2011/04/21

Farto destes gajos!

Nobre, Coelho... a generosidade de Soares é maior que a do Banco Alimentar! Há tempo foi o "apoio" dado à candidatura de Fernando Nobre. Deu-lhe a mão e, depois dele lhe ter feito o frete, largou-o aos bichos. Agora é Passos Coelho. O jovem líder do PSD vai aprender em breve o significado da palavra descartável e vai aprender outra coisa importante: nem tem tempo para cometer erros.
Mário Soares continua a conspirar e a manobrar para manter este regime defeituoso e ineficaz, que já foi por três vezes à glória e de que ele, with a little help from his friends, é um dos grandes obreiros.
Não parece, mas a influência desta malta continua grande. Já era tempo destes senadores (Soares, Almeida Santos e outras figuras desta nossa pardacenta democracia), que nos deixaram de tanga, largarem a toga e desaparecerem de cena.
O país continua nesta, a precisar de estar noutra, mas esta malta não "deslarga".

2011/04/20

Mitos

Vale a pena uma chamada de atenção para este post do excelente blog Desmitos que ajuda a perceber, em traços rápidos, muito do que tem sido a coisa pública nos últimos 25 anos. Fica claro, por exemplo, o peso da crise internacional na nossa crise interna (o mito à vista), como também fica claro a partir de quando é que começa o declínio inexorável do produto do país (o mito escondido).
Vejam os anos e dêem-lho o nome.

2011/04/19

Origens da palavra "entendimento"

"Com a verdade me enganas", diz o adágio popular. Rui Rio, por exemplo, diz que se os partidos não se entenderem (leia-se, os partidos do tal "arco"), o país fará "uma caminhada irresponsável até ao colapso" (leia-se, estes mesmos partidos, a cujo entendimento Rio apela, podem ser apeados e perder o tacho que têm partilhado durante todos estes anos de alternância do poder).
Venha o colapso!

As eleições não deviam ter lugar

Não sei se é ou não técnica ou constitucionalmente possível anular a convocatória para as eleições. Não sei qual o conceito de "governo forte" que os inúmeros utilizadores dessa expressão têm, mas sei —tenho a certeza!— que a brutalidade das medidas que se adivinham e a atitude para com os partidos que representam exclusivamente quem mais vai sofrer com essas medidas é uma receita para o desastre social. O Presidente da República tem essa responsabilidade em cima dos ombros: evitar o desastre. Em vez de armar, ele e os líderes dos auto-proclamados partidos "democráticos", em rapaziada sensata e com juizinho (viu-se no que deu esta "sensatez" e "juízo"...) , por que não tomam a atitude correcta e desistem das eleições? Estão à espera de quê...?
Começaram tortas as "negociações" entre os prestamistas internacionais (chamam-lhe a troika) e as diversas instituições e organizações portuguesas envolvidas no processo do resgate financeiro do país. Segundo foi revelado por Jerónimo de Sousa, o PCP, por exemplo, uma dessas organizações, um partido legítimo português com representação parlamentar, foi convocado telefonicamente, ontem de manhã, para uma reunião a efectuar à tarde com os ditos prestamistas, sem sequer ter tido acesso à informação necessária para poder dar um fundado contributo. Tudo isto acontece sem que se ouça uma única voz a condenar tudo isto. De forma subserviente os partidos "democráticos" não assinalam este atentado à democracia e lá vão ao beija mão.
Uma convocatória nestas circunstâncias é uma provocação inqualificável e totalmente irresponsável. Está visto que a troika não está interessada em conhecer as opiniões dos representantes de um largo sector da população portuguesa.
O PCP, naturalmente, recusou a reunião. O BE e os Verdes fizeram o mesmo. Mário Soares comenta, leviano, dizendo não estar surpreendido porque nem PCP, nem BE quiseram alguma vez a Europa. Como se o objectivo destas "negociações" fosse discutir a "Europa". É um escândalo!
Não foram os partidos de esquerda que se auto-excluíram deste esforço. São os "troikos" que os tratam de forma arrogante e provocatória, como se fosse possível passar sem o povo. E fazem-no com a tranquilidade de que não serão eles que irão sofrer com a contestação que se vai inevitavelmente gerar.

Preparam-se entretanto eleições sabendo-se de antemão que não servem para nada e que absolutamente nada com elas vai mudar. Sabe-se que quem quer que seja que ganhe as eleições vai ser um amanuense dos "troikos". A "crise" no discurso político dos partidos do "arco do cego", por sua vez, não parece passar de arma de jogo político. No discurso e na prática destes partidos o argumento da crise, quando surge, não passa de instrumento que lhes permita marcar-se tacticamente para ver como melhor hão-de tirar o cavalinho da chuva e como melhor hão-de tirar o maior dividendo possível de todo este imbróglio.
Se a "gravidade" da situação fosse uma realidade de facto para os partidos do "arco", se estes quisessem superar a verdadeira crise, as soluções seriam outras, a mobilização, os entendimentos e consensos teriam de ser diferentes.

Os Portugueses, por seu lado, já perceberam que o papel de quem quer que seja que tome conta do poder não vai passar do de administrador da massa falida e não esperam destas eleições nenhuma alteração de rumo, nenhuma correcção de processos, nenhuma compensação pela ausência de medidas tomadas em tempo oportuno. Para o povo português não há nada a esperar do que aí vem, a não ser meter o pescocinho o mais a jeito possível para enfiar a canga, enquanto continuam a observar os jogos florais dos partidos do "arco".
Parece-me bizarro que se façam eleições neste quadro. Devíamos ser poupados a este triste espectáculo porque não vamos ganhar nada com esta solução. As eleições não passam de um processo de branqueamento dos responsáveis pela crise, não trazem soluções para ela e vão reforçar o carácter indigente da governação do país. E parece-me igualmente bizarro que se esteja a hostilizar justamente aquelas organizações que representam a maioria, se não a totalidade, dos sectores da sociedade que mais vão sofrer com as medidas que aí vêm.

Ou seja: no dia 5 de Junho vamos votar um governo inútil, que vai fazer cumprir medidas que os partidos de esquerda foram impedidos sequer de discutir. Partidos que são provocatoriamente levados a não discutir essas medidas, mas que são constituídos na sua quase totalidade, ou mesmo na sua totalidade, pelo sector da população portuguesa que vai ser vítima dessas medidas.
Sentido patriótico e atitude responsável era pois e quanto a mim, procurar nesta altura, a todo o transe, uma solução política digna e alargada de facto a todas as forças partidárias para negociar os termos do acordo com os "troikos", poupando-nos à fantochada das eleições, uma solução que assegurasse um acordo mínimo para uma mudança efectiva e consensual no rumo político do país. Uma solução mobilizadora, activa, sem preconceitos mesquinhos, que garantisse o contributo de todos, segundo as suas responsabilidades e meios, para mais rapidamente sair da crise. Um consenso obtido em sede própria e não forçado à mesa das negociações com entidades alienígenas e por elas condicionado.
De outra forma não penso que venha aí nada de bom para ninguém. E não creio que seja possível deixar sem resposta firme a arrogância e o desrespeito com que estamos a ser tratados.

2011/04/16

Marinho e Pinto perdeu uma excelente ocasião para estar calado

O bastonário da Ordem dos Advogados veio apelar à abstenção. Perdeu (mais) uma excelente ocasião para estar calado e devia, na minha opinião, pedir desculpa aos Portugueses.
A abstenção e a capitulação perante o status quo não são opções válidas para os Portugueses. O estado actual do País tem a sua origem, justamente, na abstenção e na capitulação. Abstêm-se aqueles que aceitam o "arco do poder" e votam de forma acrítica nos partidos que o compõem, como se abstêm aqueles que não aceitam esse "arco da velha" mas não vão votar porque "não vale a pena". Não há diferença qualitativa entre estas duas posições. Mudar o País é participar mais, não fugir.
Estamos habituados às tiradas do doutor Marinho e Pinto. Aceitamos que enquanto bastonário da sua ordem emita opiniões publicamente sobre a sua organização e a sua área de actividade. Aceitamos até que emita opiniões sobre questões de cidadania na perspectiva técnica que é a sua. Mas, considero inaceitável que emita opiniões pessoais deste teor, encavalitado no estatuto público que detém e aproveitando como parasita os megafones que lhe estendem por causa disso. É uma atitude totalmente irresponsável.
Não fora Bastonário e a voz de Marinho e Pinto não chegava ao céu. Por isso devia usar o seu estatuto de modo responsável. Este tipo de irresponsabilidade faz também parte do conjunto de problemas de que sofre o país.
Pena não podermos votar nas eleições para bastonário da OA...

2011/04/15

Inside Job, crisis abroad...

O filme "Inside Job" já tinha abordado o tema. Parte do "job" é assegurada pelas chamadas "agências de rating", a pirataria no século XXI a que os senhores do poder se deixaram submeter e submetem os povos que representam.
Agora ficamos a conhecer os detalhes e as várias dimensões de todo este sórdido e triste episódio através das conclusões da investigação oficial. Vale a pena ler este Levin-Coburn Report On the Financial Crisis publicado anteontem.

2011/04/13

"Demitida por se recusar a inventar uma notícia"

"Demitida por se recusar a inventar uma notícia". A notícia, brutal, chega-me por via do blogue Ponto Media do António Granado. Não deixa de causar uma enorme náusea ver acontecer uma coisa destas, trinta e sete anos depois do 25 de Abril... Não foi seguramente para isto que andámos todos a batalhar. Este soube-se, mas quantos outros casos não terão ocorrido sem sequer termos tido deles conhecimento?
A verdade é que a mordaça fascistóide e a tentação totalitária não acabaram nunca verdadeiramente. Modernizaram-se e já não usam polainas ou botinha de elástico, mas existem. E nunca será demais denunciá-lo.
Um amigo meu declarava-me hoje, com orgulho, que ninguém mandava na sua consciência e que gozava, no que a ela diz respeito, de total liberdade. Sei que sim, sei a coragem que isso requer e admiro-o muito por isso. Mas quantos se podem orgulhar do mesmo? Quantos não preferem ainda a trela a troco de uma qualquer sinecura? E porque raio a tentação totalitária prevalece e a liberdade, tanto tempo depois de a termos conquistado, ainda é entre nós um facto digno de admiração? Qual a justificação para ainda termos de continuar a ter de "lutar" por ela? Porque razão continua a ser algo que evoca coragem inusitada e suscita admiração? Porque razão não se tornou, ao fim de todo este tempo, uma questão comezinha, indelével e umbilicalmente ligada à nossa vida colectiva?
Como é que poderemos aspirar vencer o défice económico antes de conseguir vencer o défice democrático?

2011/04/11

O arco e as flechas

Não percebo, com toda a franqueza, esta admiração em torno da inclusão de Fernando Nobre nas listas do PSD. Creio que só mesmo quem se quis deixar enganar terá votado nele para a presidência da república. A Presidência da República Portuguesa não é uma ONG e Fernando Nobre não demonstra, não tem!, as capacidades para ocupar um lugar destes (*). Se tivesse estofo de político, teria percebido que, no quadro de uma democracia, o que propõe é atributo de actuação de um partido. Para levar o seu desígnio em frente teria de criar um programa e um partido para o levar a sufrágio. Em alternativa, inventou esta coisa bizarra que é propôr um partido... apartidário. Uma espécie de SGPS unipessoal (**). Um disparate, destinado à derrota. Não fosse a mãozinha do clã Soares e Fernando Nobre nem ganhava a Câmara de Vila do Conde. Nobre nunca quis fazer política. Como escrevia ainda hoje o meu amigo Pedro Barroso, tudo não passa de uma "insuperável sede de protagonismo pessoal." Pelo lado de Fernando Nobre a cambalhota não deve, pois, admirar.
Já pelo lado do PSD a coisa não é tão clara. Parece estranho que o PSD, enquanto partido do "arco" se tenha disposto a acolher esta ideia de ter um presidente-partido, como candidato apartidário a presidente do orgão onde os partidos digladiam as suas teses. Confusos? Também eu!
Há nisto tudo uma estratégia suicidária que ainda não consegui perceber e, ou muito me engano, ou as asneiras não vão ficar por aqui. Passo a passo, Coelho dá tiros atrás de tiros nos pés. Em breve se revelará que a perna é mais curta que o Passos. Se alguém tinha esperança de que o PSD pudesse ser alternativa ao regabofe PS e pudesse fazer frente ao seu perturbante e ameaçador cerrar de fileiras demonstrado este fim de semana, o melhor é rever o seu raciocínio.
Com o País entalado como está, com o PCP e o BE a desperdiçarem ingenuamente uma oportunidade de ouro de pressionar o PS e estabelecer uma dinâmica de verdadeira alternativa de poder, estamos de novo entregues ao "arco". Faltam as flechas.

(*) Se o actual inquilino do Palácio de Belém tem capacidade para ocupar o lugar que ocupa é outra conversa...
(**) Verdade seja dita que o vencedor dessa eleição também inventou uma outra coisa bizarra que é a categoria de político... apolítico. E ganhou! Tudo é possível, pois, dentro do rectangulozinho lusitano.

Do surrealismo nacional

Num fim-de-semana marcado pelo congresso que mais não pretendia do que apoiar acefalamente um líder eleito por maioria albanesa, a proposta mais desconcertante acabaria por não surgir em Matosinhos, mas no Funchal, onde o líder da oposição anunciou o "trunfo maior" para as eleições em Lisboa: Fernando Nobre como primeiro nome da lista do PSD.
Pensávamos ter visto tudo e, de facto, de pouco nos admiramos já; mas esta de Nobre ser candidato pelo PSD, com a promessa de vir a ser o presidente da Assembleia Nacional caso aquele partido ganhe as eleições, não lembrava ao careca! Estamos sempre a aprender...

2011/04/09

O medo de existir

Quarenta e sete "personalidades" da vida portuguesa vieram apelar a um "compromisso nacional " numa carta aberta publicada no Expresso. É uma salada de "personalidades", com tacões nos sapatos, alguns, para lhes dar a altura que lhes falta para apelar a um "compromisso nacional". Estão longe da dimensão necessária para fazer um apelo desta natureza.
Uns, raros, são inocentes, outros são culpados. Uns fazem parte do problema, outros são o problema. Outros finalmente nem fazem parte do problema, nem são problema, não são nada. Estão lá, como estarão amanhã na Gala da Caras. A misturada dá altura aos tacos de pia, mas denigre os valorosos.
O que me parece a mim é que isto é tudo gente que tem simplesmente medo que, chegados ao ponto a que chegámos, os injustiçados portugueses façam justiça pelas suas próprias mãos e vinguem as humilhações por que têm passado desde há tanto tempo...
É apenas de INJUSTIÇA que estamos a falar quando discutimos os problemas do País. O resto é poeira para os olhos.

2011/04/07

Banca portuguesa, patriotismo e solidariedade...

Para quem não tenha ainda notado, a banca é um negócio artificial baseado num conceito artificial: o dinheiro, uma mera convenção, um simples padrão criado para facilitar o nosso relacionamento uns com os outros e permitir uma mais simples troca dos produtos que cada um de nós produz ou necessita, tornado, ele próprio e de uma forma aberrante, "mercadoria". O negócio consiste em tomar o nosso dinheiro para nos proteger do risco de sermos roubados no meio da rua, serviço pelo qual nos é concedido o privilégio de sermos roubados dentro do banco. Vale tudo e os métodos vão dos mais descarados (como aquele que saca a certos pensionistas, que se vêem obrigados a receber as suas magríssimas pensões através de conta bancária, uma comissão para "manutenção" da conta) até às mais subtis.
É assim que enquanto um enorme coro de vozes de todos os sectores anunciava que depois do resgate vêm aí mais sacrifícios, mais impostos, cortes e contracções, a banca portuguesa ganhava hoje, um dia após o anúncio do pedido desse mesmo resgate, 350 milhões de euros.
Segundo o Económico, hoje na Bolsa de Lisboa o "sector da banca registou ganhos em redor de 5%, com o BPI a liderar e a acelerar 5,12% para 1,31 euros. Já o BES e o BCP ganharam 4,18% e 4,07%, respectivamente. Ambos os bancos estão entre os que mais subiram na Europa, segundo o índice da Bloomberg para o sector."
Entretanto, ainda segundoEconómico, os banqueiros rejeitam a afirmação de que "a recusa da banca em continuar a financiar o Estado português teria sido o factor decisivo para que Portugal endereçasse um pedido de ajuda Bruxelas" e de que os bancos viraram as costas ao governo.
Não se trata de virar ou não as costas ao "Governo", digo eu. Trata-se é de virar ou não as costas a PORTUGAL.
Patriotismo e sentido de comunidade são bons... para o Banco Alimentar.

2011/04/06

Confirmação

A alocução de José Sócrates, no telejormal desta noite, confirmou a notícia que toda a gente dava como certa, mas que o PM negava ser necessária. Confirmou-se o pedido de ajuda externa solicitado pelo governo português, ainda que os seus contornos não sejam totalmente claros. Trata-se do FMI, do FEEF ou de um empréstimo intercalar?
Agora que a "ajuda" se tornou inevitável, ainda menos se percebe porque foi esta medida sendo adiada. A menos que, conforme Manuel Carrilho ontem declarava na TVI, estejamos a assistir à "estratégia de Xerazade", que consistia em ir contando histórias ao rei como única forma de adiar a sua própria morte...

2011/04/01

Back to the future

Vamos, como era mais que óbvio, para eleições. Está feita, como é mais que óbvio, a "coligação" PS-PSD-CDS, os do arco governativo e mais-não-sei-quê, e, como é mais que óbvio, vai ficar tudo na mesma. Ou seja, os causadores da crise e os mesmos que se foram revelando e revelam hoje incapazes de a resolver vão voltar ao poder. Um outro até já lá está e vai continuar a exercer o seu magistério de indigência.
Os que sofrem as consequências da crise vão continuar a ser os mesmos a quem é sempre exigida disponibilidade para ultrapassar este estado de coisas. Tudo isto é mais que óbvio, previsível e insuportavelmente repetitivo.
Crise?! Qual crise?! Para quem, porquê?! Tudo isto cheira a fado antigo e rançoso.
Estaria francamente na hora de dar às diversas instâncias do poder mais de que simples dicas que as coisas vão mesmo ter de mudar. Não está, portugueses?
Oh, se tu isto fosse antes mentira!...

2011/03/28

Moody's Blues

Na mesma semana em que baixou o "rating" de Portugal no mercado financeiro, a agência Moody's distribuiu 6,5 milhões de euros de lucro aos seus administradores. Vá-se lá saber porquê...

2011/03/25

Pacheco e o caos

Pacheco Pereira, certamente um dos paineleiros mais "preocupados" com a crise que atravessa Portugal, veio ontem (num programa onde semanalmente debita verdades inquestionáveis), avançar a sua tese de "salvação" para o país: PS e PSD (os causadores da crise, note-se) devem acordar um programa político comum, antes das eleições, para assegurar uma governação "mais estável" no futuro. Isto para acalmar os "mercados" e a sociedade portuguesa. De outro modo, voltamos à ditadura da "rua", às manobras do PCP e do Bloco, ao caos, em suma...
Se o Pacheco não existisse, isto não tinha graça nenhuma, temos de admitir.

2011/03/24

Ditadura de pantufas (3)

Entre "coligações negativas" e a possibilidade de criação de uma "coligação positiva" para  ir mantendo as aparências, há um dado que pode estar a escapar-nos a todos. Há tempos opinei aqui que os agentes políticos portugueses subestimavam as capacidades de Sócrates, o seu grau de ambição e o seu instinto político. A falta de uma avaliação correcta do primeiro ministro tem tido consequências trágicas: tivemos de o continuar a gramar para além da manifesta ultrapassagem do seu prazo de validade e agora arriscamo-nos a vê-lo sair reforçado de tudo isto. Exagero? Mmm... vamos ver como se comportam os seus principais rivais.
Na intervenção a anunciar a sua demissão o primeiro ministro reiterou como firmeza a sua determinação em apresentar-se de novo ao sufrágio eleitoral, e se os outros partidos do "arco da governação" acham que já derrotaram Sócrates é melhor pensarem duas vezes. Não houve líder do "arco do poder" a gerir o poder do arco como ele até agora e, no final de contas, é esta gestão que conta para o poder instalado, ou sistema, como um dirigente desportivo um dia chamou à mafia do futebol.
Duas coisas são certas: no plano interno, Sócrates não tem contestação credível e, por outro lado, os outros líderes do sistema têm-se revelado uns verdadeiros anjinhos no confronto com ele.
Confiar a defesa dos verdadeiros interesses do povo português à capacidade dos outros líderes para gerir o  "arco da governação" contra a ambição e resiliência de Sócrates é um gravíssimo erro político.
A luta pode fazer-se com alegria, mas não com ingenuidade. Só poderemos exultar com as eleições quando isto for compreendido. Senão, daqui a uns três meses vamos escolher mais do mesmo.

2011/03/23

Ditadura de pantufas (2)



Não pode deixar de chocar a pressão que os políticos e comentadores de serviço do regime exercem sobre os portugueses. Pais, mães, tios, tias e primos da democracia portuguesa, todos opinam. Afinando as gargantas e com mais ou menos variações recomendam, instam, urgem em coro os partidos a estabelecer alianças para a salvação da república neste momento de crise.
Mas, quem é que, na perspectiva desta "família democrática", claramente disfuncional, entra na aliança? Que partidos? Ora, o PS, o PSD e o CDS, pois claro, os tais partidos auto-designados do "arco do poder", os mesmos que, enquanto "arco do poder" e com o poder de definir o arco, deixaram o país neste estado e repetem repetem agora incessantemente que as outras forças presentes na AR, mesmo que representando uma percentagem significativa da população, têm o poder de se auto-excluir desse arco.
"O próximo governo vai exigir mais do que a vontade de um partido", diz um. "Há mais a unir estes partidos [euro, Europa, economia de mercado] do que a dividi-los", justifica outro.
Não creio que os milhares e milhares que desfilaram nas manifestações dos passados dias 12 e 19 tão pouco se revejam nesta lógica do "arco do poder".
O que podem os Portugueses esperar pois para afastar os efeitos da crise? Mais controlo sobre a dívida? Mais medidas para transformar a economia e combater a pior recessão deste Portugal do século XXI? Não creio. O que os partidos do "arco do poder" parecem vir fazendo há anos é arranjar maneiras de se perpetuarem no poder. Amanhando-se sozinhos à vez, ou amanhando-se colectivamente quando a solução individual se revela desajustada como agora.
A resolução dos problemas do país fica para um dia (como se prova com o agravamento contínuo e prolongado dos problemas estruturais). Quando muito, podemos ir esperando que sejam atamancados para efeitos de manutenção do poder.  
A democracia portuguesa parece uma daquelas lojas em cujas prateleiras vemos uma limitadíssima selecção de produtos, maus e caros.
O país está assim dependente do sucesso dos efeitos desta lógica de intoxicação do sentido crítico dos portugueses. Só poderemos exultar com as eleições quando tivermos a certeza que os nossos compatriotas estão imunes a estas tentativas de intoxicação.

Ditadura de pantufas (1)

Ninguém com um mínimo de senso imagina que a crise que nos bate agora é resultado de algo que aconteceu há meia dúzia de dias. A dívida e a estagnação da economia, tal como Roma e Pavia, não foram feitas num dia.
Na falta de acesso directo aos números, às estatísticas e às inúmeras análises sérias produzidas ao longo dos tempos, todos puderam, pelo menos, suspeitar que a linha do endividamento se ia empinando perigosamente e de que, tendo em conta a inexistência de medidas sérias para combater a estagnação e falta de competitividade da economia, a coisa iria acabar mal. As fúrias do Medina Carreira tiveram, pelo menos, essa virtude de permitir ver muitos gráficos onde se podia ler claramente a crise.
Repito: deixámos com a nossa atitude indiferente e leviana que o recurso à dívida se tornasse a regra de ouro da economia portuguesa e tolerámos todos esta economia de subsistência em versão delux em que temos vivido até agora.
Quando vejo o modo como muitos exultam tão facilmente com a demissão do primeiro ministro nestas condições, receio que estes (quantos?) se estejam a esquecer de que o que se passou hoje não nasceu ontem. A memória é curta e a arte da retórica tem palavras com asas...
O país está assim dependente do maior ou menor grau de amnésia de uns quantos dos nossos compatriotas. Só poderemos exultar de facto com eleições quando tivermos a certeza que os nossos compatriotas esqueceram a amnésia...

O dia "D"

Cai ou não cai?

2011/03/21

Here we go again

Os bombardeamentos, iniciados este fim-de-semana contra as tropas de Kadhafi, com o fim de criar o que, eufemisticamente, alguns apelidam de "no fly zone", começa a apresentar semelhanças preocupantes com a guerra do "Golfo" de 1991.
Se é verdade que Kadhafi, há muito tempo um pária na cena internacional, não respeitou o cessar-fogo acordado com a ONU e continuou a bombardear a população civil, exponde-se assim a sanções militares, também é verdade que o "Ocidente" esperou um mês para "ver" e, só agora, resolveu intervir.
Diversas leituras, sobre esta guerra, são possíveis. A primeira, é a falta de unânimidade no Conselho de Segurança, sobre as medidas a tomar. Como é sabido, a China e a Russia opõem-se a qualquer tipo de intervenção. A segunda, é a posição dos EUA, fragilizado com duas guerras em curso (Iraque e Afeganistão) e a falta de apoio interna para novas aventuras militares. Finalmente, os interesses da UE na região, uma vez que grande parte do petróleo líbio é consumido pelos europeus. Provavelmente, as potências ocidentais preferiram esperar que Kadhafi caísse como os seus homólogos da Tunísia e do Egipto para, depois, poderem negociar com novos governantes.
A justificação apresentada pela coligação "aliada" para a criação de uma "no fly zone" - motivo humanitário - é parcialmente verdadeira, mas não totalmente transparente, se olharmos com atenção para o que se passa na zona em conflito. Enquanto as manifestações populares contra os regimes ditatoriais do Ièmen e do Barhein são btutalmente reprimidos pelos autocratas locais, estes mesmos governantes apoiam as sanções contra Kadhafi. Basta pensar na Arábia Saudita, o maior aliado dos EUA na região e apoiante dos "aliados", que invadiu o Barhein e o Iémen a semana passada em apoio dos sultões locais, para reprimir as populações revoltadas. Ou seja, mais do que a tão publicitada ajuda humanitária, a coligação "aliada" está preocupada com as revoltas no mundo árabe que podem atingir à Arábia Saudita (o maior produtor mundial de petróleo) e o Barhein (onde está fundeada a V esquadra morte-americana). Não deixa de ser irónico que, duas das maiores ditaduras da região, integrem as forças "aliadas" que actualmente bombardeiam outro ditador. Ou não serão todos ditadores?
É esta falta de coerência nas forças da coligação que lhes tira qualquer razão moral para actuarem de forma diferente em situações idênticas. Uma farsa, em suma.

2011/03/15

Avisos à navegação

O artigo de Mário Soares, hoje publicado no DN, é revelador da inquietação que grassa nas hostes socialistas. Depois de, há uma semana, ter vindo criticar os jovens que convocaram a manifestação da "geração à rasca" (apelidando-os de niilistas e do perigo do populismo e do fascismo, que podiam desencadear), Soares vem agora fazer "mea culpa", alertando para a "mensagem" que a manifestação deu ao país e, pior, criticar Sócrates pelo anúncio de mais um PEC sem consulta prévia do parlamento. Vai mesmo mais longe e escreve que as eleições poderão ajudar a clarificar a actual situação política. Tais considerações, vindas do "pai da democracia", são palavras inequívocas para um governo da sua cor política, que chegou definitivamente ao fim da linha. Se isto não acelerar a demissão de Sócrates, não sei o que o obrigará a sair. Mas, o primeiro-ministro, tem certamente uma resposta para todas as críticas e vai estar esta noite na televisão em mais um dos seus monólogos habituais. Catatónico, como é, acreditará na sua própria mantra, pois já provou não saber viver de outra maneira.

O Japão aqui tão perto

Absorvida como está, com a crise em que o país se encontra, compreende-se a relativa ausência de interesse da população portuguesa pelos acontecimentos no Japão. O terramoto, a que se seguiu um tsunami e, posteriormente, as sucessivas explosões em centrais nucleares, prenunciam uma catástrofe sem precedentes a nível mundial. Todas as palavras serão poucas para imaginar o horror porque passam neste momento as populações japonesas atingidas. E, no entanto, ao vermos as terríveis imagens que nos entram em directo pela televisão, não podemos deixar de sentir, para além do pesar, uma admiração imensa por este povo estóico que vive, literalmente, sobre um vulcão.
É uma ironia da História que o único país vítima de duas bombas nucleares seja de novo atingido pela ameaça da contaminação radioactiva. Ainda não são conhecidos os efeitos reais, mas o aumento da radioactividade, em cidades como Tóquio, indica que o pior ainda poderá estar para vir. Infelizmente, a "irracionalidade" da natureza não se compadece com o mérito das nações. Resta-nos ser solidários com este povo magnífico que, num dos momentos mais difíceis da sua existência, está a dar uma lição ao Mundo em resistência e na organização da sua própria sobrevivência.

2011/03/13

Espontaneidade

Foram, quase que aposto, mais do que aqueles que os organizadores modestamente anunciaram ter descido hoje a avenida e foram, certamente, muitos mais do que aqueles que pateticamente a polícia anunciou. Marchavam de forma totalmente desorganizada, mostravam cartazes escritos à mão, cantavam, tocavam, mas não gritavam as palavras de ordem que habitualmente ouvimos nestas iniciativas. Via-se sobretudo gente nova, via-se um número inusitado de carrinhos de bebé, viam-se muitos pais, lado a lado com os seus filhos. Eu estive lá com o meu.
Os sinais habituais deste tipo de acções estiveram ausentes. Não se viu uma única bandeira partidária, não se ouviu uma única palavra de ordem construída nos gabinetes de agit-prop dos partidos.
Percebia-se que estes manifestantes não são frequentadores habituais deste tipo de acções. Desceram a avenida para dizer não a esta governação, a este modelo (as referências ao "modelo" eram frequentes), ao status quo. Diziam não de forma muito determinada, sobretudo pela sua presença. Gritavam "Basta!"
Fizeram tudo isto de forma espontânea (via-se!), sem os rituais habituais destas ocasiões, fizeram-no em número muito significativo. Só não o vê quem não quer. E quem o ignorar comete um enorme lapso.
Quem não ouviu o grito de revolta implícito na saída destes larguíssimos milhares de pessoas, que desceram à rua por todo o país e se manifestaram também junto a embaixadas portuguesas no estrangeiro, sofre de uma surdez absurda e comete um erro fatal.
Mas, cometem também um erro (e um erro grosseiro!) os manifestantes e, sobretudo, os jovens actores directos deste acto, que pensarem que conseguem levar a água ao seu moinho ficando, simplesmente, por aqui, não insistindo, insistindo e insistindo outra vez, e não o fazendo de forma muito organizada. É que, do outro lado está uma máquina totalmente oleada e profissionalizada, a máquina que se apoderou do aparelho de Estado, dos partidos, dos comentadores, uma máquina com imensos interesses a defender, uma máquina alimentada a corrupção e parasitismo de 100 octanas, uma máquina oportunista, uma máquina habituada a praticar a arte de camuflar crimes graves.
Lutar contra esta máquina pressupõe mais do que entusiasmo e justeza de princípios, embora a luta só seja vitoriosa se houver entusiasmo e justeza de princípios.
Não é para desistir, é para insistir!