilo que sabemos fazer melhor: servir à mesa. 

Que os espanhóis, ou os ingleses, não nos deixem entrar no nosso país e no deles (e continuem a "cagar" em nós), não importa nada, desde que a restauração e a hotelaria, possam pagar as contas e as moratórias que aí vêm...

Uns tristes, estes gestores da coisa pública portuguesa, sem quaisquer princípios ou dignidade, sempre de mão estendida. Fracos perante os fortes (estrangeiros com dinheiro) e fortes perante os fracos (imigrantes ilegais a viverem em condições sub-humanas, por exemplo). 

Um nojo, tudo isto. Vão-se todos foder!     

      

2021/05/05

"Frutos Vermelhos" (2): Toda a gente sabe, mas ninguém faz nada...


Não há inocentes nesta história. A situação é conhecida há décadas. 

A imprensa escreveu sobre a situação, as televisões fizeram reportagens sobre o assunto, os autarcas da região sabem, a GNR sabe, a PJ sabe, a ASAE sabe, o SEF sabe, o MAI sabe e "last but not least", o governo todo, sabe. Então? Porque é que esta situação nunca foi resolvida?      

Porque as propriedades agrícolas da região (estufas e não só) dão muito dinheiro a ganhar aos proprietários dessas herdades, que continuam a comprar e a aumentar o perímetro das explorações, muitas delas criadas em regiões protegidas, sob a capa de "PINs" (Projectos de Interesse Nacional) manhosos,  autorizados através de PDM alterados, com a conivência das autarquias locais. Tudo isto já foi dissecado ao longo dos anos e qualquer pessoa, que visite a região, vê e conhece a situação. Os responsáveis políticos também e "fecham os olhos", como é habitual num país "faz de conta" (o que não se vê não existe).  

Não fora a pandemia e a necessidade de criar um "cordão sanitário" no concelho de Odemira e tudo continuaria como dantes (quartel-general em Abrantes). Uns pândegos, estes gestores da coisa pública.

E agora? Será que os responsáveis (políticos e não só) vão tomar medidas efectivas para controlar os "engajadores" e os empregadores locais, que se aproveitam desta legião de ilegais há décadas, sem que sejam punidos por isso? Será que os imigrantes ilegais (fala-se em 6.000 pessoas, num universo de 13.000 trabalhadores), vão ser legalizados para poderem continuar a trabalhar na agricultura? Será que vão passar a ter direitos iguais aos nacionais? Será que vão poder aceder a habitações condignas e deixar de viver em contentores, divididos com 4 e mais pessoas, onde a promiscuidade é total e o alojamento é descontado no salário, pelos intermediários (máfias) que trazem estes imigrantes para a Europa? Pode ser que sim. Pouca gente acredita. 

Só mesmo os portugueses, que nunca resolvem nada em tempo útil e só "acordam" para os problemas quando são com estes confrontados, parecem estar surpreendidos. Deve ser por isso, que o primeiro-ministro, mandou 4 ministros (quatro!) para a região, "mostrar a cara e dar o corpo às balas". Passou por lá o ministro da Defesa (da Defesa?), o ministro da Administração Interna (um tonto, que culpa sempre os outros pelos seus erros), a ministra da Agricultura (que ninguém sabia que existia) e a Secretária de Estado, responsável pelo Território (que teve o desplante de declarar que a situação era conhecida há anos e que já foi muito pior...). Vê-se e não se acredita. Mas, onde é que esta gente vive?...

Tudo isto aconteceu nos últimos dias e continua a alimentar a discussão nacional, em todos os canais televisivos e debates sobre o tema. Afinal, toda a gente sabia e tem uma solução para o assunto. Extraordinário.

Logo agora, que Portugal ocupa a presidência da União Europeia e vai organizar uma cimeira no Porto, sobre "Coesão Social na Europa". Azar dos Távoras. Que fazer?

Sugiro ao Augusto SS que, durante a permanência dos líderes europeus no nosso país, alugue um autocarro e leve a Merkel, o Macron e a Von der Leyen ao Sudoeste Alentejano, ver as estufas. Até já tenho um título para a excursão: "Visite Odemira, a Idade Média a 2 horas de Bruxelas!". Sucesso garantido. 

2021/05/02

"Frutos Vermelhos": A economia não pode parar...

No dia do trabalhador, nada mais obsceno do que ler e ver as reportagens diárias, sobre as condições em que vivem e trabalham os imigrantes asiáticos nas estufas do sudoeste alentejano. 

Para quem não sabe, Portugal é, a par de Espanha, um dos maiores exportadores de produtos hortícolas para a Europa do Norte. Especialmente apreciados, são os vegetais, os citrinos e os denominados "frutos vermelhos" (morangos, framboesas, etc...) que têm cada vez mais procura nos mercados internacionais e nos restaurantes do grandes "chefs". A razão, é simples: dadas as favoráveis condições climatéricas da região, que possibilitam mais de uma colheita anual, é possível manter os mercados do Norte (leia-se, países frios) abastecidos durante todo o ano, com produtos de qualidade, a preços competitivos. Até aqui, tudo bem. Onde há procura, a oferta deve adaptar-se. É "o mercado a funcionar", como gostam de repetir os adeptos do mercado livre.

Só que estas excepcionais condições, atraentes para quem compra e para quem vende, tem um senão. Só é rentável, porque assenta em condições de exploração dignas do Terceiro Mundo. 

Tomemos o exemplo das explorações de "frutos vermelhos" no Sudoeste Alentejano, onde existem mais de 100 herdades e estufas ao longo da costa, que abrangem as freguesias de Odemira, Sto. Teotónio, Almograve, Aljezur e Odeceixe. Há mais de 10 anos que funcionam, empregando, neste momento, uma população flutuante calculada em mais de 10.000 "apanhadores" sazonais. O que começou por ser um projecto de sucesso, apoiado com fundos europeus (a "Vitacress" é, apenas, o mais conhecido), rapidamente se tornaria um exemplo de más práticas laborais e ambientais, devido à sobre-exploração dos solos através de culturas intensivas, muitas delas criadas em zonas ambientais protegidas, ao arrepio dos PDM aprovados pelas autarquias da região. Nada que demovesse os proprietários locais, que descobriram ali a "galinha dos ovos de ouro". Nessa época, a maioria dos trabalhadores era ainda portuguesa. 

Após a crise económica de 2010, que obrigou mais de 400.000 portugueses a procurar trabalho noutras latitudes, os proprietários locais viram-se obrigados a contratar mão-de-obra estrangeira, disponível para trabalhos não-qualificados e sujeita a leis laborais arbitrárias, que os próprios desconheciam. Foi nesta altura em que começaram a aparecer os primeiros imigrantes de origem asiática (paquistaneses, bengalis, nepaleses e afegãos) que voltavam anualmente para fazer a temporada das colheitas. Poucos destes imigrantes residiam no país e a maior parte regressava ciclicamente na "apanha", depois de temporadas em Itália ou Espanha, onde trabalhavam em estufas similares. 

O que começou por ser um trabalho sazonal, tornar-se-ia um hábito, rapidamente aproveitado por engajadores sem escrúpulos, que angariam trabalhadores estrangeiros noutros países europeus com a promessa de trabalho certo e remunerado. O "modelo" é conhecido e praticado em toda a bacia mediterrânica, com destaque para a Itália (Saviani, no seu livro "Gomorra", fala disto) e em Espanha, onde a exploração nas estufas da Andaluzia é frequente motivo de denúncias na imprensa espanhola.

Actualmente, vivem e trabalham na região das estufas do Alentejo, mais de 10.000 imigrantes, a maior parte em regime sazonal. São trabalhadores temporários, que recebem 2,50euros por hora de trabalho (média de 400euros/mês) e que chegam a pagar por um beliche 120euros, num contentor dividido com 4 pessoas. Cozinham onde dormem, em condições sanitárias deploráveis. Muitos são ilegais e, por essa razão, não pagam segurança social. Todos eles são pagos pelos engajadores (intermediários) que gerem os salários atribuídos pelos empresários agrícolas. 

Para esta situação, que tem vindo a ser denunciada pela imprensa nacional e é do conhecimento geral, nunca foi encontrada uma solução condigna, até à semana passada. Isto aconteceu, quando o governo anunciou o fim do "estado de emergência" para todo o país, à excepção de meia-dúzia de freguesias, entre as quais Odemira, Sto. Teotónio e Aljezur. A razão, prende-se com o elevado número de contágios de Covid naquela região, muito acima da média nacional, o que fez disparar os sinais de alarme da Direcção Geral de Saúde. Porquê ali e não noutras regiões? Porque naquela zona, os contágios, devido à promiscuidade existente e à falta de condições sanitárias dos trabalhadores das estufas, são mais frequentes entre os trabalhadores e a população local com quem interagem. Porque os trabalhadores das estufas não utilizam o Serviço Nacional de Saúde, nunca são testados e raramente sabem que estão infectados. Dado o número de incidências detectado, o governo decidiu criar uma "cerca sanitária" para as freguesias mais atingidas. A partir de agora, os habitantes de Odemira e das vilas adjacentes (trabalhadores das estufas incluídos) estão impedidos de sair ou de entrar no concelho e são obrigados a um período de quarentena. Todos estes imigrantes passaram a ter direito a assistência médica gratuita e a uma habitação temporária, num complexo turístico da região, requisitado pelo governo para o efeito. 

A história não terminou aqui, dado que os proprietários da complexo turístico não concordaram com a medida governamental e recorreram para o Tribunal. Independentemente do resultado, uma coisa é certa; não fora a pandemia e, ainda hoje, os responsáveis políticos por esta vergonha civilizacional, não se tinham dignado a resolver um problema que nos devia envergonhar a todos. Há males que vêm por bem. 

No primeiro de Maio, hoje comemorado em honra dos trabalhadores, esta é a homenagem possível a todos os imigrantes que trabalham nas estufas do Alentejo.

(Imagem de Edvard Munch, Cadernos de Esboços, Punho com Martelo 1909-1910)

2021/04/25

O 25 de Abril e o SNS

 


Falar do 25 de Abril, nesta altura, leva forçosamente a ter de falar do SNS. Que nesta data fundadora pousa as suas raízes estruturais. 

Nem quero imaginar o que teriam sido os últimos meses se não houvesse SNS. Fundado e assente, ainda hoje, num espírito de resistência e de visão da sociedade, que já tinha dado provas antes da data revolucionária. Lembro-me de ver pessoal da saúde, incluindo muitos estudantes de medicina de então, ajudando, como voluntários e contra as manobras, a inacção e a vergonhosa incompetência do regime de então, durante episódios como as cheias de 1967 (ver aqui). Lembro também a criação do Serviço Médico à Periferia, o seu papel revolucionário, que, penso, de alguma forma prenunciou a criação do SNS (ver aqui.)

Nesta altura da vida do País é bom lembrar a importância do SNS e a sua actuação durante esta crise. Uma actuação exemplar, reconhecida por muitos, mas talvez ainda não tão amplamente valorizada quanto seria justo que fosse. De tão mal tratado, o SNS banalizou-se. Porquê? Talvez a Democracia precise de dar uma resposta a esta pergunta.

É preciso repensar constantemente a Democracia. É fundamental sublinhar que o SNS é uma das mais importantes conquistas de Abril, incompatível, ou melhor, só possível, com a instauração da Democracia. Sem ela não haveria SNS. É bom lembrar isto.

25 de Abril sempre!

2021/04/06

Monólogos da Vacina (2)

Mensagem SMS: 

COVID19: RUI, vacinação 09/04/2021, as 16.18h. em pav. mu. rita borralho. Responda:

SNS.NUMERO UTENTE. SIM/NAO até 06 ABR. Ex: SNS.......SIM

Respondo, de acordo com as indicações. Recebo nova mensagem, a comunicar que o contacto tinha falhado. Tentei, mais duas vezes. Sem êxito. O sistema, não aceita a minha mensagem. 

Telefonei para o número COVID19, do Serviço Nacional de Saúde (SNS), para explicar a situação. Pedem-me autorização para gravar a chamada (premir 1). Primo 1 e pedem-me para escolher 2 (vacinas). Primo 2 e dão-me música...

Ao fim de uns minutos, ouço uma gravação: "Dado estarem todas as linhas ocupadas, não podemos atender a sua chamada. Tente mais tarde".  Tentei mais duas vezes. Sem sucesso. Desisto do SNS.

Experimento o Centro de Saúde (CS) da minha área. Pedem-me autorização para gravar a chamada (premir 1). Após uns segundos, uma gravação: "A sua chamada está em lista de espera. Se não quiser esperar, tente mais tarde". Tento mais tarde. Ao fim de duas tentativas, desisto do CS. 

Decido ir ao Centro de Saúde, que dista 500m de minha casa. À porta, sou recebido por um "segurança". Explico-lhe a situação (tenho de confirmar a data e a hora da minha vacina e os serviços não aceitam a minha mensagem). "Óptimo". Põe-me as mãos nos ombros e sossega-me: "No stress". Não estou "stressado", respondi. Olha-me e diz: "Tem aí o seu telemóvel? Eu mostro-lhe já como se faz...". Lê a mensagem que recebi e a minha resposta e diz: "falhou o contacto, que estranho...". Concordo, mas não estranho. 

Volta a pôr-me as mãos nos ombros e repete: "No stress", vai lá no dia e na hora marcada e mostra o seu telemóvel. É atendido na hora. Vai tudo correr bem. Parabéns!".

Despeço-me e volto para casa. Perdi duas horas. Não resolvi nada. Ganhei o dia. Sem "stress".

2021/03/18

Eleições na Holanda: Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes

Como previsto, os holandeses votaram na estabilidade. Esta é a principal conclusão a extrair do resultado das eleições de ontem, que deram (mais uma vez) a vitória ao maior partido governamental VVD (Liberais de Direita) e aos seus parceiros governamentais da última legislatura, D'66 (Liberais Progressistas), CDA (Democratas-Cristãos) e CU (Cristãos Reformadores). Ou seja, cerca de 50% da votação total, correspondentes a 78 lugares no parlamento (150 lugares). 

Em linhas gerais, podemos concluir que a Direita Democrática e Conservadora, ganhou, aumentando globalmente a sua votação; que a Esquerda, na sua totalidade, perdeu; e que a Extrema-Direita, racista, xenófoba, e negacionista, apesar de uma ligeira subida, ficará afastada do poder.   

Estes resultados estão em linha com as sondagens dos últimos dias, ainda que o governo cessante se tenha demitido há dois meses, devido a um escândalo de subsídios sociais, indevidamente retirados a milhares de famílias, a maioria das quais com apelidos estrangeiros. Quando foi revelado o relatório sobre este escândalo, o governo Rutte (VVD) assumiu a responsabilidade na gestão do episódio, salvando desta forma a "honra do convento" e,  provavelmente, um resultado menos positivo nestas eleições. 

Esta foi, de resto, uma campanha morna, com debates medíocres, como aquele entre o primeiro-ministro cessante Rutte (VVD) e o líder do principal partido da oposição Geert Wilders (PVV), um xenófobo racista, cujo programa se resume à proibição do Islão e à expulsão de imigrantes muçulmanos. Num período, em que os cidadãos do país estão mais preocupados com a actual pandemia e com o programa de vacinação, trazer para o debate eleitoral questões etnico-culturais, só por mera chicana política. Isso mesmo, parece ter percebido o eleitorado, que apostou na continuidade e numa certa segurança que lhe oferecem os políticos do "mainstream". 

Um dos temas que esteve ausente dos debates, foi a Europa, assim como a estratégia europeia para controlar a pandemia (vacinação) e a saída da crise económica e social que se seguirá. A Holanda que, juntamente com os chamados "países frugais" (Finlândia, Austria e Suécia), é um dos países que mais ferozmente se opôs à mutualização da dívida pública dos estados-membros - forma de entreajuda encontrada para ajudar os países mais atingidos pela crise sanitária (Itália, Espanha, etc.) - acabaria por concordar com o "fundo de ajuda" proposto por Von der Leyen (750.000 milhões de euros) ainda que este montante esteja sujeito à aprovação dos respectivos parlamentos e ao escrutínio posterior da sua aplicação em cada país. A proposta, já aprovada na generalidade, está também sujeita à aprovação final do parlamento europeu.   

Outra das questões que continuam a dominar a opinião pública holandesa, são as medidas de confinamento impostas ("recolher obrigatório" a partir das 22h, por exemplo) um "unicum", num país que não conhecia tal medida, desde a ocupação nazi durante a última guerra. Esse foi, de resto, um dos tópicos centrais da campanha eleitoral do FvD, um jovem partido, de extrema-direita populista, criado à imagem do seu líder (Baudet) e dos seus seguidores "anti-sistema" (!?), na linha do negacionismo Trumpista e Bolsonarista de outras latitudes. 

A esquerda na sua totalidade (PvdA, SP e Groenlinks) não conseguiu mais do que 16% dos votos, correspondendo a 26 deputados, provavelmente a maior surpresa destas eleições, após os bons resultados obtidos recentemente pelo Groenlinks (Verdes). Já o PvdA, um dos partidos históricos da democracia holandesa (fundador do estado social) continua longe dos resultados obtidos nas décadas de setenta, oitenta e noventa, quando os trabalhistas governaram no país. 

Confrontado com as perguntas dos jornalistas e os números da sua vitória (abaixo do previsto), o primeiro-ministro cessante (Rutte) concordou com algumas críticas sobre as políticas seguidas (aumento de impostos, cortes no sector social e na saúde) e prometeu maior empenho num futuro gabinete, que liderará pela 4ª vez consecutiva, a mais longa presidência da história holandesa do pós-guerra.

Hoje mesmo, começaram as conversações entre os dois partidos da coligação mais votados (VVD e D'66) com vista à formação de um novo governo. Como é tradição, um processo que pode durar meses.

Resultados Eleitorais (principais partidos com assento parlamentar): 

VVD (Liberais de Direita)          22,1% (35 deputados)

D'66 (Liberais Progressistas)      14,8% (23 deputados)

PVV (Extrema-Direita)               10,9% (17 deputados)

CDA (Democratas-Cristãos)         9,8%  (15 deputados)

PvdA (Sociais-Democratas)          6,%    (9 deputados)

SP (Extrema-Esquerda)                 6%     (9 deputados

FvD (Populistas de Direita)           3,8%  (8 deputados)

GroenLinks (Verdes)                      3,5% (8 deputados) 

PvdD (Partido para os Animais)    3,2% (6 deputados)

CU (Cristãos Reformadores)          3%    (5 deputados)                               

Nota: Estes são os partidos com maior representação parlamentar. O futuro parlamento holandês, saído destas eleições, passará a incorporar 17 partidos no total. A totalidade dos deputados é de 150. Para obter uma maioria qualificada, são necessários 76 deputados.

2021/03/14

Em Brasília, a Terra é "plana"...

Desde 2019 que o Brasil é governado por um fascista. Não é a primeira vez. A última tinha sido durante a ditadura militar, entre 1964 e 1988. De então para cá, muitos foram os presidentes que governaram o país, o maior do continente sul-americano. Todos eles, democratas, como Fernando Henrique Cardoso, Lula Inácio da Silva, Dilma Rousseff, entre outros. Dilma Rousseff (2011-2016) foi, inclusive, a primeira mulher a ser eleita presidente em toda a América do Sul. 

O Brasil era, à época, um país respeitado, não só pela sua democracia (a maior do continente), mas também pelos seus programas de inclusão social, lançados ainda durante o governo de Lula da Silva (2002-2010) e pela sua robusta economia, a 7ª maior do Mundo. Os índices sociais e económicos dessa década, eram referidos como exemplo para os países em vias de desenvolvimento (Brics). Sem admiração, o país passou a integrar o G'20 (o "forum" dos países mais desenvolvidos do Mundo) e conquistou a simpatia internacional.

As coisas começaram a "derrapar" no primeiro mandato de Dilma (2011-2014). Erros cometidos com o modelo de desenvolvimento social e económico seguido (o PIB chegou a ter uma contracção de 9% e o desemprego a atingir 11% da população activa), num contexto de crise financeira mundial (sub-prime) e de despesas acrescidas (provocadas pela organização do Campeonato do Mundo de Futebol 2014 e pelos Jogos Olímpicos 2016), contribuiriam para a queda de popularidade do seu governo. 

Seria, no entanto, no segundo mandato de Dilma (2014-2016) que a situação se extremou. O anúncio de um aumento nas tarifas de transportes (enquanto o país gastava fortunas em eventos desportivos) para além da acusação de má gestão (a alegada "pedalada fiscal"), levariam os seus detractores (maioritariamente brancos da classe média) a pedir a impugnação do cargo (impeachment), moção que seria levada a votação no Congresso a 17 de Abril de 2016.

O que se passou nesse dia, está ainda na memória de todos os que puderam presenciar em directo a mais bizarra e degradante sessão vista num parlamento. Uma sessão, que pode ser considerada um "case study" em demagogia e manipulação nos parlamentos democráticos, tal a ignorância e virulência demonstradas pelos seus participantes: de deputados evangélicos histéricos a "maçons" desbragados, passando por militares saudosistas da ditadura e corruptos de diversa plumagem, todos eles representantes das forças mais retógradas do país, houve de tudo um pouco. Foi nessa histórica (e histérica) sessão que vi, pela primeira vez, Jair Bolsonaro, um obscuro deputado e ex-militar na reserva, conhecido pelas suas simpatias com a ditadura militar. A sua declaração de voto, em que elogiou o maior torcionário do regime militar, o coronel Carlos Ustra, o responsável máximo pelas torturas infligidas a Dilma Rousseff, revelaram ao Mundo o seu lado mais pulha. O resto, é História. Dilma acabaria por ser demitida (em Agosto de 2016) para ser substituída por um personagem cinzento, o vice-presidente Temer, o "mordomo", que se limitou a marcar presença, sem que hoje em dia alguém se lembre de um acto seu. 

Com a prisão de Lula, acusado num processo polémico, montado pelo juíz Moro para o afastar das eleições de 2018, o caminho para a eleição de Bolsonaro, o candidato da direita, ficou mais livre. Ganharia as eleições com 55% dos votos, apoiado pelas forças mais conservadoras e reaccionárias do Brasil: os evangélicos, os ruralistas e os militares. 

Como era previsível, a coisa só podia correr mal. Bolsonaro, para além de fascista, é um calhau, sem qualquer educação ou preparação para o cargo. As suas "boutades" são de antologia e já fazem parte do anedotário nacional. É difícil escolher um só defeito: é autoritário, racista, machista, misógino, homofóbico e negacionista. Nega as alterações climáticas e autoriza a devastação da mata amazónica, o que lhe tem valido criticas de toda a comunidade internacional. Discrimina os índios, hoje cada vez mais confinados em reservas, onde são sujeitos a "queimadas" provocadas por fazendeiros, criadores de gado e de plantações de soja. É adepto do porte de arma, invocando a defesa pessoal dos cidadãos contra a criminalidade existente, que só tem aumentado desde que chegou ao poder. Diz combater a corrupção (a sua maior acusação contra Lula) mas levou toda a família para o governo e dois dos seus filhos já foram acusados de peculato e de participação em crimes, como a da activista Marielle, no Rio de Janeiro.

O modo como "gere" a actual crise pandémica, é a maior prova da sua imbecilidade. Começou por negar o perigo do vírus, apelidando-o de "gripezinha" e "resfriado", coisas sem importância. Passou meses sem usar máscara ou distanciamento social, apelidando de "maricas", quem mostrava medo de ser contaminado. Devido às suas políticas negacionistas, o país entrou em crise sanitária profunda e, nalgumas regiões (Manaus), as populações não recebem suficiente oxigénio e morrem por asfixia. Hoje, o Brasil, é o 2º país com maiores índices de contágio e mortes a nível mundial, só ultrapassado pelos EUA, respectivamente: 11.439.250 / 9,52% e 30.055.349 / 25,01%. O número de mortes, ultrapassou esta semana pela primeira vez 2.000 casos, num dia apenas! Uma catástrofe sem procedentes, só possível num país governado por um louco. Está em curso um verdadeiro genocídio no Brasil, denunciado pelas organizações de saúde internacionais. Entretanto, criticado à esquerda e à direita, Bolsonaro, tem-se refugiado no seu ministro de saúde, o militar Pazuello, outro ignorante como ele. Provavelmente, este virá a ser substituído, já que o "mito" necessita de ganhar as eleições em 2022 e precisa de um "bode expiatório" para justificar as suas políticas de extermínio. Perante a desobediência de alguns governadores estaduais (S. Paulo, por exemplo) que decretaram planos de confinamento para evitar mais contágios, o fascista ameaça com tanques e exército nas ruas, como forma de obrigar os governadores a obedecerem. Pior, é impossível.

Como afirmou, esta semana, o ex-presidente Lula, entretanto ilibado das acusações de Moro num processo ilegal, a Terra não é plana. Nunca foi. A Terra é redonda! 

 

2021/03/12

Desconfinamento: um país "a conta-gotas"...


Na ausência de Marcelo Rebelo de Sousa, em visita ao Vaticano e à Casa Real Espanhola -  tradicionalmente as suas primeiras visitas ao estrangeiro, após a tomada de posse (!?) -  coube a António Costa a missão de comunicar ao país o tão aguardado plano de "desconfinamento", anunciado para o dia 11 de Março. 

Convém lembrar que, desde Março de 2020, o país já conheceu 12 períodos de confinamento, sendo o actual o mais severo de toda a Europa, juntamente com a Irlanda que, no entanto,  não encerrou as escolas.  

E o que tinha para anunciar, ontem, o primeiro-ministro?

Que, depois de ouvir os especialistas e aconselhar-se com o presidente da república, o governo tinha chegado à conclusão que o país começará a "desconfinar" a partir da próxima segunda-feira, dia 15 de Março. Isto, porque o índice de transmissibilidade (Rt) actual, é de 0,8% (abaixo do Rt 1, o índice máximo aceite). No caso de Portugal, ainda que o número de infectados nas UCI's esteja a diminuir diariamente, ainda estamos longe dos 120 doentes por 100.000 habitantes, que o governo considera o "ratio" ideal.

Criticado à esquerda e à direita, pela má gestão da crise pandémica em Dezembro, o governo optou, desta vez, por "desconfinar" devagarinho, (a "conta-contas" na expressão de Costa), não vá o Diabo tecê-las. Teremos assim, um "desconfinamento" lento e progressivo, que durará até 4 de Maio, se tudo correr como previsto... 

O plano actual, deste 13º confinamento (!?),  prevê 4 fases (de 15 dias cada), ao fim das quais será avaliada a passagem à fase seguinte, de acordo com um cronograma estabelecido por prioridades: primeiro as creches + o ensino básico; os barbeiros, cabeleireiros e similares (?); o pequeno comércio e as livrarias. Depois, todas as outras actividades (cinemas, teatros, restaurantes, hotelaria, recintos desportivos, festivais, fronteiras, etc.) até Maio. Para avaliar da passagem à fase seguinte, foi estabelecido um sistema "semáforo": verde, amarelo e vermelho. Assim, a cor "verde" permite passar à fase seguinte, a cor amarela implica deixar tudo como está e, a cor "vermelha", obriga a voltar à primeira fase. Isto, por regiões, uma novidade em relação ao primeiro confinamento do ano passado, quando todo o país era abrangido pelas mesmas regras. 

Acontece que, como todos os planos, este baseia-se num "plano ideal", segundo o princípio que as coisas vão correr pelo melhor. Mas, como poderão as coisas correr bem, se não são feitos "testes" suficientes e "rastreios", à população? Como poderão as coisas correr bem, se não estão a chegar as vacinas prometidas, em tempo útil, comprometendo, desde logo, o plano de vacinação nacional (que apontava para 70% da população vacinada, até meados de Agosto?). Como poderá, desta forma, ser assegurada a tão propagada "imunidade de grupo", antes do próximo Outono, quando está prevista uma 4ª vaga da pandemia? E, depois, mesmo que essa percentagem seja atingida, quem pode garantir a imunidade (aqui ou na Europa), quando 2/3 do planeta ainda nem sequer começou com a vacinação? Mais: como saber quem está vacinado ou não? Só com uma prova. Que tipo de prova? um cartão sanitário. Há quem lhe chame "passaporte sanitário". Um eufemismo para controlar os viajantes entre estados e continentes. Dito de outro modo: quem não tiver um passaporte sanitário (prova de que está vacinado contra o Covid19) não poderá entrar em determinados países. Sabendo que a maioria dos países africanos e sul-americanos (e não só) ainda não dispõe da vacina e que só lá para 2023 ou 2024 a poderão obter, podemos imaginar a consequência para os cidadãos de países do Hemisfério Sul: só poderão entrar na Europa, ou na América do Norte, se tiverem um passaporte sanitário...

Isto leva-nos a outras questões, relacionadas com a vacina. Certamente, com a melhor das intenções, na linha do "espírito frugal" que sempre caracterizou protestantes luteranos e calvinistas, a senhora Von der Leyen, resolveu fazer uma compra de vacinas por "atacado" (com o intuito de baixar o preço por unidade) para os 27 países membros da União Europeia. Só que, não foram estes, mas os países mais ricos e que estiveram dispostos a abrir os "cordões à bolsa" (entre outras razões, porque também foram aqueles que financiaram a investigação farmacêutica) a comprar toda a produção das grandes fábricas (Pzifer, Moderna, etc...) antes da Europa. Só assim se explica, que os EUA, o Reino Unido ou Israel, por exemplo, no mesmo período de tempo (10 semanas) já tenham vacinado, respectivamente 1/3, 1/4 e  metade das suas populações, quando a maior parte dos países europeus nem sequer 10% da população conseguiu vacinar! O mais estranho (ou talvez não) é não haver muita gente a denunciar este estado de coisas (há excepções, claro) quando o escândalo é por demais evidente e os políticos responsáveis não são chamados a "prestar contas" (accountability) sobre coisas tão evidentes como esta. Portugal (actualmente na presidência rotativa da União Europeia) tem aqui uma oportunidade para fazer ouvir a sua voz sobre tal situação. Será desta vez que Costa ousará "dar um murro na mesa" ou passará, mais uma vez, ao lado, interessado como está na famigerada "bazuca", que parece ser a panaceia para todos os males da nação?

2021/03/08

Desconfinamento: do Oito ao Oitenta...

Os especialistas do INFARMED, reuniram e divulgaram hoje os últimos números da Pandemia e as possíveis consequências para um (des)confinamento a curto prazo. Todos os indicadores, em todas as faixas etárias, melhoraram significativamente. 

Resumindo: Portugal, que há um mês atrás detinha (em números relativos) os piores números de infectados e mortes a nível mundial, passou a ter o RT (Risco de Transmissão) mais baixo da Europa: 0,74%! 

O país regista hoje mais 365 novos casos e 12 mortes, o valor mais baixo dos últimos seis meses. Pelo 24º dia consecutivo, o número de pessoas em UCI (Unidades de Cuidados Intensivos) diminuiu para 342 pessoas (-12). O número médio de internados continua a decrescer e aproxima-se dos 200 casos diários, uma fasquia considerada segura para começar o desconfinamento. A manter-se tal média, os especialistas prevêem que, em finais de Março, haverá cerca de 120 internados nas UCIs. Uma boa notícia.

Na posse de tais dados, o governo, tomará esta semana uma decisão sobre o modelo de desconfinamento a seguir. Certo é que será lento e em fases (quantas, não se sabe).

De acordo com opiniões, entretanto ouvidas, poderá haver uma primeira fase (a partir de 15 de Março), quando serão abertas as escolas do 1º ciclo (infantis e primárias); Uma segunda fase (a partir da Páscoa), quando serão abertas as escolas do 2º ciclo e o ensino superior (nesta fase, poderá haver uma abertura selectiva de pequenos comércios, como barbeiros, cabeleireiros e afins, ou esplanadas de restaurantes). Seguir-se-á uma terceira fase, para o restante comércio e actividades paralelas (ginásios, etc...). Finalmente, uma quarta-fase, para eventos desportivos e festivais ao ar livre...

Todas estas opiniões/sugestões não passam, no entanto, de especulações sujeitas à aprovação e confirmação por parte do governo, que ainda não se pronunciou sobre fases e/ou datas de desconfinamento. O anúncio oficial, será feito no próximo dia 11 de Março. Até lá só podemos (des)esperar...