Prometo publicar aqui, semanalmente, estas promessas pré-eleitorais do actual primeiro ministro Passos Coelho até que o actual governo cesse funções. Socorro-me de um trabalho publicado no excelente blog "Democracia em Portugal?".
Infelizmente, a maior parte das vezes, a memória é curta e a tolerância para com a falta de palavra tornou-se um hábito. Pelo meu lado, não vou deixar que tudo isto caia no esquecimento. Ora recordem lá o que disse o senhor dos Passos...
"Estas medidas põem o país a pão e água. Não se põe um país a pão e água por precaução."
"Estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa."
"Aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias."
"Sabemos hoje que o Governo fez de conta. Disse que ia cortar e não cortou."
"Nas despesas correntes do Estado, há 10% a 15% de despesas que podem ser reduzidas."
"O pior que pode acontecer a Portugal neste momento é que todas as situações financeiras não venham para cima da mesa."
"Aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos."
"Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos."
"Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos."
"Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado."
"Já estamos fartos de um Governo que nunca sabe o que diz e nunca sabe o que assina em nome de Portugal."
"O Governo está-se a refugiar em desculpas para não dizer como é que tenciona concretizar a baixa da TSU com que se comprometeu no memorando."
"Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa."
"Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas."
"Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português."
"A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento."
"A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos."
"Não aceitaremos chantagens de estabilidade, não aceitamos o clima emocional de que quem não está caladinho não é patriota."
"O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento."
"Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13.º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate."
"Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?"
2011/09/16
2011/09/14
Quando a parvoíce não tem cura
Tinha prometido a mim mesmo não escrever durante as férias. Aproveitei para encontrar-me com alguns amigos e amigas holandesas que vieram até Portugal. Com uma delas, artista plástica em Haia - autora de um projecto sobre escadas rolantes na Europa - conversei longamente sobre a estação do metro Baixa-Chiado, que ela ignorava ser da autoria de Siza Vieira. A "bonita estação branca" como ela lhe chama e que filmou longamente para inclui-la no seu projecto.
Hoje, li num matutino que a estação vai passar a chamar-se "Baixa-Chiado PT Bluestation", devido a um contrato de patrocínio estabelecido com a PT. Por quatro anos. Ou seja, durante esse período, a estação de metro com saídas para o Largo do Chiado e para a Rua do Crucifixo, vai ter um nome diferente do original (!?).
O pior, é a maioria da vereação da Câmara (socialista) ter votado a favor desta nova toponímia, tornando assim, a decisão irreversível. Será que esta vereação ensandeceu?
Perante tanta cretinice, só me resta mesmo voltar para férias. O mais longe possível desta gente.
Hoje, li num matutino que a estação vai passar a chamar-se "Baixa-Chiado PT Bluestation", devido a um contrato de patrocínio estabelecido com a PT. Por quatro anos. Ou seja, durante esse período, a estação de metro com saídas para o Largo do Chiado e para a Rua do Crucifixo, vai ter um nome diferente do original (!?).
O pior, é a maioria da vereação da Câmara (socialista) ter votado a favor desta nova toponímia, tornando assim, a decisão irreversível. Será que esta vereação ensandeceu?
Perante tanta cretinice, só me resta mesmo voltar para férias. O mais longe possível desta gente.
2011/09/07
A alegoria do pão
Enquanto o dr. Passos Coelho nos revela finalmente a sua faceta autoritária (o lobo com pele de escuteiro...), coadjuvado pelo dr. Portas que avisa, sibilino, que a contestação é má para os contestatários, o dr. Cavaco, fino que nem um alho, alerta para o perigo do excesso de futebolistas estrangeiros nos campeonatos nacionais.
Entretanto, o preço do pão (produto em que nem o dr. Salazar se atreveu a tocar) vai subir, por causa, dizem, de um pretenso aumento da matéria prima. O aumento do pão vai previsivelmente contribuir para a diminuição do consumo, que já está, de resto, em queda de há algum tempo a esta parte. Os industriais do sector temem esta possível quebra de vendas, mas, dizem, não têm alternativa. Ou aumentam o produto ou o sector não se aguenta. Se o aumento for para a frente o sector pode manter-se à tona de água, mas, se o fizerem, diminuem as vendas e o sector... afunda-se.
Esta é a terrível contradição em que se encontra a economia portuguesa. Para a resolução da qual, é preciso dizer-se, o governo demonstra uma arreliadora e exasperante falta de qualidades.
O português, exaurido pela sanguessuga fiscal, vai observando a alegoria do pão que se estende desde há muito a outros sectores da economia nacional, que parecem ir definhando, sucessivamente com ele, sem remissão, até ao estertor final.
É este retrato de um país improvável. E é neste cálculo de improbabilidades que cada um lança mão dos recursos que melhor domina: Portas e Coelho constroem trincheiras e limpam espingardas, enquanto Cavaco lança o seu trompe l'oeil futebolístico. Estarão eles mesmo, mesmo cientes da dimensão do sarilho que estão a criar?
Infelizmente, com as novas medidas do ministro da saúde sobre doações e transplantes de órgãos este governo e este presidente não vão poder receber o órgão de que tanto precisavam: uma nova cabeça.
Entretanto, o preço do pão (produto em que nem o dr. Salazar se atreveu a tocar) vai subir, por causa, dizem, de um pretenso aumento da matéria prima. O aumento do pão vai previsivelmente contribuir para a diminuição do consumo, que já está, de resto, em queda de há algum tempo a esta parte. Os industriais do sector temem esta possível quebra de vendas, mas, dizem, não têm alternativa. Ou aumentam o produto ou o sector não se aguenta. Se o aumento for para a frente o sector pode manter-se à tona de água, mas, se o fizerem, diminuem as vendas e o sector... afunda-se.
Esta é a terrível contradição em que se encontra a economia portuguesa. Para a resolução da qual, é preciso dizer-se, o governo demonstra uma arreliadora e exasperante falta de qualidades.
O português, exaurido pela sanguessuga fiscal, vai observando a alegoria do pão que se estende desde há muito a outros sectores da economia nacional, que parecem ir definhando, sucessivamente com ele, sem remissão, até ao estertor final.
É este retrato de um país improvável. E é neste cálculo de improbabilidades que cada um lança mão dos recursos que melhor domina: Portas e Coelho constroem trincheiras e limpam espingardas, enquanto Cavaco lança o seu trompe l'oeil futebolístico. Estarão eles mesmo, mesmo cientes da dimensão do sarilho que estão a criar?
Infelizmente, com as novas medidas do ministro da saúde sobre doações e transplantes de órgãos este governo e este presidente não vão poder receber o órgão de que tanto precisavam: uma nova cabeça.
2011/09/05
Rever a Constituição
A sugestão feita pelo dr. António Barreto para que seja criada uma comissão que discuta a revisão constitucional é para ser levada muito a sério. A começar pelo dr. António Barreto. Concordo com a necessidade de a fazer e concordo com as metas sugeridas.
Espero que esta tarefa venha mesmo a ter lugar e que seja o proponente a tomar a iniciativa de a organizar e implementar. Não lhe falta a experiência, os meios, as ligações, a preparação técnica necessária e a noção do momento. Faz parte da elite do país a quem cabe passar da teoria aos actos.
A nós compete-nos acompanhar a discussão, participar nela e dar a mão no que for preciso, na exacta medida dos nosso talentos e da nossa esfera de acção, na perspectiva da urgência da tarefa. Estou certo que um amplo movimento cívico se formará em torno desta ideia. É preciso colocá-la em marcha.
Espero estar a discutir a revisão constitucional muito em breve e espero que um projecto de constituição revista possa ser submetido a um referendo em tempo oportuno.
Espero que esta tarefa venha mesmo a ter lugar e que seja o proponente a tomar a iniciativa de a organizar e implementar. Não lhe falta a experiência, os meios, as ligações, a preparação técnica necessária e a noção do momento. Faz parte da elite do país a quem cabe passar da teoria aos actos.
A nós compete-nos acompanhar a discussão, participar nela e dar a mão no que for preciso, na exacta medida dos nosso talentos e da nossa esfera de acção, na perspectiva da urgência da tarefa. Estou certo que um amplo movimento cívico se formará em torno desta ideia. É preciso colocá-la em marcha.
Espero estar a discutir a revisão constitucional muito em breve e espero que um projecto de constituição revista possa ser submetido a um referendo em tempo oportuno.
2011/08/31
O dia em que os porcos voaram...
Encontra-se em exibição, numa sala de Lisboa, um filme assaz interessante. Trata-se do documentário "A autobiografia de Nicolae Ceausescu" (Ceausescu par lui-même) do realizador romeno Andrei Ujica. Na verdade, mais do que um documentário, trata-se de um verdadeiro "documento" sobre a ascensão, reinado e queda do ditador que governou a Roménia entre 1964 e 1989.
Contrariamente à maior parte dos documentários históricos, que seguem uma narrativa mais ou menos estruturada e onde, para além dos diversos pontos de vista, as imagens são frequentemente sublinhadas por uma voz "off", esta "biografia" de Ceausescu tem a particularidade de ser editada a partir das filmagens oficiais que o ditador mandava fazer de si mesmo. Ujica necessitou de quatro anos para visionar e editar mais de 1000 horas de filme, antes de chegar ao produto final, um condensado de 3 horas...
O documentário começa com o célebre julgamento de Nicolae e Elena Ceausescu, após a sua captura em Dezembro de 1989, dando depois início a um longo "flashback" sobre as principais fases do governo romeno. Destaque para os congressos do partido comunista, onde o culto do camarada Ceausescu atinge proporções faraónicas, só ultrapassadas pela sua visita à Coreia do Norte, onde o regime de Kim Il Sum lhe proporciona uma recepção ainda mais apoteótica. Inúmeros são, também, os visitantes ilustres que passam pela Roménia, desde De Gaulle a Nixon, da mesma forma que o filme mostra as viagens do casal Ceausescu aos EUA, a Inglaterra e à China, onde é recebido por Carter, a Rainha Isabel II e Mao Tse Tung.
Não faltam momentos de antologia, entre os quais as festas da "nomenklatura" romena e as caçadas do casal Ceausescu, nas quais o ditador dispara animadamente contra ursos e veados, alimentados em coutadas do regime. Um dos momentos mais hilariantes é a intervenção do camarada Parvulescu, que pede a palavra em pleno congresso do partido para se opor à reeleição de Ceausescu, acusando-o de manipular o Comité Central onde, mais uma vez, seria eleito. Do camarada Parvulescu nada sabemos, mas não nos custa acreditar que ele não tivesse sobrevivido ao fim do regime.
Num dos últimos discursos do filme, Ceausescu ensaia uma piada que os presentes, entre os quais a sua devota mulher, aplaudem demoradamente. Dizia ele, que o capitalismo nunca triunfaria na Roménia. Mais fácil seria ver um porco voar. E enquanto todos riam, ele avisava: "não se riam, que com os avanços da ciência genética, nunca se sabe o que o futuro nos reservará".
Vem-me à memória esta cena ao ouvir hoje o Nicolae da Madeira a justificar a dívida que contraiu à custa dos nossos impostos. Resta-me a esperança de ver a genética avançar de tal modo que os porcos possam voar.
Contrariamente à maior parte dos documentários históricos, que seguem uma narrativa mais ou menos estruturada e onde, para além dos diversos pontos de vista, as imagens são frequentemente sublinhadas por uma voz "off", esta "biografia" de Ceausescu tem a particularidade de ser editada a partir das filmagens oficiais que o ditador mandava fazer de si mesmo. Ujica necessitou de quatro anos para visionar e editar mais de 1000 horas de filme, antes de chegar ao produto final, um condensado de 3 horas...
O documentário começa com o célebre julgamento de Nicolae e Elena Ceausescu, após a sua captura em Dezembro de 1989, dando depois início a um longo "flashback" sobre as principais fases do governo romeno. Destaque para os congressos do partido comunista, onde o culto do camarada Ceausescu atinge proporções faraónicas, só ultrapassadas pela sua visita à Coreia do Norte, onde o regime de Kim Il Sum lhe proporciona uma recepção ainda mais apoteótica. Inúmeros são, também, os visitantes ilustres que passam pela Roménia, desde De Gaulle a Nixon, da mesma forma que o filme mostra as viagens do casal Ceausescu aos EUA, a Inglaterra e à China, onde é recebido por Carter, a Rainha Isabel II e Mao Tse Tung.
Não faltam momentos de antologia, entre os quais as festas da "nomenklatura" romena e as caçadas do casal Ceausescu, nas quais o ditador dispara animadamente contra ursos e veados, alimentados em coutadas do regime. Um dos momentos mais hilariantes é a intervenção do camarada Parvulescu, que pede a palavra em pleno congresso do partido para se opor à reeleição de Ceausescu, acusando-o de manipular o Comité Central onde, mais uma vez, seria eleito. Do camarada Parvulescu nada sabemos, mas não nos custa acreditar que ele não tivesse sobrevivido ao fim do regime.
Num dos últimos discursos do filme, Ceausescu ensaia uma piada que os presentes, entre os quais a sua devota mulher, aplaudem demoradamente. Dizia ele, que o capitalismo nunca triunfaria na Roménia. Mais fácil seria ver um porco voar. E enquanto todos riam, ele avisava: "não se riam, que com os avanços da ciência genética, nunca se sabe o que o futuro nos reservará".
Vem-me à memória esta cena ao ouvir hoje o Nicolae da Madeira a justificar a dívida que contraiu à custa dos nossos impostos. Resta-me a esperança de ver a genética avançar de tal modo que os porcos possam voar.
2011/08/30
Brandos ou lorpas?
Os portugueses são descritos frequentemente como um povo de brandos costumes. Na situação actual alguns autores e analistas afirmam que essa brandura de costumes está contudo em risco e que a tampa poderá saltar a qualquer momento, fruto da escalada da degradação de condições de vida para além do suportável. Duvido. O confronto não tem de ter necessariamente uma expressão violenta, mas pode e deve ocorrer se as circunstâncias o justificarem. Podemos ser brandos no confronto, mas isso não significa demitirmo-nos dele e, sobretudo, que tenhamos que ser lorpas. Ora, os portugueses não dão boas indicações neste domínio.
Veja-se o anunciado processo de privatizações. Já se lhe antevê um desfecho (se o desfecho vai ter ou não o sucesso desejado é outra coisa...) e creio que a maioria esmagadora dos portugueses ainda nem se deu conta do que aí vem, nem lhe adivinha as consequências.
Não falo nas privatizações dos bocados suculentos das empresas onde o Estado ainda ganha algum. Embora ache simplesmente estúpido e um acto de má gestão a perda de receitas seguras ou de posição estratégica em sectores como a energia, o transporte aéreo ou os seguros, por exemplo, nada disto me coloca dúvidas existenciais. Não se tratando de sectores vitais, parece-me um acto de simples incompetência deixar escorregar das nossas mãos, nesta altura, todo este potencial. Talvez as novas sedes destas empresas se acabem até por mudar para um qualquer paraíso fiscal, como referia o Rui Mota ontem aqui, e se percam, para além das receitas, parte significativa das receitas fiscais. Mas, como já estamos habituados a estes actos de "gestão" a coisa não parece de todo inusitada.
Outra questão diferente é a privatização da RTP e, sobretudo, das Águas de Portugal. Não deixa de ser estranho que não haja um debate sério sobre esta matéria, que os partidos da oposição não o promovam e que tanta cabecinha pensante deste país, que perora sobre tudo e mais um par de botas, se mantenha em silêncio perante o que está aí para acontecer.
O panorama dos orgãos de comunicação em Portugal é lamentável. Quando o classifico assim não me estou a referir ao seu aspecto exterior, ao figurino que passeia nas passerelles públicas todos os dias. Nesse sentido Portugal não é diferente de qualquer outro país ocidental ou ocidentalizado. A comunicação social, em Portugal como em muitos outros países, é um dos instrumentos usados pelos ricos para promover um certo modelo de vida, este modelo de vida em crise para os pobres, desenhado para engordar justamente os ricos.
A "comunicação social" não é nem mais nem menos que isso: um elemento vital nesta estratégia de condicionar sonhos e formatar o pensamento ao serviço de quem o sabe manipular. A RTP não é, também neste contexto, outra coisa senão uma ferramenta de manipulação. Mas, ao contrário do que se passa com a SIC ou a TVI, é nossa! Em última análise, temos sempre a possibilidade de questionar o seu sentido e de lhe exigir a correcção do rumo. Não sendo especialista nestas matérias, ainda assim, acho, como mero observador, que é isso que me parece que desde o 25 de Abril se tem passado quanto à RTP: um questionar constante do seu sentido e um esforço constante para lhe corrigir o rumo. Os resultados são os que conhecemos, uma desgraça. Mas a grande diferença é esta: podemos sempre exigir uma prestação de contas, porque a RTP tem de nos prestar contas. Só a nossa demissão impede que isso seja feito. As ingerências na SIC ou na TVI, conditio sine qua non, ficam entre muros (excepção feita ao episódio Sócrates & Manuela...), na RTP tudo salta naturalmente cá para fora.
O que se prepara é a doação deste poder a mais um qualquer grupo económico. O que se prepara é a existência de mais um canal que vai promover o ponto de vista do dono sobre o sistema em que acha que temos de viver, manipulando como puder, como se faz agora, sem que o possamos questionar, como agora se pode fazer. O que se prepara é uma delegação injustificada de poderes, sobre a qual, repito, ninguém parece reflectir de modo sério. O que se prepara é mil vezes mais grave que a "venda" do BPN a patacos, mas ninguém parece muito preocupado com isso.
O coro indignado dos donos dos canais privados revela apenas apreensão quanto à partilha de influência, é uma questão entre eles. Não há razão para temores. Se a privatização for para a frente (nunca se sabe...) resta-nos sempre a possibilidade de fazer ao futuro canal o que eu faço à SIC e à TVI: cortar-lhe o pio! Não me agrada assistir à operação de lavagem colectiva ao cérebro que as televisões proporcionam aos meus concidadãos, mas, pelo menos a mim, não me apanham na conversa e não me incluem nas audiências.
Outra coisa bem mais grave é aquilo que se prepara com a água. Estamos perante um bem que não podemos escolher, vital e escasso, que ao que tudo indica vai ser entregue a "privados". Para quê?! Que liberdade de escolha proporciona a entrega das Águas de Portugal à "iniciativa" privada? Que "iniciativa" é esta? O que é "privatizar" a água? Que mais valia poderia trazer? Que vantagem ignota proporciona? Para que raio serve uma operação desta natureza? Estarão os portugueses cientes daquilo que lhes vai acontecer, do modo como vão ficar condicionados no que de mais vital existe nas suas vidas? Preparam-se para entregar a gestão deste último dos nossos "baldios" a um único senhor e fica tudo calado, sem reacção?
Será que afinal brando é lorpa mesmo?
Veja-se o anunciado processo de privatizações. Já se lhe antevê um desfecho (se o desfecho vai ter ou não o sucesso desejado é outra coisa...) e creio que a maioria esmagadora dos portugueses ainda nem se deu conta do que aí vem, nem lhe adivinha as consequências.
Não falo nas privatizações dos bocados suculentos das empresas onde o Estado ainda ganha algum. Embora ache simplesmente estúpido e um acto de má gestão a perda de receitas seguras ou de posição estratégica em sectores como a energia, o transporte aéreo ou os seguros, por exemplo, nada disto me coloca dúvidas existenciais. Não se tratando de sectores vitais, parece-me um acto de simples incompetência deixar escorregar das nossas mãos, nesta altura, todo este potencial. Talvez as novas sedes destas empresas se acabem até por mudar para um qualquer paraíso fiscal, como referia o Rui Mota ontem aqui, e se percam, para além das receitas, parte significativa das receitas fiscais. Mas, como já estamos habituados a estes actos de "gestão" a coisa não parece de todo inusitada.
Outra questão diferente é a privatização da RTP e, sobretudo, das Águas de Portugal. Não deixa de ser estranho que não haja um debate sério sobre esta matéria, que os partidos da oposição não o promovam e que tanta cabecinha pensante deste país, que perora sobre tudo e mais um par de botas, se mantenha em silêncio perante o que está aí para acontecer.
O panorama dos orgãos de comunicação em Portugal é lamentável. Quando o classifico assim não me estou a referir ao seu aspecto exterior, ao figurino que passeia nas passerelles públicas todos os dias. Nesse sentido Portugal não é diferente de qualquer outro país ocidental ou ocidentalizado. A comunicação social, em Portugal como em muitos outros países, é um dos instrumentos usados pelos ricos para promover um certo modelo de vida, este modelo de vida em crise para os pobres, desenhado para engordar justamente os ricos.
A "comunicação social" não é nem mais nem menos que isso: um elemento vital nesta estratégia de condicionar sonhos e formatar o pensamento ao serviço de quem o sabe manipular. A RTP não é, também neste contexto, outra coisa senão uma ferramenta de manipulação. Mas, ao contrário do que se passa com a SIC ou a TVI, é nossa! Em última análise, temos sempre a possibilidade de questionar o seu sentido e de lhe exigir a correcção do rumo. Não sendo especialista nestas matérias, ainda assim, acho, como mero observador, que é isso que me parece que desde o 25 de Abril se tem passado quanto à RTP: um questionar constante do seu sentido e um esforço constante para lhe corrigir o rumo. Os resultados são os que conhecemos, uma desgraça. Mas a grande diferença é esta: podemos sempre exigir uma prestação de contas, porque a RTP tem de nos prestar contas. Só a nossa demissão impede que isso seja feito. As ingerências na SIC ou na TVI, conditio sine qua non, ficam entre muros (excepção feita ao episódio Sócrates & Manuela...), na RTP tudo salta naturalmente cá para fora.
O que se prepara é a doação deste poder a mais um qualquer grupo económico. O que se prepara é a existência de mais um canal que vai promover o ponto de vista do dono sobre o sistema em que acha que temos de viver, manipulando como puder, como se faz agora, sem que o possamos questionar, como agora se pode fazer. O que se prepara é uma delegação injustificada de poderes, sobre a qual, repito, ninguém parece reflectir de modo sério. O que se prepara é mil vezes mais grave que a "venda" do BPN a patacos, mas ninguém parece muito preocupado com isso.
O coro indignado dos donos dos canais privados revela apenas apreensão quanto à partilha de influência, é uma questão entre eles. Não há razão para temores. Se a privatização for para a frente (nunca se sabe...) resta-nos sempre a possibilidade de fazer ao futuro canal o que eu faço à SIC e à TVI: cortar-lhe o pio! Não me agrada assistir à operação de lavagem colectiva ao cérebro que as televisões proporcionam aos meus concidadãos, mas, pelo menos a mim, não me apanham na conversa e não me incluem nas audiências.
Outra coisa bem mais grave é aquilo que se prepara com a água. Estamos perante um bem que não podemos escolher, vital e escasso, que ao que tudo indica vai ser entregue a "privados". Para quê?! Que liberdade de escolha proporciona a entrega das Águas de Portugal à "iniciativa" privada? Que "iniciativa" é esta? O que é "privatizar" a água? Que mais valia poderia trazer? Que vantagem ignota proporciona? Para que raio serve uma operação desta natureza? Estarão os portugueses cientes daquilo que lhes vai acontecer, do modo como vão ficar condicionados no que de mais vital existe nas suas vidas? Preparam-se para entregar a gestão deste último dos nossos "baldios" a um único senhor e fica tudo calado, sem reacção?
Será que afinal brando é lorpa mesmo?
2011/08/28
Os ricos, esses pobres...
Os ricos andam numa "fona".
Depois do americano Warren Buffet (que paga 17% de impostos!) e dos "capitães da industria" francesa (do L'Oréal ao Citroën), já tivemos os italianos de Berlusconi e, hoje mesmo, os austríacos ricos. Todos querem ser taxados! Só Zapatero, certamente a pensar nas próximas eleições, deu o dito por não dito e recuou nas intenções de aumentar a taxa fiscal. Entretanto, em Portugal, o governo faz um compasso de espera para "estudar o assunto", mas, depois das declarações de Cavaco, dificilmente deixará passar esta oportunidade em querer parecer mais "social"...
Há, claro, os renitentes: à cabeça, o Amorim que "não é rico, mas trabalhador" e o homem da Jerónimo Martins, que criou um fundo de apoio para os trabalhadores daquela cadeia de supermercados a viver com dificuldades (!?).
Engraçado é ver os especialistas da matéria na SICN (ontem, um conhecido fiscalista e a directora da revista Única do "Expresso") a alertarem para o "perigo" das grandes fortunas poderem fugir de Portugal (como se essa não fosse já a realidade dos grandes grupos económicos portugueses).
De acordo com uma investigação levada a cabo pelo "Público", os vinte maiores grupos económicos em Portugal têm 74 sedes no estrangeiro. A Holanda é um dos países preferidos e, só em Amsterdão, têm sede fiscal: o BCP, a PT, a Sonaecom, a EDP, a Cimpor, a Brisa, a Sonae Industria, a Galp, a Mota-Engil, a Semapa e a Portucel...
Tudo gente trabalhadora e patriota, como é bem de ver!
Ou seja, se os pobres protestam, os ricos vão-se embora e, para estes não "fugirem", os pobres devem contentar-se com o que têm. Ou seja, nada. Como não têm nada, devem estar muito agradecidos pelo facto dos ricos quererem ser taxados. Se não fossem os ricos, nem essa ajuda recebiam.
Não é de admirar que os pobres andem cada vez mais baralhados. Quando a "esmola" é grande...
Depois do americano Warren Buffet (que paga 17% de impostos!) e dos "capitães da industria" francesa (do L'Oréal ao Citroën), já tivemos os italianos de Berlusconi e, hoje mesmo, os austríacos ricos. Todos querem ser taxados! Só Zapatero, certamente a pensar nas próximas eleições, deu o dito por não dito e recuou nas intenções de aumentar a taxa fiscal. Entretanto, em Portugal, o governo faz um compasso de espera para "estudar o assunto", mas, depois das declarações de Cavaco, dificilmente deixará passar esta oportunidade em querer parecer mais "social"...
Há, claro, os renitentes: à cabeça, o Amorim que "não é rico, mas trabalhador" e o homem da Jerónimo Martins, que criou um fundo de apoio para os trabalhadores daquela cadeia de supermercados a viver com dificuldades (!?).
Engraçado é ver os especialistas da matéria na SICN (ontem, um conhecido fiscalista e a directora da revista Única do "Expresso") a alertarem para o "perigo" das grandes fortunas poderem fugir de Portugal (como se essa não fosse já a realidade dos grandes grupos económicos portugueses).
De acordo com uma investigação levada a cabo pelo "Público", os vinte maiores grupos económicos em Portugal têm 74 sedes no estrangeiro. A Holanda é um dos países preferidos e, só em Amsterdão, têm sede fiscal: o BCP, a PT, a Sonaecom, a EDP, a Cimpor, a Brisa, a Sonae Industria, a Galp, a Mota-Engil, a Semapa e a Portucel...
Tudo gente trabalhadora e patriota, como é bem de ver!
Ou seja, se os pobres protestam, os ricos vão-se embora e, para estes não "fugirem", os pobres devem contentar-se com o que têm. Ou seja, nada. Como não têm nada, devem estar muito agradecidos pelo facto dos ricos quererem ser taxados. Se não fossem os ricos, nem essa ajuda recebiam.
Não é de admirar que os pobres andem cada vez mais baralhados. Quando a "esmola" é grande...
2011/08/24
Os túneis de Tripoli
Agora que o regime líbio parece viver as suas últimas horas, ninguém de bom senso arrisca vaticinar os dias que vão seguir-se. Quem dirige, na realidade, as forças que combatem contra Kadhafi, eufemisticamente apelidadas de "forças rebeldes"? Chefes das muitas tribos e etnias que formam a nação líbia? Movimentos de oposição exilados em capitais ocidentais? Movimentos integristas, federados na "irmandade muçulmana"? O "Al Qaeda", ou o que dele resta? Mercenários do Chade, de sotaque americano, que se deslocam em jeeps de alta cilindrada e usam óculos "ray-ban"? Ou, o povo oprimido pela ditadura que, ainda há poucas semanas atrás, aclamava entusiasticamente o coronel na mesma "Praça Verde" onde hoje destrói os símbolos do regime deposto?
Não sabemos. Ninguém sabe. Do sempre bem informado Nuno Rogeiro (mais conhecido pelo "verdadeiro banda larga"), ao especialista do médio-oriente Robert Fisk, todos os analistas se interrogam sobre as virtudes desta "Revolução Árabe". Sim, porque há mais do que uma versão: a tunisina, que é diferente da egipcia que, por sua vez, é diferente da líbia e esta da síria, que ainda está para durar...
Também não se percebe porque é que o "Ocidente", através da NATO, não interveio na Tunísia e no Egipto e apoiou agora as "forças rebeldes". O argumento, da repressão usada por Kadhafi contra o seu povo, é defensável, mas então, porque não bombardear igualmente Assad (Síria) que já matou milhares de populares indefesos? A que se deve esta diferença de critérios? Talvez o facto da Líbia ter petróleo ajude a explicar algumas destas questões.
E porque é que Israel, a "única" democracia na região, nunca se pronunciou a favor dos movimentos emancipatórios árabes? Será que, lá no fundo, o governo israelita prefere os ditadores, desde que estes reprimam os fundamentalistas islâmicos que ameaçam a sua própria integridade? Tudo é possível, neste Mundo de "realpolitik", onde não interessa tanto se Kadhafi é um "son of a bitch", desde que seja o "nosso" filho da puta.
Uma coisa parece certa: depois da "Primavera", já estamos no "Verão" e nada nos garante que não iremos assistir a um "Outono árabe". As revoluções árabes, vão continuar por muito tempo e muitas destas ditaduras não cairão para já. Ou, talvez caiam, para serem substituidas por outras mais sofisticadas, sempre ao serviço das mesmas elites que vão continuar a explorar os seus povos.
Entretanto, algures no subsolo de Tripoli, o coronel continua à procura de um túnel com luz ao fundo. Uma dúvida me assalta: terá ele levado as garbosas "amazonas" virgens que sempre o defenderam? Nesse caso, estará em boa companhia...
Não sabemos. Ninguém sabe. Do sempre bem informado Nuno Rogeiro (mais conhecido pelo "verdadeiro banda larga"), ao especialista do médio-oriente Robert Fisk, todos os analistas se interrogam sobre as virtudes desta "Revolução Árabe". Sim, porque há mais do que uma versão: a tunisina, que é diferente da egipcia que, por sua vez, é diferente da líbia e esta da síria, que ainda está para durar...
Também não se percebe porque é que o "Ocidente", através da NATO, não interveio na Tunísia e no Egipto e apoiou agora as "forças rebeldes". O argumento, da repressão usada por Kadhafi contra o seu povo, é defensável, mas então, porque não bombardear igualmente Assad (Síria) que já matou milhares de populares indefesos? A que se deve esta diferença de critérios? Talvez o facto da Líbia ter petróleo ajude a explicar algumas destas questões.
E porque é que Israel, a "única" democracia na região, nunca se pronunciou a favor dos movimentos emancipatórios árabes? Será que, lá no fundo, o governo israelita prefere os ditadores, desde que estes reprimam os fundamentalistas islâmicos que ameaçam a sua própria integridade? Tudo é possível, neste Mundo de "realpolitik", onde não interessa tanto se Kadhafi é um "son of a bitch", desde que seja o "nosso" filho da puta.
Uma coisa parece certa: depois da "Primavera", já estamos no "Verão" e nada nos garante que não iremos assistir a um "Outono árabe". As revoluções árabes, vão continuar por muito tempo e muitas destas ditaduras não cairão para já. Ou, talvez caiam, para serem substituidas por outras mais sofisticadas, sempre ao serviço das mesmas elites que vão continuar a explorar os seus povos.
Entretanto, algures no subsolo de Tripoli, o coronel continua à procura de um túnel com luz ao fundo. Uma dúvida me assalta: terá ele levado as garbosas "amazonas" virgens que sempre o defenderam? Nesse caso, estará em boa companhia...
2011/08/22
Operação Palito (2)
Enquanto assisto na televisão à queda de Kadhafi em directo, recebo um telefonema dos serviços técnicos da ZON: os serviços técnicos detectaram uma falha no meu antigo IP (Nº 10101747872) e desactivaram-no. Porque estão a desactivar todos os IPs na área onde resido e se trata de uma operação sistémica, deve demorar entre 2 e 14 dias até receber um novo IP e uma nova certificação. Até lá, continuo impossibilitado de enviar "emails" através da minha plataforma "entourage". Conseguirá, Kadhafi, resistir tanto tempo?
2011/08/19
Operação Palito
Há cerca de um mês deixei de poder enviar "emails" através da minha plataforma do "entourage" (para quem não saiba, o "entourage" é um serviço do MAC, correspondente ao "outlook" no PC). Sempre que desejava enviar ou responder a um "email", surgia um texto no écran do computador a avisar que os meus "emails" não estavam "certificados" e que necessitava de autorização para tal (!?). No entanto, sempre que clicava na tecla "send", os "mails" eram enviados. Saíam, mas nunca chegavam aos destinatários!
Só dei por isso ao fim de uns dias, quando as pessoas a quem enviava "mails" me diziam que não tinham recebido nada (!?). Ou seja, os "mails" saíam, mas caiam literalmente no "buraco negro" de que falam os astrofísicos.
Queixei-me à ZON, onde tenho a minha assinatura da Netcabo, mas, os sucessivos técnicos que me tentaram ajudar, deram-se por vencidos ao fim de algumas horas de tentativas. Aconselhado a ir a um representante MAC, pois podia tratar-se de um problema do "entourage", lá fui. Numa das lojas que visitei, o técnico alterou a configuração das contas de envio de "mails", fez dois testes à minha frente e os mails saíram e entraram no computador dele. Estava a funcionar!
Voltei a casa, recomeçei a enviar mails (agora já sem o aviso no écran) e esperei pela resposta. Como ninguém me respondia, confirmei que nada tinha mudado. Sempre que me ligava à Netcabo, deixava de poder enviar "mails" através do "entourage". Entretanto, uma das técnicas da ZON, forneceu-me um webmail temporário, através do qual posso enviar "mails", mas não pela plataforma "entourage".
Desesperado, queixei-me pela enésima vez à ZON, que me pôs em contacto com a PC-clínica um serviço de apoio informático. Deste vez, o técnico com quem falei, mandou-me desligar o "modem" e introduzir um palito vulgar num dos orifícios existentes, na parte detrás do aparelho, durante 30 segundos. Após tão delicada operação, enviou-me um "mail" e pediu para eu fazer um "reply". Assim fiz, mas ele nunca recebeu o meu "mail". Foi, presumo, para o tal buraco negro...
Ontem, fui a outra loja MAC. O técnico voltou a configurar o envio de mails e fez um teste à minha frente. Os mails saiam do meu computador e entravam no dele...estava em ordem. Pediu-me para, quando chegasse a casa, lhe enviasse um "reply" para confirmar se estava tudo OK. Assim fiz. Como ele não respondesse, telefonei-lhe. Não tinha recebido o "mail"...explicou-me que eu não sou o primeiro com este tipo de problemas, mas que a Netcabo não vai admitir que é um problema da "certificação" no servidor.
Hoje voltei a telefonar para a ZON. Mesma história, mesmos testes. Sem palito. No prazo máximo de cinco dias, entram em contacto comigo, para confirmar se o problema está resolvido...
Eu sei que estas histórias não têm interesse nenhum, mas, como estamos na "silly season", parto do princípio que fazem parte do Verão. Prometo, desde já, contar o fim desta operação, quando e se ela acabar em bem. Entretanto, e pelo sim pelo não, resolvi precaver-me e fui ao supermercado comprar uma caixa de palitos. Da marca "Elos" (redondos grandes) que, segundo o meu merceeiro, são os melhores...
Só dei por isso ao fim de uns dias, quando as pessoas a quem enviava "mails" me diziam que não tinham recebido nada (!?). Ou seja, os "mails" saíam, mas caiam literalmente no "buraco negro" de que falam os astrofísicos.
Queixei-me à ZON, onde tenho a minha assinatura da Netcabo, mas, os sucessivos técnicos que me tentaram ajudar, deram-se por vencidos ao fim de algumas horas de tentativas. Aconselhado a ir a um representante MAC, pois podia tratar-se de um problema do "entourage", lá fui. Numa das lojas que visitei, o técnico alterou a configuração das contas de envio de "mails", fez dois testes à minha frente e os mails saíram e entraram no computador dele. Estava a funcionar!
Voltei a casa, recomeçei a enviar mails (agora já sem o aviso no écran) e esperei pela resposta. Como ninguém me respondia, confirmei que nada tinha mudado. Sempre que me ligava à Netcabo, deixava de poder enviar "mails" através do "entourage". Entretanto, uma das técnicas da ZON, forneceu-me um webmail temporário, através do qual posso enviar "mails", mas não pela plataforma "entourage".
Desesperado, queixei-me pela enésima vez à ZON, que me pôs em contacto com a PC-clínica um serviço de apoio informático. Deste vez, o técnico com quem falei, mandou-me desligar o "modem" e introduzir um palito vulgar num dos orifícios existentes, na parte detrás do aparelho, durante 30 segundos. Após tão delicada operação, enviou-me um "mail" e pediu para eu fazer um "reply". Assim fiz, mas ele nunca recebeu o meu "mail". Foi, presumo, para o tal buraco negro...
Ontem, fui a outra loja MAC. O técnico voltou a configurar o envio de mails e fez um teste à minha frente. Os mails saiam do meu computador e entravam no dele...estava em ordem. Pediu-me para, quando chegasse a casa, lhe enviasse um "reply" para confirmar se estava tudo OK. Assim fiz. Como ele não respondesse, telefonei-lhe. Não tinha recebido o "mail"...explicou-me que eu não sou o primeiro com este tipo de problemas, mas que a Netcabo não vai admitir que é um problema da "certificação" no servidor.
Hoje voltei a telefonar para a ZON. Mesma história, mesmos testes. Sem palito. No prazo máximo de cinco dias, entram em contacto comigo, para confirmar se o problema está resolvido...
Eu sei que estas histórias não têm interesse nenhum, mas, como estamos na "silly season", parto do princípio que fazem parte do Verão. Prometo, desde já, contar o fim desta operação, quando e se ela acabar em bem. Entretanto, e pelo sim pelo não, resolvi precaver-me e fui ao supermercado comprar uma caixa de palitos. Da marca "Elos" (redondos grandes) que, segundo o meu merceeiro, são os melhores...
2011/08/15
A classe média, esse «reservatório inesgotável»

Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV ( século XVII), extraído da peça de teatro Le Diable Rouge, de Antoine Rault:
«Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...
Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandá-lo para a prisão. Então, o Estado continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!
Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?
Mazarino: Criam-se outros.
Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarino: Sim, é impossível.
Colbert: E então os ricos?
Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert: Então como havemos de fazer?
Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como o penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável.»
«Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...
Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandá-lo para a prisão. Então, o Estado continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!
Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?
Mazarino: Criam-se outros.
Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarino: Sim, é impossível.
Colbert: E então os ricos?
Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert: Então como havemos de fazer?
Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como o penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável.»
À deriva
Nunca o marxismo, na sua tendência grouchista, foi tão pertinente. No registo do pensamento marxista-grouchista há, recordar-se-ão, aquele célebre telegrama enviado à direcção do exclusivíssimo Friar's Club de Beverly Hills, em que Groucho Marx pede a demissão porque, justificava ele, "não quero pertencer a um clube que me aceita como membro."
O ministro das finanças alemão diz-se contra o que ele chama de "apoio ilimitado" aos países afectados pela crise da dívida soberana. Diz-se também contra as chamadas eurobonds. A França ajuda à missa. Em contraponto, parecem existir sectores do governo alemão que admitem as eurobonds. A Itália aperta o cinto. A Espanha tenta acertar na fivela. Em Inglaterra surgem vozes preocupadas. Os efeitos da propagação da crise da dívida irão certamente repercurtir-se seriamente neste país. As reformas operadas em Inglaterra, mesmo com esta fora da zona euro, correm o sério risco de esbarrar contra a evolução da crise da moeda única. A Inglaterra está, por tabela, em risco de ter de calçar os motins e deslizar por aí fora.
O desafio para a Europa não está na forma de lidar com a dívida dos Estados Unidos, mas na inabilidade da Europa "Desunida" para resolver a sua própria crise. Ninguém parece estar a salvo, o perigo de desagregação é iminente. Mesmo assim, ninguém parece conseguir entender-se. A imagem que fica é a de uma Europa totalmente à deriva. Entretanto, George Soros e outras vozes sugerem que a Grécia e Portugal deviam sair da zona euro.
A Europa aceitou Portugal, Grécia e Irlanda como membros dos seu Friar's Club. Está porventura na hora de levar a tese marxista-grouchista mais longe: estes países não deveriam permanecer num clube que os aceitou como membros. Sair agora seria, para nós, um acto de higiene elementar. Uma espécie de triunfo dos "pigs".
A saída provocaria, estou certo, um debate sério, externo e interno, em claro contraste com a falta de debate sobre a entrada e sobre o pecado original da falta de democracia do projecto europeu. A saída permitiria ouvir os europeus sobre o que pensam sobre a Europa, sobre o euro, sobre os alargamentos passados e futuros (se é que pensam alguma coisa), sobre a sua noção de "comunidade". A saída levaria, estou certo, a reflectir sobre o modo como vai sobreviver a Desunião Europeia, agora que o poder mora lá longe, agora que é mais claro o modo como a Europa alicerçou a sua riqueza, agora que a América tem mais com que se preocupar, agora que a vantagem cultural europeia se esvaiu.
O ministro das finanças alemão diz-se contra o que ele chama de "apoio ilimitado" aos países afectados pela crise da dívida soberana. Diz-se também contra as chamadas eurobonds. A França ajuda à missa. Em contraponto, parecem existir sectores do governo alemão que admitem as eurobonds. A Itália aperta o cinto. A Espanha tenta acertar na fivela. Em Inglaterra surgem vozes preocupadas. Os efeitos da propagação da crise da dívida irão certamente repercurtir-se seriamente neste país. As reformas operadas em Inglaterra, mesmo com esta fora da zona euro, correm o sério risco de esbarrar contra a evolução da crise da moeda única. A Inglaterra está, por tabela, em risco de ter de calçar os motins e deslizar por aí fora.
O desafio para a Europa não está na forma de lidar com a dívida dos Estados Unidos, mas na inabilidade da Europa "Desunida" para resolver a sua própria crise. Ninguém parece estar a salvo, o perigo de desagregação é iminente. Mesmo assim, ninguém parece conseguir entender-se. A imagem que fica é a de uma Europa totalmente à deriva. Entretanto, George Soros e outras vozes sugerem que a Grécia e Portugal deviam sair da zona euro.
A Europa aceitou Portugal, Grécia e Irlanda como membros dos seu Friar's Club. Está porventura na hora de levar a tese marxista-grouchista mais longe: estes países não deveriam permanecer num clube que os aceitou como membros. Sair agora seria, para nós, um acto de higiene elementar. Uma espécie de triunfo dos "pigs".
A saída provocaria, estou certo, um debate sério, externo e interno, em claro contraste com a falta de debate sobre a entrada e sobre o pecado original da falta de democracia do projecto europeu. A saída permitiria ouvir os europeus sobre o que pensam sobre a Europa, sobre o euro, sobre os alargamentos passados e futuros (se é que pensam alguma coisa), sobre a sua noção de "comunidade". A saída levaria, estou certo, a reflectir sobre o modo como vai sobreviver a Desunião Europeia, agora que o poder mora lá longe, agora que é mais claro o modo como a Europa alicerçou a sua riqueza, agora que a América tem mais com que se preocupar, agora que a vantagem cultural europeia se esvaiu.
Silly Season
Com o país a banhos, e na melhor tradição envergonhada dos políticos portugueses (que esperam sempre pelo Verão para anunciar medidas gravosas para a população) voltámos ao tempo das "não-notícias". Há quem lhe chame "silly season" (estação parva) por falta de matéria noticiosa, mas a realidade não dá descanso aos optimistas. Por mais que o primeiro-ministro repita no Pontal (o ponto alto da parvoíce partidária) que o governo está a reduzir o "estado gordo", a verdade é que não se vêem "cortes", mas apenas aumentos: no imposto sobre o 13º mês, no preço dos transportes, no gás e na electricidade, na saúde e na educação. Ou seja, nos bens de consumo essenciais e que mais directamente afectam os consumidores. O governo, como de resto todos os anteriores, tenta aumentar as receitas através dos impostos (sempre a maneira mais fácil) e não reduz as despesas (entre outras, do tal aparelho do estado que não se cansa de apelidar de "gordo"). Pior, nomeia para a direcção do banco do estado (CGD) os "boys" do costume, a ganharem ordenados ofensivos para a maioria dos trabalhadores deste país, enquanto o conselho de estado é literalmente invadido por ex-secretários gerais do PSD e o inenarrável Lopes é convidado para dirigir a Misericórdia de Lisboa...
Não contente com o desvario liberal que anuncia privatizações a eito (EDP, PT, Galp, Brisa, RTP) proclama que não vai ficar por aqui: quer ir mais além do que as medidas exigidas pela Troika (!?), única forma de sairmos do ciclo de recessão em que nos encontramos...
Dado que não se vêem quaisquer medidas de fundo que contrariem esta recessão (que é real) e muito menos uma estratégia de crescimento económico que possibilite a tal recuperação, pergunta-se como é que a economia portuguesa pode crescer se não há programa de emprego que o permita?
Não por acaso, depois de ter anunciado todas estas medidas, Coelho apelou à calma e à conciliação nacional, certamente temendo uma revolta genuina de todos aqueles que diariamente são alvo desta colossal idiotice. O homem é parvo e quer fazer de nós parvos.
Não contente com o desvario liberal que anuncia privatizações a eito (EDP, PT, Galp, Brisa, RTP) proclama que não vai ficar por aqui: quer ir mais além do que as medidas exigidas pela Troika (!?), única forma de sairmos do ciclo de recessão em que nos encontramos...
Dado que não se vêem quaisquer medidas de fundo que contrariem esta recessão (que é real) e muito menos uma estratégia de crescimento económico que possibilite a tal recuperação, pergunta-se como é que a economia portuguesa pode crescer se não há programa de emprego que o permita?
Não por acaso, depois de ter anunciado todas estas medidas, Coelho apelou à calma e à conciliação nacional, certamente temendo uma revolta genuina de todos aqueles que diariamente são alvo desta colossal idiotice. O homem é parvo e quer fazer de nós parvos.
2011/08/12
Brandir ou brandura?
No mesmo dia em que ficamos a saber que vamos ter de pagar mais imposto se queremos acender os candeeiros para não andar aos tropeções à noite pela casa ou ligar o computador para trabalhar (tudo, claro!, em nome da compatibilização do valor do IVA com o que se pratica noutros países da UE), veio a público que o tal desvio de 1,1% do défice se deve, como foi apontado explicitamente pela troika, sobretudo, aos escândalos do buraco negro do BPN e do regabofe orçamental da Região Autónoma da Madeira.
Não seria tempo de as autoridades competentes brandirem as armas de que dispõem para apurar responsabilidades? Não seria tempo de prestar contas? Tribunal de Contas, MP, CSM, para que servem ao certo? Ninguém contribui para aliviar a factura? Será que o Governo está convencido que pode continuar a tapar buracos (no sentido literal e metafórico do termo) agravando indefinidamente a vida dos portugueses? Até quando dá para esticar a corda?
Ou vão os portugueses ficar, como sempre, pelo debate na generalidade no hemiciclo dos cafés, pela piadola imbecil na próxima edição do "Inimigo Público", enfim, pela reacção popular branda do costume?
Não seria tempo de as autoridades competentes brandirem as armas de que dispõem para apurar responsabilidades? Não seria tempo de prestar contas? Tribunal de Contas, MP, CSM, para que servem ao certo? Ninguém contribui para aliviar a factura? Será que o Governo está convencido que pode continuar a tapar buracos (no sentido literal e metafórico do termo) agravando indefinidamente a vida dos portugueses? Até quando dá para esticar a corda?
Ou vão os portugueses ficar, como sempre, pelo debate na generalidade no hemiciclo dos cafés, pela piadola imbecil na próxima edição do "Inimigo Público", enfim, pela reacção popular branda do costume?
2011/08/09
Reino Unido: a lei vista de fora por dentro
Dirigindo-se aos responsáveis pelos motins que estão a ocorrer em várias cidades inglesas, David Cameron classificou estes actos como "criminalidade pura e simples que tem de ser combatida e desencorajada." Uma vez que o número de detidos já se aproxima dos 500, pode-se concluir que, tal como aqui escrevi no caso da Síria, no Reino Unido existe um anormalmente elevado e inexplicavelmente significativo índice de criminalidade.
Como puderam Cameron e os seus antecessores deixar a criminalidade atingir tais níveis no seu país? É, também neste caso, uma pergunta que fica no ar. Como pode Cameron pensar em combater e desencorajar estes "crimes" dissociando-os da crise que o país atravessa, tripudiando sobre a difícil situação económica de camadas significativas da população e esquecendo as medidas —muitas já implementadas no seu consulado— que vieram agravar ainda mais as, já de si, difíceis condições de vida de toda esta gente que agora se amotina? Quem é que acredita que um fenómeno desta natureza e amplitude se resume a "criminalidade pura e simples", como lhe chamou Cameron, ou "crime organizado" como sugeria um imbecil qualquer, português, alto dirigente de um observatório não-sei-quê, desses, que observam não se sabe bem o quê...?
Ainda vamos assistir, no meio do prometido combate aos amotinados das cidades inglesas, à tomada de medidas do tipo a que chamo de Santa-Bárbara-quando-troveja. Tal como Bashar al-Assad, Cameron ainda se vai lembrar um dia destes de aliviar a canga para tentar sair de tudo isto como dominador de um fogo que ele próprio ajudou a atear.
Como puderam Cameron e os seus antecessores deixar a criminalidade atingir tais níveis no seu país? É, também neste caso, uma pergunta que fica no ar. Como pode Cameron pensar em combater e desencorajar estes "crimes" dissociando-os da crise que o país atravessa, tripudiando sobre a difícil situação económica de camadas significativas da população e esquecendo as medidas —muitas já implementadas no seu consulado— que vieram agravar ainda mais as, já de si, difíceis condições de vida de toda esta gente que agora se amotina? Quem é que acredita que um fenómeno desta natureza e amplitude se resume a "criminalidade pura e simples", como lhe chamou Cameron, ou "crime organizado" como sugeria um imbecil qualquer, português, alto dirigente de um observatório não-sei-quê, desses, que observam não se sabe bem o quê...?
Ainda vamos assistir, no meio do prometido combate aos amotinados das cidades inglesas, à tomada de medidas do tipo a que chamo de Santa-Bárbara-quando-troveja. Tal como Bashar al-Assad, Cameron ainda se vai lembrar um dia destes de aliviar a canga para tentar sair de tudo isto como dominador de um fogo que ele próprio ajudou a atear.
2011/08/07
Síria: a lei vista de fora por dentro
"É dever do Estado agir perante os fora-da-lei," disse Bashar al-Assad para justificar a repressão sobre o povo sírio. Uma vez que o número de mortos, segundo activistas dos direitos humanos, ultrapassa os dois milhares, como resultado desta acção do Estado sírio, pode-se concluir que a Síria é um país onde existe um anormalmente elevado e inexplicavelmente significativo índice de criminalidade.
Como pôde Bashar al-Assad deixar esta criminalidade atingir tais níveis no seu país? É uma pergunta que fica no ar.
Não deixa também de causar alguma perplexidade que a actividade destes fora-da-lei tenha levado o presidente sírio —ao fim de tanto tempo, porquê agora?— a decidir mudar o regime fazendo-o enveredar pela via do multi-partidarismo...
Como pôde Bashar al-Assad deixar esta criminalidade atingir tais níveis no seu país? É uma pergunta que fica no ar.
Não deixa também de causar alguma perplexidade que a actividade destes fora-da-lei tenha levado o presidente sírio —ao fim de tanto tempo, porquê agora?— a decidir mudar o regime fazendo-o enveredar pela via do multi-partidarismo...
2011/08/05
Uma questão de educação
Politicamente, estamos numa fase que poderíamos classificar como a das virtudes teologais. Este governo iniciou funções, se bem se recordam, a proclamar —fazendo coro com Cavaco Silva— que "Portugal não vai falhar." Uma fé, portanto. Portugal empolgou-se. A fé, sabemo-lo, move montanhas e o imaginário dos portugueses arrebatou-se, estimulado por amplos movimentos de terras.
Mas logo a fé foi substituida pela caridade. Enquanto mostrava a verdadeira face, malhando forte nas condições de vida dos portugueses, o governo dava logo a outra face ao introduzir o seu programa ou plano de emergência social, uma verdadeira cerimónia de lava-PES, a penitência, um amontoado de medidas para aplacar consciências. Um governo feito quermesse de paróquia, constituído por governantes que no seu louvável afã parecem uma brigada da Conferência Vicentina ensaiando a dança de S. Vito. É verdadeiramente patético.
Em vez de quebrar o ciclo, Portugal assiste a tudo isto venerador e obrigado. Uma mão estendida enquanto a outra segura os fios da tanga de domingo que sobra para ir à missa.
Em vez de quebrar o ciclo, Portugal assiste a tudo isto venerador e obrigado. Uma mão estendida enquanto a outra segura os fios da tanga de domingo que sobra para ir à missa.
No final, com a capacidade de reacção entalada entre a fé e a caridade, lá bem no fundo, fenece a esperança dos portugueses. Por muitos actos de fé e por muita caridade que seja despejada sobre eles, os estudos e estatísticas estão aí para o demonstrar: os portugueses são um povo sem esperança.
Educados nas virtudes teologais, os portugueses, governantes e governados, precisavam de ir muito mais além, para ultrapassar este maldito ciclo do império das virtudes, mas não dão mais do que isto: fé e caridade sem esperança.
As virtudes teologais levaram-nos à crise, as virtudes teologais hão-de tirar-nos dela. É cá uma fé que a gente tem...
As virtudes teologais levaram-nos à crise, as virtudes teologais hão-de tirar-nos dela. É cá uma fé que a gente tem...
2011/08/03
Álvaro
Devo confessar que tenho um "fraquinho" pelo Álvaro. O Santos Pereira. Aquele que é ministro de Economia e Inovação. Vi as intervenções que fez na Comissão de Inquérito da Assembleia da República e fiquei espantado. O homem não tinha carro em Vancouver e ia todos os dias de metro para a Universidade onde leccionava. Mais, aproveitava o tempo da viagem para ler os relatórios que tinha de estudar. Ainda hoje, nem ele nem a família têm automóvel (Imagino que irá de metro ou de autocarro, para o seu ministério). Quando chegou ao governo ficou chocado com as mordomias em que viviam os seus antecessores: os carros topo de gama, as ajudas de custo, os motoristas. Em consequência, já mandou reduzir os gastos. Também já reduziu o número de secretários, assessores e funcionários no departamento.
Acredita em Portugal e tem planos extraordinários para o futuro. Provavelmente, o mais extraordinário de todos é tornar Portugal a "Florida da Europa". Já tinhamos o Portugal "Europe's West Coast" e o "Allgarve", agora teremos os reformados do Norte da Europa com mais calor durante todo o ano. Estou a imaginar o slogan: "Meet the real Camarinha at Algarve's Barlavento".
Isto para não falar do seu tom coloquial: Álvaro para os colaboradores, que essa coisa de títulos é de país atrasado (não podia estar mais de acordo). O homem não pára. Ele é o ministro de quem se fala. Colossal, o Álvaro.
Acredita em Portugal e tem planos extraordinários para o futuro. Provavelmente, o mais extraordinário de todos é tornar Portugal a "Florida da Europa". Já tinhamos o Portugal "Europe's West Coast" e o "Allgarve", agora teremos os reformados do Norte da Europa com mais calor durante todo o ano. Estou a imaginar o slogan: "Meet the real Camarinha at Algarve's Barlavento".
Isto para não falar do seu tom coloquial: Álvaro para os colaboradores, que essa coisa de títulos é de país atrasado (não podia estar mais de acordo). O homem não pára. Ele é o ministro de quem se fala. Colossal, o Álvaro.
2011/08/02
O futuro de Coelho pode falhar
Ninguém tinha ilusões quanto à capacidade do governo poder controlar a bagunça que por aí vai, mas nunca pensei que o pior cenário se viesse a revelar de uma forma tão abrupta, tão rapidamente. Deste governo exigia-se que fosse como aqueles carros dos quais se diz que atingem os 100 km/h na casa dos poucos segundos. E que tivesse potência para aguentar, já nem digo ultrapassar, essa velocidade. Pelo menos enquanto durasse a gasolina.
As reacções ao aumento dos transportes vieram mostrar que vivemos num equilíbrio extremamente precário. Não as considero tímidas. A qualquer momento o "bólide" gripa.
Em breve, creio, os diversos poderes vão perceber que não basta verter lágrimas de crocodilo por causa da pobreza e repetir, sem convicção, que vivemos numa situação difícil e é portanto necessário fazer sacrifícios. Há um limite para tudo, até para a capacidade de tolerância dos portugueses e o governo parece ignorar que não tem margem de erro. Coelho, Portas e Cavaco estão a falhar.
Sem explicações aceitáveis para os inesperados aumentos e novos cortes, demonstrando de forma cada vez mais clara a falta de trabalho de casa que teria permitido começar cedo a trilhar novos caminhos e a rectificar claramente os erros de gestão mil vezes apontados ao PS, estamos à deriva. O governo parece o Breivik a acertar friamente nas vítimas impotentes, nas vítimas de sempre. Será que Coelho e o seu parceiro de coligação leram mesmo bem —mesmo bem!— os sinais que lhes foram transmitidos pelas eleições?
Se não se põe a pau o governo de Passos Coelho —que susbstituiu a desculpa com o governo anterior pela desculpa com a troika e o "fontismo"— caminha a passos largos para um aparatoso trambolhão.
As reacções ao aumento dos transportes vieram mostrar que vivemos num equilíbrio extremamente precário. Não as considero tímidas. A qualquer momento o "bólide" gripa.
Em breve, creio, os diversos poderes vão perceber que não basta verter lágrimas de crocodilo por causa da pobreza e repetir, sem convicção, que vivemos numa situação difícil e é portanto necessário fazer sacrifícios. Há um limite para tudo, até para a capacidade de tolerância dos portugueses e o governo parece ignorar que não tem margem de erro. Coelho, Portas e Cavaco estão a falhar.
Sem explicações aceitáveis para os inesperados aumentos e novos cortes, demonstrando de forma cada vez mais clara a falta de trabalho de casa que teria permitido começar cedo a trilhar novos caminhos e a rectificar claramente os erros de gestão mil vezes apontados ao PS, estamos à deriva. O governo parece o Breivik a acertar friamente nas vítimas impotentes, nas vítimas de sempre. Será que Coelho e o seu parceiro de coligação leram mesmo bem —mesmo bem!— os sinais que lhes foram transmitidos pelas eleições?
Se não se põe a pau o governo de Passos Coelho —que susbstituiu a desculpa com o governo anterior pela desculpa com a troika e o "fontismo"— caminha a passos largos para um aparatoso trambolhão.
2011/08/01
Negócios colossais
Ver Mira Amaral na Televisão justificar a compra do BPN pela ridicula quantia de 40 milhões de euros (quando a maior oferta era de 100 milhões) com o argumento de que aquele era o preço justo no mercado, é demasiado ofensivo para ser levado a sério.
Imaginem só: o banco que foi alvo da maior fraude financeira da história da banca portuguesa, e que custou até agora ao erário público 2.400 milhões de euros, vai despedir 750 dos 1500 funcionários e o governo ainda terá de assegurar 550 milhões para o recapitalizar, antes de entregá-lo ao BIC. A "cereja em cima do bolo" - no caso do banco ter um lucro de 80 milhões no futuro - vai ser a devolução de parte deste valor ao estado (quando?).
Principais accionistas neste negócio leonino: a filha do cleptócrata Eduardo Santos (Angola) e Américo Amorim (o homem mais rico de Portugal), que já detêm o BIC, no qual Amaral exerce a função de administrador principal.
Não é de admirar que o ministro das finanças só encontre "desvios" nas contas do estado. Faltam-me adjectivos para classificar tal negócio. Talvez colossal?
Imaginem só: o banco que foi alvo da maior fraude financeira da história da banca portuguesa, e que custou até agora ao erário público 2.400 milhões de euros, vai despedir 750 dos 1500 funcionários e o governo ainda terá de assegurar 550 milhões para o recapitalizar, antes de entregá-lo ao BIC. A "cereja em cima do bolo" - no caso do banco ter um lucro de 80 milhões no futuro - vai ser a devolução de parte deste valor ao estado (quando?).
Principais accionistas neste negócio leonino: a filha do cleptócrata Eduardo Santos (Angola) e Américo Amorim (o homem mais rico de Portugal), que já detêm o BIC, no qual Amaral exerce a função de administrador principal.
Não é de admirar que o ministro das finanças só encontre "desvios" nas contas do estado. Faltam-me adjectivos para classificar tal negócio. Talvez colossal?
2011/07/30
Os avelinos
Este processo do relógio de ouro de 15 000 euros, oferecido a Avelino Ferreira Torres, não choca pelo valor nem pelo destinatário da "prenda". Avelino Ferreira Torres não engana ninguém e, nesse aspecto, parece até ser o mais "inocente" em tudo isto. O que choca verdadeiramente são os avelinos que tiveram esta ideia. Tremo de pensar nesta malta que desviou dinheiro público, dinheiro nosso, pelo qual era responsável, e o empregou numa operação ilegítima, não orçamentada, sem pestanejar, como se de uma coisa perfeitamente natural, talvez mesmo inevitável, se tratasse. Tremo de pensar que depois disto, para a Justiça Portuguesa, estes avelinos não parecem dignos de mais do que um castigo light, decidido ao fim de um processo mastigado ao longo de vários anos. Uma sentença exemplar, portanto. Tremo, sobretudo, quando penso nos avelinos que votaram nestes, demonstrando com o seu voto tolerar e avalizar tudo isto.
E que dizer dos avelinos todos que por aí andam, menos exuberantes, mais discretos, inimputáveis, apoiantes ou praticantes activos do princípio "em cada relógio de ouro, um amigo?"
E que dizer dos avelinos todos que por aí andam, menos exuberantes, mais discretos, inimputáveis, apoiantes ou praticantes activos do princípio "em cada relógio de ouro, um amigo?"
2011/07/29
Oslo (2)
O primeiro-ministro norueguês, Jens Stoltenberg, falou hoje numa mesquita de Oslo, naquele que foi considerado o ponto alto das cerimónias oficiais em memória das vítimas dos atentados de há uma semana.
Sem nunca mencionar o nome do terrorista que perpetrou os atentados, Stoltenberg quis mostrar ao seu povo que os muçulmanos, noruegueses ou não, estão na Noruega para ficar, pelo nada mais resta do que entenderem-se.
Se mais razões não houvesse, esta é uma lição para os fanáticos de todos os quadrantes, que justificam os seus crimes com o incitamento ao ódio que sempre os animou.
Resta uma questão dolorosa: o único helicóptero da polícia da capital estava avariado e a unidade de comandos, destacada para a ilha, chegou lá de automóvel e barco, uma hora e meia mais tarde. Num dos países mais desenvolvidos do Mundo, há coisas inexplicáveis. Os noruegueses, certamente um dos povos mais pacíficos do planeta (et pour cause), não o mereciam.
Sem nunca mencionar o nome do terrorista que perpetrou os atentados, Stoltenberg quis mostrar ao seu povo que os muçulmanos, noruegueses ou não, estão na Noruega para ficar, pelo nada mais resta do que entenderem-se.
Se mais razões não houvesse, esta é uma lição para os fanáticos de todos os quadrantes, que justificam os seus crimes com o incitamento ao ódio que sempre os animou.
Resta uma questão dolorosa: o único helicóptero da polícia da capital estava avariado e a unidade de comandos, destacada para a ilha, chegou lá de automóvel e barco, uma hora e meia mais tarde. Num dos países mais desenvolvidos do Mundo, há coisas inexplicáveis. Os noruegueses, certamente um dos povos mais pacíficos do planeta (et pour cause), não o mereciam.
2011/07/25
Oslo
Vemos as imagens do massacre norueguês e não podemos deixar de compará-las com acontecimentos recentes que atingiram Nova-Iorque, Madrid ou Londres. Da mesma forma que ontem fomos americanos, hoje sentimo-nos noruegueses. Nada, ideologia política ou religião, pode justificar tal barbárie e desprezo pela vida humana. E portanto, mais uma vez, um acto de puro terrorismo paralisou um país e pôe em questão valores sobre os quais as nossas sociedades assentam. Sabemos, de há muito, que o Mal é universal e, nesse sentido, transversal a todas as culturas e sociedades. No entanto, e ao contrário dos atentados radicais islamistas, perpetrados contra sociedades "ocidentais" a partir de "fora", os atentados na Noruega foram executados por um nativo contra os cidadãos do seu próprio país. É uma diferença fundamental, ainda que nenhum fundamentalismo - islamista ou cristão - seja na sua essência muito diferente. Trata-se de um acto (aparentemente isolado) que não é representativo da religião cristã, da mesma forma que os actos terroristas islamistas, não devem ser confundidos com o Islão. Mas, atenção, os sinais de crescente racismo e xenofobia nos países do Norte da Europa são hoje inequívocos. O massacre de sexta-feira passada foi, no seu simbolismo, um acto pensado e executado com a frieza de um convicto nazi, de resto confirmado pela documentação a que vamos tendo acesso. Um acto isolado ou um dos muitos ovos que a serpente nacionalista e xenófoba está a chocar? Essa é a pergunta central e nada garante que países como a Noruega os possam evitar.
Terão sido de facto os mesmos?
José Sócrates foi entronizado em Março último no PS com uma significativa percentagem de 93% de votos favoráveis. Agora, passados apenas 4 meses, é a vez de António José Seguro ser eleito com uma percentagem também significativa de cerca de 70%.
O secretário geral é novo, mas a maioria que o elegeu, como hoje me chamava a atenção um amigo, é a mesma. Ora dá o poder a um, ora muda de opinião e, no espaço de 4 meses, mais coisa menos coisa, dá o poder a outro que se lhe terá oposto. E muda esta opinião sem que se tenha percebido muito bem em que matérias e com que justificação o faz, e sem que se tenha sequer percebido a matriz da qual emanam tamanhas "divergências".
Para que fosse possível aceitar o PS como um partido credível, ideologicamente sólido, politicamente responsável e capaz de constituir uma alternativa de poder séria, seriam devidas muitas explicações ao país e esperar-se-ia um momento de profunda auto-crítica.
Tendo em conta os personagens que continuam a dominar os acontecimentos, o armazém de bric-a-brac ideológico em que se transformou o PS e a capacidade de regeneração da camuflagem dos seus militantes parecem-me exercícios pelos quais vamos todos certamente ter de esperar sentados.
O secretário geral é novo, mas a maioria que o elegeu, como hoje me chamava a atenção um amigo, é a mesma. Ora dá o poder a um, ora muda de opinião e, no espaço de 4 meses, mais coisa menos coisa, dá o poder a outro que se lhe terá oposto. E muda esta opinião sem que se tenha percebido muito bem em que matérias e com que justificação o faz, e sem que se tenha sequer percebido a matriz da qual emanam tamanhas "divergências".
Para que fosse possível aceitar o PS como um partido credível, ideologicamente sólido, politicamente responsável e capaz de constituir uma alternativa de poder séria, seriam devidas muitas explicações ao país e esperar-se-ia um momento de profunda auto-crítica.
Tendo em conta os personagens que continuam a dominar os acontecimentos, o armazém de bric-a-brac ideológico em que se transformou o PS e a capacidade de regeneração da camuflagem dos seus militantes parecem-me exercícios pelos quais vamos todos certamente ter de esperar sentados.
2011/07/20
Da observação da regra
Esta história das indumentárias veio dar alguma visibilidade à Universidade Católica, embora pelos piores motivos. Fez-me lembrar um episódio que ocorreu há uma data de anos, estava eu para fazer um exame de matemática no colégio onde então andava. Umas dezenas largas de alunos, de fato e gravata, como era exigência na época, amontoavam-se no ginásio feito sala de exames improvisada. O calor era insuportável. Um colega "atreveu-se" a pedir ao presidente do júri que nos fosse concedida a possibilidade de tirar o casaco (a gravata ficava...)
O calor era tal que o dito presidente, coberto, ele próprio, de suor dos pés à cabeça, hesitou por um momento e acabou por discutir o pedido colocado com os restantes professores presentes. Havia esperança, pensávamos nós, já que o assunto merecia, pelo menos, debate interno. Em vão. No final do debate, o tal presidente, escorrendo suor por tudo o que era poro, anunciava-nos que infelizmente não iríamos poder tirar o casaco. Eram as regras. Fato e gravata, ele também tinha feito todos os seus exames assim vestido. Ponto final.
Estávamos afinal (só o vim a perceber muito mais tarde!) perante uma experiência científica de grande significado: pretendia-se provar que o cérebro consegue dar conta do recado, apesar de um bloqueio intencional e significativo do afluxo de sangue necessário ao funcionamento deste órgão e que as regras do Cálculo Diferencial são válidas, mesmo em situação de pré-cremação.
O episódio foi de tal maneira traumático que ainda hoje "sinto" aquela agonia e "suo" só de pensar naquele calor. Lembrei-me disto a propósito da história das indumentárias da Universidade Católica.
A Universidade Católica, certamente preocupada com o miserável lugar que ocupa no ranking mundial dos estabelecimentos de ensino superior —e, sem dúvida no intuito de subir uns pontos— veio agora tornar públicas as normas internas para a indumentária de alunos e colaboradores.
São fait divers, dirão. Se calhar, concordarei eu. É uma universidade privada, dita as regras que lhe apetecer, dirão vocês. É bem verdade, anuirei eu, sem hesitar. Mas, é chocante, ridículo, enganador, ripostarão alguns. 'Tá bem abelha, dirão eles... O contributo da UCP para a crise fica-se pelo hábito.
Há restaurantes e estabelecimentos similares que exigem aos seus clientes uma indumentária "digna" para poderem ser neles admitidos. Se o cliente não vier vestido de acordo com as regras da casa, fornece-se, a troco de um extra, indumentária apropriada. A qualidade do restaurante, logo se vê, mas primeiro há que estar vestido a preceito. Sugiro então aos responsáveis da UCP que criem um serviço semelhante. Uma fonte de receita adicional, certamente não despicienda nestes tempos de crise.
O calor era tal que o dito presidente, coberto, ele próprio, de suor dos pés à cabeça, hesitou por um momento e acabou por discutir o pedido colocado com os restantes professores presentes. Havia esperança, pensávamos nós, já que o assunto merecia, pelo menos, debate interno. Em vão. No final do debate, o tal presidente, escorrendo suor por tudo o que era poro, anunciava-nos que infelizmente não iríamos poder tirar o casaco. Eram as regras. Fato e gravata, ele também tinha feito todos os seus exames assim vestido. Ponto final.
Estávamos afinal (só o vim a perceber muito mais tarde!) perante uma experiência científica de grande significado: pretendia-se provar que o cérebro consegue dar conta do recado, apesar de um bloqueio intencional e significativo do afluxo de sangue necessário ao funcionamento deste órgão e que as regras do Cálculo Diferencial são válidas, mesmo em situação de pré-cremação.
O episódio foi de tal maneira traumático que ainda hoje "sinto" aquela agonia e "suo" só de pensar naquele calor. Lembrei-me disto a propósito da história das indumentárias da Universidade Católica.
A Universidade Católica, certamente preocupada com o miserável lugar que ocupa no ranking mundial dos estabelecimentos de ensino superior —e, sem dúvida no intuito de subir uns pontos— veio agora tornar públicas as normas internas para a indumentária de alunos e colaboradores.
São fait divers, dirão. Se calhar, concordarei eu. É uma universidade privada, dita as regras que lhe apetecer, dirão vocês. É bem verdade, anuirei eu, sem hesitar. Mas, é chocante, ridículo, enganador, ripostarão alguns. 'Tá bem abelha, dirão eles... O contributo da UCP para a crise fica-se pelo hábito.
Há restaurantes e estabelecimentos similares que exigem aos seus clientes uma indumentária "digna" para poderem ser neles admitidos. Se o cliente não vier vestido de acordo com as regras da casa, fornece-se, a troco de um extra, indumentária apropriada. A qualidade do restaurante, logo se vê, mas primeiro há que estar vestido a preceito. Sugiro então aos responsáveis da UCP que criem um serviço semelhante. Uma fonte de receita adicional, certamente não despicienda nestes tempos de crise.
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